Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 9
Capítulo 8




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A sexta feira logo após meu jantar com Ron e Ginny era feriado em nossa cidade e, como já combinado há pouco menos de um mês, fiz uma viagem curta de três dias com meus pais para a cidade onde moravam meus avós maternos. O passeio foi bastante divertido e fez valer as quase dez horas que passamos dentro do carro, somando-se ida e volta, considerando que a comida de minha avó continuava tão deliciosa quanto quando eu era criança e meu primo Duda ainda era engraçado como nessa mesma época.

A semana seguinte passou devagar, e a única novidade que tivemos foi quando na quinta-feira agendaram uma reunião com todos da empresa para o dia seguinte de manhã. O assunto não foi divulgado, mas os rumores correram mesmo assim. Não pensei muito nisso e continuei o que estava fazendo, respondendo a alguns e-mails mais antigos.

No dia seguinte cheguei no horário marcado e fui direto para nossa maior sala de reuniões, onde algumas pessoas já estavam acomodadas. Me sentei ao lado de Jefrey e esperamos até que McGonagall, diretora da filial, iniciasse seu discurso, alguns minutos mais tarde.

Em suma, as fofocas eram verdadeiras e as operações em nossa cidade seriam reduzidas em 30%, ao passo que o escritório na capital absorveria os funcionários daqui, visto a alta sofrida na demanda nos últimos meses. Não havia intenção de dispensar ninguém, e como a quantidade de clientes especiais era maior na outra filial, eles iniciariam imediatamente a avaliação dos convidados a transferência com base nos projetos mais bem aceitos do último ano. Como bem explicado, poderíamos negar caso não fosse de nosso interesse ser transferidos, mas é importante saber que lá existem maiores possibilidades de crescimento. O prazo para conclusão da transição e início dos transferidos na outra unidade seria de aproximadamente seis meses.

–É uma oportunidade boa, não acha? - Jefrey me perguntou a caminho de nossas mesas.

–Com certeza, mas se fosse convidado eu não sei se aceitaria. - Fui sincero ao responder.

–Eu não aceitaria, porque acredito que Anna não iria querer deixar o emprego dela aqui e ir para lá com as crianças, longe da nossa família e em um lugar onde eles não podem crescer tão livres. - Explicou, referindo-se à mulher e aos três filhos. - Mas no seu caso, solteiro ainda e sem ninguém que te prenda, eu não pensaria duas vezes.

–Não sei, ainda não pensei sobre isso. E também não acredito que serei convidado, então não há por que me preocupar. - Afirmei encerrando o assunto e me voltando para minhas tarefas.

Cheguei em casa e encontrei meus pais ainda tomando café da tarde juntos na cozinha, rindo sobre algo dito antes que eu entrasse.

–Oi, meu amor. - Minha mãe cumprimentou assim que me viu.

–Oi, mãe. - Retribui e me abaixei para beijar seu rosto. - Oi,pai. - Fiz o mesmo com ele, sentado do outro lado da pequena mesa.

–Oi, Harry.

–Chegou cedo hoje. - Ela comentou quando deixei minha mochila no chão e me sentei com eles. - Quer um pouco de café?

–Quero, por favor. - Aceitei e me levantei para pegar uma caneca no armário. - As coisas estão mais calmas essa semana.

–Que bom. - Meu pai comentou enquanto eu me servia.

–Mas acho que fechei outro projeto hoje, vou confirmar na segunda. Se der certo, terei bastante trabalho para os próximos dois meses.

–Isso é ótimo, filho. Tenho certeza que dará certo. - Minha mãe desejou e fez um carinho na minha mão.

–Tivemos uma reunião hoje sobre a mudança, e é verdade. Vai acontecer em seis meses. - Contei a eles, que me olharam com mais atenção.

–E você vai? - Ela me perguntou imediatamente.

–Não sei ainda, eles estão avaliando o desempenho de todos e pelo que entendi os melhores serão convidados. Trinta por cento dos funcionários serão transferidos e eles disseram que será um convite aberto e haverá possibilidade de negar. - Expliquei e eles me olharam com atenção. - De qualquer forma, acho que nem serei convidado, então não terei que me preocupar.

–Se estão levando os melhores é claro que você vai. - Meu pai afirmou, se manifestando pela primeira vez, e eu o olhei em dúvida. - Você sempre nos disse que seus projetos são muito bem aceitos, não faz sentido que você não vá.

–Mas você pode negar. - Minha mãe disse, como quem espera que aquela seja minha resposta.

–E por que ele negaria, Lily? As possibilidades que ele teria lá não se comparam com as daqui.

–Pois eu acho que ele tem possibilidades ótimas aqui, não preciso desejar que nosso filho vá embora. - Ela se defendeu categoricamente.

–Querida, fica a menos de uma hora daqui e eu acho que seria ótimo para ele. - Meu pai explicou e ela negou com a cabeça.

A cena dos dois me fez rir, e eles me olharam questionadores.

–Não vamos pensar nisso agora, está bem? Ainda falta muito tempo. - Sugeri, mas eles não concordaram. - E como o papai disse, se eu for ainda assim estarei muito perto de casa, mamãe. E de qualquer forma, ainda não pensei sobre o assunto.

Terminamos nosso lanche sem pressa e já um pouco tarde, por isso não jantamos e ficamos um tempo juntos na sala conversando e depois assistindo a um filme de comédia que passava na TV. Acordei já bem tarde no sofá, com meu pai me chamando para ir me deitar em meu quarto e a casa já toda escura.

No sábado, como de costume, me levantei bem depois de horário habitual e encontrei apenas um bilhete com meu nome sobre a mesa de jantar:

“Harry,

Fomos passar o dia com Molly e Arthur no clube. Chegaremos a noite.

Beijos,

Mamãe e Papai”

Os textos não mudaram nada desde que eles começaram a me deixar sozinhos em casa por curtos períodos de tempo, quando eu tinha dez anos, e isso sempre me fazia rir. Tomei café e enquanto lavava a louça que havia usado ouvi meu celular tocando. A mensagem instantânea recebida era de Ron, me convidando para almoçar fora e informando que Mione iria também.

Respondi dizendo que aceitava o convite e informando que estaria em sua casa dentro de uma hora. Tomei um banho rápido, vesti uma roupa leve combinando com o clima e saí para encontrá-los.

–Oi. - Ele me cumprimentou ao abrir a porta para mim, e ainda usando apenas a calça do pijama.

–Você ainda não está pronto? - Questionei, como resposta ao seu cumprimento.

–Estou indo tomar banho agora. - Informou enquanto fechava a porta.

O acompanhei pelo corredor e entrei com ele em seu quarto.

–Ginny já está pronta, pelo menos? Porque você sabe que ela demora bem mais que você para se arrumar. - Perguntei, me sentando em sua cama enquanto ele apanhava sua roupa no armário em frente.

–Ela não vai.

–Por que?

–Não sei, só me disse que não estava a fim e voltou a dormir. - Respondeu dando de ombros, sem dar maior atenção ao assunto. - Vou tomar banho, volto em uns vinte minutos.

Saí do quarto junto com ele e bati na porta ao lado. Não precisei insistir antes que ela me mandasse entrar, o que indicava que ela não estava dormindo, como disse ao irmão. A luz ainda estava apagada, e eu acendi antes de me deitar nos pés de sua cama.

–Oi, Harry. - Ginny cumprimentou um pouco desanimada, deitada de bruços.

–Por que você não vai com a gente? - Perguntei preocupado com seu estado de espírito incomum.

–Hoje não estou a fim. - Deu de ombros como se não fosse nada demais.

–Você nunca foi disso. - Afirmei desconfiado e ela riu. - Estou falando sério, o que foi?

–Não é nada mesmo, só estou com cólica. Tudo o que eu quero hoje é ficar em casa. - Explicou puxando um dos travesseiros de encontro a barriga e se acomodando de lado para me encarar.

–Ah sim, entendi. Não dá mesmo para abrir uma exceção? - Pedi, sem nenhuma vontade de deixá-la sozinha em casa assim e passar o dia apenas com Ron e Mione.

–Desculpe, mas dessa vez não mesmo.

–Ok, vou ficar com você então. - Decidi e lancei a ela um sorriso animador.

Ela riu e negou com a cabeça antes de se manifestar:

–Não precisa, Harry, obrigada.

–Você acha mesmo que quero passar o dia só com os dois? - Justifiquei ocultando a parte de não querer deixá-la sozinha, pois isso certamente a faria insistir por horas a fio que era besteira da minha parte.

–Mas você já tinha confirmado. - Argumentou.

–Eu não sabia que você não ia. - Expliquei antes de me levantar. - Vou avisar o Ron que mudei de ideia.

Antes que eu colocasse os pés no chão ele entrou, já pronto e me convidando para irmos.

–Eu não vou mais, Ron. Espero que não se importe.

–Por que não?

–Vou ficar para fazer companhia à Ginny, ela está doente. - Expliquei e ele se virou para ela com olhar questionador.

–Estou com cólica. - Esclareceu sem que ele precisasse perguntar.

–E isso por acaso doença, Harry? - Indagou cético.

–Eu nunca tive cólicas, então não posso menosprezar os sintomas que não conheço. Você deveria fazer o mesmo, cara. - Argumentei e Ginny riu ao meu lado, me fazendo rir também.

–Nossa, quanta empatia da sua parte para com as cólicas da minha irmã. - Comentou com ironia, olhando avaliador de um para o outro. - Bom, já vou indo então. Melhoras.

–Obrigada. Mande um beijo para Mione.

–Da minha parte também. - Pedi.

–Mandarei. Tchau, e divirtam-se os dois. - Desejou sarcástico antes de virar as costas e sair.

–Acho que isso não é o certo a se desejar para alguém que está com dor. - Falei pensativo, e Ginny concordou.

–Ron e seu ótimo senso de oportunidade. - Comentou antes de apoiar os travesseiros nas costas e se sentar. - Como foi a viagem na semana passada?

Conversamos por mais de uma hora em seu quarto e nesse meio tempo eu contei a ela sobre a confirmação da mudança para daqui a seis meses. Sua opinião era exatamente a mesma do meu pai: eu com certeza seria convidado e deveria aceitar a oportunidade, pois seria ótima para minha vida profissional.

–Como vocês podem ter tanta certeza assim de que irei? - Perguntei em dúvida. - Não que eu seja ruim, eu realmente me acho bom, mas o escritório tem projetistas ótimos.

–Desde que você entrou lá não teve um único projeto recusado, e eu posso não entender nada disso, mas os que você já me mostrou são incríveis. - Opinou.

–Obrigado, mas eu prefiro não pensar nisso agora. Vou deixar para me preocupar caso realmente aconteça. - Me decidi. - Não gosto de sofrer por ansiedade.

Ela assentiu e acomodou melhor o travesseiro a que estava abraçada.

–Ainda está doendo?

–Sim.

–Por que não toma remédio? - Sugeri.

–Eu já tomei, mas não passou.

–E não tem nada mais que melhore isso?

–Sim, vou fazer uma bolsa de água quente. - Informou e jogou as cobertas para o lado.

–Deixe que eu faço para você, onde está? - Me ofereci, já em pé.

–Desse jeito eu acho que vou te chamar pra passar uns dias aqui todo mês. - Brincou e eu ri.

–Não se acostume, se for um mês que eu não esteja de bom humor ainda te jogo na piscina gelada. - Ameacei e esperei ela ir até seu armário e me entregar a bolsa para que eu aquecesse.

Ela se sentou na pequena mesa na cozinha e esperou que eu preparasse para ela, como prometi que faria, e depois fomos os dois para a sala. Ela se acomodou deitada no sofá maior e eu fiz o mesmo no que restou, deixamos as cortinas fechadas e aproveitamos o ambiente um pouco escuro para passar o sábado descansando.

Após alguns episódios de uma série de comédia olhei para o lado e vi que Ginny dormia profundamente, a bolsa ainda apoiada sobre a barriga. Observei sua expressão tranquila por alguns minutos e deduzi que ela deveria estar melhor, o que me deixou também aliviado. Voltei meus olhos para a TV e me permiti relaxar também.

Algum tempo depois a ouvi se mexer no sofá e quando olhei em sua direção ela já estava em pé ao meu lado, usando a mesma camiseta com que tinha dormido e o short pequeno do pijama. Antes que eu perguntasse se estava tudo bem Ginny passou uma perna por cima de mim e se sentou sobre meu quadril antes de se debruçar e atacar meu pescoço. Fechei os olhos quando seus lábios passearam pela minha pele e contive um gemido quando suas mãos invadiram minha camiseta. Fechei meus dedos em sua coxa e subi em direção ao quadril, apreciando o toque macio de sua pele sob a roupa apertada. Pedi um beijo para ela e mesmo minha voz estando quase inaudível ela entendeu e se levantou o suficiente para me olhar antes de se abaixar lentamente em minha direção e fechar os olhos antecipando o contato de nossos lábios. Fechei também os meus e esperei pelo que me pareceram dias até que sua boca chegasse à minha.

Acordei nessa hora, dando um pulo e olhando desesperado em volta à procura de alguém que tivesse presenciado isso, como se talvez meu sonho estivesse sendo transmitido em tempo real para quem ali estivesse. Puxei a almofada embaixo dos meus pés e apoiei no colo, onde ela seria mais útil, e com o coração ainda acelerado vi a sala tão silenciosa quanto antes, exceto pelo barulho da TV, e Ginny ressonando do outro lado da sala, exatamente como minutos atrás e tão diferente do meu sonho.

Fechei os olhos com força e me concentrei em esquecer aquelas imagens, começar a ter sonhos eróticos com ela não seria um bom sinal nem que eu estivesse sozinho em meu quarto, muito menos em qualquer lugar e pior ainda com ela dormindo no sofá ao lado.


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Notas finais do capítulo

Olá, meus lindos!
Como passaram as festas? Espero que tenham sido ótimas.
Eu amo ler os comentários de vocês e adoro quando eles tem sugestões do que acontecerá no decorrer da história. E tenho que confessar que alguns quase acertam tudo! rsr
Me digam, o que vocês acham que está acontecendo com o Harry? E com a Ginny?
Espero ver a todos nos comentários!
Até o próximo capítulo.
Beijos!



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