—Celeste estava lá, porque eu tenho que ficar com o pior trabalho?- reclamo mais uma vez.

—Porque todos sabem que Lyra Nixen sempre consegue o que quer.

Henry está certo, não está? As vezes gostaria de não ser tão boa nas coisas que faço. Estamos há horas tentando encontrar um jeito de convencer America de ficar do nosso lado, de entender que essa é nossa única opção, mas nada que chega em nossas mentes parece o suficiente. Conseguimos chegar na conclusão de que uma carta é a melhor opção. Sentimos muito em atrapalhar o momento família, mas é necessário. Claro que poderíamos fazer isso sem ela, mas parece injustiça. Ela está jogada nisso tanto quanto os outros de nós.

O quarto está cheio de pedaços de papeis amaçados jogados no chão. O lixo do banheiro está muito longe. Jogar para o alto quando escrevo errado é mais simples. Se eu estivesse sozinha provavelmente já teria terminado. Mas Henry é uma distração e não consegue ficar parado por bastante tempo, o que resulta em guerras de papel a cada 5 minutos.

—Henry, para!- digo assim que ele joga um travesseiro em mim- Realmente preciso fazer isso.- continuo concentrada na folha quase vazia.

—Ta bom. O que já escreveu?

—Querida America, peço e imploro para que venha para Angeles e se junte a nós. O ataque será adiantado devido complicações. As respostas para nossas perguntas, eu as encontrei. Por favor venha.- termino de ler e Henry tem uma cara de desgosto.

—Realmente acha que isso vai fazer ela vir para cá?- ele pergunta gargalhando de mim.

—O que escrevi errado?

—Está muito formal, sem graça. Você tem que colocar um motivo, algo que a faça não conseguir recurar. Uma coisa impactante.

Rasgo e amaço a folha atual e jogo em seu rosto.Penso por um momento e volto a escrever.

—Querida America, sinto lhe dizer, mas eu vou morrer. Minha morte foi orquestrada para daqui a dois dias e não ser que você volte para cá e se junte a nós, eu não sobreviverei. Por favor não me mate.

Henry permanece em silêncio por um tempo, simplesmente olhando para mim. Seu olhar é indecifrável.

—Ah, você está falando sério? Vai mandar assim mesmo?

—Não é essa a intenção?

—Você vai matar ela de susto! Não pode mandar isso.

—Tem ideias melhores?

Henry não pensa como pessoas normais. Seu jeito de pensar é assistindo televisão, conversando, ouvindo música e almoçando, tudo ao mesmo tempo. Como ele diz, o único jeito de se esvaziar a cabeça é deixando que ela transborda. Sim, ele é estranho.

—Lyra, você quer ser rainha?

—Você devia estar pensando em como convencer America, não nisso.

—Só me responde. Quer ser rainha?

—Honestamente? Não.- respondo com medo de sua reação mais ele simplesmente permanece quieto.

—Porque?

—Porque eu tenho sonhos, uma vida inteira pela frente. Quero viajar e conhecer o mundo. Você é o meu maior sonho e abri mão de todos os outros para ficar com você, faria tudo de novo. Mas não posso dizer que não sinto falta da faculdade e da vida fora dos muros.

—Não sabia que se sente assim.

—É porque eu nunca disse.

—Sabe, eu nunca quis essa vida. Sei que minha irmã possuía um único sonho e a única coisa que ela queria de mim é a que mais quero que não aconteça. Sei que ela estará orgulhosa de mim, independente do que eu escolher fazer. Ela foi a única coisa que me manteve em Londres esse tempo todo, mas agora, é você.

—Está dizendo que eu estou te prendendo em um lugar que não quer estar?

—Não! Lógico que não! Estar com você foi a melhor coisa que já me aconteceu- ele diz e eu abro um sorriso. Ele conseguiu se safar.- Só quero dizer que, se houvesse uma possibilidade, uma chance de escapar da vida que nos espera e viver do jeito que sempre sonhamos. Você pegaria essa chance?

—Você viria comigo?

—Claro que sim!- ele diz e me beija.

—Deixa eu ver se eu entendi. Você quer fugir? Renunciar seu trono e ir embora?

—Exatamente.

—Está louco? Perdeu a cabeça? Quem vai ficar com o trono? Seus pais vão ficar loucos!

Até aquele momento, quando a ideia não parecia real, quando era somente uma ideia, as coisas iam bem, mas fugir? Deixar um país inteiro à mercê de rebeldes e ursupadores?

—Acha que a Inglaterra estará melhor com a gente?- rio e afirmo.

Nesse ponto ele está certo. Definitivamente qualquer lugar é melhor sem nós dois no comando.

—Mas seus pais não tem outro filho.- ele abaixa a cabeça triste.

—Eles não tem outro filho, mas tem um primo, ou um genro. Não tenho certeza de o que Bradley é nessa família.

—Está cogitando colocar Bradley no trono? Pirou de vez? Ele vai te matar antes mesmo que você pense em dizer rei.

—Eu sei, mas é a única solução que consigo pensar.

—Para onde pensa em ir?

—Qualquer lugar! Itália, Noruécia, Brasil, soube que o clima é muito bom lá.

—Você realmente está falando serio?

—Claro que estou! Não importa para onde vamos, só importa que estaremos juntos.

—America com certeza voltará se descobrir que é a próxima rainha da Grã-Bretanha.- digo para mim mesma. Sei que ela provavelmente vai me odiar. Desculpas não vão ser o suficiente para compensar toda a mudança em sua vida.- Preciso encontrar Celeste antes de irmos.

—Porque você precisa de Celeste?

—Alguém precisa explicar para os dois tudo o que aconteceu hoje.

—Enquanto você fala com ela, vou procurar nossa saída daqui.- ele diz e sai pela porta.

POV Henry

—Aspen? Está ai dentro?

O corredor dos guardas é maior do que um labirinto. Não sei quantas vezes me perdi no caminho até aqui. Bati na porta, mas ninguém respondeu, então resolvi gritar. Um Aspen sonolento e de pijama aparece na porta de mau humor.

—Você sabe que são 5 horas da tarde né?

—Dia de folga.- ele diz com cara brava.- O que faz aqui às cinco horas da tarde?

—Desculpa te acordar, mas preciso da sua ajuda pra sair do país.

Seu rosto de contorceu e ele me olha como se fosse uma pegadinha. Mas quando percebe que estou falando serio, ele dá de ombros.

—Estou com uma estranha sensação de dejà vu.

Não entendi o que ele falou, mas isso também não importa. O espero do lado de fora do quarto enquanto ele se troca.

—Porque todo mundo acha que eu posso ajudar a fugirem? Sou só um guarda.- ele resmungo para si mesmo enquanto voltamos para meu quarto encontrar Lyra.

Lyra e Celeste conseguiram bagunçar nosso quarto mais ainda. Roupas e sapatos estão jogados por todos os lugares. Um salto está preso no lustre e tem roupa até dentro da privada.

— O que aconteceu aqui?

—Precisamos arrumar nossas malas se vamos embora.- ela diz como se fosse a coisa mais óbvia.

—Não vamos levar malas Lyra.

—Porque não?

—Porque estamos fugindo. Não se foge com peso para carregar.

—Ah claro, fiz isso tudo à toa!- ela grita de mau humor.

—Tecnicamente você não chegou a arrumar nada.- Celeste se intromete.- Para onde vocês vão?

—Não podemos pegar um avião, ou um barco, ou qualquer meio de transporte que precise de identificação.

—E como a gente sai então? Porque só tem oceano ao nosso redor.- Lyra só sabe compllicar as coisas.

—No sul não. Os domínios de Illea chegam até o Panamá. Depois é só atravessar a fronteira com a Colômbia e ir para qualquer lugar que quisermos.

—E como você espera ir até o Panamá sabichão?

—De trem.

—Aconselho você a não irem para países importantes. Escolha lugares pequenos e afastados, fáceis de se esconder daqueles que procuram vocês.- Aspen aconselha.

—Não precisamos nem nos camuflar. Ninguém nos conhece mesmo.

—Certo, e quando vamos?- pergunto me virando para nosso guarda favorito

—Ao toque de recolher. Me encontrem na cozinha. Vou deixar um cavalo esperando por vocês.- ele explica.

Sussurro um obrigada e ele sai pela porta.

—Fiquem perto dos jornais. Quando souberem que Maxon e Charlotte assumiram o trono, voltem para casa. - Celeste diz meiga.

Nos despedimos rapidamente, com direito a choros e maquiagem borrada pelo lado de Celeste. Ainda falta muito tempo para o resto de nossas vidas.