Uchiha Sasuke

Era Ascendente: Vinte e dois de outubro de 1523, Terça-feira

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Olho atentamente para o curandeiro de meu pai, que tenta a todo custo não encarar-me nos olhos, provavelmente apreensivo por dar uma resposta sobre a situação de meu pai adoentado, que nesse exato momento permanece deitado em sua cama dossel em seu quarto. Sei muito bem que a situação de Fugaku não é nada boa, é só olhar a sua aparência, mas a hesitação do rapaz ao dar-me as notícias começa a me deixar nervoso.

— E então? — cruzo os braços esperando a resposta que ainda não veio.

— Vossa alteza… — começa Kabuto ajeitando seus cabelos grisalhos em sinal de nervosismo. — Creio que o estado em que o rei esteja seja terminal.

Respiro fundo tentando assimilar o que o curandeiro acabara de contar. Sempre soube, desde o momento do diagnóstico, que seria algo que não teria cura, mas pensei que na pior das hipóteses meu pai estaria preso até o final de sua vida em sua cama - mas vivo, por deus!

— Quanto tempo? — a minha voz soa fria e distante como sempre, mas por dentro estou um caos pela situação de meu pai.

Realmente não queria saber algo assim. De certo que ver uma pessoa que se ama morrendo sem saber o dia, pegando-te de surpresa era horrível, como havia sido com meu falecido irmão mais velho Itachi, mas ter a dada praticamente marcada conseguiria ser pior. Com que expressão encararia meu pai, pensando que seus dias estão contados?

— Quatro meses. Cinco se você for muito otimista.

A resposta cai sobre mim como um murro no meu rosto. Fecho os olhos pensando na quantidade de tempo que meu pai teria de vida… Cerca de cento e vinte dias! Não seria otimista e pensar em mais para não ser pego por uma decepção, mas por deus, isso é um tempo absurdamente pequeno!

— Certo. Está liberado. — digo com aspereza, não por raiva do curandeiro que nada tinha culpa, mas sim pela situação em que meu pai está.

Kabuto curva-se em uma reverência tosca e desengonçada, mas sinceramente, não tenho tempo nem paciência para analisar algo como isso agora. Viro-me para trás, olhando a porta de mogno do quarto do rei e lembro-me de todos os momentos em que vi meu pai perante ao povo: com uma expressão decidida, cheia de amor pelo povo mesmo que sua face seja um pouco amarga, e completamente imponente perante a todos. E agora está fadado a morrer em cerca de quatro meses.

— Diga ao seu velho de uma vez… Quanto tempo até essa carcaça começar a apodrecer? — meu pai pergunta sem rodeios assim que entro no quarto e dispenso a criada para conversar a sós com ele.

Franzo o cenho com a pergunta dele. Nunca foi um homem com um bom senso de humor - coisa que puxei dele - e agora em seu leito adoentado, certo de que não terá muito tempo faz uma piada com a própria situação? Tento ignorar isso, amargurado, e desvio do seu olhar quase sem brilho algum, tomado pela doença.

— Cerca de quatro meses, cinco no máximo. — respondo sem nenhuma enrolação, esse era o tipo de relação em que tínhamos: falar apenas o necessário.

— Certo, isso é bom. — ele quase esboça um sorriso para mim, deixando-me extremamente confuso. — Dá tempo de você procurar sua esposa.

Oh, esse assunto. É claro que iria ser comentado, ainda mais agora. O país do fogo tem uma tradição de ser governado por um rei e uma rainha juntos. Atualmente, Fugaku governava sozinho porque minha falecida mãe não conseguiu sobreviver ao meu parto. Na época, dizem que a população ficou completamente chocada com o que havia acontecido, Uchiha Mikoto era adorada por todos desde aos ricos até aos mais pobres. Em respeito a sua imagem e seu amor a meu pai, todos no reino concordaram que o rei não precisaria encontrar outra rainha. Mas a tradição voltaria com o próximo rei, sem falta.

— O que você sugere? — indago ao atual rei com certo receio a sua resposta.

— Hn, andei pensando muito nisso esses dias… — confessa olhando para mim sem nenhuma expressão. — Sugiro selecionar uma mulher de cada distrito. Elas ficarão hospedadas no palácio e você terá de outubro até o último dia de dezembro para escolher a sua futura esposa, pois no primeiro dia de janeiro quero-lhe casado e coroado.

Crispo os lábios ao pensar na quantidade de mulheres em seu palácio em poucos dias. Vinte e dois distritos. Nunca fui uma pessoa sociável, muito menos com pessoas do sexo feminino. Não as entendia e tampouco havia tentado. E agora encarar vinte e duas mulheres querendo ser sua esposa…

— Anime-se, Sasuke. — meu pai diz após dar umas tossidas secas. — Não tive essa opção no meu tempo. — diz bem humorado.

O que a doença havia feito com o meu pai carrancudo? Bem, não importa. Nunca havia pensado realmente que fosse casar por afeição, assim como o seu pai. Não é algo fácil simplesmente achar o amor da sua vida quando fica-se trancado a maior parte em um palácio. Poucas mulheres haviam tido a honra de conversar comigo e nunca tive nenhum interesse por nenhuma. Encontrar um amor no meio de vinte e duas em três meses não me parecia algo fácil ou sequer possível. Bem, quem sabe encontraria uma mulher inteligente que me respeitasse… Seria o suficiente.

— Como iremos selecioná-las?

— Já tenho isso resolvido. Só é preciso conversar com os duques responsáveis de cada um dos vinte e dois distritos para colocarmos o plano em prática. Na semana que vem as mulheres chegarão ao palácio e um dia antes serão escolhidas pelos duques. Já havia comentado com eles antes, então será uma breve conversa. Chame Minato e peça para que ele chame mais vinte e um homens para explicar nos distritos. — assinto com o pedido de meu pai e assim que saio do quarto do rei chamo um criado para achar o Uzumaki.

Vinte e duas mulheres… Por que isso parecia mais desafiador que governar um país?