Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 4
Capítulo 3




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–Hei, chegamos. - Anunciei cutucando sua coxa assim que desliguei o carro em frente à casa ainda escura.

Ginny abriu os olhos sonolenta e olhou em volta antes de se abaixar e calçar novamente o tênis que tinha tirado ainda no início da viagem.

–Chegamos rápido. - Comentou enquanto amarrava o cadarço.

–Você é que dormiu a viagem toda. Na volta é minha vez, você que vai dirigir. - Determinei esperando ela terminar para sairmos.

–Se eu puder escolher uma trilha sonora melhor, tudo certo. - Expôs sua condição. - Vamos.

Abrimos a porta do carro e saímos ao mesmo tempo em direção ao porta malas e às portas traseiras para carregar nossas coisas para dentro. Ela parou à minha frente enquanto abria a porta e esperou que eu entrasse para trancá-la atrás de nós e levar as sacolas para a mesa de madeira no centro da cozinha ampla.

–Que horas são? - Me perguntou tirando a mochila roxa do ombro e pousando sobre uma cadeira.

–Dez e quinze. - Informei depois de olhar o relógio e deixar minha mala no assento ao lado.

–Meio tarde para sair, não é? - Perguntou com o cenho franzido.

Ginny adorava os bares que haviam no centro da cidadezinha.

–Sim, e eu estou cansado hoje. Vamos dormir e saímos amanhã. - Sugeri e ela revirou os olhos diante do meu argumento.

–Velho.

–Eu trabalhei o dia todo, só para lembrar a jovem desocupada. - Ela me lançou um gesto obsceno quando me referi ao seu desemprego.

Peguei o celular no bolso da calça para avisar meus pais que já estávamos aqui e ela fez o mesmo depois de tirar o aparelho de um dos bolsos de sua bagagem.

–Vou dormir no quarto maior. - Informei caminhando em direção ao corredor.

–Não mesmo. - Negou e correu na minha frente.

–Vou sim! - Insisti segurando-a pela cintura e impedindo que chegasse antes de mim.

Ela riu quando sentiu que eu a segurava.

–Solta, Harry. O quarto grande é meu.

–Eu falei primeiro. - Argumentei ainda a segurando enquanto ela tentava se soltar de mim.

Ginny poderia ser pequena, mas os anos de academia a haviam tornado relativamente forte.

–Mas a casa é minha. - Falou ainda se esforçando.

–É dos seus pais.

–É mais minha do que sua. - Teimou novamente.

–Vou me lembrar dessas palavras quando formos para a praia. - Comuniquei em chantagem e a soltei.

–É diferente, aquele quarto do fundo é assombrado. - Defendeu seu ponto de vista.

–Esse aqui só não é porque até os fantasmas acham as camas de solteiro daqui péssimas.

A casa de veraneio dos Weasley era modesta, com apenas dois quartos. Sendo um deles decorado com uma cama de casal e o outro com três camas de solteiro.

–Ok, par ou ímpar então. - Ela decidiu por fim e fez sua escolha. - Ímpar.

–Par. - Falei um instante antes de estender minha mão direita com três dedos esticados. - Oito, rá! Boa noite. - Desejei com ar de vitória me encaminhando ao melhor aposento.

–Não é justo! - Resmungou andando atrás de mim.

–Pare de chorar, Ginny, está ficando feio. - Zombei e pousei minha mochila sobre a cama com ela em meu encalço.

–Eu vou dormir aqui também, não quero nem saber. - Resmungou se jogando sentada sobre o colchão e levantando uma nuvem de poeira, acumulada nos dias em que a casa ficou fechada.

–Nem pensar, toda vez que dividimos a cama eu acordo dolorido. Você parece que está possuída, e não dormindo. - Neguei categórico.

–Vou sim, já decidi. - Teimou antes de se levantar e ir até sua mochila, apoiada sobre a cômoda em frente. - Eu até trouxe um lençol para essa cama, para não ter que dormir nessa poeira. Ainda vou ser legal e dividir isso com você. Tire a mochila daí.

Afastei minha mala e a ajudei a retirar a roupa de cama que estava para colocar a nova, muito mais limpa e cheirosa.

–Só porque você trouxe isso é que eu vou dividir minha cama com você, porque hoje esse quarto é meu por direito. - Corrigi e ela revirou os olhos antes de sair do quarto quando comecei a abrir os botões da camisa social para vestir uma roupa mais confortável. - E tente se controlar um pouco, ninguém precisa se mexer tanto dormindo.

–Estou te ignorando. - Cantarolou do corredor e eu ri enquanto me despia.

Quando cheguei à sala encontrei Ginny deitada em um dos sofás e continuei o percurso até a cozinha.

–Quer comer? - Perguntei alto o suficiente para sobrepor o volume da TV.

–Quero um Doritos, por favor. - Pediu.

–Achei que você não precisasse de Doritos. - Ironizei quando entreguei a ela um pacote e segui para o outro sofá com o meu.

–Não preciso só disso, mas todo mundo precisa de Doritos, Harry. - Respondeu simplesmente e continuou assistindo ao talk show que estava passando.

Ainda conversamos um pouco durante o programa, e quando este chegou ao fim Ginny se levantou e anunciou que iria dormir.

–Bom, se não vamos sair então vou me deitar. Boa noite. - Se despediu já caminhando em direção ao quarto que dividiríamos.

–Já vou também, só estou terminando as minhas bolachas. - Informei sem desviar os olhos da TV. - Boa noite.

Demorei ainda uns bons minutos antes de desligar o aparelho e seguir pelo mesmo caminho que ela havia feito, e quando cheguei ao meu destino Ginny já estava dormindo, completamente espalhada pela cama e sem me dar espaço, exatamente como previ. Resmunguei baixinho antes de cutucá-la algumas vezes para que se arrumasse e me deitei quando havia espaço suficiente para isso. O cansaço do dia e da viagem e o silêncio do lugar me fizeram, em minutos, cair em um sono pesado e sem sonhos.

Acordei com o barulho de chuva incessante na janela e com muito mais espaço livre do que imaginei que teria, só quando olhei para o lado percebi que minha amiga já havia se levantado e isso justificava o fato de estar confortável, e não com uma mão em cima do meu rosto ou uma perna sobre minha barriga. Me levantei também e depois de passar no banheiro encontrei Ginny na cozinha, ainda vestindo o short de lycra e a regata do pijama e com cara de sono, segurando uma caneca de chá entre as mãos e olhando vagamente para a chuva que caía além da janela.

–Dia. - Saudei depois de me sentar na cadeira em frente e puxar a chaleira e uma caneca para mim também. - Que horas são?

–Umas dez e pouco.

–E por que já acordou?

–Estava chovendo muito, aí não consegui dormir mais com o barulho. - Explicou sem me olhar. - Vi no noticiário que vai chover o dia inteiro. - Me informou com cara de tédio.

–Justo hoje?

–Hoje e amanhã. Previsão de chuva para todo o final de semana.

–Mas que viagem mais furada essa nossa. - Reclamei procurando entre as sacolas algo para comer no café da manhã.

–Pois é, pensei a mesma coisa. - Concordou antes de puxar para si o pacote do qual eu havia retirado duas torradas. - Pelo menos saímos um pouco de casa.

–É, mesmo fazer nada o dia todo é melhor que ficar em casa no final de semana.

Assim como em companhia do Rony, passar o dia com Ginny não era nada difícil porque nunca nos faltava assunto e algo do que rir para fazer o tempo passar mais rápido.

Durante todo o dia jogamos conversa fora, assistimos dois filmes, sendo um de ação e outro de comédia, comentei brevemente sobre as possíveis mudanças que aconteceriam na empresa e sobre as quais já se começava a comentar nos corredores mesmo sem nenhuma confirmação, fizemos algo para comer quando ficamos com fome, jogamos um pouco de baralho e, na maior parte do tempo, ficamos deitados no sofá sem fazer nada.

–Acho que vou tomar um banho para o tempo passar mais rápido, já que a chuva aparentemente vai ficar por aqui. - Anunciou e se encaminhou ao banheiro quando o sol começava a se pôr.

–Boa ideia. Vou fazer o mesmo depois que você sair. - Concordei sem desviar os olhos da tela do meu celular, onde estava me distraindo com um jogo qualquer.

Ginny voltou quase uma hora depois com os cabelos molhados, o mesmo short e uma blusa de lã que tinha já alguns anos, larga e de mangas longas. Deixei meu aparelho móvel sobre o sofá e fui fazer o mesmo que ela, relaxar em um banho quente e sem pressa. A noite estava quase fria, então vesti uma calça de moletom e camiseta de algodão, pois eu poderia pegar um cobertor para me aquecer caso a roupa não fosse suficiente.

–O que vamos jantar? - Ela me perguntou assim que entrei na sala.

–Posso saber o que tem de tão interessante no meu celular? - Perguntei irônico vendo que ela estava confortavelmente deitada com os olhos muito atentos na tela.

–Para te falar bem a verdade, não tem nada de interessante aqui e isso é decepcionante. - Contestou me devolvendo o aparelho sem nenhum constrangimento.

–Essas coisas têm senha para que as pessoas não saiam por aí mexendo nelas, sabia? - Repreendi.

–Então não saia por aí contando sua senha, oras. - Orientou antes de repetir a pergunta acerca da nossa refeição.

–Não sei. O que você comprou?

–Ah, verdade! - Exclamou se lembrando de algo. - Comprei chocolate, podemos fazer foundue.

–Trouxe as frutas também? - Questionei já procurando o ingrediente entre as sacolas espalhadas.

–Sim, frutas e vinho. Porque não combina muito com refrigerante e cerveja. - Informou parando do lado oposto para me ajudar a preparar. - Bom que isso tudo vai bem com o clima frio.

A noite já estava totalmente escura quando apoiei sobre a mesa de centro a paneja com o chocolate derretido e voltei à cozinha para pegar o prato com as frutas que terminamos de cortar minutos antes. Ginny já havia aberto a garrafa de vinho e estava agora em busca das louças onde colocá-lo.

–Não estou encontrando copos e taças. - Resmungou com metade do corpo dentro do balcão enquanto procurava.

–Traz só a garrafa, não vai sobrar nada mesmo. - Sugeri arrumando as coisas na sala.

–Verdade, boa ideia. - Concordou caminhando até onde eu estava com a garrafa em mãos.

Nos sentamos no chão, cada um encostado em um sofá e com um garfo na mão para iniciar nossa refeição informal. Comemos sem nenhuma pressa passando a garrafa de um para outro a cada gole e conversando sobre qualquer coisa enquanto o vinho nos aquecia e descontraía cada vez mais.


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Notas finais do capítulo

Olá, leitores!
Antes, uma explicação: esse capítulo ficou muuuito grande, então eu dividi e a próxima parte vem na segunda. Assim, quando pensarem no capítulo tão esperado que citei no anterior considerem esse e o próximo.
Estou super ansiosa para saber o que estão achando. Até agora só recebi comentários lindos e super animadores, então continuem assim!
Até o próximo,
Beijinhos.



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