Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Bibela, antes de começar esse capítulo quero agradecer sua linda recomendação e dizer que meu dia ficou melhor com ela. Espero conseguir retribuir pelo menos um pouco com esse capítulo, e que ele esteja à altura das suas expectativas, pois posso garantir que suas palavras superaram as minhas! Obrigada mais uma vez :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/659984/chapter/14

Trabalhei normalmente, almocei no mesmo restaurante de todos os dias, fiz e recebi ligações de amigos e dos meus pais e não fiz nada além do que o de costume.

Mas essa foi uma semana atípica: pensei em Ginny Weasley o tempo todo, todos os dias.

Se alguém sorria perto de mim era o sorrido dela que me vinha à mente como um som mais agradável, se alguém me oferecia algo meu primeiro pensamento era que ela saberia se eu gosto ou não daquilo, se o telefone tocava meu reflexo era esperar o seu nome no identificador de chamadas.

Nas horas vagas revivi mentalmente todos os nossos momentos bons e ruins juntos, incluindo muitas e muitas vezes nossa última viagem, pensei em todas as ocasiões que eu a vi caminhar pela casa com não muito mais do que calcinha e sutiã e ambos sempre consideramos tudo muito natural e, inegavelmente, tentei a todo custo adivinhar o que de tão interessante havia em Colin, Michael e Dino que não havia em mim.

Eu conseguia ver pontos em comum entre eles, principalmente fisicamente, mas duvido que eles saibam melhor do eu o que Ginny gosta, ou o que ela está pensando quando olha séria para as coisas de um jeito bem característico.

Pois bem, eu sabia tudo isso e mesmo assim ela preferia passar seu tempo com um monte de caras idiotas e sem importância.

Minha mãe não tocou mais no assunto comigo depois do dia em que vi os dois juntos, e mesmo naquela ocasião ela apenas ouviu em silêncio o que aconteceu e me disse muito sabiamente que eu não poderia reclamar das escolhas de Ginny se não desse a ela opções.

Ponderei sobre isso alguns dias e decidi amadurecer dentro de mim primeiro o que eu estava sentindo até que fique claro não se tratar apenas de um ciúme passageiro. Mesmo porque eu acreditava não ser da noite para o dia que se aceita que o sentimento que você tem por sua melhor amiga não é bem o amor inocente quase de irmãos a que estava acostumado.

No fim de semana seguinte ao que vi os dois juntos eu tinha uma viagem marcada com meu pai para um tanque de pesca a algumas centenas de quilômetros da nossa casa, então antes do sol nascer na manhã de sábado nós já estávamos na estrada.

Eu não gostava de pescar e meu pai não gostava de pescar comigo porque dizia que meu falatório constante espantava os peixes, mas nós dois sempre gostamos de aproveitar essas viagens juntos. Assim ele sempre me convida de novo, mesmo reclamando, e eu sempre aceito o convite, mesmo achando a atividade um pouco entediante.

Colocamos nossas mochilas no pequeno quarto que compartilharíamos e descemos com a mala de aparatos que ele traz especialmente para suas expedições.

Algumas horas depois de avisar a minha mãe que chegamos e que correu tudo bem eu estava deitado em um dos bancos do pequeno barco a motor que alugamos enquanto observava meu pai amarrar linhas e anzóis na vara de pesca que usaria durante todo o período da manhã.

Fechei os olhos para aproveitar a tranquilidade e o sol batendo no meu rosto, até meu companheiro de navegação quebrar o silêncio:

—O que aconteceu para estar tão quieto hoje?

—Não aconteceu nada. - Respondi rápido demais e me ajeite no assento.

—Eu posso não ter os mesmos poderes de adivinhação que sua mãe, mas ainda te conheço bem, Harry.

Essa comparação me fez rir, porque as vezes eu também acho que ela tem poderes de adivinhação. Não precisei pensar muito para me render à vontade de conversar e contar a ele o que houve, então me sentei e comecei pela parte mais fácil de explicar e também mais difícil de aceitar:

—Ginny está saindo com uma pessoa.

—E? - Me incentivou a continuar quando meu tom indicou que aquilo não era tudo.

—E eu estou com ciúmes. - Olhei para ele um tanto constrangido ao dizer isso.

—Mas você está com ciúmes da sua amiga estar dando atenção a outra pessoa ou da mulher que você gosta saindo com outro homem? - Perguntou depois de pensar por um tempo.

—Estou com ciúmes de tudo. - Falei com sinceridade. - Eu não sei tudo o que eles fazem juntos, mas eu é que queria estar fazendo seja lá o que for.

—E para onde foi aquele amor tão fraternal de vocês? - Me questionou com o cenho franzido. - Pergunto isso porque já não sei mais quantas vezes vi você dizer que ia sair com ela, ou então viajar juntos, e até mesmo já os vi dormir na mesma cama. Ginny parece se sentir tão a vontade no seu quarto quanto no dela e nada aconteceu nesse tempo todo, por que isso agora?

—Não sei. Me ocupei em reparar tanto nela depois daquele dia para me certificar de que estava tudo bem que comecei a perceber que ali tem uma mulher incrível, não só uma ótima amiga. Acho que foi isso. - Desabafei sobre o assunto pela primeira vez.

—Depois de que dia? - Questionou em dúvida.

Sua expressão confusa me mostrou que ele não sabia do que eu falava, e isso me surpreendeu porque eu pensei que minha mãe tivesse dito a ele os últimos acontecimentos:

—Viajei com ela uns dois meses atrás.

—Sim, me lembro. - Me interrompeu antes que eu terminasse de dizer o que aconteceu.

—E nós acabamos transando. - Contei por fim e observei sua expressão confusa se transformar em surpresa.

—Ouch. - Ele exclamou e ficou um tempo em silêncio. - Como? - Perguntou por fim.

—No chão da sala. - Respondi rindo para descontrair um pouco a conversa, eu sabia que não era a isso que ele se referia.

Minha tentativa deu certo, porque ele gargalhou e me fez rir também.

—Não sei como. - Falei por fim, respondendo a sua pergunta. - Nós estávamos sentados lá no chão conversando, aí começamos a contar algumas coisas mais pessoais, isso levou a algumas brincadeiras e quando vi já estávamos nos agarrando e não dava mais para parar. E eu não queria parar, ela também não. Foi assim.

—Entendo. - Comentou pensativo. - Comigo e sua mãe foi assim uma vez. Tivemos uma briga bem feia, num momento estávamos gritando um com o outro, aí fomos chegando perto para os gritos saírem mais altos e de uma hora para outra estávamos nos agarrando como loucos na cozinha de casa. Nove meses depois você nasceu.

—Isso é sério? - Questionei pasmo vendo sua expressão saudosa de quem recordava algo bom.

—Sim.

—Ok, eu não precisava saber. - Falei balançando a cabeça para espantar qualquer imagem que a informação pudesse me trazer.

Ele riu da minha reação antes de voltar ao assunto principal:

—E como foi no dia seguinte?

—Normal, fizemos até piada com o que aconteceu. Eu fiquei um pouco preocupado que as coisas mudassem, mas ela agiu como se não fosse nada demais o que fizemos. - Contei sentindo aquela sensação me machucar de novo. - No começo achei incrível ela separar tão bem as coisas, mas aí comecei a reparar demais em tudo que ela tem de incrível e me toquei que não quero mais tê-la só como minha amiga.

—Você não está se sentindo assim só porque o sexo foi bom? - Quis saber e eu pensei sobre isso um segundo antes dele justificar a pergunta. - Ginny é linda, Harry, não seria de se estranhar que você só quisesse repetir a dose.

Ponderei um momento antes de compartilhar minha conclusão:

—Não é isso, pai. Quer dizer, claro que eu quero isso também, mas não é só. O que eu quero é quase a mesma relação que já temos, mas com a sorte de ir para casa com ela depois da balada, de fazer todas aquelas coisas bobas juntos. - Tentei explicar da melhor maneira que consegui. - O sexo foi bom, mas não é tudo que temos para oferecer um ao outro.

Ele desviou o olhar de mim para a água tranquila que nos cercava e assim ficou por um tempo antes de se virar e me olhar novamente:

—A única coisa que posso te dizer, filho, é que enquanto você não disser a ela o que sente sua resposta sempre será não.

Voltei ao meu silêncio depois do seu conselho e ele aproveitou que eu não espantaria os peixes para fazer valer nossa viagem.

Chegamos em casa no domingo a noite e encontramos minha mãe com o jantar pronto e nos esperando para matar a saudade e saber de tudo sobre nosso final de semana juntos. Contamos a ela o que nos lembramos e rimos bastante de algumas coisas engraçadas que meu pai dizia no meio da narrativa.

Após a entrega e aceitação do meu projeto as coisas ficaram mais tranquilas no trabalho, mas eu ainda precisei ficar bastante tempo fora do escritório nas próximas duas semanas para supervisionar a implantação no cliente.

Eu estava cansado e com vontade de ficar um pouco na minha para colocar as ideias em ordem, então neguei os três convites que Ron me fez durante esse tempo, incluindo o do final de semana, e usei meu tempo livre para colocar em dia algumas séries que acompanho. Ginny e eu ligamos um para o outro algumas vezes e minha justificativa era sempre o trabalho, mas eu queria falar com ela pelo menos de alguma forma e essa foi a que encontrei.

As três semanas que passei sem vê-los deve ter sido um dos maiores períodos em todo nosso tempo de amizade, então no fim de semana seguinte terminei de almoçar com meus pais e fui até a casa deles. Não era nosso costume avisar antes de aparecer, então apenas dirigi até lá e toquei a campainha.

Tia Molly me atendeu com o sorriso de sempre e informou que Ron tinha ido até o mercado para ela e já estaria de volta, mas que Ginny estava no quarto e eu poderia ir até lá. Retribui seu abraço de cumprimento e fiz sozinho o caminho já conhecido por mim.

—Entre. - Ela pediu quando bati na porta.

—Oi! - Cumprimentei com um sorriso empolgado depois de entrar, esperando que ele se parecesse ao menos um pouco com os que eu dirigia a ela antes disso tudo e não denunciasse o frio na minha barriga.

—Harry! - Ela exclamou me olhando pelo espelho à sua frente e se virando para me dar um abraço.

Quando cheguei Ginny estava usando apenas uma calça jeans e sutiã, e abraçá-la assim me deixou sem graça. Não era a primeira vez que eu a abraçava com pouca roupa, mas era a primeira vez que eu fazia isso olhando-a com um tipo diferente de interesse, e eu não sabia se ela queria ser olhada assim por mim.

—Estava com saudades, você sumiu. - Comentou depois de me dar um beijo no rosto e voltar ao que estava fazendo. Me deitei em sua cama para continuarmos conversando e me concentrei em olhar diferentes pontos do quarto que não ela e seu corpo lindo à mostra. - As coisas estão mais tranquilas no trabalho?

—Sim, terminamos ontem a implantação. Ficou incrível, nem acredito que eu fiz tudo aquilo. - Contei com sinceridade e ela abriu um sorriso grande em minha direção.

—Pois eu diria que está tão incrível que só pode ser coisa do Harry. - Me elogiou e eu só consegui ficar feliz em ouvir isso. - Uma pena eu já ter marcado de sair hoje, se eu soubesse que você viria aqui não teria combinado.

Eu me irritei um pouco com isso e não consegui esconder totalmente minha ironia e decepção:

—Melhor não deixar o Colin esperando, não é? Coitadinho do Colin.

Ela riu do meu tom antes de voltar a falar:

—Não estamos mais nos vendo, Colin e eu. Você saberia disso se não tivesse sumido. - Contou normalmente, como se não fosse nada demais, aproveitando o ensejo para evidenciar minha ausência. - Marquei com a Lulu, vamos ao cinema e já compramos os ingressos.

Eu me virei para olhar para ela e me certificar de que aquilo não era uma brincadeira de sua parte, meu coração disparou quando notei seu tom sério para o espelho indicando que era verdade.

—Por que? - Foi a única coisa eu consegui verbalizar.

—Porque ficamos com medo de estarem esgotados e queremos muito ver esse filme.

—Não, perguntei por que não estão mais se vendo. - Corrigi impaciente, explicando o que eu eu realmente queria saber.

—Ah, sim. Porque ele queria mais, queria um relacionamento, e eu não gosto dele assim. Então não poderia corresponder ao que ele esperava de mim. - Explicou sem alterar sua expressão enquanto passava um lápis ao redor dos olhos.

Um sorriso de satisfação estampou meu rosto e eu me virei para o outro lado para que ela não visse, mas antes que qualquer outra coisa fosse dita ouvimos o barulho de alguém se aproximando e a porta sendo aberta.

—Quem é vivo sempre aparece, uhn?! - Ron exclamou entrando abruptamente sem antes bater e interrompendo o fluxo de pensamentos positivos que aquela noticia me trouxe. - Já ficou rico? Porque pelo tanto que você anda trabalhando eu espero que sim.

—Quase, mas não se preocupe porque quando eu ficar te pagarei um sanduíche. - O tranquilizei e retribui o aperto de mãos.

—Também vou querer um sanduíche. - Ginny pediu, rindo da minha resposta.

—Não, você merece muito mais que isso e a sua parte será à altura. - Falei galanteador e ela olhou para o irmão com superioridade, fazendo-o me olhar de um jeito bem sugestivo de quem entendia algo que ninguém tinha dito a ele ainda.

Ele se sentou ao meu lado e conversamos os três por alguns minutos enquanto Ginny terminava de se arrumar e vestia uma camisa branca pendurada ao seu lado em um cabide. Luna ligou para ela nesse tempo e ouvimos quando informou que já estava saindo de casa.

—Vou dormir na casa dela hoje e passar o dia lá amanhã, mas te ligo durante a semana para marcarmos algo para sábado. - Me prometeu quando nos despedimos com aquele costumeiro beijo que já não parecia certo na minha bochecha.

—Tudo bem, nos falamos então. Divirtam-se. - Desejei sem desviar meus olhos dela quando se virou de costas para mim para apanhar sua bolsa sobre o sofá.

Ron se despediu da irmã e tomou lugar no sofá maior, deixando para mim o mais curto. Me esquivei com um sorriso pregado ao meu rosto de todas as brincadeiras sarcásticas que ele fez sobre Ginny e como eu estava atencioso com ela ultimamente, então depois de um tempo ele não insistiu mais no assunto.

Senti meu humor mudar com a notícia do final de semana, e com isso minha frequência de conversas com Ginny aumentou novamente para como era antes, mas dessa vez eu já não me importava e nem negava que a sensação de bem estar me dominasse.

Em uma dessas ligações ela me perguntou o que eu achava de irmos a mesma balada da última vez, quando Ron e Mione se conheceram. Eu queria descobrir quão excitante ela é dançando, como tinha me falado durante nossa viagem, e não poderia haver ambiente mais perfeito do que esse. Mas me limitei a dizer a ela que para mim estava ótimo.

Dormi até mais tarde no sábado para não ter sono durante a noite e me arrumei com o cuidado de escolher roupas que eu sabia que ela gostava. No horário combinado cheguei a casa deles, onde nos encontraríamos para ir todos juntos, e para minha surpresa a encontrei pronta no sofá da sala.

—Mas que milagre é esse? - Perguntei me referindo ao fato de que ela sempre se atrasa. - Ron já está pronto também?

—Não, Hermione e ele estão se arrumando ainda.

—O que aconteceu, Gin? - Estranhei um pouco sua falta de empolgação e me sentei ao seu lado para conversarmos.

—Só estou um pouco cansada de esperar as respostas para todas as vagas que tento. Eu achava que seria mais fácil seguir minha carreira em psicologia clínica. - Desabafou um pouco triste e eu peguei sua mão, até então apoiada sobre a própria perna.

—Não fique, uma hora as coisas darão certo. Tudo isso tem que ter uma razão para estar acontecendo, nada acontece a toa. - Opinei sobre o assunto e depois tentei animá-la um louco. - Todos esses lugares que te falaram não perderam a melhor psicóloga da nossa geração.

Ela riu quando eu disse isso, deitou a cabeça no meu ombro e entrelaçou nossos dedos.

—Eu bem que soube que tinha algo errado. Não é normal você não estar atrasada. - Brinquei e senti quando ela sorriu.

—Não estou com muito ânimo para me arrumar hoje, então vou assim mesmo. - Respondeu com a expressão um pouco para baixo, como não era comum nela, e desenhando a própria aparência.

—Pois saiba que para mim você está mais linda do que nunca. - Elogiei e aproveitei que ela não conseguia me ver para admirar seu corpo em evidência dentro de um vestido azul.

—Só você mesmo para me animar a todo custo, Harry.

—Eu faço o que posso. - Falei dando de ombros e ela riu um pouquinho.

—Eu te amo, sabia? - Declarou, se acomodando melhor na curva do meu pescoço.

Senti meu coração disparar quando ouvi isso, e apertei seus dedos entre os meus para aliviar o leve tremor.

—Eu também amo você. - Falei para ele só ela ouvisse, e nunca uma frase me pareceu tão certa.

—Você é o melhor melhor amigo que alguém poderia ter. - Finalizou o que iria dizer.

—Vamos, galera? - Ron nos convidou, entrando de repente com Mione ao seu lado e nos fazendo olhar para eles.

Nunca antes fiquei tão feliz por ter sido interrompido.

E também nunca antes uma frase tinha doído mais do que um soco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quando reli esse capítulo antes de postar eu senti daqui a dor do Harry com essa última frase, e quase posso imaginar a cara de vocês ao ler isso. Acreditem, a minha foi igual! rsrs
Mal contenho a ansiedade de saber o que pensam disso que ela disse, então não deixem de me dizer. O que vocês acham que vai acontecer daqui para frente? Me contem isso também!
Obrigada a todos que acompanham :)
Beijos e até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Impasse" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.