Feelings escrita por Bia


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Êiê, pessoas! Ah quanto tempo! Quase um mês, né? Certo! Espero que ainda estejam acompanhando a fic porque eu não desiti dela :P
Seja como for, tenham uma boa leitura!



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O medo não estava explícito em sua face. Na verdade, sequer havia um resquício de tal sentimento. Nunca demonstrou porque nunca sentiu realmente a sensação, mas agora que a experimentava pela primeira vez, não a demonstraria.
O canto de sua boca estava contorcido e sua pálpebra esquerda tremia. Mas de alguma forma, aquilo era bom.
— Certo. Não posso tocar nas armas. Mas o que são esses baús velhos? – Clary perguntou com naturalidade.
Sebastian voltou a guardar suas lâminas cuidadosamente.
— Herança.
Clary se abaixou em frente a caixa e passou os dedos pela fechadura, tentando abrir. Mas estava trancada.
Sebastian se aproximou e abriu com uma pequena chave.
Havia livros dentro, livros grandes e pesados. Livros que Sebastian reconhecia muito bem.
O garoto fechou a caixa bruscamente e trancou.
— São só álbuns velhos de família.
A garota não parecia convencida, mas não insistiu.
— Então, o que mais tem de legal aqui?
Ela se aproximou de outro dos armários e abriu. Havia roupas, diversas roupas femininas de diversas cores, estilos e tamanhos. Clary olhou para o próprio corpo.
— Essa roupa não é da sua irmã, é?
— Na verdade não – ele estava com seu sorriso irônico, um tanto forçado.
— Sebastian. Verlac. De quem são essas roupas? – Seu corpo estava paralisado e sua respiração controlada.
— Ah, você não vai querer saber.
— Pela última vez, de quem são essas roupas – ela cuspiu as palavras.
— Eram da minha bela Jane.
— Quem é Jane? E o que diabos você quis dizer com “eram”? – Ela já estava vermelha e um pouco tonta de nojo.
— Jane era a minha bela. Felizmente ela não se encontra mais nesse mundo podre, eu a dei uma passagem para um mundo melhor. Não sei por que ela se opôs tanto à isso.
— Não consegue mesmo imaginar? – Clary forçou um sorriso de deboche – Garoto, você é bem... Diferente.
— Mas o que diabos você está fazendo? – Sebastian olhou confuso para a garota que arrancava fora suas roupas e atirava suas sandálias nele. Uma ele conseguiu pegar com a mão esquerda, a outra o atingiu bem na testa – Boa mira. – disse massageando o local.
— Eu vou tomar um banho! E nem se atreva a levar mais uma dessas roupas nojentas de gente morta pra mim! – Ela saiu com roupas íntimas pisando forte.
Sebastian sabia ser atraente, mas nunca nenhuma garota que mal o conhecia se despiu e se convidou para tomar banho em sua casa. Mas agora eles deveriam se conhecer melhor do que qualquer outra pessoa. Afinal, eles não eram “comuns”.
— Não são nojentas – Sebastian murmurou para si mesmo, enquanto apanhava as roupas e as acariciava, sentindo o aroma, agora, da ruiva.
[...]
Estava na casa de um assassino. De um psicopata. Mas ele não era tão diferente assim dela. Ambos tinham o coração sombrio. E no fundo, Clary o compreendia. Não sabia como, apenas o compreendia. Poderia haver resquícios de medo, mas não adiantaria muito demonstrar, gritar e sair correndo. Isso seria absurdamente estúpido. Não era comum encontrar alguém como ele, mas as garotas já estavam mortas, não havia como ressuscitá-las. E Clary também não gostaria de ser uma delas, se quisesse, já teria providenciado isso.
Parece que ele tem uma vida solitária. E ela entendia o que era isso.
Só havia um motivo pelo qual ela ainda não havia surtado e tratava tudo com naturalidade: ela entendia. Provavelmente a única pessoa que consegue compreendê-lo no mundo, pelo menos, a única que o garoto conheceu.
Enquanto lavava seu corpo com ferocidade, sentindo nojo de ter tocado aquelas roupas, ela lembrou de alguns anos anteriores, quando começou a fazer uma história em quadrinhos. Era de um príncipe, um belo príncipe amaldiçoado. Ele vagava solitário pelo mundo, sua maldição era que quem quer que ele amasse, iria sofrer. Por isso ele era sozinho. Com medo de amar, chegou ao ponto de que perdeu essa capacidade. E era isso, nunca chegou a terminar a história, abandonou-a em alguma lugar do armário. Mas Sebastian era muito parecido com esse príncipe. Parecido fisicamente e psicologicamente, Sebastian era esse príncipe.
Olhar para ele era como se ela própria o houvesse criado e desenhado, ou se tivesse feito o personagem à partir do garoto. Mas nem o conhecia ainda. Mas acima de tudo, Clary lembrava de que amava seu próprio personagem, o desenhou como ela queria, como ela desejava, portanto ele era seu.
Mas não achou tão grandioso assim encontrar alguém idêntico à ele, no começo nem se recordava, e agora, nem dava tanta importância. Na época que o criou ainda era uma criança, agora isso não passava de uma mera memória.
[...]
— Não acredito que me deu roupas de gente morta.
— Não sabia que era tão fresca.
— O que você tá assistindo?
— O filme de um garoto cuja mãe foi assassinada brutalmente, e algum tempo depois ele foi sequestrado, e seu pai o procura ao lado de uma estranha que diz que o viu, mas ela sofre de uma doença crônica que a impede de lembrar muito bem das coisas.
— Isso é um filme infantil!
— É?
— Nunca assistiu “Procurando Nemo”?
— Esse é o nome do personagem que foi sequestrado!
Clary riu.
Ele estava sentado no sofá com um balde de pipoca intocável ao seu lado. Clary sentou ao seu lado e começou a comer a pipoca.
— Por que não está comendo?
— Não gosto disso.
— Então por que fez se não gosta?
— Sei lá, sempre faço quando vou assistir um filme.
— Isso é ridículo. O que faz com a pipoca depois?
— Lixo.
— Tem tanta gente passando fome, sabia?
— Não me importo. Shhhhh. Olha essa parte, o pássaro vai matar eles. – ele disse animado.
— Não, não vai. – A animação dele se esvaiu – É um filme infantil!
— Estraga prazeres.
— Se gosta tanto assim de assassinato, por que não vai assistir um filme com esse tema?
— Não, claro que não. Previsíveis demais.
— Certo... – Clary não prestou muita atenção ao resto do filme, já havia assistido vezes o suficiente.
Quando terminou, Sebastian mudou de canal. Mudou de novo. E de novo. E de novo.
— Então... Você pretendia mesmo me matar?
— O plano não era esse. Teria toda uma tortura antes.
— Me odeia tanto assim?
— Você era uma vadia estúpida.
— “Era”?
— Gosto de você, Clary. Não me faça mudar de ideia.
— Como exatamente você pretendia me matar? – Ele a encarou. Ela o encarou de volta, em busca de respostas. Passaram algum tempo assim até que ele sorriu, não forçadamente dessa vez.
— Você é maluca.
— Já me disse isso. Só que não com essas palavras. E eu agradeceria se parasse de me chamar disso.
— Certo. Mas você é.
— Que seja.
— Vai dormir aqui hoje?
— Se você não me matar.
— Não é mais do meu interesse. Eu tenho outros objetivos agora. – Ele a olhou de lado – Mas me diga... De 0 a 10, o quanto você gosta do seu namorado?
— Mas eu não tenho namor... Quer dizer o Jace? Não, somos amigos. Mas digamos que pelo tempo, acho que 9,8. Por quê?
— Nada, não é absolutamente nada.
— Ah, por favor, não mate nenhum dos meus amigos, sério – ela completou com voz de tédio.
— Tudo bem – ele concordou, um pouco deprimido. Não queria fazer com que ela o odiasse.
Bem não se importaria em fazer isso, se ela continuasse com ele. Se houvesse uma maneira de mantê-la ao seu lado. Mas se fizesse algo assim, provavelmente eles nunca mais se veriam novamente. Melhor mantê-la ao seu lado e feliz.
— Quer que eu providencie uma cama?
— Na verdade não. Eu realmente gosto desse sofá.
Ele deu de ombros.
— Se é assim.
[...]
Já devia ser bem tarde, provavelmente uma ou duas horas da manhã. Haviam pedido comida chinesa, Sebastian estava com preguiça de cozinhar alguma coisa, e Clary definitivamente não sabia exatamente como cozinhar. Ela estava deitada no sofá, sem conseguir dormir. Provavelmente Sebastian já estava dormindo há algum tempo.
A garota conseguiu esconder sua curiosidade durante todo o dia. Mas a verdade é que aqueles baús não saíam de sua cabeça.
Ele deve estar dormindo de qualquer forma, ela pensou.
E com esse pensamento, caminhou silenciosamente até o porão. Mas antes passou pelo quarto de Sebastian, que estava com a porta entreaberta. Observou dentro do quarto, ele estava deitado virado para o lado oposto à porta. Não dava para ver seu rosto, mas dava para perceber que ele dormia em um sono profundo. Chegou mais perto de sua cama e viu um criado-mudo. Dentro havia algumas armas, um caderno, livro, caneta e uma chave.
Pegou a chave e fechou a gaveta com um pouco mais de força do que deveria, provocando um pequeno ruído.
Ela não conseguia enxergar o rosto do garoto, mas ele continuou imóvel. Então ela sentiu seu corpo ser preenchido pelo alívio e saiu do quarto ainda silenciosamente.
O garoto ainda estava deitado, mas não fechara os olhos em nenhum momento naquela noite. Esperou um tempo e se levantou. Abriu a mesma gaveta no criado-mudo e contou todas as armas. Estavam todas ali. Na verdade, tudo estava ali, exceto sua chave. A chave dos baús.
Ele se levantou silenciosamente e caminhou até o porão.
A ruiva não ouviu seus passos nem sua presença. Ela estava de costas para a porta, a luz estava acesa, e ela lia um dos livros que Valentim escreveu.
Sebastian chegou por trás dela e sua respiração tocou o ombro da garota. Ela se virou bruscamente, assustada. E depois caiu no chão, suas pernas empurrando seu corpo para trás. Ela ainda segurava o livro.
Ele se abaixou em sua frente, a expressão mais calma do que nunca, e isso era amedrontador.
— O que está fazendo? – ele disse acariciando o rosto dela com a mão. Ela estremeceu ao seu toque.
— Quem é você? – ela murmurou, e então ele franziu as sobrancelhas.
— Como? – Ela mostrou a página em que estava, havia duas fotos ali, uma daquela mulher, Jocelyn, a outra da própria Clary, só que mais nova.
— Como você tem essas fotos?
— Bem, essa é a desgraçada da minha mãe. Mas eu não faço ideia de como a sua foto foi parar aí. – Clary balançou a cabeça, se livrando da mão dele.
— Não pode estar certo. Não está certo. Essa é a minha mãe.
Sebastian ficou tão confuso quanto ela.
— Não se faça de idiota. O livro é seu, você já sabe de tudo isso. – O garoto encarou o livro.
— Meu pai escreveu isso. Não eu. Eu nunca li esse antes. Eu juro.
— Qual o seu nome?
— O quê?
— Qual. É. O. Seu. Nome?
— Sebastian, Sebastian Verlac. Mas você já sabe disso. – Ela sacudiu a cabeça novamente. Dessa vez para não derramar lágrimas.
— Não minta pra mim. Está escrito aqui: Johnathan. Johnathan o quê?
— Morgenstern. Meu nome é Johnathan Morgenstern. Mas eu prefiro Sebastian, se não se importa – A expressão dele estava dura e fria.
— Minha mãe tem uma caixa com as iniciais JC, e uma vez por ano, em uma data específica, ela chora abraçando essa caixa e segurando uma mecha de um cabelo idêntico ao seu. Ou devo dizer, do seu cabelo. – A expressão de Sebastian deu espaço à confusão – Não chegue perto de mim.
Ela atirou o livro nele e saiu correndo dali.
Ele sequer se deu ao trabalho de segui-la. Pegou o livro e começou a folheá-lo.

“O sangue de Jocelyn já voltou ao normal.”
“Foi injetado uma outra droga nela, mas uma menos prejudicial, uma diferente da injetada para Johnathan. Essa vai fazer a próxima criança mais forte, menos sensível, mas nada comparado à primeira obra de arte. Essa nova droga pode ser comparada à sangue de anjo, metaforicamente”
“Clarissa está demonstrando cada vez mais sinais da droga injetada em Jocelyn bem antes dessa segunda gravidez. A garota não pode ser chamada de insensível, mas ela é diferente. Não sente como a maioria das pessoas. Ela e Johnathan teriam se dado bem. Uma das características apresentadas é a dupla personalidade, que não é extrema, mas isso pode ser explicado pela pouca injeção da droga, por isso não causou tanto efeito” e ao lado havia a foto de Clary, ou melhor, Clarissa.

Sebastian saiu do porão e encontrou a garota ainda no apartamento. Então lembrou que as saídas haviam sido trancadas.
A garota estava tentando abrir a fechadura com uma faca.
— Clary! – A garota parou e apontou a lâmina para Sebastian.
— Me deixa sair! Eu não sei qual é o seu plano ou do seu pai. Eu só quero que você deixe a minha família e eu em paz! – Ela estava quase gritando, se esforçando para não chorar. Certamente essa garota não é insensível.
— Eu não sei qual é o plano do doente do meu pai, mas eu posso ter certeza que eu não fazia parte dele. Acha que eu gostava de ser torturado e testado dia após dia, e em troca receber ódio e olhares de nojo? – Ele estava numa calma controlada.
— Eu não acredito em você.
— Eu havia visto alguns livros quando era pequeno, todos eles falavam sobre mim ou mencionavam minha mãe. Em nenhum deles dizia que eu tinha uma irmã, Clarissa.
— Me deixa sair desse lugar!
— Eu nunca havia aberto esses baús antes de hoje. Eu juro. Mas não importa mais. Meu pai está morto, e não precisa mais se preocupar com isso. – Ela, lentamente, abaixou a faca. Sebastian encarou um ponto no chão e forçou cada palavra para fora: – Eu entendo se você quiser sair e não ter mais nenhum contato comigo. Eu entendo se você está com medo ou com nojo de mim.
Ele pegou uma chave e abriu a porta, lentamente, para que a garota não pensasse que ele estava blefando.
— Certo. Você pode ir e fingir que nada aconteceu. Não vou perseguir você e você não ouvirá mais falar de mim. Você é livre pra fazer o que quiser.
— Por que está fazendo isso? – Clary murmurou.
— Porque... Eu mal te conheço... Mas conheço o suficiente para afirmar que me importo mais com os seus sentimentos do que os meus próprios.
— Você é doente.


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Notas finais do capítulo

Então, crianças? O que acharam?
me deixe sabendo o que você acha que vai acontecer depois dessa cena final, quero saber que ideia que vocês tem... ;)
Gente, alguma alma realmente lê isso daqui? Às vezes acho que falo com as paredes. Mas ei! As paredes são ótimas ouvintes, ok?



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