Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 2
Capítulo 1




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– Sério, não sei por que você ainda fica assim. Ela sempre se atrasa. – Ron opinou, jogado no sofá, quando olhei novamente o relógio em meu pulso.

– Da próxima vez vamos marcar duas horas antes do horário certo. Assim só nos atrasamos trinta minutos. – Resmunguei e ele riu.

Era sábado a noite e, como na maioria dos finais de semana, Ron, Ginny e eu nos divertiríamos juntos. Nosso destino raramente eram baladas, como hoje, mas já conhecíamos quase todos os barzinhos da cidade.

Nós três estudamos na mesma universidade, e mesmo depois que Ron e eu nos formamos três anos antes dela, que terminou o curso apenas dois meses atrás, continuamos mantendo o mesmo círculo de amigos. Manter essa amizade tão estreita foi opção exclusivamente nossa, que nos divertimos e aproveitamos a companhia um do outro, mas nossos pais também viam certa vantagem nisso: os deles sentiam orgulho de ver os filhos tão unidos, e os meus se sentiam felizes ao ver o filho único mantendo laços tão estreitos com pessoas que eles mesmos caracterizaram como exemplares.

–Está tudo certo pra nossa viagem? - Perguntei, me referindo ao fim de semana que passaríamos juntos na casa de campo dos pais deles na semana seguinte.

–Sim, já confirmei com meus pais e não haverá ninguém lá na próxima semana.

–Certo, então temos que lembrar de pedir que Ginny confirme com Luna se ela vai ou não, para providenciarmos tudo.

–A gente fala com ela hoje. - Ron confirmou.

–Sim, se ela ficar pronta ainda hoje falaremos. - Alfinetei. - Vamos chegar muito tarde.

– Pelo menos já vai estar bombando. Início de balada é muito chato. – Ron opinou no exato momento em que um barulho de salto alto surgiu no mesmo cômodo que nós.

– Finalmente. – Exclamei ainda sentado.

Meu melhor sempre foi consideravelmente mais contido que eu, então antes mesmo que ele se levantasse eu dei um pulo do sofá em direção à recém-chegada e segurei sua mão quando estávamos frente a frente.

– Nossa, assim você me mata! – Disse sorrindo, fazendo-a dar uma voltinha e finalizei com um beijo em sua mão. Antes mesmo que ela completasse o sorriso de orgulho com o elogio, completei: - Mata de raiva. Pare de se atrasar!

Gargalhamos juntos ao final da minha frase ridícula e soltei a mão de Ginny quando ela começou a andar à nossa frente em direção à porta.

–Mas era muita pretensão minha mesmo esperar uma gentileza dessa, ainda mais de você. - Ginny resmungou ainda rindo e caminhando em direção à garagem.

–Na próxima você não está convidada se continuar demorando assim. – Ameacei no tom falsamente sério que eles já conheciam.

–Primeiro - Começou a argumentar com um dedo em riste, sinalizando que aquele era apenas o argumento numero um. - Você não precisa me convidar, o Ron pode fazer isso. - Finalizou piscando para o irmão, que negou nos fazendo rir. - Segundo, eu é que faço metade desses convites, então quem vai ficar de fora é você se não parar de ser chato.

Paramos um pouco para esperar que Ron trancasse a porta atrás de nós, antes de continuar nosso trajeto.

–E terceiro. – Ela continuou argumentando enquanto apoiava a mão no meu ombro para descer a pequena escada que havia antes da garagem. – Quem vai dirigir na volta?

–Meu motorista. – Respondi convicto enquanto oferecia o apoio para que ela terminasse de descer os degraus.

–Harry, você não tem um motorista. - Ginny observou abrindo a porta do passageiro e entrando no carro preto estacionado na vaga destinada a visitas, e que normalmente era ocupada pelo meu carro.

–Puts, é verdade. Então nesse caso eu vou continuar te convidando pra sempre. – Prometi me sentando ao seu lado enquanto Ron se acomodava no banco traseiro.

Após esse diálogo repleto de maturidade liguei o carro enquanto ainda estávamos rindo e saímos em direção à nossa noite. Como Ron previu, assim que chegamos o lugar já estava animado, mas como dessa vez seríamos só os três não houve necessidade de procurar ninguém.

Ginny nunca se importou muito em não beber quando a gente saía, então na maioria das vezes, como hoje, ela era quem ficava responsável por nos levar para casa em segurança. Demos uma olhada geral em volta, como sempre fazíamos ao chegar em algum lugar, e depois disso fomos até o bar pedir duas cervejas e um suco de abacaxi.

Bebemos lentamente encostados ali e foi nesse início de balada, ainda distraídos e observando o ambiente, que Ron cutucou a nós dois e apontou uma moça baixinha, de cabelos enrolados e castanhos e pele muito branca, dentro de um vestido verde muito curto, sentada no lado oposto do balcão conversando com uma amiga.

–Ela não é a mais bonita daqui, mas duvido que alguém saiba melhor como cruzar aquelas pernas mal escondidas por baixo da minissaia. - Comentou com um sorriso de canto.

–Eu sei, quer ver? - Ginny provocou, lançando a ele uma piscadela.

–Que nojo! - Ele negou com uma careta e nos fez gargalhar com vontade.

Antes que a troca de olhares se iniciasse entre eles, Ginny pousou seu copo sobre o balcão e anunciou que ia dançar. Como nenhum de nós dois quis acompanhar, a observei se afastar sozinha para o meio da pista, onde várias pessoas já se divertiam.

Eu não estava muito interessado em como se desenrolaria a noite de Ron e a música não tinha um volume que nos permitia conversas longas, então demorou um pouco para eu perceber que ele já prestava atenção demais em apenas um ponto do ambiente. E quando o fiz, há muito seus olhares já estavam sendo correspondidos.

–Você está mesmo flertando com a moça das cruzadas de pernas fenomenais? - Perguntei quando notei meu amigo sorrir e levantar brevemente a garrafa de cerveja em um brinde.

–Claro que sim, por que eu não estaria? - Respondeu com uma retórica e eu também reparei quando ela retribuiu seu gesto antes sorrir para uma amiga e bebericar seu copo com um liquido amarelo.

–Cara, sério? Ela não faz seu tipo. - Comentei divertido, me referindo ao fato de sua preferência clara por morenas.

–Sei lá, me atraiu. - Deu de ombros e voltou sua atenção novamente para a pista de dança, eu me apoiei de costas no balcão e fiz o mesmo.

Ginny estava dançando descontraída e sozinha, muito a vontade e não tão longe de nós quando um rapaz loiro e muito alto se aproximou dela e falou algo em seu ouvido. Eu ri quando ela o avaliou discretamente com o olhar antes de sorrir simpática e negar com a cabeça, virando-se de costas para ele. Era a cara dela não ser muito discreta quando alguém não lhe agradava.

Me virei para a bartender e pedi outra garrafa de cerveja apenas para mim, pois apesar de já ter terminado a dele Ron não quis outra. Já com minha nova bebida em mãos me sentei no banco ao lado dele para olhar o movimento e talvez encontrar alguém que me interessasse.

Exatamente onde estavam antes vi o mesmo rapaz de momentos atrás segurar o pulso de Ginny de forma não violenta, mas insistente, enquanto ela dava alguns passos para trás e continuava negando alguma coisa. Eu odeio isso, porque além de ser desrespeitoso no fim quase sempre resulta em confusão.

–Odeio esse tipo de gente insistente. - Confessei ao meu amigo enquanto me levantava do banco em que estava sentado.

Ele estava distraído olhando para o outro lado e só quando eu falei notou o que acontecia à nossa frente.

– Ou você poderia fazer as vezes da casa pelo menos em algumas ocasiões. Isso me queima com a mulherada. - Reclamei divertido enquanto imediatamente entregava a ele minha garrafa para ir até a pista.

–Claro, como se nós dois não fossemos parecidos o suficiente para sair todo mundo nos acusando de incesto. - Argumentou ironicamente e eu ri. - Me chame se precisar de ajuda. - Ofereceu quando eu já caminhava até onde ela dançava.

Fui decidido em direção a Ginny e ao rapaz que ainda tentava insistir em uma dança e assim que os alcancei, me aproximando por trás dela, a puxei pela cintura em um abraço que certamente nos faria parecer um casal em pleno auge do relacionamento e preguei-lhe um beijo demorado no rosto. Encarei com um sorriso irônico o rapaz à nossa frente que, sem disfarçar o incômodo, foi embora e nos deixou sozinhos.

Em um movimento quase ensaiado eu desfiz meu abraço e ela se virou de frente para mim como se nada antes tivesse acontecido, e eu a acompanhei quando recomeçou a dançar.

–Odeio esse tipo de gente. - Reclamei e ela concordou.

–Se ele fosse bonito pelo menos, ainda dava pra pensar na insistência. - Comentou debochando e me fazendo rir.

Ainda me balançando ao ritmo da música notei discretamente quando Ron finalizou a cerveja que eu havia comprado para mim e foi em direção à mulher com a qual ele estava trocando olhares interessados.

Cutuquei Ginny, que dançava empolgada, e apontei o lugar para onde ela deveria olhar a tempo de ver o irmão colocar em prática seus planos de sedução.

–Aposto cinquenta que ele leva um fora. - Falei em seu ouvido para abafar o barulho alto da música.

–Apostado. - Respondeu se apoiando nos meus ombros e ficando na ponta dos pés para alcançar o meu. - Ela estava sorrindo muito para ele e com uma expressão corporal muito receptiva, Ron não vai levar um fora.

Depois de um aperto de mão que formalizava nosso acordo observamos ao longe quando a amiga se levantou e deu seu lugar para que Ron e a moça se sentassem lado a lado e iniciassem uma conversa que não parecia que acabaria tão cedo.

–Ela é bonita. - Comentei no ouvido de Ginny para que ela me ouvisse.

–Sim, mas gesticulando daquele jeito me parece um pouco mandona, você não acha? - Opinou, observando-os por cima do ombro com ar muito avaliador e se virando de costas para mim para olhar melhor.

–É isso que ensinam na faculdade de psicologia? Avaliar o modo como as pessoas gesticulam? - Zombei apoiando as mãos em sua cintura para continuar a acompanhá-la no ritmo da música.

–Não o jeito que gesticulam, mas aprendemos a avaliar o comportamento em geral. - Explicou sem dar importância ao meu tom brincalhão.

–Deve ser legal sair avaliando todo mundo por aí.

–Não fazemos isso. - Negou minha sugestão. - Seria muito chato avaliar psicologicamente todo mundo que conhecemos. Além de não ser muito ético também, afinal não sabemos se a pessoa quer ser avaliada.

–Então pare de avaliar a moça, está indo contra seus próprios princípios. - Comentei rindo e ela se virou para mim novamente com um pulo quando fiz um pouco de cócegas.

–Estou procurando sinais de psicopatia, só garantindo a segurança do meu irmão. - Justificou-se, me fazendo rir.

Nos divertimos e dançamos mais algumas músicas em silêncio até que eu o quebrei novamente.

–Você encontrou sinais de psicopatia?

–Não, por que? - Riu da minha pergunta.

–Porque aí vem eles. - Comentei no instante exato que os dois chegaram até nós, de mãos dadas e rostos felizes demonstrando expectativa.

Ron parou ao nosso lado e ela continuou alguns passos a frente até onde estava dançando a amiga que a acompanhava no início da noite.

–E aí, Roniquinho. - Ginny o cumprimentou pela apelido de infância que ele odiava.

–Idiota. - Ele a ofendeu rindo, sem realmente demonstrar incômodo e aproximamos nossos rostos para conseguir ouvir o que ele estava dizendo. - Só vim avisar que não terão minha companhia na volta hoje, vou para casa com ela.

–Se for usar o carro não tem problema, só deixa o dinheiro do táxi pra gente ir embora. - Ofereci.

–Não se preocupem, ela está de carro. - Negou gesticulando para além de mim que já estava indo. - Vejo vocês amanhã.

Sem nos dar tempo de responder ele saiu e nos deixou sozinhos de novo.

–Então a psicóloga aqui estava certa mesmo. Ele não levou um fora. - Comentei, alto o suficiente para que Ginny ouvisse.

–Pois é meu caro, eu estava e você me deve cinquenta. Te dou uma semana de prazo para me pagar. - Ela comentou em meu ouvido, sorrindo com ar de vitória. - Aprenda que algumas avaliações não falham.


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Notas finais do capítulo

Fiquei muito feliz com a receptividade que vocês tiveram com o prólogo. Espero que continuem acompanhando e que mais pessoas apareçam por aqui com seus comentários lindos!
Vou tentar manter a frequência de um por semana, é uma promessa! rsr
Apareçam, adoraria saber o que estão pensando enquanto leem.
Até o próximo,
Beijinhos!



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