A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 21
Vinte e um


Notas iniciais do capítulo

Originalmente, essa parte não era um capítulo completo e sim apenas um fragmento do vinte e um, mas como não pude postar semana passada (tive alguns contratempos) decidi cortá-lo e postar a parte que já escrevi. Espero que gostem e lamento a demora. :3 Boa leitura!



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Uchiha Sasuke

Era Ascendente: dezoito de outubro de 1523, Domingo.

 

Eram cerca de três horas da manhã. Levanto da cama depois da terceira tentativa, já que não era muito de meu feitio sair nesse horário, ainda mais com um frio de congelar os ossos.  A primeira coisa que faço depois de sair da cama é checar a minha bagagem. Procuro pela bolsa acinzentada debaixo da minha cama e confiro se tudo o que precisaria está lá. Roupas simples até mesmo para um nobre de baixa escala, algumas moedas para comprar comida e uma pequena porém extremamente afiada adaga de prata. Nunca se sabia o que poderia acontecer pelo distrito dois.

Era um tanto estranho o covil da rebelião não ser no distrito sete, já que era por lá onde as insatisfações costumavam acontecer em demasia. Verdade seja dita, nunca havia realmente escutado alguma reclamação vinda dos nobres ou duques responsáveis pelo distrito dois... Talvez lá fosse apenas um local improvisado para que eu não conheça o seu verdadeiro abrigo? Muito provável. O lado bom dessa escolha é que o distrito dois é muito perto do distrito um, onde o castelo e capítal do país do Fogo – mais conhecido como Konoha, pela sua vasta flora – fica residido. Provavelmente chegaria até lá em cerca de nove horas da manhã, se a discreta carruagem andasse em uma velocidade mediana.

Ainda com a vestimenta que fui dormir por poucas horas – um gibão negro por cima de uma camisa esbranquiçada com mangas compridas e uma calça simples também negra – coloco o primeiro calçado que localizo dentro do meu extenso roupeiro e sigo em direção à área externa do castelo, para que eu me encontre com Naruto.

— Vossa Alteza — escuto a voz surpresa de ninguém menos que Hatake Kakashi. — se me permite perguntar, o que está fazendo acordado a essa hora?

As sobranelhas erguidas e o semblante curioso de Kakashi deixa-me alerta, afinal ele fora o meu tutor durante muitos anos e saberia muito bem caso eu mentisse. Pondero por poucos segundos contar a verdade para ele, mas descarto no momento em que a possibilidade do guarda contar qualquer coisa a meu pai ou a Minato.

— Não há necessidade para se preocupar, Kakashi. — digo ríspido, orando mentalmente para todos os deuses existentes.

Ele não  poderia nem desconfiar...

— Uhm... — ele murmura pensativo, enquanto coloca o dedo indicador em seu queixo. — Com essa bolsa em seus ombros não parece ser algo fora da minha preocupação. Vossa Majestade sabe disso? — o seu sorriso sagaz me irrita, porque era a verdade.

— Não se meta. — praticamente rosno em sua direção e ele solta uma curta risada.

  — É o meu trabalho me meter nisso, Sasuke, não se esqueça. — ele adverte, e reparo que realmente está sério, já que me chamas pelo meu nome e não por um honorífico.

Não o respondo, embora Kakashi espere que eu fale algo a mais, e o guarda dos cabelos grisalhos suspira resignado com a minha falta de resposta ao seu comentário.

— Para onde você vai? — ele indaga sem uma expressão decifrável em seu rosto, o que me deixa alerta.

— Não é necessário que você saiba. — resmungo e começo a dar passos em direção à saida do castelo, até que escuto novamente a voz do meu antigo tutor.

— E o que irei falar ao Rei quando você não estiver aqui amanhã? — ele questiona com a voz cansada.

Penso sobre o que poderia responder e levo a conclusão de que não poderia – absolutamente de forma alguma – deixar Kakashi nervoso nesse momento. Isso poderia fazer com que ele conte para o resto dos guardas e até mesmo para Fugaku, coisa que jamais poderoa acontecer.

— Distrito dois. — respondo sem vontade alguma. — Não é necessário dizer nada. Voltarei ainda hoje. — dizendo isso, parto sem interrupção nenhuma de Hatake Kakashi.

Após alguns minutos, finalmente chego até o jardim do castelo e sigo em direção a um dos portões menos utilizados e guardados. Vejo que há apenas um subordinado meu – Shikamaru, uma pessoa altamente confiável – e decido agora trocar o gibão negro com o emblema da família real e colocar um simples e desgastado colete marrom. Quando começo a colocar uma capa negra por cima da minha roupa – tampando assim o meu rosto, que era muito conhecido, obviamente – escuto a voz estridente de Uzumaki Naruto. Droga, esse imbecil não consegue ficar quieto nem quando estamos indo a um lugar escondido!

— Salve, Sasuke-teme! — a voz absurdamente alta de Naruto dirige-se a mim. — Não tinha um horário pior?

— Fale mais baixo, bastardo! — repreendo o Uzumaki, que vestia uma roupa de camponês muito exótica.

A camisa alaranjada e envelhecida o deixava com uma aparência de um trabalhador fora de moda. Bem, não que eu realmente importasse com esse tipo de coisa.

— Ah, tanto faz! — responde Naruto, deixando-me nervoso. — Não é como se alguém fosse reclamar de Vossa Alteza estar fazendo barulho com a sua mão direita! — zomba, fazendo-me revirar os olhos com tamanha ingenuidade.

— A questão é que estamos saindo sem o conhecimento e consentimento de ninguém. — enfatizo a última palavra e apenas agora ele parece entender a gravidade de suas ações. — Usuratonkachi.

Assim que Naruto abre os seus lábios para soltar algum tipo de ofença dirigida a mim, Shikamaru nos chama a atenção, indicando com as suas mãos o portão se abrindo. Teríamos que sair agora, e nada poderia sair errado. O Uzumaki parece entender – por algum tipo de milafre, talvez – que deveríamos mesmo sair agora e em silêncio e fomos apressados até a fresta do enorme portão aberta. Assim que colocamos os pés para fora do castelo, Naruto solta uma sonora gargalhada.

— Imagino a expressão da minha mãe e do seu pai caso descubram isso...

— Calado! — repreendo tentando ser discreto e não pensar nesse tipo de assunto, porque isso seria uma situação na qual eu realmente não gostaria de passar.

Andamos cerca de dez minutos até acharmos a carruagem na qual Shikamaru havia nos falado no dia anterior. Em relação às carruagems da corte, com toda a certeza essa era deveras simples e perfeita para a ocasião. De fato, ela passaria despercebida, afinal, não era luxuosa nem ao menos como a de um simples nobre cavalheiro.

— Que carruagem pequena. — comenta inocentemente Uzumaki Naruto.

Tento não xingá-lo, mas ele simplemente não colabora comigo. Fecho a minha expressão e olho para ele zangado.

— E como não seríamos notados usando um transporte real?! — ele solta algo como um “ah!” e continuamos a ir até a carruagem em silêncio.

Um último guarda nos esperava lá e assim que chegamos perto o suficiente, ele faz uma continência e volta para o castelo.

— Teme — Naruto chama-me quando adentra na carruagem. — Pensei que iria apenas nós dois. — a sua voz sai hesitante e quando entro no transporte entendo o que ele estava dizendo: havia alguém.

Não dá para saber realmente quem é, porque a pessoa tampa todo o seu rosto com um capuz tão negro quanto o meu. No entanto, não fico muito preocupado, já que é uma pessoa de baixa estatura. Caso não fosse ninguém do castelo, não seria realmente difícil reagir.

— Quem és tú, um guarda? — indago com a voz seca. — Não desejo ser acompanhado por ninguém além de Uzumaki Naruto.

Naruto estufa o peito como qualquer imbecil faria no momento e escuto uma risada feminina. Uma risada mais do que conhecida. Haruno Sakura retira o capuz fazendo com que as suas madeixas inconfundíveis róseas aparecessem juntamente com o seu rosto angelical. Seus olhos esverdeados avaliam o meu rosto enquanto ostenta um sorriso animado.

— Pensei que não fosse querer mesmo, Sasuke-kun.

O momento basicamente para. Sakura? Por que ela estaria aqui? Eu havia dito a ela que ficasse no castelo, para que não houvesse chance dela se machucar. Mas ainda sim, Haruno Sakura está na minha frente e a de um embabascado Uzumaki Naruto. A garota do distrito vinte e dois sorri como se nada pudesse acontecer com ela e vejo isso como um certo tipo de afronta. Como se ela não desse a mínima para que eu – o futuro rei – falasse, ou que não se importasse com o fato de que eu neguei para protegê-la. Primeiro vem a mágoa, segundamente, o rancor.

— Volte para o castelo. Agora. — a minha voz sai fria e indiferente, dando um grande constraste à confusão de sentimentos negativos que paira sobre mim, no momento.

 Ela inclina a cabeça para o lado, ligeiramente confusa com a minha reação. Bem, o que ela esperava? Um convite para ir junto? Humpf, jamais!

— Agora? — ela indaga com os lábios entreabertos. — E o que eu falaria para os guardas assim que pedisse para entrar? Eu ficaria em apuros!

Um sorriso de escárnio apossa dos meus lábios e dou de ombros para a garota. Naruto observa a cena, provavelmente sem saber como reagir quanto a isso.

— Que pensasse nisso antes de trair a minha confiança.

— Sasuke, você não está sendo muito dramático? — a pergunta de Naruto faz com que eu fique ainda mais nervoso.

Dramático? De forma alguma. Não creio que seja um exagero da minha parte ficar nervoso com uma pessoa, na qual eu me importo, que faz-me de tolo. Sim, é exatamente o que Sakura fez comigo. Além de agir pelas costas do futuro rei de Konoha, ela ainda não dá a devida importância ao fato de que neguei apenas por pensar em seu bem estar.

— Isso não é uma excursão. — respondo Naruto com os punhos fechados. — Estamos indo tratar algo de suma relevância para o futuro de Konoha! Acho melhor os dois irem embora logo. — enfatizo a palavra dois e percebo que nenhum deles gostaram da minha nova decisão.

— Sasuke-kun, tu não podes fazer isso. — a voz de Sakura sai decidida, e olho para ela sem muita vontade, esperando que termine logo a sua frase. — Porque se nos obrigar a voltar, irei contar tudo para o rei.

♦♦♦

Acredito que se uma pessoa comum fosse ameaçada a ser delatada para o seu pai, com toda a certeza não teria um impacto como havia ocorrido comigo. Humpf, é claro, nem todos tem o privilégio de ter um pai que é rei. As iras de Uchiha Fugaku não eram coisas para se brincar, e ainda que fosse, a sua saúde jamais aguentaria tal estresse. Portanto, Sakura e Naruto foram comigo em direção ao distrito dois, em plena madrugada.

 “Achas que ele ainda está muito nervoso?” Ouço a voz de Haruno Sakura indagar para Naruto enquanto guio os dois cavalos na parte exterior da carruagem, ainda utilizando o capuz.

“Sim. E acho que vai demorar algumas semanas para que ele aja conosco de forma civilizada.” O bastardo ainda dá uma risada depois de comentar isso.

Como não ficaria com duas pessoas me fazendo de tolo?

“Mas obrigada por vir, Sakura-chan. Precisamos de toda ajuda possível.”

Não, definitivamente não, seu mentecapto! Quanto mais pessoas, mais perigoso ficaria. Os rebeldes poderiam achar que planejo algum tipo de repressão e ocorreria uma guerra civil. Mas devo admitir que é realmente imprudente da minha parte ir a um encontro tão suspeito como esse.

“Sim, mesmo que não seja muito prudente viajar para o distrito dois com muitas pessoas? Má ideia... Eles poderiam ter ideias erradas.”

A conversa dos dois começa a me irritar. Já estou furioso o suficiente para que apenas ouvir a voz de ambos faça com que as minhas mãos fiquem trêmulas. O teor da conversação também não ajuda em nada.

— Naruto, guie o cavalo. — minha voz sai seca e autoritária.

Assim que ele sai da parte interior do nosso veículo improvisado, entro em seu lugar. Sakura está sentada sobre uma das duas partes acolchoadas da carruagem de madeira, mas não olha para mim. Bom.

— Sasuke-kun... — a sua voz sai hesitante após alguns minutos. — Ainda estás muito nervoso?

Eu não a respondo e tampouco observo a sua expressão. Ignoro completamente a presença de Sakura, porque sei que se disser algo vou gritar com ela. E sou uma pessoa racional, ainda que nervoso. Provavelmente ela ficaria abalada com as minhas palavras ásperas e quem sabe eu ficaria arrependido mais tarde? Embora agora não tenho mais certeza se isso causaria algum efeito em mim, afinal, ela havia me decepcionado.

— Eu não pretendia trair a sua confiança... — ela continua a falar comigo, ainda que eu não tenha esboçado nenhum tipo de reação. — Mas tu não me deste escolha! Sasuke-kun, com exceção da Hinata, tu és a única pessoa a quem eu importo!

Qual era o objetivo dizer isso? Pela primeira vez em um bom tempo, viro o meu rosto em sua direção por livre e espontânea vontade. Ela me observa com os seus olhos mais brilhantes que nunca. Estaria Sakura querendo chorar?

— Eu não suportaria te perder, então tive que dar um jeito de sair do castelo. Peço que me perdoe por isso.

Droga. A sua confissão suga toda a raiva que eu sentira dela durante todo esse tempo, e se transforma em um tipo de remorso. Ela não havia desdenhado da minha preocupação ou não ligado para a minha ordem como príncipe, afinal. Era puramente um sentimento de preocupação, o mesmo no qual eu senti quando ela disse que gostaria de ir. Não poderia culpá-la por isso. Levanto do banco acolchoado a sua frente e sento ao seu lado. Sakura continua a me olhar esperando uma resposta minha.

— Tsc, como você conseguiu sair do meu castelo? — indago fingindo desinteresse e ela sorri sincera quando percebe que a minha frase era um tipo de forma de dizer “eu te perdoo”.

— Acho melhor eu não dizer sobre isso... — ela sorri travessa para mim e dou de ombros um pouco inconformado com a sua recusa.

Não a respondo, mas observo Sakura pelo canto dos meus olhos, tentando ao máximo não mexê-los. Ela parece perceber isso e dá uma fraca risada, o que faz com que eu vire totalmente o meu rosto para o lado contrário. Fico algum tempo pensando em nada em especial, até que sinto um peso sobre os meus ombros.

— Saku...? — paro de falar no momento em que percebo o óbvio: ela está dormindo.

Não é surpreendente, já que com toda a certeza são mais de quatro horas da madrugada. O simples lembrar do horário avançado faz com que eu perceba o cansaço de meu corpo e acabo adormecendo em questão de minutos.


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Notas finais do capítulo

Espero sinceramente que tenham gostado! O próximo vai ser bem mais agitados, hehehe. Quem leu "A Seleção" talvez tenha alguma ideia de que algo possa vir a dar errado. Não copiei a cena do livro, de forma alguma, mas decidi me inspirar em uma cena. Beijos! E comentem ♥



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