Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 7
Capítulo 6




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O gelo me fez bem, já que no dia seguinte apenas Jefrey, que se senta de frente para mim no trabalho, perguntou o que havia acontecido com meu rosto. Inventei algo sobre ter batido o nariz no meu criado mudo quando me abaixei distraído para pegar algo que havia caído embaixo da minha cama, e apesar de ser uma desculpa ridícula ele acreditou. Por sorte não havia quebrado e o inchaço demorou apenas dois dias para sumir por completo.

Trabalhei todos os dias um pouco além do meu horário para entregar a tempo um projeto de destaque no qual eu estava trabalhando e que tinha tudo para ser muito bem aceito pelo cliente, e por isso fui direto para casa todos os dias da semana e não vi meus amigos em nenhum deles.

Meus pais iriam passar o final de semana na praia, então eu já sabia que não encontraria ninguém em casa quando chegasse do trabalho na sexta feira. Assim economizei meu tempo e parei no caminho em uma pizzaria de que eu gostava muito para comprar o meu jantar.

Deixei minha pizza na cozinha e subi para tomar um banho e colocar uma roupa mais confortável antes de comer, no entanto meu telefone tocou antes que eu chegasse ao quarto.

–E ai? - Atendi informal quando vi que era Ron me chamando.

–Tudo bem? - Perguntou, mas não me deu tempo para responder. - Tem algo para amanhã a noite?

–Por enquanto não. Aonde vamos? - Questionei já sabendo que seria convidado para algo e decidido a aceitar o convite.

–Estava pensando em apresentar Hermione a vocês, podemos jantar em algum restaurante legal que dê para conversar, o que acha? - Sugeriu.

–Claro, por mim pode ser. Ginny vai também?

–Se você for, sim. Ela me disse que não vai só com nós dois. - Explicou em um tom claro de quem achava aquilo bobeira, mas eu ri porque também não iria só com os eles.

–Combinado, então. Amanhã que horas?

–Vou confirmar o horário com ela e te falo. - Informou no momento em que eu joguei a chave do carro em cima da mesa de estudos do meu quarto. - Onde você está? - Perguntou curioso quando ouviu o barulho.

–Acabei de chegar em casa.

–Por que tão tarde?

–Fiquei um pouco mais no trabalho hoje e passei em uma pizzaria para comprar o jantar, meus pais estão na praia. - Informei com o telefone preso entre a orelha e o pescoço e desabotoando minha camisa.

–Vem para cá, então. - Propôs. - O Telecine lançou um filme legal na semana passada, e assim você não fica sozinho aí.

–Até que seria uma boa. - Considerei sua ideia.

–Vem logo. - Determinou. - E compre outra pizza no caminho, uma só é pouco para nós três. O que Ginny? - Perguntou algo à irmã e eu aguardei na linha enquanto ouvia sua voz ao fundo, mas sem conseguir distinguir o que dizia. - Ela disse que quer pizza de atum.

–Credo, que horror. Só Ginny gosta dessas coisas estranhas. - Afirmei e Ron concordou. - Só duas é suficiente?

–Sim, meus pais saíram também, então seremos só nós três.

–Ok, vou tomar um banho e chego aí daqui a pouco. - Decidi antes de nos despedirmos.

A temperatura agradável me fez vestir uma camiseta, bermuda e apenas um chinelo que seria dispensado assim que eu entrasse pela porta da sala dos Weasleys. Peguei minhas chaves, a carteira e a pizza já um pouco fria em cima da mesa e segui novamente para a pizzaria antes de finalmente estacionar o carro no gramado em frente a casa deles, pouco mais de uma hora depois do convite.

Subi os poucos degraus que separavam a garagem do corredor de entrada e toquei a campainha apenas por formalidade, porque eu sabia que os dois nunca trancavam a porta, e o grito de “está aberto” que Ginny me deu comprovou minha teoria.

–Tia Molly já mandou vocês trancarem a porta. - Alertei fechando-a atrás de mim e dando a volta na chave pendurada na fechadura.

A sala estava escura, apenas com a TV ligada, e Ron estava deitado no sofá menor enquanto Ginny ocupava o maior. Caminhei até onde ela estava e me abaixei para cumprimentá-la com nosso habitual beijo no rosto.

–Oi, Harry. - Ela me cumprimentou sem tirar os olhos da tela.

–Oi. - Ron murmurou também quando apertei sua mão.

–Sente aí com o Ron um minuto, o filme está acabando e nós já vamos comer. - Ginny sugeriu

–Pare de ser espaçosa, seu sofá é maior que o meu. Sente com ela, Harry. - Ron determinou.

Revirei os olhos para a desatenção de ambos ao falar comigo e deixei as duas caixas de comida sobre a mesa de centro antes de me sentar no mesmo sofá que ela, com seus pés em meu colo e meus braços apoiados na sua perna.

–Que filme é esse?

–Não sei o nome, mas é de ação. - Ginny me respondeu sem me olhar.

–E sobre o que trata? - Tentei puxar assunto.

–Fica quieto e assiste, Harry. - Me cortou e eu me calei.

Filmes assim normalmente não me prendiam quando eu chegava já na metade, então nem tentei me concentrar na TV, pois eu já sabia que seria em vão, e fiquei repassando mentalmente os detalhes do meu projeto para me certificar que não havia esquecido nada enquanto batucava meus dedos sobre a calça jeans preta que minha amiga estava usando.

Observei casualmente o ambiente a meu redor, que eu já conhecia de cor, passei meus olhos por Ron, deitado desleixado no sofá a frente, e os pousei em Ginny, deitada ao meu lado com os pés no meu colo, totalmente alheia a mim, a camiseta um pouco erguida deixando a mostra um pedaço pequeno de sua barriga e os cabelos longos e vermelhos espalhados na almofada embaixo de sua cabeça.

Só nesse momento eu me lembrei que deveria estar observando suas reações, como prometi que faria, e assim o fiz por um ou dois minutos, sem parar o movimento dos meus dedos em suas pernas. Durante esse tempo ela não deu nenhum sinal de estar mais ciente de minha presença que o irmão, e isso me reconfortou.

Aproveitei a luz apagada e a distração de meus dois companheiros para observar atentamente seu corpo, coisa que percebi não ter feito nem na semana anterior, quando nenhuma peça de roupa o cobria. Eu havia afirmado que não olhava para ela dessa forma, e era verdade, mas quando me toquei que não havia feito nem mesmo na ocasião em que eu deveria fiquei curioso.

Observei primeiro seu rosto, ao mesmo tempo delicado e com traços um pouco marcantes, como os lábios carnudos, mas esse eu já conhecia bem. Desci meus olhos para seu colo e me detive um instante no decote da camiseta que ela usava, e que desse ângulo não era favorecido, mas que eu me lembrava bem ser do tamanho exato, então me fixei ali e forcei minha memória a trazer aquela imagem novamente.

Desci um pouco mais até sua barriga, onde minha memória não precisou de uma ordem para trazer a lembrança do cheiro de sua pele, muito mais gostoso que o perfume de sempre e cujo cheiro eu conseguia sentir agora, apesar de não estar tão próximo de seu pescoço. Dediquei um pouco mais de atenção às curvas de seu quadril, traçando com os olhos a linha do cós da calça, a costura do jeans bem cortado que a favorecia de todas as formas e delineava suas coxas.

Olhei a tudo isso tentando ao máximo reviver as imagens que minha memória repassava, e me lamentei brevemente por não ter aproveitado mais aquele momento. O que certamente eu teria feito se naquela hora eu tivesse certeza de que tudo estaria normal depois.

–Harry! - Sua voz me chamou de repente e eu dei um pulo, sentindo meu rosto queimar de vergonha e agradecendo a luz apagada que não os deixaria ver como eu com certeza estava vermelho.

A olhei já pronto para inventar uma desculpa convincente para meus olhares que, tenho certeza, não se pareciam nada inocentes, e respirei aliviado quando vi que ela não havia desviado seu olhar da tela à nossa frente.

–Está fazendo cócegas. - Continuou antes que eu respondesse.

Notei então que minhas mãos, antes perto de seus pés, estavam agora um pouco acima de seus joelhos, onde ela sempre teve cócegas, ainda repetindo os mesmos movimentos.

–Desculpe. - Pedi um pouco constrangido e abandonei a posição inicial, apoiando meus braços sobre o encosto ao meu lado e atrás de mim.

Respirei fundo algumas vezes e aos poucos senti a temperatura do meu rosto voltando ao normal, até estar como antes e já me sentir confiante para voltar a olhar em volta e agir normalmente.

O filme acabou alguns minutos depois, assim acendemos a luz, os dois se sentaram e comemos na sala mesmo, conversando banalidades e contando o que aconteceu de novo durante a semana que passou.

–Estou ansiosa para conhecer a namorada do Ron. - Ginny falou pausadamente, como quando queria soar brincalhona, e eu confirmei que também estava.

–Eu já te falei que ela não é minha namorada. - Ele responde sério, alheio a brincadeira, o que nos fez rir.

–E onde será o tal jantar? - Questionei.

–No centro, em um restaurante italiano. Ginny já foi lá, ela te mostra o caminho.

–Você foi lá? E desde quando você gosta de restaurantes italianos? - Perguntei a ela, em dúvida quanto a informação.

–Não vejo muita graça mesmo, mas o Michael adorava e achava que eu também. - Explicou, se referindo a um ex namorado com quem ela ficou pouco menos de um ano.

Antes que o assunto se estendesse ouvimos o barulho da chave na porta e seus pais entraram segundos depois, rindo e conversando entre eles.

–Olá, crianças. - Tia Molly cumprimentou antes de se dar conta de que eu também estava ali. - Harry, que bom vê-lo.

Fui até onde ela estava e trocamos um abraço rápido.

–Bom te ver também, Tia. Como está? - Perguntei antes de me dirigir ao outro recém chegado e abraçá-lo também. - Tudo bem, Tio Arthur? Ron me disse que vocês estariam fora, então eu trouxe pizza apenas para nós três, mas posso buscar mais.

–Não se preocupe, nós comemos fora. E se não se importam, já vamos dormir. - Ele negou e eu assenti.

Me sentei novamente no sofá enquanto eles cumprimentavam com um beijo Ron e Ginny antes de tomarem a direção do corredor onde ficavam os quartos, depois de nos desejar boa noite.

–Harry, você vai ficar para dormir?

–Sim, Tia, se não se importarem.

–Quer que arrume o quarto de hóspedes ou vai dormir com um deles? - Questionou indicando meus amigos.

–Se não for incomodo eu gostaria de dormir no quarto de hóspedes, por favor. - Pedi e ela assentiu antes de sair.

–Ta com medo que eu te agarre enquanto você dorme? - Ron perguntou em tom de gozação. - Já disse que foi só uma vez, não precisa ficar traumatizado.

Lancei a ele um gesto obsceno e Ginny apenas riu e negou enquanto comia uma azeitona. Conversamos mais algumas horas e já bem tarde fomos nos deitar, com a promessa de que no dia seguinte iríamos juntos tomar café em uma padaria nova que havia perto da casa deles.

Como de costume, fui o primeiro a despertar e coube a mim a missão de fazê-los se levantar também. Passamos a manhã e boa parte da tarde na rua e eu voltei com eles para esperá-los se arrumar e sairmos juntos para nosso compromisso. Ron havia marcado às sete, e combinamos que eu iria com Ginny, ele buscaria a moça em casa e então nos encontraríamos no local.

Pouco antes das seis da tarde ela já estava pronta e me chamando para irmos, pois ainda teríamos que passar na minha casa para que eu tomasse banho e me trocasse. Eu era consideravelmente mais rápido nesse feito, mas ainda assim já estávamos em cima da hora.

Como eu iria para minha casa depois do jantar propus irmos no meu carro mesmo, que já estava na rua e seria mais rápido, e eu a traria em até aqui após o jantar. Assim, tão logo ela se acomodou no banco do carona eu iniciei a primeira parte do nosso trajeto.

Estacionei na minha vaga, destranquei a porta da sala e assim que entramos já me dirigi às escadas que me levariam ao meu quarto. Ginny me seguiu, deixou os sapatos no meio do caminho e se jogou deitada na minha cama para esperar que eu me arrumasse.

Ela estava no meio de um de seus monólogos, me contando os detalhes de um dos estudos de caso que ela havia estudado para seu trabalho de conclusão de curso e não se deteve, não se incomodou e nem pareceu me olhar quando eu tirei o short e a camiseta, peguei minha toalha de banho e segui apenas de cueca para o banheiro ao lado do meu quarto.

Tomei um banho rápido, tirei o excesso da água dos meus cabelos, pendurei a toalha, vesti a cueca limpa que havia trazido e com os mesmos trajes fui até meu armário me vestir. Quando entrei ela estava folheando um livro de projetos que eu deixei sobre meu criado mudo depois de ler algumas páginas, e apenas levantou os olhos dele quando, já pronto, a chamei para irmos.

Chegamos antes do Ron, mas nos sentamos mesmo assim e pedimos uma água para matar o tempo. Enquanto esperamos continuamos com nossas piadas e suposições a respeito de quanto tempo levaria até que ele nos dissesse que estaria namorando e totalmente apaixonado.

Alguns minutos depois Ginny cutucou meu braço e apontou para o carro do irmão, visível através do vidro da porta de entrada enquanto ele estacionava. Observamos os dois descerem sorridentes e ele abrir a porta do restaurante para que ela entrasse, como um cavalheiro. Segurei o riso para não causar uma má primeira impressão e me levantei para recebê-los.

Ela primeiro cumprimentou Ginny com um abraço, que também havia se levantado e estava em pé ao meu lado, para depois se dirigir a mim sorridente.

–E você deve ser o Harry. - Supôs, muito simpática. - Muito prazer, Mione.

–O prazer é meu em finalmente conhecê-la. - Repeti a gentileza e nos sentamos.

Fizemos nossos pedidos imediatamente e conversamos durante todo o tempo de espera e também enquanto jantamos. Não sei dizer exatamente como eu esperava que ela fosse, mas certamente me surpreendi. A conversa foi agradável, pontuada com risadas e brincadeiras na medida certa.

–Ginny, Ron comentou comigo que você namorou meu primo, Dino. - Falou enquanto comíamos nossa sobremesa.

–Sim, namoramos por alguns meses durante a faculdade.

–Ele ficou empolgado com a possibilidade de voltar a ver você. Poderíamos marcar qualquer dia e sair todos juntos, o que acha? - Sugeriu empolgada, e eu tive vontade de rir da cara que Ron fez ao seu lado.

–Claro, seria ótimo. Vamos marcar sim. - Minha amiga respondeu educada, mas sem demonstrar real interesse nesse possível encontro.

Nos despedimos em frente ao carro do Ron algumas horas depois e segui com Ginny até onde deixamos meu carro estacionado.

–Gostei dela, muito simpática e divertida. - Comentou enquanto afivelava o cinto de segurança.

–Também gostei, me pareceu uma pessoa agradável para incluir nos nossos encontros.

–Isso é importante, porque algo me diz que ela será presença constante daqui em diante. - Sugeriu, me fazendo rir.

–Você não vai encontrar com o Dino, não é? - Perguntei após um momento de silêncio, já próximos de sua casa. - Aquele cara é um idiota, não da para ficar perto dele dez minutos, imagina durante um encontro inteiro.

Ela riu antes de me responder.

–Não, não vou encontrá-lo. Ele é um idiota, realmente. - Concordou comigo, mas com ar pensativo. - Se bem que em alguns momentos a presença dele era legal.

Parei o carro em frente a sua casa antes de responder.

–Melhor você ir dormir, já está falando besteira. - Ela riu enquanto pegava sua bolsa no banco traseiro, e eu continuei a expressar minha opinião sobre ele. - Duvido que ele seja legal em alguma ocasião, e mesmo que fosse não seria tão legal a ponto de valer a pena todos os momentos chatos dele. Você merece coisa melhor, Ginny, então não faça isso.

Empenhei todo meu drama nessa frase e ela gargalhou antes de se inclinar para se despedir.

–Pensando por esse lado, até que você tem razão. -Comentou ainda rindo antes de me dar um beijo no rosto. - Boa noite, Harry, obrigada pela carona.

–Boa noite, Gi. Sempre que precisar.

Esperei que ela entrasse antes de arrancar em direção á minha casa


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Notas finais do capítulo

Olá, meus lindos!
Meu presente de Natal chegou no dia 24, um dia antes, então retribuam com muitas palavrinhas lindas, seja nos comentários, MP ou em recomendações ;)
E então, o que estão achando?
Ron e Mione aparecerão na história com uma certa frequência, mas eles não são nosso foco aqui, então os momentos serão escassos. Há um motivo para que Ron tenha conhecido seu futuro amor justo nesse momento, e é exatamente para que ele também não seja presente.
Espero ansiosa saber a opinião de vocês.
Desejo a todos um Natal lindo e abençoado, repleto de luz e amor.
Até o próximo!
Beijos