Correspondências escrita por Blue Butterfly


Capítulo 21
6018, Newton Street. Roxbury. MA




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06.06.2010

Oi Maura!

Você não sabe como fiquei feliz em encontrar uma nova carta sua em meio a minha correspondência. Eu já tinha praticamente me conformado com a idéia de que você não escreveria mais para mim, e senti uma mistura de alívio e felicidade ao abrir seu envelope. A ameaça de deixar de ter você em minha vida, ainda que eu te conheça apenas por cartas, me deixa mal. O que me deixou chateada, também, foi descobrir a razão pela qual você desapareceu por um tempo. Eu sinto muito, Maura. E não se atreva a pedir desculpas por ter demorado a me responder, você estava passando por momentos difíceis. Eu gostaria que você tivesse me ligado, de ter te confortado de algum jeito. Eu sei que nunca te dei meu telefone, mas você poderia facilmente ter entrado em contato comigo caso ligasse para a delegacia e pedisse para transferirem a ligação para mim. Meu peito doeu terrivelmente ao saber que você passou por tudo isso sozinha, quer dizer, sua mãe estava lá... Mas eu sei que nesses momentos qualquer ajuda extra é bem-vinda. Saiba que se você precisar de alguém para conversar, e eu quero dizer imediatamente, você pode fazer isso: ligue na delegacia e peça para direcionarem a ligação para minha mesa. Não vou adicionar meu número particular aqui porque não quero que pareça que estou te forçando. Apenas saiba que estou aqui para o que você precisar. Se você precisar de alguém para cuidar da sua tartaruga e de seu coelho imaginário, eu tô aqui. Se você precisar falar por horas, ou escrever incansavelmente, eu tô aqui. Se você precisar de um abraço apertado, bem, eu ainda não descobri como enviar um por carta, mas posso trabalhar nisso. Em qualquer momento, Maura, principalmente nos que você questionar se é mesmo uma escolha sábia, me ligue. É sério quando eu digo que estou aqui por você. Suas cartas, você... Não é apenas uma distração. É algo que valorizo muito.

Seguindo em frente, fiquei contente em saber que você não precisou decidir a situação dele. Isso é algo terrível para se pedir para alguém, e nem consigo imaginar como você se sentiu naquele momento - acho que palavras não podem decifrar exatamente os sentimentos. Ainda bem que acabou. Ainda bem que ele está bem. Eu entendo o seu medo de ter deixado ele e sua mãe em Paris, mas por alguma razão eu acredito que os dois ficarão bem, principalmente depois da sua colaboração. Você é uma ótima filha, e tenho certeza que eles compartilham a mesma opinião. Ligue para eles mais vezes, Maura. Se você sente que gostaria de passar mais tempo com eles, ou de falar mais com eles, apenas faça. Mesmo que eles sejam tão ocupados, tenho certeza de que se você demonstrar essa sua necessidade, eles vão lhe oferecer tempo e disposição de volta.

Apesar de tudo o que você contou - o que me entristeceu muito - me sinto feliz de saber que você também estava pensando em mim. Eu pensei cada dia em você, me perguntei como você estava passando, se algo tinha lhe acontecido. Eu confesso que quase usei de certa influência para procurar vestígios seus, apenas para saber se você estava realmente bem, mas eu não quis invadir sua privacidade. E eu só estou te contando isso porque quero deixar claro o quanto você rodeou meus pensamentos! Maura, nesse tempo todo lá na Itália e Paris você não estava sozinha. Você poderia ter recorrido a mim, e eu estaria aqui te esperando. Mantenha isso em mente: você não está sozinha simplesmente porque eu considero você a cada momento.

Ah, gostaria de te informar de antemão que minha família pode saber sobre você e nossas cartas. Quer dizer... Bem, eles sabem. Não me culpe! Eu não pude deixar de ler tua última carta apenas quando eles fossem embora. Eu apenas conferi minha correspondência no sábado depois do almoço, e meus irmãos e meus pais estavam no meu apartamento. Você realmente queria que eu lesse sobre você apenas a noite quando eles tivessem partido? Depois de esperar tanto tempo? Não! Eu li imediatamente. Não se preocupe, o conteúdo da carta ainda é sigiloso, mas tive que me explicar para minha mãe, principalmente. Você não sabe como ela pode ser intrometida e persuasiva. Logo todos estavam me encarando porque segundo Tommy, meu irmão mais novo, eu estava sorrindo igual uma idiota para um pedaço de papel. Enfim, foi um rebuliço, e você pode imaginar o que são cinco italianos falando ao mesmo tempo, exigindo respostas! Eu apenas disse que estava trocando cartas com alguém, uma pessoa especial e querida, mas acabei dizendo seu nome sem querer...

E disse que você é a nova moradora da casa em que eu morava antes. Bem, eu expliquei o mal entendido sobre minha carta nada educada e a sua demasiadamente educada. Minha mãe está empolgadíssima com a idéia de te conhecer - eu já adiantei que é melhor ela cuidar da vida dela. Maura, é sério, se você por acaso ver alguém bisbilhotando na vizinhança, minha mãe é loira, consideravelmente alta e encorpada. Apenas fuja de qualquer pessoa com essa discrição. Se você não fugir, você corre um grande risco de receber ela vez ou outra com um cesto de biscoitos e uma disposição imensa para te ouvir na porta da tua casa! Vai por mim, não é nada legal.

Por incrível que pareça, nesse último mês nada de relevante aconteceu por aqui. Lá na delegacia trabalhei na maior parte em casos arquivados e papelada inútil. Não é que eu quero que alguém morra - nada disso - mas um pouco de ação cairia bem agora.

Acho que estou finalmente reconhecendo esse apartamento como minha casa, e ah! isso é importante na verdade! Agora tenho uma cachorrinha. O nome dela é Jo Friday. Não torça o nariz, nem fui eu quem escolhi o nome, foi Korsak. Ele quem me deu ela. Ela é bonitinha, se você quer saber, e acho que sua tartaruga e ela se divertiriam juntos - ela gosta de correr bastante, acho que iria gostar de brincar com teu coelho também. No mais, é isso.

Eu espero que você esteja melhor, Maura. Espero que você tenha tido tempo para descansar, se reorganizar, superar tudo o que aconteceu. Eu sempre estarei aqui, e continuarei escrevendo enquanto você me responder, ou até quando uma carta de restrição do juiz chegar a mim - já disse que sou uma perseguidora? haha Ok, é brincadeira.

Por favor, considere a idéia de assistir um jogo comigo. E, ei! Você não é estranha, qual é?! Essas cartas são íntimas Maura, e acho que já conheço você o suficiente para poder ter certa convicção - você é mais interessante do que tantas pessoas que tenho conhecido ultimamente. Eu não quero que você se sinta pressionada a nada, só estou dizendo que você parece se destacar, por bons motivos, tome nota. E isso que a gente tem, essa troca, dificilmente vai se perder.

Espero encontrar tua próxima carta no meio da minha correspondência antes do esperado - e com boas notícias.

Senti tua falta,

Jane


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