Uchiha Sasuke

Era ascendente: dezoito de outubro de 1523, Domingo.

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— Então achas melhor que eu volte ao castelo e informe tudo o que acontecera a Kakashi? — a pergunta de Naruto soa estúpida, até porque ele estava apenas repetindo, de forma resumida, tudo o que eu havia dito.

Além de estar um tanto machucado, – o que me proporciona uma dor um tanto irritante – o cansaço também é abundante, e isso aumenta a minha falta de paciência. Naruto me observa, inquieto, enquanto pondero sobre xingá-lo ou apenas afirmar a sua óbvia pergunta.

— Sim.

Decido, por fim, não arrumar uma briga, ainda mais agora que não estou em condições perfeitas. Isso poderia virar uma tremenda dor de cabeça. E nas minhas costas também.

— Sabes que Kakashi irá informar, ao menos algumas partes, ao rei, não é mesmo? — oh, sim, como eu tenho certeza disso.

Kakashi, apesar de desprover de uma língua ácida e afiada, é um bom e leal empregado de Fugaku, que ainda é o rei, como ele adora me informar diversas vezes. No entanto, a saúde de meu pai não permite que ele faça o encontro que participei, além de também não poder se estressar muito.

— É óbvio.

Naruto parece captar a minha falta de paciência, e abre o seu largo sorriso, típico de quando tem uma ideia absurdamente ridícula para irritar alguém. E dessa vez, claramente, o alvo sou eu.

— Você está em maus lençóis, ó sábio Príncipe de Konoha. — o tom de voz debochado soa, deixando-me muito irritado.

Maldito. No entanto, antes que eu rebata a sua piadinha completamente sem graça e desnecessária, a porta se abre, dando espaço a Sakura com um semblante um tanto quanto preocupado.

— Sasuke-kun. — ela diz com uma voz carregada de preocupação, assim como a sua faceta.

Seus olhos esverdeados correm sobre mim, provavelmente averiguando o meu estado, o que não me passa despercebido. Naruto, percebendo o desespero de Sakura por causa da minha saúde prejudicada, vai em direção a porta, para sair.

— Estou voltando para o castelo, então. Assim que a velhota permitir, volte. — e assim sai.

Sakura olha para o Uzumaki saindo do quarto um pouco incomodada, – provavelmente não havia achado apropriado chamar a curandeira de velhota – mas não diz nada para ele, quando o garoto sai. Ela se aproxima de mim sem muita hesitação, ainda me olhando como se eu fosse de vidro, ou algo assim.

— Tsunade-sama disse que o Sasuke-kun irá ficar fraco por alguns meses, mas que bom que não foi nada mais sério. — ela me informa num misto de preocupação e alívio. — Como se sente?

Dolorido, cansado, irritado, e um pouco receoso com a reação de Fugaku. No fundo, bem no fundo, sinto-me assim. Mas, é claro, ninguém precisa de saber isso, humpf.

— Bem. — eu digo, orgulhoso, quando vejo ela se agachar perto da cama.

Lembro de Sakura me chamando de donzela em perigo, e isso apenas acerta ainda mais o meu ego, e, com isso, decido levantar um pouco da cama. A dor nas costas, no entanto, faz com que eu não tenha sucesso algum, e ainda me proporciona uma careta.

— Acho melhor não se esforçar sem motivo, Sasuke-kun. — ela me diz, com um tom de repreensão. — Ou não irá poder voltar tão cedo no castelo.

Isso é verdade. Não a respondo, mas paro imediatamente de tentar lutar contra o meu cansaço, e acabo dormindo, mesmo com Sakura ainda no quarto.

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— Não acho recomendável ele voltar para o castelo hoje. — escuto Tsunade dizer para Sakura, fora do quarto onde estou instalado.

Forço o ouvido para escutar mais da conversa, já que não posso sair da cama e interrompê-la, ao menos agora, por causa da dor. Bom, me sinto bem o suficiente para ir a uma pequena viagem, humpf!

— Eu concordo com a senhora. — a voz de Sakura sai respeitos. — No entanto, ele é o príncipe, e saiu sem consentimento algum. — eu me irritaria com qualquer pessoa que falasse algo confidencial assim para uma pessoa, todavia, tenho conhecimento de que Sakura é inteligente; ela não diria algo assim se não tivesse um motivo plausível.

Fico ansioso para ouvir mais da conversa. Se tudo ocorrer bem, vou poder sair desse maldito quarto e voltar ao castelo. Não me sinto seguro aqui.

— E? Eu não importo com os títulos, continua sendo um paciente que necessita de cuidados especiais, mesmo não estando com riscos sérios.

Ainda que a resposta da curandeira me desse nos nervos, isso apenas mostra como ela é competente. Talvez ela pudesse mudar a situação de meu pai, se ela o tratasse e não Kabuto.

— Tsunade-sama, eu entendo que o seu raciocínio está correto, mas Sasuke-kun continua sendo o príncipe e ainda que você não se importe com os seus títulos, a maioria da nação se importa.

Uma pausa em silêncio. Isso é bom, comprova que Tsunade está pensando na possibilidade de ceder a minha ida.

— Prossiga.

Consigo imaginar o sorriso de Sakura ao perceber que está conseguindo convencer a complicada curandeira.

— Tente imaginar o caos quando descobrirem que o príncipe desapareceu, ou está seriamente injuriado devido a rebeldes. Sua casa, quando descobrirem o local do príncipe, será investigada.

Boa, Sakura. Bastava dar dois olhares cautelosos na personalidade de Tsunade para perceber o quão reservada era e o quanto ela apreciava a tranquilidade.

— Vai ser uma viagem um tanto quanto desconfortável para ele. — ela responde, já considerando a proposta feita por Sakura. — E eu não irei assumir quaisquer consequências.

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Assim como Tsunade havia dito, a viagem fora muito desconfortável. Toda vez em que a carruagem dava pequenos movimentos bruscos, seja por pedras ou buracos, – o que ocorria com uma frequência grande – a minha injúria nas costas latejava de dor. No final das contas, o machucado acabara abrindo-se, o que nos fez dar uma parada de algumas horas. Por sorte, a curandeira fora conosco, para que Sakura não passe maus bocados comigo, como o que havia ocorrido. Ela não me pareceu ter dificuldades em lidar com a ferida aberta, no entanto, isso fez com que uma febre incômoda apoderasse sobre mim. Dessa vez, quem havia feito os cuidados necessários fora Sakura, colocando algumas vezes panos molhados pelo riacho próximo ao caminho, enquanto perguntava o meu estado e se eu necessitava de algo. Não me lembro muito bem após isso; tinha começado a delirar.

Ouvi vozes estranhas, como a de Kabuto dizendo que meu pai havia falecido, e, ao mesmo tempo, enxerguei Fugaku conversando com Itachi. Acho que balbuciara algo sobre, pois senti um aperto forte em minhas mãos, provavelmente de Sakura.

Quando a minha febre finalmente abaixa, fazendo com que eu me porte como uma pessoa normal, Tsunade nos informa que estamos perto do castelo.

— E alguns guardas disseram vir em nome de Kakashi. — ela completa a sua fala, enquanto termino de eliminar os vestígios de sono do meu rosto em um esfregar com as mãos.

Não conto cinco segundos, e os guardas abrem a carruagem, verificando se estou mesmo aqui, além de examinar o meu estado – que não é lá dos melhores.

— Kabuto o espera em sua sala para examinar-te melhor, Alteza. — o guarda diz, e Tsunade não parece gostar muito do comentário.

— Kabuto? É um curandeiro? — assim que o guarda assente, indeciso, para a mulher imponente ao meu lado, que retira as madeixas loira pouco grisalhas perto do seu olho, ela ergue a sobrancelha. — Tenho certeza de que ele não necessita ser examinado por tal pessoa. Duvido que seja melhor que eu.

Chamaria Tsunade de convencida, caso não houvesse sido sua paciente. Ela tinha uma habilidade impecável. Era mesmo possível que Kabuto fosse inferior, em questão de experiência e competência.

Entramos no castelo já no meio da madrugada da segunda-feira, com Sakura a todo tempo me enviando olhadelas preocupadas. Não disse nada a ela, até porque percebi, durante as horas que viajamos, que ela não ficaria tranquila, mesmo com a minha resposta positiva em relação ao meu bem estar.

— Creio que a curandeira fez um bom trabalho cuidado da Vossa Alteza. — essa fora a resposta, um tanto azeda, de Kabuto.

Tsunade ergue a sobrancelha, depois de dar um sorriso cheio de escárnio. Não é possível que os dois começariam a competir…

— Crê? — indaga, utilizando um timbre de voz ácido.

Antes que os curandeiros comecem enfim a prosear sobre assuntos medicinais, a porta do quarto é aberta como um estrondo, e uma garota entra como um furacão, partindo direto para cima de mim. Sinto uma grande pontada nas costas, já que a menina me aperta com força, e faço uma careta.

— Alteza! — exclama Karin, ainda me apertando. — Eu fiquei… Quer dizer, não fiquei muito preocupada, mas com certeza mais que Kin.

Ela me solta, olhando para mim com uma faceta indiferente. Seria isso algum tipo de tática, por causa do ocorrido com Kin, no piano? Ou talvez ela estivesse com raiva… Bom, não importa. O que eu realmente quero saber é como ela sabia disso.

— Naruto… — suspirei irritado, ao perceber que com toda a certeza havia aberto a sua boca e contado para quem não tinha necessidade alguma, como sua prima.

Ele tinha que ter essa língua deveras grande. Oh, mas irá ter vingança... Naruto sabe bem que não pode sair impune de mim, não mesmo.

— Não fique nervoso com ele. — ela diz, surpreendentemente defendendo seu parente. — Eu o encurralei no meio de um dos corredores; ele parecia preocupado. Sei que não podia ter contato algum com os Uzumaki por aqui, mas Vossa Alteza sumiu o dia todo!

Olho com cautela para Karin, ainda próxima, mas não mais abraçada a mim. Ela olha para Sakura e pisca os olhos algumas vezes, incomodada.

— O que ele te contou? — pergunto tenso.

Naruto não seria tão estúpido a ponto de contar tudo para a sua prima, certo? Nem ele faria algo assim, espero. Sakura também parece preocuapada, mas continua sem dizer absolutamente nada, próxima de Tsunade e Kabuto.

— Que você saiu com ela — olha mais uma vez para Sakura — e seu cavalo quebrou as patas, o fazendo você cair em cima de um tronco de madeira.

Tenho que admitir: é uma história plausível. Mas eu jamais faria um cavalo quebrar as próprias patas no meio de uma cavalgada. Tsc, Naruto consegue me irritar até quando ajuda.

— Hn.

Não digo nada mais. Eu queria muito desmentir a história do Uzumaki, mas isso não cairia bem, e de forma alguma gostaria de deixar Karin desconfiada de algo. Ela poderia querer investigar algo, ou ficar atenta aos comentários de alguns guardas incompetentes. A garota fica em um tipo de disputa interna, querendo dizer algo a mim, provavelmente, enquanto morde os lábios, nervosa. Ela, por fim, me olha com determinação.

— Não é justo, Alteza. Estás passando tempo demais apenas com uma das concorrentes. — Sakura se remexe, envergonhada, e sai do quarto logo depois.

Acredito que ela não queira discutir com Karin sobre isso. Até porque ela não pode justificar o fato de termos sumido, tínhamos que combinar uma história primeiro. Tsunade e Kabuto também decidem deixar-me a sós com a Uzumaki, após verem para onde a conversa iria chegar.

— Não é como se eu me importasse tanto com isso — qualquer um poderia ver a mentira em suas palavras. — Mas todas deveriam ter as mesmas chances.

Isso é verdade. Suspiro, derrotado, mas não digo nada a ela antes de ponderar no assunto. Eu realmente devo passar mais tempo com as outras meninas, ainda que isso não me agrade muito. Sakura é uma garota forte e inteligente e consigo descrevê-la com mais facilidade do que eu sequer imaginaria. No entanto, e Karin e as outras? Não poderia dizer o mesmo.

— Irei ver o que posso fazer. — a minha voz sai em um tom desinteressado, e ela assente, satisfeita.

Parece que o dia seguinte seria realmente incômodo. Kakashi iria me contar o que exatamente disse a meu pai – que ficaria, no mínimo, dez vezes mais furioso do que quando omiti o sumiço de Konan – e ainda deveria marcar mais de dez encontros com garotas.

Penso no que eu poderia passar com essas garotas. Kin, e principalmente Ino, devem ser tratadas com cautela. Tsc, isso, como o inteligente guarda Shikamaru costuma dizer, vai ser problemático.