Acordo na manhã seguinte com uma disposição estranha para uma segunda-feira. Estou animada. Passei 17 anos da minha vida estudando em casa, nunca tive nenhum contato sequer com uma escola, professores e até mesmo fazer amizades. Me arrumo em silêncio e, sem fazer barulho, entro no quarto de Lyra. Ela ainda está dormindo. Odeia segundas. Quanto antes acordar, mais cedo seu dia ''preferido'' termina certo? Vou em direção da janela e abro as cortinas rapidamente. A luz invade o quarto e Ly resmunga palavrões. Pulo em sua cama e começo a gritar.

_Acorda sunshine! Hora de ir pra aula! Segunda é um dia tão lindo né?

Ela simplesmente pega a almofada e a coloca no rosto querendo tampar seus ouvidos. Como uma criança, não paro de cutuca-la.

_ Sabe porque não vou me casar nunca? Porque não quero ter filhos! Se soubesse que se te chamando para morar comigo teria que tomar conta de um bebê, não teria te convidado! Agora sai daqui!- diz jogando um travesseiro em mim.

_Você tem 10 minutos antes que volte aqui com um balde de água fria!

_ Não tenho dúvidas de que você é o único ser desse mundo que quer ir para a faculdade. Você tem problemas? Se bem que se fosse eu, acordar para ir desenhar e ouvir música não seria tão ruim assim.

Rio debochadamente. As aulas não serão só isso, serão?

–//-

Lyra me deixa no campus e vai embora. Não podia acreditar no que estava vendo. É ali que passaria a maioria dos meus dias a partir de hoje. Alunos andavam pelo espaço conversando alegremente ou se acomodavam no gramado e relaxavam esperando o sinal bater. Não tenho palavras para descrever o quão lindo a arquitetura é. Passei muito tempo em Angeles, e aqui em Londres, dei de cara com vários castelos, mas nenhum deles me chamou a atenção como esse prédio. Ele poderia se passar como um palácio facilmente, de tão magnífico que é. Tenho a impressão de que vou gostar bastante.

Ando pelos corredores lotados. Há uma visível diferença entre todos. Adolescentes admirados com a nova experiência até adultos à procura de seus sonhos esquecidos. Rapidamente sigo para minha sala e escolho um lugar qualquer. Gostaria de ter Lyra ao meu lado para me dar segurança.

Enquanto espero pela chegada do professor, tento fazer amizade com os outros estudantes ao meu redor. Todos temos muito em comum e aspiramos os mesmos sonhos, alguns mais do que outros. Tenho certeza que um dia poderei dizer que conheci os famosos artistas que os jornais estão falando. Distraída, só percebo a chegada do professor quando ele começa a falar. Não levantei a cabeça, nem espiei para ver quem é, mas mesmo assim, tive certeza de que meus problemas ainda não acabaram.

Poderia reconhecer aquela voz rouca de qualquer lugar. Serio? Nenhum relacionamento meu pode ser normal?

_ Bem vindos! Eu sou o Sr. Chamber ou podem me chamar só de Professor Chamber. Sou muito novo para ser chamado de senhor não acham?

Se a cena não fosse trágica, com certeza teria rido da cara de Bradley quando ele finalmente viu meu rosto. Ele permaneceu parado por um minuto, com a boca aberta de choque e por um momento jurei ter visto traços de tristeza,ou raiva, em seu rosto. Enquanto gagueja tentando retomar a aula, as garotas presentes dão risinhos e os alunos, que pararam o que estavam fazendo para olhar para mim, voltam a olhar para frente.

Mando uma mensagem para Lyra o mais rápido que posso, com todos os xingamentos possíveis. Não consego prestar atenção em mais nada do que ele falou pela próxima aula, viajava em meus próprios pensamentos. O que eu faço agora? Seria mais fácil esquecer que alguma vez sai com ele? Após meses tentando esquecer meu antigo amor, quando estive com ele ontem, senti que pela primeira vez poderia seguir em frente e ser feliz por inteiro. Não sei se, em normais circunstâncias, ficaríamos juntos e felizes para sempre e ele se tornaria aquele que reconstruiria meu coração por completo, mas mesmo se durasse menos que uma semana, Bradley sempre seria o homem que colou os cacos de meu coração.

Mas do que adianta ficar imaginando sem saber primeiro o que ele pensa sobre tudo isso.

Agradeço mentalmente quando o sinal toca e posso finalmente correr para fora daquela sala e respirar sossegada. Ligo para Lyra e, sem que precisasse de nenhum incentivo, ela resolveuque matará aula para vir me ajudar.

_O que aconteceu? Já aprontou no seu primeiro dia de aula?

_ Você não vai acreditar quem é meu professor.

_ Como vou saber se você não disser? Ou tenho cara de quem estava na aula?

_ Poderia pelo menos tentar não ser grossa, mau humorada?

_ Certo, me desculpa. Quem é seu professor?

Digo o nome. Ela fica um momento em silêncio, como se estivesse tentando se lembrar de onde tinha ouvido esse nome.

_ Ai meu deus! Senhor misterioso é seu professor? Holly Shit!! O que você vai fazer? Vocês não tinham um encontro hoje? Amiga, você tá numa baita enrascada. Acho que você devia ir falar com ele quando as aulas acabarem. Você já perdeu essa aula, mas vá nas outras. Mas antes de tudo, me mostra quem ele é!

Lyra parece uma idiota que acabou de sair de um filme de ação. Se esconde, dá cambalhotas enquanto faz com as mãos o símbolo de uma arma qualquer. Ela diz que estamos em uma missão secreta e que isso exige a ação de uma pessoa experiente. Sua tentativa de parecer um agente secreto, é totalmente falha. Qualquer pessoa que passava pelos corredores nos olhava e devia se perguntar “onde é o próximo hospício?”.

_ Lyra, eu sei que você está tentando me fazer sentir melhor e rir um pouco com suas palhaçadas totalmente sem graça, mas você está me deixando desconfortável e envergonhada. Vou ter que voltar aqui por pelo menos os próximos 4 anos!

Deitada no chão no cruzamento dos corredores, Lyra vira o rosto, olha para mim, se desculpa e se recompõe.

_ Falta muito para chegar? Já estou tonta, esse lugar parece um labirinto. Como você sabe onde você tá indo? Acabou de conhecer o lugar.

_ Se tivesse prestado atenção teria visto que tenho perguntado instruções pra cada um que passa por mim.

_ Ah claro, desculpa. E ainda falta muito?

_Ele está nessa sala.

Lyra passou mais tempo do que esperava olhando pelo vidro da porta.

_ Se não for o velho sentado na poltrona, meu deus ele é lindo.

–//-

Assim que o sinal bate, Lyra vai embora. Tento prestar atenção nas aulas que seguiram. Sem sucesso. Só consigo pensar no que falarei para ele. Se fosse maior de idade, talvez pudéssemos ficar juntos, mas não é o caso. Se fossemos pegos ele poderia ser preso!

Bradley está sentado em sua mesa, sua grava solta, seu cabelo todo desarrumado e várias xícaras de café sobre a mesa. Ele parece péssimo.

_ Suponho que não vai ter mais encontro certo?

Ele se encosta na cadeira e simplesmente ri.

_Você nunca disse que iria começar a estudar aqui.

_E você nunca disse que leciona aqui.

_ Quando disse que amo artes e lecionar, achei que já estivesse implícito.- Ele respira fundo e resolve me olhar pela primeira vez- Olha, eu te acho incrível Louisa. Quando te conheci pensei “Meu deus, que garota!”-corei nessa hora- Mas sou seu professor agora. Tudo mudou.

_Acha que vale a pena? Lutar por nós? Sei que também sentiu o que eu senti, sabe que isso pode ser de verdade.

_Mas não deixa de ser errado. Me desculpe.

Sem mais nenhuma palavra, Bradley sai pela porta, me deixando lá. Pelo menos agora sei o que ele pensa.

Não posso dizer que foi o maior sofrimento que já tive, mas também não foi o menor. No momento só consigo pensar nas situações estranhas e tensas que teria que suportar até o final do ano. Será que não posso simplesmente sair da aula dele?

Já em casa, Lyra percebe minha situação e não faz nada, felizmente. Ela entende que simplesmente preciso de um tempo sozinha, afinal, nem mesmo entendi porque essa situação me abalou tanto assim, conheci ele faz um dia.