Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 15
Capítulo 14




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—Não vai pra lá hoje? - Ron perguntou, se referindo à pista de danças, enquanto se jogava no sofá à minha frente com Mione sentada em seu colo.

—Hoje não estou a fim. - Respondi ainda com os cotovelos apoiados nos joelhos e sem desviar o olhar dela, que estava completamente despreocupada e com os olhos fechados, sorrindo e se balançando ao som do ritmo eletrizante.

De canto de olhos vi meu amigo seguir a direção do meu olhar e encontrar o seu foco. Ele soltou uma risada estranha antes de se virar para mim novamente, atraindo minha atenção dessa vez.

—Que é que está acontecendo, hein cara? - Perguntou de modo direto, mas tentando soar divertido.

—Eu acho que sei o que está acontecendo. - Hermione interrompeu me olhando com malícia, daquele jeito que praticamente lia nossos pensamentos.

—Não está acontecendo nada. - Respondi enfático, me encostando na almofada atrás de mim e dando um fim ao assunto.

Continuei a observá-la, mais discretamente dessa vez, enquanto os dois tentavam me entreter em um assunto qualquer sobre algo que não prestei muita atenção. Do lado oposto a eles Ginny continuou não dando a mínima para eu estar ali ou não, totalmente inconsciente de que eu a olhava, preocupada apenas em se divertir até que chegasse a hora de ir embora com o irmão, a cunhada e o melhor amigo.

Tudo o que eu era: o idiota do melhor amigo.

Tomei mais um gole da minha cerveja sem desviar os olhos e ri involuntariamente quando ela fez um passo daqueles que sempre inventava e que no fim eram apenas engraçados e nada dentro do ritmo da música. E então, vindo do meio da multidão atrás dela, um rapaz moreno e alto passou a mão levemente em seus braços, chamando sua atenção para si.

Minha expressão se fechou junto com o sorriso que ela abriu para ele antes de se virar de frente e começar a acompanhá-lo na música que estava tocando. Eu poderia ir para outro lugar ou simplesmente me virar para o outro lado, mas eu queria ver até o fim só para ter certeza do que era tudo aquilo acontecendo comigo.

Observei Ginny rindo com a cabeça levemente jogada para trás e ele passeando seus os olhos por ela enquanto isso, e me lembrei de que tantas outras vezes eu ri daquele gesto e disse a ela que aquilo não era nada sexy. A raiva me consumiu nessa hora, porque na verdade era sexy demais e eu queria estar no lugar daquele cara agora.

A movimentação mais perto de mim chamou a atenção quando Hermione se levantou e foi em direção ao bar. A observei caminhar para longe de nós e Ron se debruçou em minha direção antes de falar:

—É claro que está acontecendo alguma coisa. - Constatou e eu continuei apenas olhando para ele. - E para você estar começando a mentir para mim, eu já imagino com quem seja. - Finalizou e eu o encarei por mais alguns segundos.

—E você quer que eu te fale o que? - Perguntei por fim, disposto a não negar nem confirmar.

—Não sei. - Deu de ombros mais relaxado.

A verdade é que Ron era um poço de curiosidade, e o que o matava era não saber dos fatos. O fato em questão envolver a irmã dele era um detalhe que ele ignorava muito bem.

—Não tem nada para falar. - Confirmei e me virei novamente para ela.

—Esse é o problema então? - Me perguntou sarcástico.

—Aquele é o problema. - Respondi indicando com a garrafa na minha mão o local para onde ele deveria olhar.

Ele se virou para trás tempo suficiente para ver os dois ainda dançando juntos e o momento exato em que eles gargalharam um para o outro novamente. Quando se virou para mim sua expressão indicava que ele entendia o que eu estava sentindo, mas que também não sabia o que dizer.

—Nem sei o que dizer, Harry. - Declarou o que eu já sabia.

—Eu não vou ficar aqui olhando isso, Ron. - Comuniquei me levantando e colocando minha garrafa na pequena mesa entre nós.

—Onde você vai? - Me perguntou assustado.

—Dar um jeito. - Falei já a caminho da pista à minha frente.

No meu segundo passo Ron segurou meu braço tempo suficiente para dizer:

—Não vai fazer besteira, cara. - Pediu e eu acenei rapidamente para ele e continuei andando até lá, antes que esse impulso desaparecesse tão rápido quanto surgiu.

Ginny estava de costas para mim e distraída em sua conversa, então não percebeu minha chegada. O rapaz dançando com ela, no entanto, me viu instantes antes de eu chegar até eles e deu um passo atrás assim que entendeu quando eu indiquei que ela estava comigo.

Sem pensar, quando estava perto suficiente para tocá-la eu apoiei minhas mãos em sua cintura e virei seu corpo de frente para o meu, fazendo com que ela se assustasse um pouco.

—O que... - Começou, mas minha boca estava na dela antes que a pergunta fosse concluída.

Todo o receio de que ela me negasse desapareceu quando seus braços enlaçaram meu pescoço e suas mãos se infiltraram em meus cabelos quando nosso beijo se tornou mais profundo. Continuei com as mãos em sua cintura, descontando em longos apertos toda a minha satisfação com aquele momento, e com a sua entrega espontânea e imediata. Eu já conhecia aquele beijo, cheio de mordidas mais ousadas e sons contidos, mas não a sensação de leveza e êxtase em mim enquanto eu o provava.

Nos separamos muitos minutos depois e eu continuei abraçado à cintura e ela com os braços em meu pescoço, me olhando agora com um sorriso contido, mas indubitavelmente questionadora. Retribui seu olhar com um riso baixo, porque eu realmente estava envergonhado.

O impulso me trouxe tudo, menos uma explicação para aquilo. E é claro que ela ia me perguntar.

—Agora será que posso saber o que foi isso, ou ainda é muito cedo? - Perguntou sem me soltar, mas sem se aproximar novamente.

Senti minhas bochechas corarem mais diante do seu olhar direto esperando uma resposta. No fim, e contrariando minhas expectativas, tudo era muito mais difícil, complicado e intimidador com ela.

—É que você nunca sabe se livrar das pessoas desagradáveis que se aproximam de você, então eu vim te ajudar. - Respondi a primeira coisa boba em que pensei e ela gargalhou daquele mesmo jeito de minutos atrás, me fazendo rir ainda mais olhando em sua direção.

—Na verdade, eu sei me livrar das pessoas desagradáveis sim. - Começou e eu esperei ansioso por sua resposta. - Mas eu só faço isso quando elas são mesmo desagradáveis e quando eu realmente quero me livrar delas. E faço isso muito bem, por sinal. - Continuou com naturalidade e fazendo meu sorriso morrer assim que concluiu a frase.

Eu entendi o que ela quis dizer, e ela notou minha compreensão assim que soltei meus braços do abraço em que ainda estávamos. Ginny também parou de sorrir no mesmo momento, mas continuou me olhando ainda com os braços ao redor do meu pescoço.

—Bom, então me desculpe por ter atrapalhado. - Finalizei o assunto retirando suas mãos de mim.

Ela não disse nada quando soltei seus pulsos no ar entre nós, nem quando me virei e saí em direção a onde estava antes, deixando nós dois sob o olhar avaliador de Ron e Mione. Parei em frente à pequena mesa tempo suficiente para pegar meu celular e ouvir a voz de pena ao meu lado:

—Harry… - Mione começou, mas eu a interrompi antes de confirmar que eu não iria querer ouvir o que quer que fosse que ela pretendia dizer.

—Paga a minha parte por favor, depois acerto com vocês. - Pedi a eles, mal contendo a irritação em minha voz e a cara fechada.

—Onde você vai? - Ron me perguntou preocupado.

—Para casa. - Respondi irritado.

—Mas por que tão cedo? - Quis saber, ainda no mesmo tom.

—Porque para mim já deu. - Finalizei o assunto já em direção à saída.

Não me virei para ver se havia dois ou três pares de olhos me observando deixar o lugar cedo demais, e assim que pisei na calçada entrei no primeiro taxi que vi e falei ao motorista meu endereço.

Era cedo ainda para o padrão dos nossos horários, mas meus pais já estavam dormindo quando cheguei. Agradeci por isso, porque eu não queria falar com ninguém agora. Tirei a roupa e me enfiei embaixo das cobertas com a luz apagada, mas apenas rolei de um lado para o outro por horas imaginando o que ela estava pensando sobre o que aconteceu e o que estaria fazendo agora.

Meus pais não passariam o domingo em casa, então no dia seguinte não houve ninguém para estranhar eu não sair do quarto o dia todo.

Ginny me ligou três vezes durante o dia e em cada uma delas meu coração deu um salto quando a foto surgiu no identificador de chamadas, mas eu não a atendi. Por fim ela percebeu que eu não queria falar e parou de insistir.

Na segunda-feira saí de casa decidido a me afundar no trabalho, então cheguei na empresa e fui direto à sala da McGonagall pedir um projeto novo, já que o meu havia sido finalizado na semana anterior.

—Não posso te passar nada ainda, Potter. - Ela me disse quando fiz o pedido.

—Mas por que? Terminei o meu e não tenho nada mais em que trabalhar. - Insisti não entendendo a lógica em não atender a minha solicitação.

—Ajude alguém, então, mas infelizmente não poderei te passar nenhum projeto novo, como já disse. - Reafirmou e eu entendi que não adiantaria minha insistência.

Agradeci e voltei à minha mesa, meu humor agora um pouco pior. Jefrey chegou alguns minutos depois e me desejou um bom dia sorridente, eu respondi da melhor maneira que consegui e voltei minha atenção aos e-mails não respondidos que ainda tinha.

Quando vi que ele estava bastante concentrado no que fazia chamei sua atenção para mim e ofereci minha ajuda, que ele aceitou agradecido. Esse padrão se repetiu até na quinta-feira pela manhã, quando ouvi a quarta negativa para iniciar algo novo.

—Pelo visto não sou mais tão útil assim aqui também. - Resmunguei para meu colega de trabalho quando ele me perguntou por que eu não tinha nada sob minha responsabilidade.

Perto do horário do almoço recebi uma mensagem do Ron com um texto bem direto:

“Desce para almoçar, estou aqui embaixo te esperando.”

Xinguei em voz baixa antes de apanhar minha carteira. Eu não queria conversar sobre o que aconteceu, mas do que mais ele falaria? Avisei a Jefrey que não almoçaria com ele hoje e fui em direção ao elevador.

—E aí, cara? - Me cumprimentou quando me sentei no banco do passageiro.

—Oi. - Falei sem alongar o assunto.

Ele falou algumas amenidades a que eu respondi da mesma forma até estacionar em frente a uma hamburgueria.

—Então, desde quando? - Me perguntou sem rodeios depois que o garçom anotou nossos pedidos.

—Desde quando o que? - Me desviei sabendo que já era inútil.

—Sem se fazer de idiota, Harry. - Pediu impaciente e eu ri.

—Não sei bem, desde que você e minha mãe ficaram me dizendo para tomar o cuidado de não magoá-la, eu acho. Comecei a reparar demais, depois a pensar demais nela, então a sentir falta demais e agora estou assim, todo fodido. - Contei entre irritado e triste. - Lembrando uma conversa nossa de uns dias atrás, essa é a hora ideal pra você dar um soco na sua irmã, quem sabe assim ela começa a reparar em mim também.

Ele não disse nada por um tempo, então aproveitei o assunto e perguntei o que mais queria saber:

—Como foi no sábado depois que eu saí?

—Não foi. - Disse simplesmente. - Mal a gente tinha visto você sair pela porta quando Ginny chegou do nosso lado de cara fechada e quis ir embora também, acabou a noite de todo mundo.

—Desculpem. - Pedi por cortesia, mas internamente satisfeito, por mais egoísta que isso fosse.

—E no domingo eu a vi chorando a tarde. Você fez algo?

—Eu? Não! - Me defendi, mas curioso para saber o motivo. - Ela me ligou no domingo.

—E como foi?

—Eu não atendi nenhuma das vezes. - Falei um pouco constrangido pela minha atitude não muito adulta.

—Então está explicado, é claro que a culpa foi sua. - Constatou no instante em que nossos lanches chegaram.

Agradecemos e demos uma boa mordida no sanduíche antes de continuar a conversa.

—Ela estava mal? - Perguntei interessado em saber mais.

—Um pouco, mas não conversei com ela.

Ficamos um pouco em silêncio até que ele falou de novo.

—Se aceita um conselho, fale com ela. Tenta, não sei, faz alguma coisa. - Opinou entre uma batatinha e outra.

—Não sei como fazer isso, Ron. - Assumi pensativo.

—Qual é, Harry? É a Ginny. - Falou como se isso fosse a solução.

—Por isso não é fácil.

—Ela era louca por você quando tinha uns doze anos, não pode ser tão difícil assim.

—Que bom que só estou onze anos atrasado. - Ironizei e ele riu. - Não somos mais crianças, Ron.

Ficamos em silêncio por um momento, até que eu resolvi dizer o que realmente penso da situação.

—A verdade é que eu acho que ela não está nem aí para mim. - A nota de amargura nessa minha frase era notável até para mim.

—Eu também achava que você não estava nem aí para ela, mas veja como me enganei. - Afirmou tentando me dar esperanças. - Se fosse assim, por que ela estava chorando?

—Sei lá, cara. Esperava que você me dissesse isso. - Respondi de cara fechada, a confusão me irritando.

—Só acho que você deveria tentar. Se eu conhecesse a Hermione como agora iria jurar que ela nunca me olharia, mas olha só? - Comparou e eu apenas o olhei.

Eu não queria encarar esse indício de nada que Ron me mostrou como algo a que me agarrar, mas ele me deixou pensativo. Ela tinha algo a me dizer, e provavelmente estava chorando por causa de mim. Agora além do ciúmes e da sensação horrível de ter sido rejeitado eu também sentia um arrependimento enorme por ter recusado suas chamadas.

Como não havia nada para fazer eu retornei ao escritório um pouco mais tarde do que o normal, e encontrei um bilhete em minha mesa informando que McGonagall queria me ver. Provavelmente algum outro projeto me esperava, e eu gostei da expectativa de assumir algo com o que eu saberia exatamente o que fazer.

—Sente-se, por favor. - Ela pediu depois que eu bati na porta. - Potter, recebi uma ligação hoje informando a confirmação de algo que está em aprovação desde segunda-feira, quando a matriz recebeu a opinião do cliente sobre seu último projeto.

Ela me disse isso e antes de continuar puxou alguns papéis de sua primeira gaveta.

—Eles ficaram impressionados com seu trabalho, e estão assim com os três últimos projetos que você assumiu. - Me informou e o motivo da reunião começou a fazer sentido para mim. - A questão é que independente da realocação de funcionários há uma vaga lá, em um cargo acima do que você ocupa aqui, e eles te querem.

Ela me deu dois segundos para absorver o efeito daquela última frase, e então continuou.

—Quero que você leve em consideração a quantidade de pessoas que trabalham nessa empresa e eles querem você, Potter. Aos vinte e seis anos, se estou correta em relação à sua idade, é uma notícia que deveria te deixar orgulhoso, e não com essa expressão assustada. - Era a primeira vez que eu a via fazer uma piada, e isso me fez rir.

Inesperadamente ela riu também.

—Claro que me sinto orgulhoso, e agradeço porque parte do sucesso do projeto anterior foram as dicas que recebi da senhora. - Ela negou com um gesto de mão meus agradecimentos e eu continuei. - Só é um pouco inesperado, e inacreditável também. Preciso responder agora?

—Não, Potter. - Ela me tranquilizou parecendo estar se divertindo com a minha reação. - Mas caso você aceite tudo tem que estar concluído em três semanas, eles têm um pouco de pressa. Esses são todos os detalhes, salários, benefícios, horários e implicações do novo cargo. Vá para casa e reflita com tranquilidade, mas volto a afirmar que é uma oportunidade única.

Agradeci mais uma vez e saí com as folhas que ela me entregou. Aproveitei sua autorização, coloquei tudo na mochila e fui embora.

Eu me sentia honrado com a proposta, mas no lugar da sensação de euforia que a maioria das pessoas estaria sentido eu só conseguia me sentir como se estivesse vivendo em meio a uma avalanche de coisas decisivas.

Há três meses era tudo tão claro, quando foi que minha vida virou essa bagunça?

 


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Tenho uma coisa a dizer antes de falar do capítulo: não vou estar em São Paulo na segunda, por isso antecipei o capítulo para hoje. O próximo fica para a semana que vem, conforme o cronograma normal, ok?
Agora sobre esse capitulo, a primeira cena, da balada, eu escrevi ainda na faculdade (tem um ano e meio que me formei), então imaginem minha ansiedade para postá-la!
Se lembram que eu disse que toda a história tinha sido pensada em torno de dois capítulos? O primeiro deles eu dividi, que foi a viagem que eles fizeram juntos, e o segundo é o próximo =) Por como termina esse vocês já podem bem imaginar por que eu o considero tão importante, não?! Mesmo assim vou deixar um trecho dele para vocês:
.
"-Posso ir até aí para conversarmos? - Só expressar o pedido já deixou minhas bochechas quentes.
—Claro, Harry. Você vem agora? - Confirmou, e seu tom me indicava que ela também estava sem graça.
—Sim. Vou só tomar banho e vou. Até daqui a pouco. - Ficamos com vergonha de mandar beijos, então nos despedimos formalmente e desligamos."
.
Estou ansiosa para saber a opinião de vocês sobre tudo, então não deixem de contar! Espero ver a todos nos comentários.
Espero que tenham gostado.
Beijos e até o próximo.



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