Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 6
Capítulo 5




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Na segunda-feira cheguei do trabalho um pouco mais cedo do que o normal e antes mesmo de desligar o carro meu celular tocou indicando que Ron me ligava. Nossa conversa não durou nem dois minutos, tempo suficiente para eu confirmar que estava em casa, não iria sair e que ele poderia passar aqui para tomar uma cerveja.

Pelo barulho do chuveiro vindo do primeiro quarto no corredor eu sabia que minha mãe estava tomando banho, então apenas gritei da porta que já estava em casa e fui direto para meu próprio quarto.

Tirei a roupa que usei o dia todo e me joguei na cama vestindo apenas uma bermuda leve, que normalmente eu usava para dormir. Coloquei as coisas no lugar em que devem ficar para evitar a bagunça que em nada me agrada e me joguei na cama com a TV ligada.

–Olá, querido. - Minha mãe cumprimentou já entrando pela porta aberta.

–Oi, mãe. - Retribui me afastando para dar a ela espaço de se sentar ao meu lado e me dar um beijo demorado no rosto.

–Teve um bom dia?

–Sim, tudo na mesma.

–Não confirmaram nada ainda? - Perguntou curiosa.

Ela vinha me perguntando isso todos os dias desde que mencionei os boatos sobre uma possível mudança. Essa possibilidade não me agradava muito, mas à minha mãe ela desagradava por completo.

–Não, mas também não negaram. Por enquanto só os mesmos boatos.

–Que bom, mas me conte quando definirem, quero saber. - Pediu e se levantou. - Vai comer algo?

–Acho que não, Ron vai passar aqui daqui a pouco, talvez a gente saia. Mas se não formos a nenhum lugar eu preparo alguma coisa mais tarde, não se preocupe

–Tudo bem, vou ler um pouco então. - Justificou-se antes de virar as costas e sair em direção ao corredor.

Assisti alguns minutos de um filme que passava e chequei meu e-mail pessoal antes que a porta do meu quarto se abrisse de novo.

–Cheguei. - Ron anunciou fechando a porta novamente e se jogando de qualquer jeito na cadeira da minha mesa de estudos. - Sua mãe disse que você estava aqui e que eu poderia subir.

–E por isso você não bate na porta? Eu poderia estar fazendo coisas constrangedoras aqui sozinho. - Comentei enquanto ele se acomodava.

–Já tive minha fase, adolescentes são assim mesmo. Então eu te entenderia. - Respondeu com ar superior.

–Como foi o aniversário da menina do vestido verde? - Mudei o foco da conversa.

–É Hermione.

–Você acha mesmo que vou aprender esse nome um dia? - Zombei para provocá-lo, mas ele riu.

–Eu aprendi, e depois de um tempo você se acostuma a ele. - Se explicou dando de ombros. - Foi divertido, ela marcou com uma galera naquele mesmo barzinho que a Ginny passou a noite toda cantando no karaokê, lembra?

–Lembro, nunca passei tanta vergonha. - Lamentei e ele me acompanhou quando ri. - Você não se sentiu meio perdido lá com todo mundo desconhecido?

–Não, era todo mundo bem descontraído. E por coincidência ela é prima do Dino, lembra dele?

–Aquele da nossa sala, que sua irmã namorou quando começou a faculdade? - Perguntei e ele concordou com um aceno. - Lembro, bom pra caramba em cálculo, mas um completo idiota.

–Bom, pelo menos não era todo mundo completamente desconhecido. - Rebateu conformado.

–Boa sorte nos próximos encontros com a turma dela. - Desejei irônico e ele me lançou um gesto obsceno.

– E a viagem, como foi? – Questionou, apenas levemente interessado.

– Melhor impossível. – Respondi sinceramente, prendendo o riso.

– Legal. Fizeram o que de bom lá sem mim? – Perguntou descontraído, apoiando-se pesadamente no encosto da cadeira.

– Nós transamos. – Respondi normalmente e sem nenhuma cerimônia, já sabendo que ele nunca havia sido o tipo de irmão ciumento que pensa que a irmã não tem uma vida.

– Vocês o que? – Perguntou, imediatamente se inclinando para frente e com uma expressão de que preferia ter ouvido qualquer outra coisa além daquilo.

– Nós transamos. – Confirmei ainda com um meio sorriso, acreditando que ele poderia não ter ouvido direito.

– Transaram. - Comentou, o humor e a descontração já totalmente ausentes. - E agora? – Questionou já sem o tom amigável de sempre, quase agressivo.

– Agora o que? Foi legal, oras. Como assim? – Abandonei minha posição deitada e relaxada e me sentei enquanto esclarecia confuso, sem saber ao certo o que ele quis dizer.

– Ah, sim, fico feliz em saber que foi legal. – Riu com ironia. – Você transou com a minha irmã e agora está tudo como antes! – Finalizou visivelmente alterado e passando as mãos no rosto.

– É, o que tem demais? Não foi a primeira vez pra nenhum de nós dois. – Confirmei ainda mais confuso do que antes, dando de ombros.

– Seu animal! – Ele explodiu antes de contrariar todas as minhas expectativas, dar dois passos largos em minha direção e enfiar um soco na minha cara.

Eu senti o peso do seu punho no meu nariz, alguma coisa estralando no centro do meu rosto e minha cabeça girar enquanto ele virava para o lado, tão transtornado quanto antes.

– Qual é Ron, tá louco? – Gritei colocando as mãos no rosto no exato momento em que algo quente começava a escorrer, meu nariz latejando de dor.

–Louco, eu? Você que é um idiota. – Retrucou tão alto quanto meu grito.

–Tudo isso porque fizemos sexo? Tenho que te dizer então que se o seu problema é ciúmes dela, saiba que Ginny já faz essas coisas há um bom tempo. – Rebati tão irônico quanto ele havia sido.

– Eu sei muito bem que a minha irmã faz sexo. O problema não é esse. – Respondeu ainda de pé, apontando o dedo pra minha cara.

– Qual é o problema então, caralho? - Me levantei também e empurrei para baixo a mão que ele ainda mantinha erguida.

– Você é o problema. – Esclareceu, nem um pouco mais calmo que antes.

– Eu? Por que? – Quis saber, ainda confuso mas sem baixar meu tom de voz.

– Porque ela gosta de você, seu idiota! – Gritou novamente.

Antes que ele falasse mais alguma coisa a porta se abriu e minha mãe apareceu com o rosto preocupado, imediatamente me virei de costas para que ela não visse meu nariz sangrando.

–Meninos, está tudo bem? - Perguntou preocupada, e apesar de sua chegada nos ter feito ficar quietos ninguém respondeu. - Ronald? - Exigiu uma resposta.

–Sim, Tia Lily, tudo bem. - Esclareceu, sem escolha.

–Harry? - Virou-se para mim.

–Tudo bem, mãe. - Falei a contragosto, e ela notou quando passei a mão para limpar o rosto.

–Olhe para mim. - Exigiu e eu me virei. - O que foi isso?

–Nada, só estamos conversando. - Menti e ela me olhou avaliadora.

–Estou lá embaixo se precisarem. Sejam adultos vocês dois, e nada de mais socos, Ron. - O repreendeu antes de se virar e fechar a porta, sem dar a ele tempo de responder.

Nos encaramos com raiva e eu esperei que ele se sentasse antes de fazer o mesmo. Ficamos alguns minutos sem falar nada e ele olhou para o outro lado quando peguei uma caixa no lenço na mesa onde ele estava encostado para limpar o sangue que descia pelo meu rosto.

–Quer ir ao médico - Perguntou constrangido depois que me sentei novamente.

–Não, só quero que você pare de ser um animal e aprenda a conversar como gente. - Respondi sem esconder minha raiva.

–E eu quero que você seja menos burro e perceba as coisas. - Contestou com ironia e eu soube que ele estava falando de Ginny.

–Você tem certeza que estamos falando da mesma irmã? - Perguntei com ironia. - Porque se você quer falar sobre isso eu acho que é você quem deve perceber melhor as pessoas que moram com você. - Alfinetei e ele esperou que eu continuasse. - Se você tivesse outra irmã, uma prima próxima, uma poodle ou até mesmo um irmão todos eles teriam uma possibilidade maior de gostar de mim do que Ginny.

–Ela gostava de você quando éramos crianças. - Defendeu seu ponto de vista. Sua voz era um pouco mais calma, mas eu reparei que ele estava escolhendo as palavras para não explodir novamente.

–Eu sei, e eu gostava de uma das gêmeas Patil, lembra delas? - Ironizei me referindo a uma garota que estudou conosco e cuja voz lembrava brevemente uma gralha rouca. Ron riu quando a mencionei, depois voltou à expressão carrancuda. - Você só se esqueceu que todos nós crescemos, amigão, ninguém mais aqui é criança.

–E quem te garante que isso passou? - Perguntou desconfiado.

–Você acha mesmo que seria tão natural sairmos e passarmos tanto tempo juntos se essa asneira fosse verdade, Rony? - Questionei seriamente desconfiado de suas capacidades de raciocínio.

–Sinceramente, Harry? Eu não sei. Mas se você magoou ou vier a magoar minha irmã por causa de uma transa legal esse foi só o primeiro soco que você levou de mim. - Ameaçou e eu revirei os olhos incrédulo com aquela atitude.

–Ronald, sua irmã é minha melhor amiga, então quero tanto quanto você que nada aconteça a ela. - Falei pausadamente para que ele entendesse. - Foi só sexo para mim e para ela, nós até conversamos sobre isso depois, se quer saber, e apesar de ter sido realmente muito bom nosso interesse um no outro não é sexual. Entendeu?

–Acho bom que você esteja certo.

–Vou pegar uma cerveja para ver se você volta a ser só um pouco idiota, porque quando você é muito idiota, como agora, fica insuportável.

Peguei nossas bebidas na cozinha e subi novamente para o meu quarto sem passar pela sala, assim não vi minha mãe nesse trajeto, apesar de saber que ela estava ali. Ele evitou a todo custo falar sobre o assunto novamente e preencheu o silêncio com mais detalhes sobre a comemoração de Hermione, com quem ele sairia novamente no final de semana seguinte.

–Eu achei que seria só aquela noite na balada, mas eu estou gostando de passar um tempo com ela. - Assumiu depois de me dizer que estava pensando em marcar algo comigo e Ginny também, para nos apresentar a ela.

–Roniquinho está apaixonado. - Zombei e ele me mandou para um lugar não muito educado.

Quando ele foi embora já passava bastante da hora do jantar e eu o acompanhei até a porta.

–Eu não queria tocar no assunto, mas é bom você colocar um gelo nisso aí porque seu rosto está meio roxo. - Ele comentou sem graça antes de entrar no carro.

–É o que eu ganho por ter amigos idiotas.

Ele riu da minha resposta antes de se despedir e sair. Fechei a porta atrás de mim e comecei meu caminho em direção à cozinha na intenção de preparar um sanduíche.

–Harry, venha aqui. - Minha mãe chamou da sala e eu fui até lá relutante, já sabendo que viria um interrogatório a seguir. - Me explique o que foi isso. - Exigiu me olhando avaliadora.

–Um soco. - Respondi sem graça e o mais vago que consegui.

–Isso eu sei, eu quero saber o motivo.

–Bem, aconteceram umas coisas com Ginny e o Ron não gostou.

–Isso eu sei também, vocês transaram nesse final de semana, pelo que o Ron gritou foi uma transa legal, ela gosta de você e você é um idiota, e ele enfiou a mão na sua cara. - Resumiu a história em poucas palavras e me observou por alguns segundos antes de questionar: - Isso é verdade?

–Qual parte? - Perguntei sentindo minhas bochechas um pouco coradas.

–Todas.

–Sim, nós transamos e não, eu não acho que sou um idiota. Quanto a Ginny gostar de mim, não sei de onde ele tirou essa ideia.

Ela não falou nada por um momento e pousou o livro no colo antes de continuar.

–E quanto a você, como se sente com tudo isso? - Por trás de sua pergunta eu sabia que havia algo mais, mas ela não me diria isso diretamente.

–Eu? Oras, como eu deveria me sentir? - Estendi as mãos indicando que não havia nada a a ser sentido. - Me sinto normal, como antes.

–Mas vocês dois são muito próximos. - Acrescentou a informação e continuou me avaliando.

–Sim, e isso não mudou só porque fizemos sexo uma vez. - Expliquei e dei de ombros. - Ouça, mamãe, Ginny é uma mulher linda e eu realmente gosto muito dela, mas não a vejo dessa forma.

–Não a via, até esse final de semana. - Me corrigiu e esperou que eu continuasse.

–As coisas aconteceram, não foi nada planejado. Era para ser só uma viagem de final de semana como as outras, mas aí as coisas começaram a esquentar um pouco e eu pedi para… - Parei nesse ponto e a olhei sorrindo de canto. - Se quiser eu conto os detalhes, assim você verá que foi tudo por acaso.

Ela me acompanhou quando eu ri e dispensou os detalhes desnecessários, mas me mandou continuar.

–A questão é que isso que o Ron falou não tem nada a ver, e as coisas continuam como eram antes de tudo isso acontecer. - Defendi meu ponto de vista uma vez mais.

–Ela também pensa assim?

–No outro dia de manhã ela estava fazendo piada com a situação, então de que outra forma ela deve pensar? - Encolhi os ombros para enfatizar minha resposta e ela balançou a cabeça enquanto ria.

–Vocês dois não tem juízo. - Comentou e eu ri dessa típica frase de mãe. - Aliás, vocês três, porque o outro chega aqui e te dá uma porrada. Não entendo mais como as amizades funcionam.

Caí na gargalhada quando ela disse isso em tom de profunda lamentação, e senti meu nariz doer um pouco com o movimento.

–Mamãe, você também acha que ela gosta de mim? - Perguntei com o cenho franzido.

Não que eu tivesse dúvidas sobre isso, mas sempre suspeitei que o fato de sermos bastante próximos fatalmente culminaria nesse tipo de suposição, e eu queria a opinião de alguém próximo e que não sensacionalizasse a situação, como Ron provavelmente faria.

–Eu acho. - Respondeu de maneira direta e sem precisar pensar sobre o assunto. - Mas eu também acho que você gosta dela, então deve ser só o jeito como vocês se tratam por serem tão amigos.

–Pode apostar que é. - Afirmei e me levantei para continuar meu caminho até a cozinha.

–Harry? - Me chamou novamente e eu me virei para olhá-la, já na metade do caminho. - Se forem continuar com esses acasos de vocês, tenha certeza de que estão na mesma página e ela também não sente nada.

Eu ri da forma como ela se referiu ao fato de termos transado.

–Pode ficar tranquila, porque não vai acontecer de novo. Foi só uma vez. - Assegurei.

Preparei um lanche rápido e comi em pé mesmo, encostado à pia da cozinha enquanto pensava na conversa com minha mãe. Não havia em mim sequer uma centelha de dúvida de que os sentimentos de Ginny comigo eram exatamente os mesmos que os meus para ela: romanticamente inexistentes.

No entanto, duas pessoas já haviam me pedido para me certificar disso, então eu decidi reparar em seus atos por algumas semanas e comprovar, de uma vez por toda para eles, que eu tenho razão sobre isso.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
E essa reação do Ron, exagerada ou não? Eu achei um pouco, por outro lado acho que foi a cara dele fazer isso.
Quero saber a opinião de vocês também, não deixem de comentar!
Obrigada pelos comentários lindos que venho recebendo até o momento, vocês são incríveis.
Até o próximo,
Beijão!



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