O único entre milhões

Você está esperando pela desculpa certa? Você está esperando o sinal para escolher? Enquanto você espera é o tempo que você perde... O que você está esperando? Você não quer abrir as suas asas e voar? Você não quer viver a sua vida? Você não quer amar antes de morrer? O que você está esperando?

Nickelback – What are you waiting for?

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Katniss Everdeen

Esquecer Peeta Mellark seria uma tarefa difícil, quase impossível, mas eu sabia que minha aproximação estava irritando-o e a ultima coisa que eu queria é que ele me odiasse ainda mais.

Saber que ele não me via da mesma forma e ainda nem me considerava como uma amiga doía e doía muito, senti o coração se quebrar em milhares de pedaços, minha garganta fechou e só de me lembrar do que ele disse para Thomas meus olhos ardiam de tanta vontade de chorar. Mas o pior é que apesar de tudo isso eu não conseguia sentir raiva dele, por mais que tentasse, por mais que eu quisesse, eu sempre veria Peeta com carinho.

Só que eu tinha que tentar... Eu precisava me afastar de Peeta, dá um tempo para organizar melhor minhas ideias, eu havia ficado muito confusa, muito magoada, não imaginava escutar aquilo dele, tudo bem que poderia não ser muito por parte dele, mas para mim sim, qualquer fato relacionado a Peeta poderia me magoar completamente. Como aconteceu agora.

E por essa razão naquela noite ingeri tanto chocolate por causa do nervosismo que acordei com uma forte dor de barriga no dia seguinte, e foi então que naquela manhã eu decidi ocupar minha mente, eu precisava fazer algo que me distraísse, para tirar Peeta um pouco de foco, se não eu acabaria morrendo de intoxicação por chocolates, ou acabaria ficando depressiva ou louca.

Com o passar dos dias, em uma conversa com Annie eu soube que Finnick Odair estava planejando uma manifestação contra a comida da escola, e claro que eu concordei completamente com ele, afinal, as verduras e os legumes nunca foram valorizados na instituição, deixando os vegetarianos sem saber muito o que comer. Além disso, havia tanta gordura nas comidas da escola que poderia deixar todos os alunos completamente obesos e com alto colesterol.

E por essa razão sem pensar duas vezes eu me aproximei dele, e falei que o apoiava com a ideia, ele ficou completamente empolgado por saber que eu queria ajuda-lo, afinal, não havia muitos alunos que eram receptivos a ideia da manifestação, mas juntos poderíamos fazer alguma coisa, mudar a ideia dos alunos, mostrar que seria bom ter uma alimentação mais saudável.

E isso me deixou completamente empolgada também, afinal, além de eu fazer algo que eu gosto (falar sobre uma alimentação mais saudável), eu poderia tirar um pouco o Peeta dos meus pensamentos. E realmente havia sido bom, com o passar do tempo eu fui vendo que além de poder defender os meus ideais e ter ganhado uma distração eu havia ganhado um amigo, um amigo com as mesmas opiniões que eu, e por isso eu não podia estar melhor.

Eu havia até convencido Annie a nos ajudar, claro que ela aceitou não porque era a defensora numero um das verduras e legumes, mas sim por achar Finnick bonito, ela queria se aproximar dele, e bem, eu pude aproveitar a situação para fazê-la conseguir assinaturas, e ela era muito boa nisso.

Tudo estava indo bem, que eu até havia conseguido tirar um pouco Peeta dos meus pensamentos, mas era só eu ir para alguma aula em que Peeta também fazia que eu sentia-me tentada a olhá-lo, mas fiz o máximo de esforço possível para evitar e consegui muito bem, quanto mais eu evitasse olhá-lo, menos doeria.

Dediquei-me completamente naquele dia a manifestação, a noite eu já estava completamente esgotada. Eu estava deitada na minha cama, lendo um pouco quando notei Mia me olhando de uma forma estranha, ela parecia desconfiar de alguma coisa.

— Você e o Finnick... Tá rolando algo? – ela me perguntou, com as sobrancelhas arqueadas.

— O que foi? Está surpresa porque acha que sou feia demais para ele? – perguntei, voltando a olhar para o livro e evitando olhá-la novamente. Tudo bem que eu estava dando a entender que Finnick e eu estamos tendo algum tipo de relação, mesmo não tendo, mas eu não podia perder a oportunidade de deixa-la confusa, afinal, eu sabia que para ela era impossível um garoto como Finnick gostar de uma garota como eu, a opinião dela não é grande coisa para mim, mas mesmo assim eu queria deixar uma pulga atrás da orelha dela.

— E o Peeta... Esqueceu ele é? – ela perguntou nem fazendo questão de me responder, era como se estivesse ignorado completamente o meu comentário, ela parecia louca para me interrogar, e eu já sabia que era para depois sair fofocando barbaridades por ai.

— Peeta e eu só somos colegas de classe... – respondi, tentando manter indiferença, mas acho que não funcionou muito.

E então ela ficou em silencio, depois de alguns segundos eu a olhei, notei que ela ainda me encarava com um olhar de desconfiança e aquilo estava começando a me irritar.

— Algo mais? – perguntei.

Ela não disse mais nada, apenas deu de ombros, virou-se e foi em direção ao banheiro, fechando a porta atrás de si, só então dei um suspiro de alivio. Mia ás vezes é completamente irritante, ou melhor, quase todas as vezes.

Eu já ia voltar a ler o livro, quando escutei um barulho de bater de porta, imaginei que seria alguma amiga de Mia, só faltava isso, elas eram tão enjoadas e chatas assim como ela e eu não iria ficar suportando as suas fofocas e conversas fúteis.

O barulho se repetiu, Mia não saiu do banheiro, e então sentindo-me vencida eu decidi abrir a porta.

 Eu soltei um resmungo, fechei o livro e levantei-me da cama, caminhei até a porta e a abri rapidamente. Quando vi de quem se tratava, senti meu coração disparar acelerado, minhas pernas tremeram e minha vontade era de abraça-lo no mesmo momento, mas contive as emoções que ele me causava, afinal, eu tinha que agir diferente. Eu havia prometido a mim mesma que faria isso, eu não podia falhar.

— P-Peeta... – gaguejei. – O que faz aqui?

— Er... Bem... Er... – ele também gaguejou, o que me deixou ainda mais confusa. – É que eu, eu, bem, eu li o livro e queria agradecer, ele é muito bom... – ele respondeu.

Peeta estava mentindo, ele era péssimo para mentir, eu conseguia perceber a mentira só de olhar em seus olhos. Só que eu não conseguia entender o porque ele estava tendo uma atitude dessas.

— Ah é? – eu arqueei as sobrancelhas. – E que parte você mais gostou?

— Bom, é, não tem parte especifica, na verdade eu gostei do livro inteiro! – ele respondeu, e então eu pude ter a certeza absoluta, ele estava mentindo.

— Aham... – eu fiz cruzando os braços. – Fala a verdade você não leu nenhuma linha! – o acusei, e então Peeta pareceu ter ficado sem reação, afinal, eu o havia pegado mentindo, ele não teria o que dizer. Então, eu continuei. – Para que você veio até aqui mentir para mim?

— É que... É que... Você nunca mais falou comigo e... – ele dizia, e cansada eu o interrompi.

— E por que eu falaria? – perguntei, fazendo uma expressão de surpresa. Tá legal, eu estava magoada e queria mostrar para ele toda minha chateação, mas eu não podia ser tão clara, apenas deveria ser indiferente... Tá legal, ser indiferente não é tão fácil, ainda mais quando a pessoa não é indiferente a você, mas quando eu me lembrava de suas palavras, ser indiferente ficava um pouco mais fácil.

— Como? – ele perguntou.

— Não somos amigos! – respondi, e antes de acabar fraquejando eu fechei a porta rapidamente.

Tranquei-a, encostei-me nela e soltei um longo suspiro, quando eu o olhava eu percebia que nada havia mudado, tá eu poderia estar sendo um pouco diferente com ele, eu poderia estar ignorando sua presença e até mesmo tentando fingir que ele não existe, mas era só Peeta aparecer na minha frente, que todas as sensações voltavam, tão intensas como se fosse a primeira vez, ai então eu me pergunto como eu poderia gostar tanto dele? Um dia eu poderia gostar assim de outra pessoa?

Era difícil tentar desistir, era difícil tentar fingir que ele não existe se ele é tão importante para mim, tentar esquecer Peeta é quase a mesma coisa do que tentar esquecer eu mesma.

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Mais três dias se passaram e fingir que Peeta não existe a cada dia estava ficando mais difícil, afinal, eram tantos dias longe dele que a saudade cada vez era maior.

Finnick e eu estávamos cada vez mais amigos e isso aumentava os falatórios maldosos dos alunos, tudo bem que eu ignorava, nunca me importei com falatórios, por sorte Finnick diferente de Peeta, parecia não se importar também. O que era bom, podíamos continuar com o manifesto, e a cada dia tínhamos melhores resultados.

Estávamos em um corredor pedindo assinaturas, agora tínhamos até nossas próprias camisetas que conseguimos com a mãe de Annie, e conseguimos mais alunos para participar do manifesto, o que nos deixava bastante animados.

Estamos distraídos com o trabalho quando entre os alunos dos corredores, eu o encontrei. Ele estava se aproximando com Thomas, e logo senti seus olhos em minha direção. Desviei o olhar e tentei evitar olhá-lo. Annie percebeu meu nervosismo e me olhou com um olhar de reprovação.

 - Você ainda é afim desse cara? – ela discordou com a cabeça, inconformada. Eu não tinha mais falado sobre ele com Annie, mas ela não precisava ser uma vidente para perceber que Peeta ainda mexia comigo.

Entretanto eu não a respondi, por sorte ela também não falou mais nada, apenas se afastou, indo em direção aos dois. Eu continuei observando-a, ela parecia estar pedindo assinatura para Thomas, ele pareceu não gostar e a respondeu, Peeta pareceu ter ficado envergonhado com a atitude de Thomas, que meio nervoso olhou para mim.

Nossos olhares se cruzaram, e eu senti meu corpo todo amolecer, eu queria desviar o olhar, mas eu não conseguia... Os olhos dele eram tão lindos, mas ao mesmo tempo pareciam tão tristes. Eu não sabia o porque, não sabia se era uma loucura de minha cabeça ou um desejo que me fazia até ter alucinações, eu não sabia o certo a razão, pode parecer um absurdo, mas dentro de mim, algo me dizia que Peeta também sentia a minha falta.

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— Vocês não tem vergonha de ficar o dia todo com essas camisetas? – meu melhor amigo Gale perguntou, enquanto sentava-se á mesa do refeitório. Annie e eu sentamos ao lado dele, e o olhamos levemente irritadas.

— A camiseta é bastante bonita tá legal, foi a minha mãe que arrumou para nós! – Annie respondeu, e em seguida mostrou a língua para Gale, que então deu uma risada.

— Fala sério, eu não entendo porque você está participando disso, Katniss até entendo porque é vegetariana, mas você... – Gale discordou com a cabeça, inconformado.

— Ela está fazendo isso pelo Finnick, quer virar mais amiga dele... – respondi, com indiferença.

— É, mas quem acabou se grudando com ele foi você e não ela, me desculpe te desapontar Annie, mas acho que o Finnick está interessado em outra pessoa, e parece muito obvio quem é ela... – Gale então me encarou com as sobrancelhas arqueadas. Então eu bufei, não era a primeira vez que Gale fazia uma insinuação dessas, que em minha opinião era completamente ridícula. As pessoas as vezes são tão maliciosas.

— Já vai começar com essa idiotice de novo? – eu reclamei. – Finnick é apenas meu amigo, não sei porque você fica falando essas coisas maldosas, se ele tivesse interessado em mim de outra forma eu saberia... – garanti.

— Como? Se você não consegue enxergar um palmo a sua mão? Porque seus olhos só vivem grudados em uma única pessoa, eu não preciso nem dizer o nome, não é? – Gale retrucou.

— Não mesmo... – Annie foi quem respondeu antes de mim. – Hoje eu percebi que ela continua tão apaixonada como antes...

Eu bufei e cruzei os braços, eu odiava quando eles falavam de Peeta, como eu odiava, naquele momento a única vontade que eu sentia era de sair correndo para bem longe deles.

— Parem de me acusar! – eu disse, irritada. – Vocês não sabem como já está sendo difícil para mim me manter distante dele, tentar não pensar nele, tentar fingir que ele nem existe, tá doendo e bastante e sabe vocês não estão me ajudando, jogando toda hora na minha cara os meus sentimentos por ele... – eu me desabafei, sentindo meus olhos arderem por causa das lágrimas que estavam teimando em cair.

Gale e Annie se entreolharam, mas ficaram em silencio, Gale então bufou e levantou-se da mesa, notei que ele ficou um pouco vermelho, mas não disse uma única palavra, apenas se virou e saiu do refeitório em passos apressados.

— Ele parece ter ficado irritado... – comentei, enquanto passava a mão em meus olhos, tirando as lágrimas, antes delas começarem a cair.

— Claro, ele não gostou do seu comentário... – Annie respondeu. – Será que você não percebe que ele sente ciúmes do Peeta e até mesmo do Finnick?

Eu arqueei as sobrancelhas, sem entender.

— Por que ele sentiria? – eu perguntei.

— Não está claro ainda para você Katniss? O Gale gosta de você! – Annie respondeu, como se isso fosse a coisa mais obvia do mundo.

Eu fiquei impressionada com a resposta dela e ao mesmo tempo eu não quis acreditar. Gale apaixonado por mim? Não, aquilo parecia impossível demais.

— É claro que não, é impressão sua! – respondi.

— Por que é tão impossível? Se você ainda não percebeu Katniss, existem milhares de homens do mundo além de Peeta... – ela retrucou.

— Podem até existir – respondi, soltando um longo suspiro. – Mas Peeta para mim é o único entre milhões...

Continua...