Ciclo interminável 

“Eu tenho grandes esperanças, isso me leva de volta para quando nós começamos, grandes esperanças, quando você deixa tudo para lá, sai e começa tudo novamente, grandes esperanças quando tudo chega ao fim, agora o mundo continua girando”.

Kodaline – High Hopes

Quando vi Gale, uma parte de mim quis ignorar sua presença e seguir reto, por um lado eu queria fingir que ele não existia, era o mais correto de se fazer, mas eu não consegui. A duvida, a raiva, o ciúme, acabou sendo mais forte do que eu, e enquanto eu passava ao lado dele, eu não aguentei, e acabei o chamando.

Gale virou-se para mim, o olhou com um olhar muito sério, olhar da qual eu correspondi, cheguei a engolir seco, enquanto aproximava-me dele, ainda formulando alguma frase em meu cérebro para conseguir soltar.

— O que você quer? – ele perguntou para mim, num tom não tão educado.

— Você e a Katniss... É, tá rolando algo? – perguntei, ele ficou algum tempo calado, parecendo estar digerindo a minha pergunta, e em seguida ele riu e discordou com a cabeça, a risada dele eu julguei um tanto zombadora, e aquilo fez o meu rosto esquentar.

— Tá com ciúmes, é? – ele perguntou, cruzando os braços. – Você por acaso acha que ela vai querer algo sério com você depois de tudo que você fez com ela? 

— Como? – perguntei.

— Sim, a gente tá ficando e ai? É bom até você saber para você se tocar de que já era, ela nunca mais vai confiar em você, ela quer é fazer você pagar por tudo que você fez ela sofrer, ou você por acaso acha que ela ainda gosta de você? Não seja um idiota! – ele disse, eu discordei com a cabeça, e por um momento eu não quis acreditar no que ele falava.

— Não, você está mentindo, eu não acredito em você! - eu disse, discordando com a cabeça.

— se você não acredita no que eu falo, então por que veio me perguntar, hein Mellark? - ele perguntou para mim e encarou-me por mais alguns segundos, em seguida saiu andando, esbarrando em meu ombro de proposito e sumiu rapidamente de minha visão, eu continuei parado no mesmo lugar, calado, com a cabeça girando, ainda digerindo o que ele me falou.

Eu queria ter o respondido a altura, mas eu não consegui, porque embora ele estivesse sendo grosseiro, tudo que ele falava fazia sentido, eu desejava, eu desejava profundamente que aquilo fosse mentira, mas tudo levava a crer que não era e claro, se eu fosse questionar com Katniss ela iria desmentir toda história, porque ela quer dar o troco, como e qual era o seu plano eu não fazia a mínima ideia, mas sei que Katniss é inteligente o suficiente para articular alguma coisa.

Eu ainda fiquei um tempo ali, calado, olhando para um ponto invisível no chão do corredor, até finalmente conseguir digerir as palavras de Gale, suspirei e fechei os olhos por alguns segundos, encostei a cabeça na parede, e senti meu estomago despencar. Eu estava sentindo-me perdido, eu estava sentindo como se aquele fosse realmente o fim, não havia mais concerto, era como se a minha história com Katniss Everdeen tivesse terminado. Pois eu sabia que estava desconfiado dela, a ponto de eu não saber mais quem ela é, o que ela havia se tornado. 

Mas eu estava muito, mais muito enganado.

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Desde meus catorze anos de idade Katniss e eu tivemos muitos altos e baixos, muitas vezes tivemos brigas, ficamos semanas sem se falar e algumas vezes até desistirmos um do outro, mas de alguma forma o destino sempre acabava nos unindo novamente, o destino, melhor os nossos sentimentos, mas parecia que ao mesmo tempo em que ele queria nos unir, ele também queria nos separar e sempre, sempre acabávamos nos machucando, parecia um ciclo interminável, e agora, realmente eu queria dar um fim em tudo. Embora eu já soubesse como era ficar sem Katniss.

Era desesperador ver que tudo estava se repetindo, pois estava claro que não repetimos somente os momentos bons, mas também estávamos repetindo o desespero de nos mantermos distantes, novamente lá estava eu na minha tentativa de ignorá-la, embora por dentro eu sentisse uma chama arder, um desespero imenso de procura-la e querer acreditar em qualquer coisa que ela falasse, só para que isso não precisasse se repetir.

Mas eu não conseguia, eu constatei que mesmo que nós quiséssemos não conseguimos apagar tudo o que aconteceu, existiam ainda desconfianças, eu sabia que mesmo que ela falasse que tudo era uma mentira eu não iria conseguir acreditar, mesmo não querendo ver eu sabia que Katniss havia mudado, tudo bem que eu ainda consegui enxergar nela aquela Katniss que eu amava, mas eu sabia, eu sabia que ela estava dividida entre aquela Katniss antiga a uma nova Katniss que todos obrigaram ela a se tornar.

Talvez pouco a pouco ela estava colocando aquela nova Katniss para fora e destruindo toda a Katniss que eu tanto amo, mas eu não posso negar que eu tentei, tentei fazer permanecer a minha Katniss, mas acho que eu já não sou mais o bastante.

E enquanto eu me sentia na obrigação de manter-me distante dela, comecei novamente a fazer aquelas coisas que me fazia recordá-la, fui até a biblioteca para pegar o livro da continuação de vampiratas, eu estava perto de terminar a série, e só de olhar a capa do livro me fazia lembrar-me daqueles momentos bons, das coisas que Katniss me ensinou. Ela me ensinou a ver os livros de forma diferente, na realidade ela me ensinou muitas coisas e principalmente a sonhar.

Eu sorria, enquanto folheava as páginas, fui até uma das mesas da biblioteca e sentei-me nela, em um momento meus olhos desviaram-se do livro para olhar em volta da biblioteca, até então os meus olhos pararem em uma garota que estava sentada em uma das mesas, não muito distante da minha, ela estava com um livro bem grosso em sua mão, senti novamente o nó se formar na minha garganta ao perceber o quanto aquela imagem me recordava Katniss, o quanto eu sentia falta de vê-la daquela forma, entre os livros, enchendo-se de chocolates e falando rapidamente daqueles assuntos que eu nunca entendia. Acabei sorrindo, ao lembrar-me daquele tempo, mas a garota viu eu sorrir e acabou sorrindo de volta para mim.

Então levantei-me da mesa e fui até a bibliotecária para pegar emprestado o livro, e naquele mesmo dia eu consegui avançar bastante na minha leitura.

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— Se ele estiver mentindo? – perguntou Thomas sentando-se na poltrona que havia no quarto, sim ele estava no meu dormitório, e infelizmente estava falando do assunto que eu não queria pensar no momento: Katniss. Graças a ele eu tive que parar a leitura do livro, e voltar a pensar nesse assunto que me perturbava tanto. Eu estava deitado na cama, agora bastante pensativo.

— Apesar de tudo, Gale não parece ser uma má pessoa, aliais ele tem razão Thomas, eu magoei muito a Katniss, seria natural e ela está no direito dela se fingiu que me perdoou apenas para se vingar de mim...

— Ela parecia tão sincera, e apesar de tudo ela sempre foi tão boazinha, você acha mesmo que ela mudou tanto a ponto de planejar algo assim? – ele perguntou, parecia desacreditar que isso pudesse ser verdade, cruzei os braços e fiquei observando ele, questionando-me mais uma vez com esse assunto.

— Você vê Thomas, não tem como saber, só se eu arriscar e ficar com ela mesmo tendo essa duvida, mas você acha que daria certo? Eu iria viver desconfiado, talvez acabaríamos discutindo e falando coisas um para o outro que possa machucar, e sabe Thomas, uma coisa eu aprendi nesse meu relacionamento louco com a Katniss...

— O que?

— Que tem coisas que falamos ou fazemos que não têm mais como voltar atrás, eu não quero simplesmente piorar toda situação, se não tem como nós passarmos uma borracha em tudo que houve e começar tudo do zero, sem magoas, sem duvidas, sem ressentimentos, não tem como começar, pois sempre continuaremos assim, nesse ciclo, nesse ciclo de altos e baixos sem fim...

Thomas concordou com a cabeça e soltou um longo suspiro, em seguida ele se levantou da poltrona.

— E se quando ela te beijou na quadra ela não estava mesmo com essa intenção? Com a intenção de recomeçar do zero? Você sabe Peeta que sempre você terá essa duvida, pois sempre poderá existir essa possibilidade... – Thomas disse para mim, ele então soltou um suspiro e saiu do quarto, eu sei que ele fez isso para me deixar pensar, e naquele momento eu até mesmo me perguntei quando Thomas se tornou tão maduro. Então novamente o choque de realidade caiu para cima de mim, fazendo-me eu me lembrar que estávamos no ultimo ano, logo eu iria para faculdade e ainda eu estava nessa confusão com Katniss.

Naquele dia, eu fiquei pensando quase a noite inteira, com certeza se tivesse sido apenas Gabbe que tivesse falado aquilo para mim eu não acreditaria, mas ver Gale confirmando a história, depois de eu ter visto com os meus próprios olhos Katniss e ele se beijando era quase impossível de não acreditar, tudo bem que Thomas até me deixou um tanto confuso, mas no outro dia eu ainda estava decidido a continuar seguindo a vida da mesma forma, mesmo que doesse continuaria longe de Katniss, na esperança de quem sabe um dia a distancia dela conseguisse doer menos.

Durante o dia, eu estava meio disperso, eu sabia o porquê disso, mesmo que eu quisesse me enganar, ainda não havia conseguido superar o que estava acontecendo e nem sei quando isso iria acontecer, e no meio dessa distração, acabei esbarrando em uma garota no meio do corredor, só depois fui me dar conta de que a garota era aquela loirinha que vi na biblioteca, com o esbarrão os livros dela caíram tudo no chão e logo me agachei junto dela, para ajudar a pegar os livros.

— É me desculpe! – eu pedi, levantando-me e entregando os livros para ela.

— Que isso, não foi nada, eu que estava aqui no mundo da lua e não te vi! – ela falou, sorrindo para mim eu sorri de volta para ela.

— É... Meu nome é Peeta! – eu falei, erguendo a mão para ela.

— Sou Glimmer, sou aluna nova! – ela disse, apertando a minha mão. – Eu já sabia seu nome, você é um dos jogadores de basquete da escola, é impossível não saber quem é você, dizem que você é um dos melhores! – ela falou, e eu passei a mão no cabelo, sentindo o rosto esquentar. – Eu te vi também na biblioteca, acho que ontem, não é?

— Isso! – eu falei.

— Achei legal ver que tem atletas que lê, a maioria tem fama de não gostarem muito de estudar! – ela falou e eu dei uma risada de leve.

— Eu também era dessa lista, na verdade até hoje ainda tenho um pouco de problemas com literatura inglesa, embora eu tenha conseguido melhorar a minha nota! – eu disse e novamente lembrei de Katniss, nunca iria conseguir esquecer que foi graças a ela que as minhas notas em literatura inglesa subiram.

— Eu adoro literatura inglesa, é uma das minhas matérias favoritas! – ela falou sorridente.

Eu fiquei calado por alguns segundos enquanto olhava para ela, Gimmer era uma garota até bonita, loira, de olhos azuis escuros, esbelta e alta, ela chamou minha atenção, mas não pelo fato de ser bonita, mas sim por me lembrar Katniss, não a Katniss de agora, mas sim a Katniss que um dia eu amei, que também vivia com livros na mão e era apaixonada por literatura inglesa.

Fiquei sorrindo por um tempo, enquanto a olhava, até perceber que ela franziu as sobrancelhas e pareceu ter ficado um tanto confusa, talvez com a minha atitude idiota de ficar encarando-a sem falar uma palavra sequer.

— É, Peeta, tá tudo bem? – ela perguntou para mim, fazendo-me acordar dos meus pensamentos.

— É... Sim, está tudo ótimo, é que eu estava pensando... – eu comecei, mas fui interrompido ao ouvir alguém pigarrear próximo de nós.

— É... Peeta, eu posso falar com você? – ouvi uma voz feminina que reconheci no mesmo momento, eu olhei para Katniss e vi que ela estava bastante séria, somente em vê-la tão perto de mim o meu coração no mesmo segundo disparou, e por um momento até pensei em dizer sim, mas eu não consegui.

— Agora não! – eu disse e com medo do que ela pudesse responder, puxei Glimmer pelo braço e me afastei com ela, eu até quis olhar para trás, voltar a olhar para Katniss, para ver sua reação, mas eu me contive.

Caminhamos em silencio por alguns segundos, na verdade eu não sabia nem o que falar para Glimmer, mas acabou sendo ela que quebrou o silencio.

— É não é querendo me intrometer na sua vida, mas, aquela garota e você tem alguma coisa? Não que seja da minha conta, mas pareceu que ela ficou irritada em ver nós dois conversando... – ela disse, eu olhei para ela rapidamente, e soltei um longo suspiro.

— Ela não é minha namorada... – eu disse, e saímos da escola e começamos a andar pelo jardim, respirei fundo, enquanto sentia um leve vento bater sobre meu rosto. – Mas tivemos algo, só que é uma longa história!

— Se precisar contar a alguém, pode contar para mim quando quiser... – ela disse.

— Quem sabe um dia! – eu respondi, sorrindo para ela e ela sorriu de volta para mim também.

Sentamos num banco e permanecemos em silencio por um bom tempo, e naquele momento os meus pensamentos tornaram-se a minha companhia e Glimmer acabou ficando para segundo plano.

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Glimmer era uma garota legal e acreditei que não seria muito difícil nós tornarmos amigos, eu não estava com intenções de termos algo a mais, mas eu sabia que Katniss deveria ter interpretado isso, pois logo percebi que ela começou a me olhar de uma forma estranha.

— Espero que você não esteja querendo ver nessa garota ai uma nova Katniss... – thomas disse enquanto almoçávamos, olhei para ele com as sobrancelhas franzidas. – Parece que você tem uma queda por garotas nerds, ou será que é porque garotas inteligentes lhe faz lembrar a Katniss de antigamente?

— Ela me lembrou sim a Katniss, mas não estou pensando em namorar ela para me consolar, ou para tentar fingir que ela é a Katniss se é o que você está pensando, embora ela seja uma garota inteligente e goste de literatura inglesa que nem a eu e também seja uma garota legal, eu não vou confundir as coisas, pois eu já aprendi Thomas, eu sei que nunca, ninguém vai ser como a Katniss, ela era única e o que vivemos também foi único...

Thomas ficou me olhando com as sobrancelhas arqueadas e depois voltou a comer.

— Bom, acho bom, a ultima coisa que quero é ver uma nova confusão e mais outra garota magoada, já bastou a saga de Katniss versus Gabbe! – ele disse, e então soltei um longo suspiro, voltei a olhar para Katniss e vi que agora ela não me olhava mais, seus olhos estavam pregados em Glimmer, que estava sentada em uma mesa sozinha no refeitório, com um livro bem grosso em sua mão.

— Ela deve estar achando que temos algo! – eu disse, e agora olhei para Thomas.

— O que? – ele perguntou.

— Katniss, ela deve achar que estou interessado na Glimmer! – eu disse para Thomas, e então vi que ele olhou para Katniss, e depois olhou para Glimmer.

— Toma cuidado com isso, você já viu o que uma garota enciumada é capaz de fazer... – ele disse, e eu sabia que ele estava falando da Gabbe.

— Katniss nunca faria o que a Gabbe fazia, elas são muito diferentes... – eu garanti e Thomas apenas deu de ombros, então eu comecei a comer, tentando não pensar mais nesse assunto.

É por um momento achei que Katniss nunca faria nada que fosse parecido com o que Gabbe já havia feito com ela, mas logo eu descobri que eu estava enganado.

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Acordei cedo no dia seguinte, eu ainda estava com dificuldades para dormir, eu havia perdido o sono durante a madrugada e acabei continuando a minha leitura do livro: “Vampiratas”, depois quando era mais ou menos três horas da manhã acabei pegando num sono de novo e cinco horas eu já estava acordado novamente, então, tomei um longo banho para tentar aliviar as dores corporais pela noite mal dormida e então decidi dar uma volta pela escola, eu não sabia porque, mas acabei passando pela biblioteca, talvez no meu inconsciente eu acreditasse que poderia encontrar Katniss por ali, mas eu não a vi, na verdade já fazia um tempo que Katniss não frequentava mais a biblioteca como antes.

Só que entre as mesas vazias, meus olhos pararam numa figura loira que estava sentada sozinha, num canto da biblioteca, ela parecia querer se concentrar no livro, mas ela parecia nervosa, seus olhos estavam vermelhos, como se ela tivesse chorado. Franzi as sobrancelhas e então eu entrei na biblioteca, aproximei-me dela, e não precisei falar nada para que ela notasse minha presença, ela simplesmente levantou a cabeça, me olhou com os lábios entreabertos e antes que eu pudesse falar um “oi” ela fechou o livro e se levantou.

— Glimmer algum problema? – perguntei, ela não me respondeu virou-se e saiu rapidamente da biblioteca, eu sai rapidamente atrás dela. – Glimmer... Glimmer... – fui chamando-a, puxei-a pelo braço e ela me olhou seriamente.

— É melhor não nos falarmos mais! – ela disse, num tom sério.

— Por que? Eu fiz alguma coisa com você? você ficou chateada comigo? Se for, eu peço desculpas, eu...

— Você não tem que me pedir desculpas, não é você, mas aquela garota... Ela é monitora e você não me falou nada, e como eu já imaginava ela ficou com raiva de nos ver juntos, e falou um monte de coisas para mim e se não bastasse ainda me deu uma detenção porque segundo ela eu passei do horário para ir para meu dormitório, mas eu só passei porque ela me parou, você entende Peeta? Ela fez de proposito! Talvez para você levar detenção pode não parecer grande coisa, mas para mim sim, foi o fim, eu sempre tive um histórico exemplar em todas as escolas que estudei, nunca tinha levado uma detenção na minha vida, e essa foi tão injusta que... – Glimmer passou a mão no rosto, limpando rapidamente as lágrimas que caiam dos seus olhos, ela então suspirou. – Eu não a quero me perseguindo e sei que se eu continuar falando com você, ela vai continuar fazendo isso, me perdoe Peeta, mas é melhor não nos falarmos mais!

Glimmer então se virou e saiu quase quase correndo, não dando oportunidade de eu falar uma palavra sequer, além do mais eu também estava chocado demais para falar qualquer coisa, eu fiquei olhando-a se afastar, com os lábios entreabertos, sem acreditar no que eu havia acabado de escutar, realmente Katniss foi capaz de agir como a Gabbe, e cada vez eu tinha mais certeza de que eu estava certo, Katniss havia mudado, ela realmente só fingiu que queria voltar a ser minha amiga.

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Demorou algumas horas para finalmente eu ter a coragem de decidir ir atrás de Katniss, pois eu sabia que seria uma conversa difícil, mas eu também sabia que uma hora eu iria ter que encará-la, eu decidi aguardar anoitecer, pois os corredores estariam mais vazios, e assim eu não encontraria nenhum curioso por perto tentando ouvir o que iriamos falar um para o outro, eu sabia que seria uma conversa difícil, e eu não sabia aonde ela iria nos levar.

Quando a vi andando por um dos corredores bem lentamente, provavelmente já em sua função como monitora, eu respirei fundo, olhei-a por alguns segundos e por um momento eu senti quase meus pés travarem e foi difícil voltar a sair do lugar, era difícil olhar para Katniss e não me lembrar de quanto ela foi e ainda é importante para mim, é difícil olhar para ela e não se lembrar do quanto eu ainda a amo. E ainda fiquei ali, alguns segundos olhando-a de longe, com o coração disparando e sentindo um nó formar-se em minha garganta. Pensei até mesmo em desistir, mas eu sabia que não deveria fazer isso, eu precisaria me aproximar e ter essa conversa de uma vez por todas, mesmo que ela leve ao nosso fim.

Caminhei em sua direção, parei atrás dela e então a chamei, Katniss parou de andar, ficou ainda alguns segundos parada, de costas, até finalmente virar em minha direção e me olhar friamente.

— É, precisamos conversar... – eu disse, num tom sério.

— Conversar? Agora você quer conversar? – Katniss disse, arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços, seus olhos permaneciam frios e definitivamente aqueles olhos não pareciam nenhum pouco aqueles olhos doce e bondoso que por tanto tempo eu amei.

— Sim Katniss, precisamos conversar e você vai me ouvir! – eu falei, olhando-a seriamente com a cabeça erguida, nos encaramos por alguns segundos, ambos sérios, lançando olhares frios um para o outro, meu estomago revirou, eu nunca imaginei que Katniss e eu chegaríamos naquela situação.

Continua...