A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 8
Oito


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado - devido a linda e maravilhosa recomendação ♥♥♥ - a Milly Uchiha. Sério, eu surtei quando vi, surtei mesmo. Quase dei um berro em uma sala com quase oitenta pessoas USHUAHSUA. Muito obrigada! Eu estou tão feliz que inclusive arranjei vergonha na cara, betei e postei o capítulo mais cedo do que eu imaginava. Mais uma vez, OBRIGADA! ♥

Enfim, espero que gostem. :*



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Haruno Sakura

Era Ascendente: Cerca de onze anos atrás.

— Pirralha... Eu estou falando com você! Por acaso és surda?! — o adolescente aponta o dedo indicador em direção ao meu rosto de uma forma petulante. — Eu exijo uma resposta!

Nunca havia sido tratada excepcionalmente bem por ninguém, é claro, mas isso não significaria que eu iria aceitar alguém agir dessa forma comigo. Não, aquele menino por certo precisa de uma lição! E depois dizem que as crianças são infantis! Acabo de descobrir que não quero virar uma adolescente. Inflo as bochechas coradas de raiva – pela atitude do garoto – e mostro o dedo médio para ele, que encara a minha mão estupefato. Bem, isso não é uma atitude feminina, mas ele mereceu!

— Quem você pensa que é para falar assim comigo seu... — fecho os olhos com força para achar um bom adjetivo para esse garoto mimado. — Seu bobão!

Acontece que a minha reação – pelo contrário que eu imaginara – não fora recebido com susto, medo ou algum tipo de receio. O menino simplesmente joga-se no chão com os olhos negros ainda arregalados, fitando a mim e a árvore, e gargalha com gosto. Isso faz com o que as minhas bochechas queimem ainda mais – tanto de raiva quanto de vergonha – pois mesmo que eu ainda seja nova, está claro que o menino zomba das minhas ações. Observo o galho ao meu lado com raiva e parto ele com as minhas pequenas e magricelas mãos. É agora que esse ser do mal irá sofrer a minha ira!

— Toma essa, seu “achador” de esconderijos! Jutso dos galhos voadores! Há! — jogo o galho, agora partido em três pedaços, bem na cabeça do menino dos cabelos longos.

O menino se encolhe todo ao receber os meus galhos em sua cabeça e gargalho vitoriosamente. Espero que agora ele vá embora e nunca mais volte! Quero muito comer a minha maçã...

— Ei, por que fizeste isso com a minha pessoa?! — ele vira-se novamente para mim massageando a sua cabeça com uma de suas mãos.

— Humpf! — cruzo os braços, irritadiça. — Você riu de mim! Malvado! Filho do maligno!

Se não ficara assustado com o “bobão”, agora toma essa, seu adolescente cruel! Comparei-te ao demônio! Deixe-me em paz no meu esconderijo do dia!

Mas é claro que ele não me deixaria em paz. O moreno começa a rir novamente e dessa vez até mesmo ousa em deitar a cabeça completamente na grama enquanto se sacode de forma tosca pela gargalhada dada.

— Sabe... — ele diz no meio de suas risadas. — Eu gostei de você. Lembra muito o meu irmão. Arisco e mal criado! — não respondo ao seu comentário por estar em choque.

Eu havia brigado com ele, jogado a minha nova técnica ninja em cima da cabeça dele e agora escuto algo assim?! Meus olhos esverdeados fitam o seu sorriso fraterno com curiosidade. Nunca, jamais, alguém sorriu assim para mim. E, de certa forma, isso é muito acolhedor. Mesmo para um maldito ladrão de esconderijos do dia.

— Garota. — ele levanta-se fitando o meu rosto com curiosidade. — Por que xingaste a mim? Não é como se eu fosse fazer alguma coisa contigo!

O menino parece verdadeiramente sincero e isso meio que me toca. O que fazer em momentos como esse? Desde pequena sempre havia sonhado que alguém fosse legal comigo, como papai era com mamãe, quando não estou perto.

— Você não vai? — meus olhos enchem-se de água com tamanha bondade do desconhecido.

Até que adolescentes não eram tão ruim assim...

— Claro que não. — o menino dá um sorriso ainda mais gentil em minha direção e fico olhando abobalhada para ele. — Por que não desce desta árvore para conversarmos?

Desço timidamente da árvore e caminho – sem conseguir olhar para o rosto do adolescente por pura vergonha – até a frente do menino.

— Por que você quer falar comigo? — pergunto ao moreno a minha frente, ainda sem olhá-lo. — Ninguém gosta de falar comigo.

Escuto um passo sendo dado e olho, interrogativa, para o moreno, que agora parece mais próximo a mim. Ele ergue uma das mãos e coloca sobre os meus ombros e sinto-me estranha. Como se ele realmente quisesse a minha companhia no momento.

— Poxa, menina! — ele exclama com uma expressão estranha. — Não fala essas coisas!

— Se eu mentir a mãe fala que eu mereço uma surra de vara. — admito para ele com uma careta.

O moreno retira o seu braço do meu ombro e olha para o céu, parecendo realmente pensativo. Será que a mãe dele também não gosta de mentiras?

— Eu não sabia que a vida de uma criança poderia ser tão difícil...

Difícil? Não, minha vida não é inteiramente difícil. É só olhar para os desempregados do distrito – espero que meus pais não fiquem assim por mais de um ano, ou juntaremos a eles – que não tem condições de ajudar na plantação. Eles costumam revirar o lixo o dia inteiro, vire e mexe um acaba... Como é mesmo a palavra que a mãe usa? “Desvivendo” da vida! Ou seria morrendo da vida?

De qualquer forma, mesmo que eu tenha que roubar quase todos os dias alguma maçã meio estragada, ou outra fruta qualquer, minha vida é um paraíso, comparada com a dos desempregados. Eles não têm força nem para pular a pequena cerca da plantação. Pai diz que eles não têm força nem para desviver ou morrer.

— De qualquer forma... — ele volta a falar antes que eu responda ao seu comentário. — Por que estava sentada em cima da árvore?

Não sei bem ao certo, mas tenho convicção de que o adolescente não irá me dedurar. Nunca confiei em ninguém, – nem ao menos em mim mesma – mas tenho a impressão dele ser diferente, no entanto. Coloco as minhas mãos entre os lados da minha boca para contar o segredo.

— Eu tava escondendo a minha fortuna! — sorrio sapeca, olhando para a minha maçã entre as mãos.

— Uma maçã? — ele indaga meio confuso. — E por que isso seria uma fortuna?

Começo a rir das duas perguntas do menino. Ele estava de brincadeira comigo! Ninguém nunca tinha brincado comigo, isso é legal.

— Você é engraçado, menino. — admito para ele abrindo um sorriso e mostrando meus dentes. — E como você se chama?

O sorriso esboçado em seu rosto some assim que ele escuta a minha pergunta, como se tivesse se lembrado de algo desagradável. Não me sinto bem com a sua reação, já que é a primeira pessoa que parece pensar em mim como alguém normal e não um estorvo.

— Itachi.

— Como o do príncipe? — indago e ele assente, demonstrando estar ainda mais emburrado. — Caramba, sua mãe não tem criatividade não?!

— Digamos que ela não sabia que haveria alguém importante com esse nome. — o seu sorriso fica divertido. — Qual és teu nome completo, criança?

— Sakura. — sorrio sincera para o meu primeiro amigo. — Haruno Sakura.

— És um enorme prazer em conhecê-la, Sakura.

O seu jeito pomposo de apresentação fora mal recebido por mim, porque me deixara bem desconfortável e envergonhada. Abano as mãos em um sinal de descaso.

— Ai, deixa disso, menino esquisito! — rio sem graça do seu comportamento.

Lembrou até mesmo aqueles galãs de teatro, que vi apenas uma única vez, quando fizeram um espetáculo no meu distrito!

— É tão esquisito assim?

Ele fica pensativo por alguns instantes, até que então escutamos algumas vozes grossas de desconhecidos. Seu semblante fica pálido e assustado como se tivesse visto algum fantasma, embora a mãe e o pai digam que esse negócio de fantasma é uma mentira.

— Então, Sakura, por que não vamos brincar de pega pega? — ele indaga para mim. — Eu sou o pega.

Não posso evitar ficar trêmula de felicidade. Às vezes via as filhas do duque brincando disso e correndo como se não houvesse o amanhã, uma atrás da outra. Sempre tive vontade de fazer algo assim, mas nunca conheci alguém para isso. A velha – já fora desse mundo – que a mãe chamava de mãe, uma vez disse para mim que eu brincaria muito se fosse para uma escola. E aprenderia o meu sonho que é ler.

Sorrio para Itachi e saio correndo atrás dele assim que vejo o moreno correr disparado. O meu equilíbrio é péssimo, mas por sorte não caio em nenhum momento.

— Finalmente um lugar seguro... — Itachi murmura depois de chegarmos a uma pequena caverna, um pouco longe do lugar onde estávamos anteriormente.

— Seguro? — indago confusa.

Infelizmente não consegui ganhar de Itachi na brincadeira. Para falar a verdade, ele teve que esperar eu alcançá-lo algumas vezes para não nos perdermos de vista. Confesso que isso fora um pouco humilhante.

— É... — ele responde a minha pergunta e logo escuto um leve ronco vindo da barriga do novo amigo.

Itachi demonstra estar um tanto constrangido com o ronco de fome do seu estômago, mas sinceramente... Já estou acostumada com esse barulho. Escuto todos os dias, afinal.

— Você está com fome, não é? — indago preocupada para o moreno que sorri meio sem graça. — Vamos comer a minha maçã!

Ele demonstra-se surpreso com o que acabo de dizer, e sendo assim, arregala os olhos negros. É engraçado que não consiga diferenciar a pupila da íris de seus olhos.

— Mas ela não é o seu tesouro?

Sim, ela é. Mas depois de brincar pela primeira vez com mais alguém a não ser eu mesma, eu poderia compartilhá-lo.

— Eu estou acostumada a ter fome. Meia maçã é o suficiente! — minto para o menino, afinal, esfomeada do jeito que sou, comeria tudo e mais sete, sozinha.

Mas é claro que isso jamais havia acontecido. O máximo que consigo é três frutas mais ou menos e uma diarreia de matar, logo depois.

— Nossa, obrigada! — eu estendo a maçã para o menino e ele começa a comer.

Itachi come com tanta rapidez a sua parte que sinto vergonha quando ele estende a outra metade para mim. Eu não poderia fazer uma desfeita como essa com o meu primeiro amigo. Não mesmo.

— Não, não! — nego para ele gesticulando com as mãos. — Pode comer o resto. Quer saber? A minha fome já passou.

Itachi arregala os olhos para mim – e por um momento pensei que ele fosse prensar a outra metade na minha boca – mas ele volta a comer com avidez.

Não vou negar que havia ficado com uma vontade imensa de comê-la também, mas a sensação de compartilhar algo com alguém é muito melhor. Sorrio para o menino.

— Você disse que tem um irmão... — comento interessada no assunto, ao lembrar que era para eu ter um também.

Imagino o que eu faria se a minha mãe realmente tivesse tido o meu irmãozinho que não conseguira nascer. Talvez ela o deixasse comigo e eu cuidasse do pequeno como se fosse a sua própria mãe. Alguns anos mais tarde finalmente eu teria uma família de verdade!

— Sim. — ele fica bastante animado com o assunto e perco o fio da meada sobre meus pensamentos para prestar atenção nas palavras de Itachi. — Ele é até parecido com você! Arisco, mas uma boa pessoa. — revela com um sorriso brotado em seus lábios.

— Eu queria ter um irmão... — deixo escapar.

Acho que o desejo de ter alguém que realmente se importe comigo é tão forte que acabo falando em voz alta. O moreno dá um sorriso gentil em minha direção.

— E eu gostaria muito que conhecesse o meu. Talvez pudesse ajudá-lo a ser mais feliz, já que és tão parecida. Ele, ás vezes, é tão... Argh! — algo realmente o incomoda, mas ele sorri sincero ainda sim. — A única pessoa que ele consegue ser verdadeiro é comigo e com aquele loiro idiota.

Não entendi exatamente nada do que ele quis dizer com isso, mas imagino que seja algo interessante. Itachi provavelmente tem muitos amigos! Será que algum dia ele me apresentaria a eles? Espero que sim!

— Obrigada pela maçã.

Nunca lidei bem com agradecimentos; isso é algo extremamente raro de acontecer comigo. Praticamente as únicas pessoas que conheço são meus pais e Tetsui, o bibliotecário.

— Espero que tenha ajudado você. — comento encabulada.

Algo no meu comentário desperta em Itachi, porque o seu sorriso é diferente em relação aos anteriores. Já vi um sorriso sincero, triste, debochado... Mas esse parecia ser algo que eu jamais tinha presenciado.

— Você não faz ideia... — ele sussurra com um olhar distante. — Agora eu vi o quanto sou tolo ao desmerecer tudo o que tenho. — ele volta a olhar para mim com um sorriso triste. — Haruno Sakura, não é? — assinto a cabeça estranhando a sua atitude. — Muito obrigada! — curva-se para mim como se eu fosse alguém importante, o que é engraçado. — Eu nunca vou me esquecer de você!

Que papo é esse de que não irá se esquecer de mim? Estreito os olhos para o moreno e cruzo os braços, sentindo um frio estranho invadir. Sinto medo.

— Ei, como assim? — minha pergunta sai bem desesperada. — O que isso quer dizer, Itachi?!

Coloco os braços sobre a minha fina e magrela cintura, sentindo a mágoa apossar-se de mim. Será que...? Não, não posso pensar nisso.

— Bem... — ele abaixa a cabeça e não consigo olhar em seus olhos negros. — Eu não... Moro nesse distrito, Sakura. Eu fugi.

Fico chocada com a sua constatação. De qual distrito ele seria? Vinte? Treze? Sete? Antes que eu pergunte mais sobre ele, o moreno levanta-se do lugar com um sorriso triste nos lábios.

— Eu... Vou voltar para a casa. — sinto os meus olhos queimarem, desacreditando que iria perder meu primeiro amigo tão rápido. — Sinto muito, Sakura. — e parece que ele realmente sente... — Eu prometo que você não irá passar mais fome!

Assusto com o seu comentário. Isso era impossível! Desde que me lembro como gente, sinto a fome gritar em meu estômago devido à escassez de dinheiro da família Haruno. Mais uma vez, antes que eu esboce alguma reação, Itachi faz isso por mim. Ele bagunça o meu cabelo e depois corre para a saída da caverna.

— Passar bem, Sakura!

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.

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Uchiha Sasuke

Era Ascendente: Cinco de outubro de 1523, Segunda-feira

— Sakura? — indago meio impaciente ao ver que depois de sua pergunta, a rosada entrara no mundo da lua.

Não parecia enxergar nada ao seu redor, então decidi que deveria dizer alguma coisa para ela voltar ao normal. A Haruno fica assustada com a minha voz, provavelmente concentrada demais em seus próprios pensamentos. Ela praticamente pula assustada no banco – e quase dou um sorriso debochado pela falta de atenção por isso – e depois dá um sorriso amarelo, parecendo constrangida.

— Oh. — suas bochechas ficam levemente coradas. — Perdão, Vossa Alteza.

Lembro-me do que ela havia dito há poucos instantes, sobre ter conhecido o meu irmão. Mas como seria possível? Itachi morrera precocemente – com dezoito anos – e ele quase nunca saía do palácio, a não ser quando meu pai o obrigava, a fim de conhecer mais sobre os outros distritos. Principalmente no final de sua vida, ele fora alguém extremamente ligado e a família.

— Não consigo ver uma situação plausível na qual vocês dois tenham se conhecido. — confesso para a menina que esperava pacientemente a minha reação.

Sakura cobre os lábios com as mãos e dá uma breve risada, o que me deixa intrigado. Ela as retira da sua boca depois que cessa o riso e coloca-as em seu colo, enquanto sorri divertidamente, parecendo lembrar-se de algo.

— E não há uma situação normal, Vossa Alteza. — ela diz para mim ainda com o sorriso peculiar. — Verdade seja dita... Eu nem ao menos sabia que ele era um príncipe!

Itachi, desde pequeno, sempre fora um garoto extremamente pomposo e vaidoso, o que seria deveras estranho enxergá-lo como um camponês. É claro que ele nunca fora um, mas pelas palavras de Sakura, parecia ser algo do tipo. Em contrapartida, mesmo sendo vaidoso, Itachi nunca fora uma pessoa muito egocêntrica ou antissocial, o que fazia parecer verdade a palavra dela. Isso, e o fato de – estranhamente – hoje sua coragem parecer inabalável.

— Hn. — coloco meu queixo sobre as minhas mãos cruzadas, pensativo. — Conte-me mais.

♦♦♦

Olho intrigado para Sakura depois que ela conta como exatamente havia conhecido Itachi. Suas palavras pareciam demonstrar indiferença ao fato de seus pais não parecerem ter nenhum tipo de afeto especial por ela, e eu, um inabalável Uchiha, acabei sentindo compadecimento. Ela não entrara muito em detalhe sobre a sua própria vida e contara apenas o necessário até que houvesse encontrado Itachi, mas ainda sim senti como fora essência de sua vida no seu distrito. Bem medíocre.

Confesso que fiquei extremamente surpreso quando ela alegara ter roubado frutas durante a sua infância inteira logo para mim, que sou o próximo a governar Konoha, – bem irônico – mas decido não comentar sobre, uma vez que Sakura nem ao menos pareceu perceber a calamidade que fez.

— Ainda não compreendo o que isso tem a ver com o fato de você estar querendo “me ajudar”. — faço aspas com os dedos no final da frase.

Mesmo estando realmente sensibilizado com a sua triste história de vida e mesmo assim ter ajudado o meu irmão a se distrair, tento não demonstrar nada disso para ela. Sou um Uchiha e tenho um orgulho e uma personalidade fria a zelar.

— Bem... — ela inicia a sua frase meio incerta, provavelmente ponderando se deveria contar o que quer que fosse. — Assim que recebi o convite para ir ao palácio, com os motivos que Vossa Alteza já sabe — ela dá uma pequena pausa e olha para as próprias mãos. — eu confesso que havia recusado a oferta. Eu, Haruno Sakura, uma camponesa que nem ao menos sabe ler? O duque deveria ter enlouquecido. — ela ri sem humor nenhum. — Ele começa a bajular-me e dizer que eu poderia aprender a ler caso fosse... — ela fica um pouco vermelha. — E confesso que isso foi a primeira coisa que me interessou. Como já comentei na história em que conheci Itachi, ler livros sempre fora o meu sonho.

Talvez, só talvez, eu irei ordenar a um dos professores do palácio a ensiná-la enquanto estiver aqui. Só talvez. E isso se eu lembrar e estiver de bom humor, é claro. Sou um homem ocupado.

Olho de esguelha para ela e Sakura parece esperar por algum tipo de reação minha. Talvez estivesse receosa de que eu não prestasse a devida atenção em seus relatos.

— Hn. Prossiga.

Ela puxa o ar com a boca como se estivesse sem ar e expira lentamente. Espero – claro que não pacientemente – a menina preparar-se mentalmente ou fisicamente para continuar a contar a história.

— Mas eu ainda sim recusei. Quero dizer, não tenho muitas virtudes... Mas juro que não sou interesseira! — ela parece um tanto indignada, mesmo que eu não dissesse nada. — E então ele me contou sobre Itachi... Provavelmente foi por causa dele que estou viva. — ela sorri. — Vossa Alteza acredita que, todos os anos, a minha família recebia uma dose generosa de comida? — riu da sua pergunta. — E era ele! Bem, parou depois de uns anos... E a data bateu com a morte dele. Ele ordenava o duque do meu distrito a dar comida a todos os Harunos. — ela finaliza.

Devo dizer que isso realmente é a cara de Itachi, dar alimentos para alguém que o ajudara. Meu irmão havia sido esse tipo de pessoa.

Mas e eu? O que tenho a ver com isso?

— E então você somou um mais um e percebeu que o Itachi que conheceu fora o príncipe? — indago e ela balança a cabeça de forma positiva. — Mas ainda sim não entendi o que eu tenho a ver com isso. — observo Sakura intrigada. — Você só veio para por flores no túmulo?

Ela segura a risada com a minha pergunta e fuzilo a rosada com os olhos. Como ela ousa quase rir de mim?! Maldita... Coloca mais uma mecha, que com a brisa da tarde havia ido para seus olhos, e depois se recompõe da vontade de rir.

— Ora, é claro que não. — sorri com humor. — Eu disse que vim te ajudar. Itachi havia comentado que gostaria que eu o fizesse.

Estreito os olhos para a menina, achando o motivo muito banal e talvez até meio... Improvável? Sinceramente, aposto na possibilidade de apenas colocar as flores na sepultura. Ser gentil comigo fora apenas porque o lembro de aparência, talvez.

— Só por isso?

Essa menina parece uma loja de caridades ambulantes, só pode! Qual é a necessidade de esbanjar altruísmo e bondade para todo mundo?

— Só? — ela fica espantada. — Ele alimentou a minha família por anos! — exclama indignada. — Eu francamente não importo tanto com os meus pais, já que isso é recíproco desde sempre, mas eu poderia estar morta se não fosse por ele! — ela suspira e balança a cabeça em negação. — Passar fome todos os dias é algo doloroso... Gostaria de fazer ao menos uma coisa por ele. E como infelizmente ele não está mais entre nós eu me lembrei de algo que ele havia me dito. Ajudar-te, Vossa Alteza.

Pela primeira vez, penso que Sakura está certa, no final das contas. Talvez a ideia de ajudar-me no lugar de meu irmão seja um pouco exagerada... Mas sei bem como é horrível sentir que está devendo algum tipo de favor para uma pessoa. E o favor que ela devia com toda a certeza é algo grande.

— Humpf, mas eu não preciso da sua ajuda para nada. — resmungo, porque é a verdade.

Não preciso da ajuda de ninguém. Mesmo que ela necessite de algo para livrar do sentimento de culpa – ou algo do tipo – em relação ao Itachi... Eu não tenho necessidade de fazer parte disso, afinal, de que ajuda precisaria?

— Eu não me lembro de ter perguntado algo a você, Sasuke-kun.

O... O quê?!

Como uma camponesa tem coragem de referir a mim como “você” e logo depois chamar o meu nome?! E ainda usar o sufixo que eu mais odeio! Cerro os punhos e fuzilo a garota com os olhos, mas logo percebo que a única coisa que senti em relação a isso fora surpresa.

— Como ousar falar assim comigo?! Esqueceste que sou o príncipe?

Ela arregala os olhos e logo coloca as duas mãos sobre os lábios para tampá-los, em choque. Ela começa a ficar cada vez mais vermelha e a cena é um tanto cômica, para falar a verdade. O que será que passa em sua cabeça? Talvez pense que agora eu irei puni-la com chibatadas. Só a possibilidade dá-me vontade de rir.

— Minha nossa! Vossa Alteza, perdão! — ela abaixa a cabeça assustada. — Havia esquecido que não devo chamá-lo pelo nome!

Oh, mas ser impertinente comigo ela poderia ser?! Dou um sorriso sarcástico para Sakura, que parece procurar – sem sucesso, devo acrescentar – algum lugar para enfiar o seu rosto extremamente avermelhado, apenas para eu não poder encará-la.

— Humpf! — resmungo cruzando os braços. — Distraída do jeito que é, tenho a vasta impressão de que nunca se lembra. Pois bem. Desde que não esteja perto de ninguém, tudo bem em me chamar de Sasuke. — digo e saio andando sem esperar a resposta dela.

Bem, eu estou fazendo isso por Itachi. Ele provavelmente apreciou bastante a presença dela mesmo que por um dia, para ordenarem a dar comida todos os dias para toda a família Haruno. Então tudo bem a deixar fazer o que quiser por enquanto.

♦♦♦

— Então quer dizer que a menina irritante que você falou conhecia o Itachi? — indaga Naruto pela terceira vez.

Sempre tive plena consciência de que ele não tinha uma inteligência boa, mas repetir mais de duas vezes é mais do que o suficiente para entender uma simples história. Naruto continua olhando para mim com expectativa, como se esperasse a minha resposta alegando que ele está certo.

— É. — concordo impaciente.

O loiro coça o queixo, pensativo. É, finalmente aconteceu... Desta vez o imbecil entendeu mesmo.

— Itachi, o seu falecido irmão.

De qual outro Itachi estaríamos falando? Francamente... A cada dia Naruto parece ficar menos inteligente. O que será que ele anda fazendo em vez de estudar? Destruir o meu palácio?

— É, Naruto.

Eu juro que se ele falar mais alguma coisa sobre o assunto eu mesmo o mato com as minhas próprias mãos desnudas!

— Itachi, o que era para ter sido o futuro...

CHEGA!

— Mas que inferno, Naruto! Não dá para calar essa boca?! — interrompo a fala do maldito.

Isso só pode ser brincadeira! Quantas vezes eu teria que acenar positivamente até que esse mentecapto entenda que está certo?! Fuzilo o loiro com os olhos, imaginando diferentes cenas dele sendo torturado. Chibatada, esquartejado, água fervendo, forca, castrado... Infelizmente os meus pensamentos não poderiam virar realidade. Naruto continua em minha frente sem sofrer o que deveria ter sofrido por tirar a pouca paciência que possuo.

— Bem, não peça o impossível. — Naruto coça a cabeça com um sorriso debochado estampado em seus lábios.

O útero de Kushina com toda a certeza deve ser amaldiçoado. Ter um idiota completo como Naruto e uma pequena pentelha como Naruko...

— Então cai fora do meu quarto, Usuratonkachi!

Se eu não posso fazê-lo entender ou for morto de uma forma lenta e dolorosa, que saia da minha frente o mais rápido possível! Ele mostra-se um tanto indignado com o fato de eu estar querendo expulsá-lo de meu quarto e isso só aumenta a minha raiva.

— Mas...

Ele dá a impressão de querer argumentar sobre a minha ordem, mas não quero ouvi-lo agora e nem por muito tempo.

— AGORA! — ele dá alguns passos hesitantes para fora do meu enorme quarto e bato a porta com força antes do loiro virar as costas.

Sento na minha cama sentindo-me esgotado pelo dia. A noite mal dormida, o tempo procurando Sakura e descobrindo sobre ela e meu irmão e o pior... Naruto testando a minha paciência pela milésima vez.

É, preciso de um descanso.


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Notas finais do capítulo

Nada como colocar o Naruto no final do capítulo só pra "descontrair" o Sasuke... USHAUSHUHAHUA. Espero que tenham gostado! Até o próximo. *-*