_Como assim ela não veio?-berro enquanto puxo Celeste para um canto mais afastado.
_Ela não veio Aspen! Que parte você não entendeu?-ela responde brigando comigo. Eu entendi que ela não veio, mas será tão difícil que as pessoas entendam que não é isso que quero saber? Respiro fundo e continuo.- Tá bom Celeste. Porque ela não veio?-pergunto sem paciência.
_Ela pirou. Enlouqueceu.- diz exaltada- Literalmente. Estávamos no aeroporto, ai ela saiu correndo e disse que não viria. Tentei ir atrás, mas a Lyra me impediu.
_E porque ela disse que não viria?-pergunto de má vontade.
_Eu não sei Leger!- ela grita. E quando Celeste grita, bom, as coisas não estão bem.- Não tenho ideia do que se passa naquela cabeça.
O avião havia acabado de chegar e estava animado por enfim ver Meri novamente. Ninguém mais veio porque de acordo com America, ninguém a reconheceria e portanto, como sou um guarda, seria o única que poderia busca-la. Não ficaram muito satisfeitos com a decisão, mas aceitaram. A alegria de reve-la era maior que tudo. Mas agora, nem sei o que dizer para seus pais.
Eu e Celeste voltamos em silêncio para o avião, onde a família real ainda se prepara para descer e saudar a multidão que a espera. Permanecemos sozinhos, olhando um para a cara de tedio do outro até que alguém me abraça. Definitivamente não sei quem é. Minha cara de confusão deve ter sido inesperada, porque Celeste não parou de rir por bastante tempo.
_E quem seria a senhorita?-pergunto incerto.
_Me desculpe. Sou Lyra, prazer- diz depois que me solta e estende as mãos para mim.
_Aspen, bom finalmente te conhecer.-digo honesto enquanto aperto sua mão.
_Lyra, o que está fazendo?- uma voz rouca ao longe pergunta. Olho por trás da cabeça da menina e vejo o príncipe Henry. Olho em direção dele e de Lyra, consecutivamente tentando entender, até que uma luz surge na minha cabeça.
_Me desculpe Majestade!-digo envergonhado enquanto faço uma reverência desajeitada.
_Relaxa Leger- celeste se intromete, não conseguindo parar de rir.
_Qualquer amigo de America, é meu amigo.- ela íntima.
O príncipe anda em nossa direção e em um movimento rápido, tira Lyra da minha frente e a leva até a limusine. É possível ouvir a conversa dos dois.
_O que foi aquilo?- ele sussura
_Estava cumprimentando um amigo.- ela diz como se fosse a coisa mais óbvia.
_E como você pode ser amiga de um guarda Illeano?- ele pergunta novamente sem entender nada.
_Louisa é amiga dele.- ela responde enquanto entra no carro o deixando de fora.
Pelo visto o futuro rei não sabe a verdade sobre Meri. Rio internamente. Esses dois vão causar confusão no palácio. Desde a saída das selecionadas, o palácio tem estado quieto e sem graça. Sem agitação e correria, poucos eventos e coisas para fazer, sem dramas e brigas. Para nós, guardas e criados, as fofocas eram o que nos mantinham ali. Nada melhor do que acordar com as criadas de America cochichando sobre alguém. Mas agora, espero que esses dois tragam um pouco de alegria e diversão para o lugar. Sou interrompido de meus pensamentos por Celeste.
_Dou uma semana para que Henry descubra tudo.- ela diz pensativa.
_Três dias- respondo rápido.-Lyra não tem cara de que mente bem.
_Droga!Diminuo para cinco.
Rio.
_Fechado.

Em três dias, Lyra e Henry já haviam esgotado todas as cargas de paciência que o Rei Clarkson não possui. Em sua primeira noite no palácio, os dois se esgueiraram pelos corredores, se escondendo de todos os guardas e conseguiram chegar até os jardins sem serem vistos. Acho que passaram a noite lá, porque foram encontrados por um príncipe Maxon muito assustado. Maxon sempre caminha com Kriss pelos jardins antes do café da manha. Imagino sua reação ao ver os herdeiros do trono britânico, deitados na grama e dormindo. Guardas que estavam lá, dizem que Kriss quase desmaiou.
Além de chegarem atrasados em todas as reuniões e refeições, na segunda noite, eles conseguiram pular os muros e passar um tempo na cidade de Angeles. Para todo mundo, eles são pessoas com habilidades incríveis, ninjas em algumas opiniões, mas eu ajudei. Os levando por passagens secretas que poucos conhecem e abrindo os portões. Mas ninguém precisa ficar sabendo.
Em sua terceira noite. Eles permaneceram em seu quarto. Eu acho. Clarkson reforçou a segurança no corredor e indiretamente, os proibiu de sair de lá. Sei que ele quer uma aliança, mas acho que a aliança não vale tanto a pena assim se ele tiver que aguentar os dois. Maxon estava os adorando. Sempre o via com sorrisos de lado, ou a mão na boca, impedindo que a risada saia. Acredito que tambem percebeu que esse lugar está muito mais legal com a companhia dos dois. Eles permaneceram no quarta durante a noite, mas passaram a tarde inteira na cozinha.
Deram uma passadinha na cozinha após o café da manha, dizendo que estavam com fome. As cozinheiras se encantaram e não deixaram que eles saissem. Começaram a trabalhar e não paravam de dar comida para os dois. Com o tempo, algumas criadas e guardas de folga começaram a se sentar na grande mesa do refeitório, e começaram a conversar. Quando chegou a hora do almoço e eles disseram que teriam que ir embora, metade dos trabalhadores ocupavam a cozinha, esperando para ouvir as histórias sobre sua vida e seu país. Eu mesmo fui para lá. Demorei bastante tempo para encontrar um guarda disposto a trocar de posto comigo, mas quando consegui, chamei Lucy, Mary e Anne e fomos escutar o que tinham para dizer.
_Pode parecer imprudente da minha parte, e me desculpe se for, mas acredito que nenhum dos dois quer comparecer ao almoço no salão. Poderíamos providenciar uma criada para manda uma mensagem dizendo que não estão se sentindo bem e não participarão. Assim podem continuar aqui. Se quiserem claro.
Pude ver os olhares de alívio dos dois. E sem nem pensar duas vezes, eles voltaram ao seus assentos.
_Então, a senhorita, foi para o casamento sem saber que iria se casar?- algum homem na multidão pergunta indignado.
_Exatamente. Eu queria contar, mas seria muito mais divertido se ela não soubesse.- Henry diz rindo enquanto Lyra lhe dá um soquinho.
_Se algum dia voltarmos, prometo que trarei as gravações. Vocês precisam ver a cara dela.- Henry assegura.
_Se for pelo Rei Clarkson, não voltarão nunca mais- alguém grita e todos caiem na gargalhada.
_A culpa não é nossa! -dizem juntos.

Eu leio e releio as cartas de America em todo tempo livre que tenho. Comecei a esconde-las tão bem, que as vezes esqueço onde as deixei. Já havia comunicado sua família sobre a desistência, e me senti mal por ser eu, quem deu as noticias. Inventei várias desculpas e escrevi várias vezes que me desculpava, em uma tentativa de amenizar as coisas, mas não sei se adiantará. Com seu pai na situação que está, todos esperavam pela visita, talvez a última visita para um. Tenho certeza que ficarão arrasados, mas acho que entenderão.
Tento inutilmente, escrever uma resposta para sua última carta. Ela seria a madrinha de Kile sem nenhuma dúvida. Não sei muito o que dizer sobre seu novo namorado. Fico imensamente feliz por saber que ela está seguindo em frente e procurando sua felicidade. Mas outra parte de mim não deixa de se perguntar se ela não se machucará em algum momento. Ela esconde um segredo, muito importante na minha opinião. Imagino se ela já contou, e se não, qual será a reação do homem.
O silêncio e a calmaria estavam bons, mas estranhamente anormal. Como um arco íris antes da tempestade. E que tempestade de pessoas que tenta entrar em meu quarto ao mesmo tempo. Est!ao tão desesperados que tentam passar pela pequena porta ao omesmo tempo e juntos, caiem no chão de exaustão.
_O que está acontecendo?-pergunto confuso- O que todo mundo tá fazendo aqui?
Celeste se recompõe e se levanta antes de todos. Não pode perder a postura nunca.
_O mala do Henry descobriu- ela diz emburrada. - Nem para esperar até amanhã de manhã- ela diz brava se virando para ele.
_Tá bom! Nenhum dos dois ganhou a aposta.- Marlee se pronuncia.- Agora podemos ir para a parte importante?
_Louisa Johnson é America Singer? Está de brincadeira né?- ele pergunta tentando entender.
_Quem é Louisa Johnson?-Mary pergunta.
Todos a olhamos com um cara de “Me diz que não perguntou isso”e ela se calou rapidamente.
_Ele entendeu isso até agora. Mais ou menos, na verdade- Lyra constata.
_E você quer que eu te explique como isso aconteceu, certo?-pergunto e ela assente com a cabeça.
A cada palavra que é dita, Henry parece cada vez mais com vontade de rir. Não entendo o motivo, mas quem sabe o que esse cara pensa. Assim que termino de explicar a história de America, todos permanecem em silêncio por um tempo até que ele se pronuncia.
_Brad sabe disso tudo?- ele pergunta intrigado.
_Não- Lyra responde rapidamente.
Assim que ouve a resposta, Henry começa a gargalhar mas do que jamais vi. Tenta parar e pede desculpas a cada cinco segundos, mas sem sorte. Lyra o olha sem entender o motivo de tudo isso, mas deixa de lado e quando ele finalmente consegue parar, Mary se pronuncia novamente.
_Quem é Brad?- Mary pergunta novamente, mas dessa vez, a cara de confusão não é só sua.
_O novo namorado dela!- Celeste responde animada. Com essa deixa, ela começa a falar dele, em como ele é lindo, um ótimo artista e professor dela. Em poucos segundos Celeste contou a vida inteira do garoto para todos presentes na sala.
Pouco a pouco todos foram indo embora, até que só sobrou eu e Celeste.
_Presumo que não contou para ela sobre o pai?-pergunto mesmo já sabendo a resposta.
_Não. Ela precisa de tempo, não vai aguentar essa notícia agora, ainda mais quando as coisas estão começando a dar certo para ela.
_Quando ela descobrir, ela ficará furiosa por não termos contado.A decisão é sua.-digo enquanto saio do quarto a deixando sozinha.
Henry e Lyra foram embora no quinto dia. Era possível sentir os suspiros de alívio do rei pela ida dos dois. E a única coisa que permanecia no pensamento de quase todos que trabalham no palácio é: Quanto tempo essa era de tristeza e solidão irá demorar? Espero que pouco.