Reino da Grã-Bretanha. De acordo com a mulher do porto é um dos melhores lugares para se morar nos dias atuais. Ela disse que a ilha acabou de sair de uma guerra contra a Irlanda, algo sobre o país ter sido dividido em dois na Era Contemporânea e querer se unir novamente. Não conheço nada sobre o lugar a não ser pelo folheto que me entregaram e pelas conversas que ouvi ao longo do caminho para o navio. Não tenho passaporte, então um avião está fora de cogitação. Vi esse mapa do planeta Terra enquanto andava pelas ruas de Angeles sem rumo, mas o mar podia ser uma boa opção. E é onde estou agora. Não sei dizer quantos andares esse barco tinha, e me pergunto como ele conseguia flutuar. Só consego pensar no medo, no que poderia acontecer comigo nos próximos dias.

Para uma garota que nasceu na pobreza, as piscinas e pistas de patinação são um outro mundo. Não possuo muito dinheiro, o suficiente para comprar a passagem e passar alguns dias em um hotel quando chegar. Terei que encontrar trabalho, um lugar para ficar, dinheiro para me sustentar... Ah America, para de pensar nisso. Você tem 1 mês até que chegue no outro continente, aproveite enquanto não precisa se preocupar.

Tinha me acostumado com a vida de sol e piscinas, calor e vento durante o dia, mas quando chegava no quarto e minha mente se desligava de tudo, voltava para casa e me remoía por tudo. Prometi a mim mesma que não choraria mais por isso e estou determinada a manter essa promessa. Conheci pessoas de lugares que nem sabia que existiam, e incrivelmente elas me reconheceram. Pelo jeito teria mais trabalho do que pensava para me disfarçar.

Uma parte de mim ficou grata por enfim ter pisado em terra firme. Uma vida como essa não serve pra mim. Fiquei feliz em saber que amanhã já teria que voltar a rotina e correr atrás de trabalho.Fiz o check-in em um hotel qualquer no centro de Londres. Passava meus dias andando pela cidade me camuflando na multidão a procura de trabalho em lojas e depois passava em um pub onde sentava de frente para a televisão e via as notícias do mundo. Parece que a Princesa Daphne, da França, estava noiva e a minha amiga Nicoletta havia feito uma feito uma aliança com a Grã-Bretanha. Não sabia que Illéa era famosa do outro lado do mundo, mas parece que sim.

“Há um mês atrás, nosso querido príncipe Maxon terminou sua seleção depois de três meses e escolheu a adorável Lady Kriss. Para muitos a escolha óbvia sera a finalista America Singer, que chegou no palácio arrasando com o coração do príncipe. Mas óbvio ou não, o casamento Real será em Novembro. Bem que nosso Principe poderia fazer isso também, não é moças? Quem não gostaria de ser levada para o palácio, ser tratada como uma princesa a ainda ter a chance de conquistar o belo?"

Não aguentei ouvir o resto da notícia que a jornalista falava. Passei mais de um mês sem notícias e tinha a esperança de que fosse continuar assim. Saio correndo pelas ruas enquanto choro. Me perdi há muito tempo entre as ruas da cidade, mas só queria um lugar pra ficar sozinha. Parei nessa ponte e olhei para o lindo castelo na minha frente com um relógio gigante. Ao meu lado uma roda gigante, fico impressionada com o contraste da cidade. Moderno e antigo misturados em uma perfeita sincronia. Poderia ter ficado ali por horas se não fosse por aquela voz.

_ É linda a vista né? Sempre que estou triste venho aqui também. Me ajuda a pensar.

A garota não poderia ter mais do que 20 anos, cabelos tão escuros como a noite e olhos verdes que refletiam a luz da lua. Aspen me veio a mente. O que estará acontecendo em Illéa nesse momento? Não consegui responder mas afirmei com a cabeça e voltei a olhar a paisagem.

_ O castelo é o nosso Parlamento, o relógio se chama Big Ben, não sei se existe um motivo pra ele existir, mas está aí por séculos, é um marco simbólico do nosso país. Nunca entendi porque a família real não mora aqui, é tão mais bonito. Mas o que posso saber sobre o que passa na cabeça desses nobres né?

Quanto mais ela fala, mas estranha me sento com tudo. Não entendi nada do que ela falou e pela sua cara ela deve ter entendido o que estou sentindo. Em vez de me olhar como uma estranha por não conhecer aquilo tudo, ela riu da minha cara e perguntou:

_ Você não é daqui né? Suspeitei quando te vi olhando o rio. Atualmente são poucos os que fazem isso. Mesmo sendo um país lindo e rico, parece que as pessoas perderam o brilho depois da guerra. É da onde?

_Illéa

_ Que legal!Seu sotaque é bonito. Sempre quis ir para lá, vejo umas fotos de lugares maravilhosos, mas nunca consegui arranjar dinheiro. É verdade que existem rebeldes la?

Sua empolgação ao falar ou o fato de de após 5 minutos de conversa ela já agia como se me conhecesse desde sempre, me contagiaram e me lembrei do quanto ela parecia com Marlee. Passamos a noite conversando, ela me contou sobre o país, sobre a cultura e o modo de vida, me disse que seu nome era Lyra, que ela tinha problemas com o pai e que ela estudava história. Contei para ela minha sobre minha vida, excluindo a parte da seleção, não estava pronta ainda para isso. Falei sobre como fugi de casa, que meu dinheiro já estava acabando e que precisava de um lugar para ficar e um trabalho. Não sei o que me surpreendeu mais, o fato dela me falar que me arranjaria um trabalho ou de que ela me arranjaria um trabalho na loja do pai.

No dia seguinte Lyra me encontrou no mesmo lugar e me levou para conhecer o lugar. Enquanto caminhamos pelas ruas de Londres, ela indaga sobre a recente guerra. Ela não entendeu o que tinha acontecido, acha que ninguém entendeu. De acordo com ela, tudo começou com a guerra de Illéa contra a Nova Ásia. A Irlanda é um dos principais aliados do meu antigo país e se juntou a guerra por alguns meses antes de entrar em crise e retirar suas tropas.

_Não da para entender. Tenho um primo que mora lá e ele foi convocado para a frente de batalha, mas ele diz que não é nada como aprendemos no colégio. Dois lados armados atirando um contra o outro por um tempo até que um homem entra no meio dos dois grupos e simplesmente todos vão embora para fazer o mesmo no dia seguinte. É como se fosse tudo uma farsa, uma encenação. E me diz, porque um país em crise entraria em outro conflito para se juntar com um outro país que há séculos estão separados?Não faz sentido nenhum!

Penso em suas palavras por bastante tempo. Realmente não faz sentido nenhum. Lembro do que aconteceu com Maxon durante a Elite e a carta que recebi em minha porta. Tinha esquecido completamente sobre isso. Será que Maxon sabia de tudo o que acontecia? Bom, o problema não é meu mais. Acordo de meus pensamentos com uma hilária Lyra parada em frente a um café com os braços para o alto e um sorriso triunfante no rosto.

_Bem vinda a minha casa! Meu pai não gosta de vir aqui então é meio que meu refúgio. Você vai gostar

Antes mesmo que ela terminasse falar já tinha abrido minha boca de surpresa. As mesmas fotografias e os mesmo mapas na parede. Só podia estar de brincadeira.

_ Espera ai. Nixen's Coffe é da sua família?

E então ela me explicou. Seu nome era Lyra Nixen Campbell, e a rede de cafés era da família dela. Quando ela disse que tinha problemas com o pai, imaginei uma garota problemática que não se importava com a família, mas depois de descobrir a verdade, comecei a compreende-la muito melhor. Uma garota rica com pais que não ligam para ela, só para dinheiro e que quer aproveitar a vida o máximo que puder. Me perguntei se contava para ela, o quão importante esse lugar foi pra mim.

Em pouco tempo já estava aprendendo a servir cafés e atender clientes, por incrível que pareça, eu gostei bastante. Acho que May adoraria vir aqui, trabalhar ao lado de comida e poder comê-las quando quiser, com certeza ela choraria. Lyra foi uma ótima professora, me acolheu quando mais precisava e quando percebi, ela já tinha virado minha melhor amiga. A única.