A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 22
Vinte e dois


Notas iniciais do capítulo

Vocês acreditam que esse capítulo (que era parte do vinte e um) ainda foi cortado? Pois é, o capítulo passado ainda tinha que ter essa parte e a próxima que postarei no final de semana. Possivelmente ficaria mais de dez mil palavras, e seria bem cansativo de vocês lerem, certo?

Bem, eu ia postar mais no domingo, mas não consegui arrumá-lo a tempo. Ia deixar para sábado, no entanto, no social a história acabou de conseguir 300 comentários e isso me deixou bem feliz! Decidi me esforçar e postar um pouco mais. Espero que gostem!



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Uchiha Sasuke

Era Ascendente: dezoito de outubro de 1523, Domingo.

Acordo com a voz estridente de Naruto dizendo algo que não compreendo devido ao sono. Ele continua a dizer coisas, – que francamente não tenho a mínima vontade de descobrir – mas infelizmente tenho que abrir os olhos, para que pare de me incomodar e volte a guiar os cavalos. Assim que abro os olhos vejo Naruto com um sorriso estranho estampado nos lábios, apontando para algo ao meu lado. Não demoro a perceber o que é. Sakura está dormindo com a cabeça apoiada no meu ombro, e a minha cabeça na dela. Levanto do meu lugar logo depois de ajeitar a cabeça dela na parede de madeira da carruagem e saio juntamente com Naruto.

— Mas o que você quer? — pergunto irritado por vários motivos: meu pescoço está doendo pelo jeito que dormi, por Naruto ter me acordado e pelo seu sorriso estranho.

Ele tenta segurar a risada, mas logo a deixa escapar, enquanto aponta o seu dedo indicador em minha direção. Franzo o cenho irritado e um pouco envergonhado, pois já tenho certeza do que ele irá dizer.

— Bem, eu estava chamando vocês há alguns minutos para que um dos dois pudesse guiar os cavalos por algumas horas, já que não dormi muito — ele começa a contar e logo cai na risada novamente. — e como não houve respostas, eu parei a carruagem e fui ver o que aconteceu.

Naruto fica me encarando como se esperasse algum tipo de comentário meu – coisa que eu não faria nem ameaçado de morte – e depois de alguns segundos suspira, vendo que fora ignorado. Ele pisca algumas vezes com uma expressão pensativa e logo volta com o maldito sorriso.

— Queira desculpar-me, Vossa Alteza — Naruto faz uma reverência um tanto irônica. — por ter intrometido o seu momento íntimo com a Sakura-chan.

Mas o que diabos?! Sinto o meu rosto queimar tanto de raiva quanto de vergonha e vejo que o Uzumaki ainda está achando graça da situação. Respiro fundo, tentando fazer com que o meu rosto volte a tonalidade normal e eu fique com uma expressão indiferente como sempre – ainda que o meu coração continue com as batidas aceleradas pela brincadeira ridícula de Naruto – e não demoro a conseguir isso.

— Não me lembro de ter dito que iria guiar o cavalo novamente. — resmungo, lembrando-o que eu já tinha feito isso no início da viagem, ainda que por poucos minutos.

A expressão do Uzumaki fecha ao ver que o meu rosto volta ao semblante indiferente como sempre, ainda que eu não tivesse me recuperado totalmente do susto que ele me dera. Não demora a ele dar de ombros, rendido, e bufa de forma audível.

— Teme, tu és um folgado! — ele aponta, para variar, para o meu rosto antes de ir em direção aos cavalos.

— Humpf, isso não é um trabalho de um Uchiha. — resmungo depois de ouvir a sua acusação.

Adentro na carruagem antes de ouvir mais algum tipo de falatório de Naruto e observo que Sakura, mesmo com a gritaria do loiro, não havia nem ao menos mexido enquanto está dormindo. Dessa vez não sento ao seu lado e sim em sua frente, para que não tenha mais algum tipo de desentendimento.

♦♦♦

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— Já chegamos à cidade? — a voz sonolenta de Sakura indaga assim que ela abre os olhos esverdeados.

Ela devia ter acordado devido à voz extremamente alta de Naruto, nos avisando que já avistara a entrada do distrito dois, minutos atrás. Tsc. Existiria alguma pessoa menos barulhenta?

— Ainda não. — respondo sem olhar durante muito tempo o seu rosto, lembrando-me da acusação desnecessária de Naruto, horas atrás.

Ficamos durante algum tempo em silêncio, até que a carruagem finalmente para e vejo Naruto conversando com alguns guardas do distrito. Espero sinceramente que não precisemos sair de dentro, já que a chance de ser reconhecido é deveras alta. Posso estar usando roupas dignas de um camponês, mas o meu rosto não havia mudado em nada.

— Como é o distrito dois? — ouço a voz melodiosa de Sakura perguntar enquanto retira a capa e o capuz de si.

Pondero por alguns instantes como responder a sua pergunta. É claro que eu sabia como eram todos os distritos e já havia ido para todos ao menos duas vezes em toda a minha vida, – já que como o futuro rei eu deveria conhecer bem o país – mas a sua pergunta era particularmente difícil de ser respondida. O distrito dois é um local saturado de pessoas e ao mesmo tempo um local muito organizado, já que é aqui onde os guardas de toda Konoha são treinados, além de ter diversas fábricas de armamentos.

— Muito movimentado. — respondo para ela, e observo que Sakura espera uma resposta mais desenvolvida.

Tsc, droga. Escuto Naruto fazendo os cavalos movimentarem-se para longe da cidade, provavelmente procurando um local para esconder a carruagem, e volto a pensar na resposta detalhada para Sakura.

— É o distrito com a maior população de toda Konoha.

— Até mesmo do um, que é a capital?

— Sim.

— Uhm... — ela fica pensativa por alguns instantes. — E você gosta do dois?

— Não realmente. — vendo que ela com certeza me perguntaria o porquê, decido adiantar a resposta. — Aqui é muito cheio. — reprimo a vontade de fazer uma careta apenas ao imaginar as ruas movimentadas de todos os tipos de pessoas no distrito dois: guardas, camponeses, nobres e viajantes.

Definitivamente um local que não combina comigo, mas também o distrito perfeito para que eu encontre com os rebeldes. Já que existem muitos guardas eu possivelmente estaria salvo de algum atentado homicida. Ou será que não?

Sakura dá uma breve risada ao ouvir a minha resposta.

— O Sasuke-kun realmente não gosta muito de socializar com muitas pessoas ao mesmo tempo, não é mesmo?

É um tanto irônico o futuro soberano do país não gostar de ter relações sociais com muitas pessoas, mas essa é a maior verdade. Sei muito bem que durante a minha vida terei vários relacionamentos associados com política, mas isso não muda o fato da minha falta de jeito e de vontade.

— Suportar você e o Naruto é o suficiente. — eu a respondo, esperando que Sakura fique indignada com a minha resposta levemente grosseira, mas ela parece gostar, já que sorri assim que termino de responder.

Assim que Sakura começa a querer dizer algo em relação a minha resposta, Naruto nos chama dizendo que já é hora de descermos da carruagem e ir para a cidade. Antes de sair, Sakura me pede educadamente para esperá-la trocar sua roupa, e isso me faz lembrar que eu teria de fazer isso também, mas no meu caso não era necessário ficar dentro da carruagem. Pego as vestes necessárias dentro da bolsa na qual eu havia levado para essa pequena viagem e saio, retirando o colete desgastado e colocando, no seu lugar, uma blusa larga com capuz, para cobrir o meu rosto conhecido por todo o país.

— Eu não acredito que vocês me deixaram em cima do cavalo a viagem toda. — resmunga Naruto, ainda emburrado.

Dou um sorriso debochado em resposta ao comentário resmungão de meu amigo e ele não parece gostar muito disso.

— Não me lembro de ter pedido para você vir. — e era a verdade.

Ainda que eu tivesse dito a Sakura que chamaria Naruto, eu não havia feito isso. Eu tinha apenas contado a ele o que havia acontecido e que iria até o distrito dois.

— Teme, seu mal agradecido! — antes de Naruto dizer mais asneiras, Sakura sai da carruagem já de roupas trocadas.

Não sei se ela havia trazido o vestido de seu distrito, mas esse provavelmente seria o caso, já que sua vestimenta não parecia de nada com as roupas que ela ganhara no distrito um, em meu castelo. O vestido marrom tampava completamente todas as suas curvas delineadas e apresentava algumas pequenas manchas de lavagem, provavelmente por ter sido muito utilizado. Sakura também havia prendido os seus cabelos em um coque alto com uma fita avermelhada, coisa que não havia me agradado muito. Não que tivesse ficado feia com os cabelos presos, mas eles soltos realçavam muito mais com os seus olhos esverdeados.

— Poxa, Sakura-chan, esse vestido não está muito grande em você? — Naruto interroga a garota, que alisa o vestido com um sorriso envergonhado.

— Bem, sim. Mas a minha família não tinha dinheiro o suficiente para comprar roupas novas. Este era da minha mãe. — ela não parecia chateada de comentar a falta de dinheiro de sua família, apenas constrangida por comentar isso para uma pessoa de alto status como Naruto.

Fuzilo o loiro com os olhos, mas ele não parece entender o que eu queria dizer com isso.

— Mas ela não podia ter te dado um vestido menos acabado? Ele ta até rasgado na parte de baixo, olha. — ele aponta para uma parte do vestido e embora Sakura não pareça ficar irritada com a falta de tato dele, puxo a mão da garota sem olhar para Naruto.

— Vamos logo. — resmungo irritado, deixando um loiro sem entender para trás.

Como uma pessoa poderia ser tão inconveniente como Uzumaki Naruto? Definitivamente Kushina tinha um útero amaldiçoado.

— Eu realmente não importo com a falta de bom senso dele. — ela comenta com um sorriso no rosto, enquanto adentramos no distrito dois, com um irritado Naruto a poucos passos atrás.

Bom, eu me importo. Não que eu vá dizer isso em voz alta, até porque Sakura já havia percebido isso no momento em que a retirei de perto do Naruto. Ainda que eu não seja uma pessoa com sociável, é claro que havia tido várias aulas de comportamento e educação diante de qualquer pessoa – mais importante que você ou não – e nenhuma delas seria sensato dizer o que o Uzumaki havia falado.

— Estou com fome. — resmunga o loiro assim que nos alcança. — Vamos parar para comer alguma coisa.

E foi exatamente o que fizemos. Infelizmente, fomos até o centro do distrito em busca de um mercado para comprarmos algo comestível. Sakura parecia encantada com a quantidade de pessoas conversando uma com as outras de bom humor – seja guardas, camponeses ou nobre – e comenta para Naruto alguma coisa na qual não escuto, já que estou andando mais atrás, desconfiado que alguém pudesse me conhecer mesmo com o capuz tampando parcialmente o meu rosto.

— Que tal algumas maçãs, senhorita? — um dos vendedores pergunta para Sakura, e ela assente feliz, escolhendo algumas para que pudéssemos comer.

— Naruto, Sas... Hã, o que vão querer? — ela indaga meio tensa assim que quase revela o meu nome e pega a bolsa com moedas que eu mesmo havia a entregado assim que ela começara a escolher as frutas.

Naruto coloca o dedo indicador no queixo enquanto olha para o horizonte, como se estivesse fazendo uma decisão potencialmente difícil. Com toda a certeza é impossível achar alguém tão idiota como ele, e acabo revirando os olhos discretamente ao ver a sua expressão de indecisão.

— Eu quero todas! — ele decide, por fim. — Uma maçã, uma pera, uma laranja... — e vai citando diversos tipos de frutas até que perco a paciência e corto o seu falatório.

— Tomate. — a minha voz sai rude e alta, deixando Naruto irritado com a minha atitude grosseira.

Sakura, mais uma vez, surpreende-me achando graça da minha atitude, rindo de forma discreta. O Uzumaki fica ainda mais indignado com a reação dela, mas não diz absolutamente nada, uma vez que a garota coloca em suas mãos uma cesta com vários tipos de frutas diferentes.

— Obrigado e voltem sempre! — o mercador nos agradece e continuamos a andar por entre o fluxo da cidade a procura de uma praça enquanto comemos os nossos lanches.

Não demoro a devorar os três tomates que Sakura havia me dado e Naruto igualmente, muito embora as suas frutas fossem muito mais do que apenas três tomates suculentos. Sakura havia comido duas maçãs, mas observava atentamente a última com um sorriso nostálgico entre os seus lábios. Continuo a encarando até que ela perceba isso, e ela começa a comer a sua última fruta.

— Eu só estava lembrando do seu irmão. — ela comenta após mastigar o primeiro pedaço da fruta avermelhada por fora.

O seu comentário me deixa bastante feliz, já que eu não havia visto mais ninguém fora eu e meu pai comentar sobre Itachi após tantos anos e que ele não estava entre nós. Dou um sorriso discreto enquanto continuamos a andar.

— Aquilo não é uma praça? — indaga Naruto apontado para a frente.

— Sim. Vamos. — anuo e apresso o passo ao notar que não havia mais ninguém na praça a não ser um peculiar homem.

Ele tinha um cabelo idêntico ao de Naruto, com a exceção da tonalidade laranja, e vestia uma capa desbotada pelo tempo. Seu rosto não transmitia nenhuma expressão decifrável e ele nos observava atentamente enquanto aproximávamos da praça.

— Esse homem me dá arrepios. — Sakura diz ao meu lado, temerosa.

— Não se preocupe, Sakura-chan. Vai ficar tudo bem. — Naruto garante para ela com um sorriso tranquilizador.

Assim que chegamos em frente ao homem, ele sorri de uma forma satisfeita e me observa atentamente. É provável que já percebera a minha identidade, ainda mais por eu estar com um disfarce tão grosseiro. Ele indica com o polegar um beco estreito da cidade e anda nessa direção, sem nos falar nada.

— Quem é você? — indago assim que chegamos no fim do beco.

Havia uma porta por entre as estreitas paredes do local, e o homem de cabelos alaranjados apenas sorri de uma forma horrenda.

— Sou Yahiko, Alteza. — seu tom de voz saíra um tanto irônico. — Irei guiá-los até Nagato-sama, a pessoa na qual Konan marcou um encontro com você. Embora ela tenha dito especificamente que fosse sozinho, estou errado?

— Nunca que iremos deixá-lo entrar nesse lugar solitário! — exclama Naruto, irritado.

Yahiko ri e dá de ombros, não muito incomodado com a reação do Uzumaki.

— Por mim tudo bem. Já imaginávamos que você não iria sozinho. Ainda melhor que as suas companhias sejam esses dois. Parecem ser extremamente inofensivos.

É claro que Naruto se descontrolaria. Ele vai em direção a Yahiko com fúria estampada em seus olhos e tenta dar-lhe um soco na face, no entanto, o homem segura suas mãos com facilidade. Ele sorri debochado para o Uzumaki e logo solta a sua mão.

— Sem gracinhas, fedelho.

Tenho certeza que Naruto não havia gostado de ser chamado assim, mas não respondeu nada. Seu rosto parece vermelho de raiva e sei que está se segurando apenas para não dar nenhum tipo de problema para mim. Sakura aproxima-se do Uzumaki e examina as suas mãos com o seus olhos esverdeados, a procura de um machucado inexistente.

— Vamos andando. — Yahiko torna a falar, e abre a porta do beco.

Péssima ideia. Era a única coisa que pairava por minha mente enquanto adentrávamos no esconderijo dos rebeldes. Não sabia o que poderia encontrar lá. A morte, uma conversa sincera, ou uma grande tortura para mim e meus amigos? Meus olhos intercalavam entre Naruto e Sakura. Não poderia deixar que nada acontecesse com eles. Bendita hora em que permiti os dois irem comigo...

— Entrem nessa porta e encontrarão quem procuram. — Yahiko diz, e como num passe de mágica, entra na porta oposta da qual ele havia nos mostrado e desaparece.

Sakura avalia o meu rosto com uma expressão tensa, e ela toca o meu braço antes de falar comigo.

— Tem certeza de que é necessário entrar?

— É tarde demais para mim. Mas vocês dois não precisam se envolver com isso.

— Não seja idiota. — ela me responde e arregalo os olhos com o seu xingamento.

Antes que eu diga qualquer coisa, Naruto abre a porta e seguimos o loiro em direção ao desconhecido.

A sala não é grande. De fato, seu espaço é deveras limitado, mas suas cores monocromáticas faz nos sentir pequenos diante dela, ainda mais com um homem sentado em uma poltrona no centro do cômodo. Ele nos encara assim como Yahiko havia nos encarado: sem expressão alguma. Seus olhos possuem um estranho tom arroxeado e seu corpo é raquítico.

— Seja bem vindo, Uchiha Sasuke. — o único homem da sala, com a salvo de eu e Naruto, diz. — O meu nome é Nagato. Imagino que saiba o motivo desse encontro.

— Para falar a verdade... Não. — o meu tom de voz sai polido, ainda que exista parte da minha rudez costumeira.

Nagato ergue a sobrancelha com o meu comentário, descrente da minha resposta. Muito embora ele não parecesse acreditar, essa era a verdade. Eu não tinha conhecimento do motivo desse encontro,  já que de nada concreto sabia dessa rebelião do distrito sete. Eu tinha sim várias hipóteses, mas nada que ajudasse a desvendar o motivo de tudo isso.

— Espero que não esteja brincando comigo. — ele responde irritado, mas não reajo ao seu comentário. — O motivo deste encontro é mais do que óbvio: a pobreza do meu lar.

Oh, sim. A crise do distrito sete. A falta de procura dos minérios havia empobrecido bastante a cidade, mas ainda sim não conseguia decifrar o que ele exatamente gostaria de tratar comigo. Talvez um acordo com Orochimaru, o rei do País do Som? Ou Gaara, o rei de Suna?

Continuo em silêncio, esperando que ele disserte mais sobre o assunto, mas isso parece apenas irritá-lo. Sakura e Naruto também parecem ainda mais alheios do que eu sobre isso, e temo que algo de ruim possa acontecer.

Quem sabe se eu não tivesse conversado com Hinata antes de ir até aqui, para descobrir algo mais a fundo sobre a rebelião, não tivesse sido melhor?

Nagato dá um muxoxo de insatisfação com o nosso silêncio e arregala os olhos de coloração peculiar.

— Com todos os diabos, como podem parecer tão alheios ao sofrimento do meu distrito?! — Nagato indaga com uma expressão rancorosa, enquanto fecha os punhos.

Não sabia o que responder. Tinha conhecimento de que o distrito de Nagato, Konan e possivelmente Yahiko estava passando dificuldades pela falta de procura em relação aos minérios achados nas grandes minas do país, mas meu pai nunca tinha comentado mais nada sobre isso. De fato, era ninguém menos do que eu quem estava comandando a maioria das decisões mais cruciais por agora, já que Fugaku não tinha condições físicas para isso, no entanto, o distrito sete Minato e meu pai quem comandavam, em reuniões particulares. Nunca gostei muito do fato de me deixarem de fora apenas desse distrito em especial, mas também não procurei mais saber a fundo o motivo, já que meu pai ainda era o rei e ele tinha todo o direito de não me pedir nenhuma opinião no assunto.

— Vocês não sabem o que andam acontecendo... — ele comenta mais surpreso do que irritado, e novamente não respondemos nada. — Pois bem, eu irei contar a minha história e entenderão o que ocorre há anos.

Ele indica as cadeiras que existem em sua frente, mas não nos sentamos, tensos com a situação. Vendo que não iríamos ficar confortáveis de forma alguma, Nagato dá de ombros e inicia a sua história.

“Tempos difíceis andam passando no distrito sete, devido a falta de acordos para a exportação de ferro, manganês e os outros minérios provindos das minas. Muitas famílias possuem uma renda baixíssima ou sequer conseguem uma moeda mensalmente, provocando um aumento considerável de miseráveis. Minha família e a de Konan foram uma dessas. Desesperados para conseguirem dinheiro para alimentar os filhos, meus pais e os de Konan decidiram aventurar-sem nas minas de ouro. Vossa Alteza deve ter o conhecimento de que essas minas são interditadas devido ao perigo de desabamento, todavia muitas famílias esgueiram-se entre elas para conseguirem dinheiro e sobreviver ao menos uma semana a mais.”

Sua voz foi ficando mais baixa e pesarosa enquanto aprofundava a história de seus pais. Eu, Naruto e Sakura escutávamos com uma tensão quase palpável, temerosos de que Nagato se descontrole, já que suas mãos e suas pernas tremem compulsivamente.

“Durante alguns meses eles conseguiram pipetas de ouro o suficiente para alimentar três famílias. A minha, a de Konan e a de Yahiko, já que seus pais estavam muito adoentados haviam meses. Quando o dinheiro do ouro finalmente acabara, os quatro decidiram voltar àquela mina, mas a expedição não fora tão sucedida quanto a primeira. O teto desabara em cima dos quatro, e eles faleceram. Deixando eu e Konan sozinhos.”

Era, de fato, uma história extremamente triste. Não sabia bem o que dizer sobre isso, porque com toda a certeza não fora uma ideia boa entrar nas instáveis minas de ouro do sete, mas o desespero leva pessoas a fazerem loucura. Ainda mais para alimentar seus próprios filhos.

—Vocês, por acaso, tem ideia do quanto é difícil sobreviver em um distrito sem investimento, largado à própria sorte?! — exclama Nagato sobressaltado, nos assustando. — Tínhamos que comer baratas, aranhas, e todos os tipos de aracnídeos e insetos vivos para não morrermos! Sem contar com as águas contaminadas de mercúrio do rio, que paralisaram os pais de Yahiko. Graças aos bons deuses eu e Konan estamos bem, mas Yahiko já não enxerga como antigamente...

— Sentimos muito pelos seus pais... — Sakura comenta, bastante afetada por toda a história contada por Nagato.

Tinha certeza de que Sakura também havia passado fome, devido à sua fragilidade com o assunto, mas ela não comenta nada sobre o assunto para o rebelde. Naruto segurava algo em seu bolso da calça, preparado para nos defender.

— Sente?! — ele ri, sarcástico. — Não, ninguém sente. Porque no meu distrito só há pobreza e morte! E nada de ajuda. Por isso, anos atrás, criamos a rebelião das minas. Obviamente, quase toda a população do sete faz jus à causa.

— E por que, exatamente, você me trouxe até aqui? — indago com a voz mais firme o possível. — Gostaria de propor algum acordo ou isso é um tipo de armadilha para dar um golpe na dinastia Uchiha?

Nagato hesita a me responder, o que deixa Naruto alarmado e Sakura encolhida ao meu lado enquanto aperta um dos meus braços.

— Não, não temos interesse no trono. — responde de forma soturna. — Desejamos apenas uma vida plena e saudável, se possível. Isso, é claro, na minha vertente do movimento rebelde.

“Hidan, o outro líder, é mais radical. Ele deseja fazer um acordo com Orochimaru, para que a cobra do País do Som possa investir nas nossas minas. Isso nos daria mais dinheiro, além de Orochimaru ajudar a criar um exército e dizimar o seu castelo. Estou lhe contando porque isso não é segredo algum no meu distrito, e provavelmente seu pai tem conhecimento dessa vertente. Não gostaria de criar uma guerra, ainda mais ao lado de Orochimaru. Não gosto de seu pai, mas esse rei do País do Som não tem escrúpulos algum. Rapta diversas pessoas de inúmeros lugares para serem escravos, e, assim, conseguir uma mão de obra barata. É normal algumas famílias do sete parirem crianças apenas para vendê-los para o rei Cobra.” 

Definitivamente ouvir que crianças de Konoha eram feitas apenas para serem vendidas fez-me sentir uma extrema ânsia de vômito. Sem contar com a raiva explícita no meu rosto irritado e punhos cerrados. Escuto Naruto praguejar diversos palavrões baixo e Sakura aperta ainda mais o meu braço, provavelmente de raiva.

— Crianças de Konoha são vendidas por dinheiro? — a minha voz soa grossa e repleta de desgosto em relação ao que havia acabado de descobrir.

— Sim. — ele assente com o mesmo tom de voz. — Muitas pessoas perderam a pouca humanidade que tinham com essa falta de dinheiro... E é por isso que eu decidi interferir na escolhida do meu distrito. Colocamos Konan e ela “marcou” o encontro com Vossa Alteza. Não desejo guerra nem aliar-me a uma pessoa que escraviza outras. Por isso entrei em contato.

— Onde exatamente existe esse tráfico de pessoas? — a minha cabeça começa a pensar diversos planos para que eu pegue os intrusos em Konoha que levam as crianças para serem escravas em troca de um punhado de moedas.

Nagato, percebendo a minha raiva ao descobrir sobre a escravidão de cidadãos de Konoha, parece ligeiramente satisfeito. Claro que não com a situação, mas sim com o fato de eu realmente me importar com isso tudo.

— Em primeiro lugar, vamos tratar da rebelião das minas. Estou convicto de que se você separar o distrito sete de toda a Konoha, não haverá problema algum em suas mãos. Nós mesmos cuidaremos desse problema.

Não consigo pensar em como exatamente ele acabaria com o problema do tráfico de crianças, até porque o distrito sete não é grande para virar um país independente. Mesmo que fosse decidido não envolver mais do que necessário com o Orochimaru, o Rei Cobra poderia mandar invadir o sete e, em cerca de horas, já teria conquistado o território. Isso sem levar em conta de que eu não tinha poder para ceder a terra – e nem gostaria de fazer isso – e deixaria Konoha vulnerável a um ataque do País do Som pelo distrito sete.

— Não acho que isso seja viável. — a voz baixa de Sakura soa pelo cômodo e todos nós viramos a nossa atenção a ela.

— Explique-se. — Nagato não demora a dizer, e fico ligeiramente surpreso por ele não desdenhar de seu comentário.

Talvez fosse por isso que ele seja o líder da rebelião. Ele sabia ouvir a opinião das pessoas com respeito, ainda que fosse contrária a sua.

—Bem... — ela não encara o rebelde e fixa seu olhar em mim. — Não acho que seja uma opção viável transformar o distrito sete em um país independente. Veja bem, pelo o que comentaste conosco, o seu distrito não dispõe de uma grande fortuna. A maioria dos cidadãos estão passando fome. Como iriam se manter?

— Exportando minérios, é claro! — responde prontamente Nagato.

— Fazendo algum acordo com o Rei Cobra? Péssima ideia. Se ele utiliza pessoas como mercadoria, qual seria o problema em enganar vocês e pegar o distrito para si?

Sorrio com o questionamento de Sakura. Exatamente o que pensei. Orochimaru, que é um rei sem escrúpulos, não teria dó nem piedade de um distrito com problemas financeiros.

— Vocês não possuem poder bélico algum para uma invasão de qualquer país que seja, já que a população passa fome... — ela finaliza o seu raciocínio. — Certo?

— Então... O que exatamente poderíamos fazer, com todos os diabos, para acabar com essa fome e miséria sem envolver acordos com Orochimaru?

Uma boa pergunta... Que eu não tinha a resposta. Talvez fosse essa questão que pairava sobre a mente de Minato e meu pai quando faziam reuniões sobre o distrito sete, discussões nas quais eu nunca tive o direito de comparecer.

— Existe algum país que não tenha recursos minerais para sustento próprio, tirando, é claro, o Som? — a pergunta de Sakura fixa em minha mente. — Talvez, quem sabe, mais ao sul? Suna... Lá é deserto, certo? Creio que não tenha muitos recursos em praticamente nada.

Realmente, em Suna não havia muita coisa. Pouca água, pouca comida... Nada em seu território, resumindo. Mas havia um grande problema.

— Suna é abastecida pelo País do Som. — informo a Sakura. — E além disso, não tem um relacionamento muito amigável com Konoha. Décadas atrás, quando meu avô ainda era vivo, houve uma guerra entre o nosso país e Suna.

— Seria muito bom se conseguíssemos atrair a confiança do Rei Gaara... — comenta Naruto, esperançoso com o rumo da conversa.

— Por incrível que pareça, eu concordo com o Naruto. No entanto, se fosse tão fácil assim, meu pai já teria feito as pazes.

E chegamos a lugar algum, infelizmente. A solução parecia tão perto... Sakura solta uma exclamação audível e sorri animada. Olhamos para a garota, que alisava o cabelo em sinal de excitação.

— Nagato-san, você disse que o Rei Orochimaru faz tráfico de pessoas em vários países, certo? — o rebelde assente com a cabeça, curioso em saber o que isso poderia ajudar por agora. — E se Orochimaru pegar crianças em Suna? Já que mantém uma relação amigável com o país, deve ser bem mais fácil de adentrar e conseguir o que quer, diferente de Konoha.

Pela primeira vez desde o momento em que decidi escolher uma esposa inteligente e sagaz para reinar junto a mim assim que meu pai me passasse o trono, pensei em Sakura como a rainha de Konoha. E isso não parecia ser algo ruim. Ela era uma pessoa de boa índole, inteligente e ainda tinha conhecimento da pobreza, coisa que eu só sabia de formas superficiais. Um sentimento de culpa toma conta de mim, por nunca ter percebido algo tão absurdamente óbvio.

— É uma hipótese ótima, garota! — exclama feliz Nagato, sorrindo de forma sincera. — Qual é o seu nome?

— Haruno Sakura. — ela parece tímida ao responder.

— Haruno... Não me lembro do nome da sua família... — ele comenta pensativo, enquanto coloca sua mão direita sobre o seu queixo.

Sakura fica levemente ruborizada ao escutar isso. Imagino que seja por não ser nem um pouco rica. Ela não poderia gostar de alguém com Nagato, definitivamente não. Apesar de parecer uma boa pessoa, ele é bizarro.

— Bem... A minha família não provém de nobres.

Nagato aparenta ficar ainda mais surpreso e feliz com a descoberta da família de Sakura. Ele me observa por alguns segundos com uma expressão indecifrável e depois volta a sorrir.

— Irei averiguar o tráfico de pessoas em Suna. Se eu conseguir provas, entregarei à Vossa Alteza e assim você poderá utilizá-la como desejar para conseguir a confiança do Rei Gaara.

— Irei mandar alguns guardas da minha confiança disfarçados com vocês, só por precaução. — termino de combinar com Nagato, confiante de que tudo poderia dar certo agora.

— E apenas mais uma coisa: peça ao duque do distrito sete soltar Konan da prisão. — seu pedido parece mais ser pessoal do que tudo, mas assinto sem pensar muito a respeito.

Ela poderia ter se infiltrado no castelo, mas fora em prol dos habitantes de seu distrito, algo nobre, no fim das contas. Antes que eu responda o seu pedido, a porta é escancarada. Um homem de grande porte e cabelos tão claros a ponto de ficarem esbranquiçados anda até nós.

— Nagato, o que diabos Yahiko está fazendo...? — ele para de falar assim que vê o meu rosto.

Seus olhos arregalam imediatamente e Nagato solta um palavrão horrível. O homem coloca uma de suas mãos em seu bolso.

— ...Uchiha? — ele indaga o meu sobrenome com nojo. — Nagato, o que significa isso?!

A fúria em seu olhar e tom de voz faz tanto eu quanto Naruto e Sakura ficarem alertas. O Uzumaki praticamente me empurra em direção a saída, vendo o rancor escancarado no rosto do sujeito em relação a mim, sussurra algo que não escuto para Sakura, que assente com o rosto apavorado e esbranquiçado de pavor, e corre em direção a saída.

— Vocês não vão fugir! — o grito enfurecido do homem de cabelos brancos faz eco na sala, fazendo com que tudo fique ainda mais assustador.

— Hidan, Não! — Nagato exclama.

Tudo acontece muito rápido. O grito do tal Hidan é ouvido milésimos de segundos antes de Nagato falar com ele em um tom desesperado e repreensor, enquanto corremos em direção à saída da sala.

Infelizmente, a saída está mais perto de Hidan, e não de nós. Ele retira a sua mão do seu bolso e joga uma adaga em minha direção. Antes que eu sequer diga ou me mexa, ela já está a centímetros de mim. Escuto um grito, provavelmente de Sakura.

Um baque.

O tilintar da adaga é ouvido.


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Notas finais do capítulo

Eu disse que teria uma cena inspirada com "A seleção" bem... SUHAHSAU vamos deixar isso para o próximo capítulo. (inspirar é diferente de copiar, então não vai ser igual... não precisam se preocupar com spoiler para quem leu o livro hehe). Kisses e até o próximo. Rumo aos 400 no social e aos 200 no nyah! Comentem ♥



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