Bradley não apareceu para dar aula na segunda feira, nem na terça, e muito menos nos outros dias da semana. Não ter aula durante a semana inteira? Maravilhoso! Seu namorado sumir da face da Terra? Não tão bom assim. A única notícia sua que recebi durante a semana foi que ele saiu da cidade para cuidar de problemas familiares mas que sábado voltaria para a cidade e me explicaria o que está acontecendo.
Poderia ter agido como uma pessoa normal e ter esperado que sábado chegasse, mas enchi sua caixa de mensagens com carinhas bravas e palavras feias. Não fico de bom humor quando as pessoas saiem da cidade e não me explicam nada. Ai meu deus! Será que foi assim que minha família ficou quando fui embora? Vou ter que me certificar de mandar grandes desculpas para todos.
Isso me traz ao dia de hoje, sábado. Bradley voltou e pediu que eu o encontrasse em sua casa, que é completamente diferente de como a imaginava. Não é grande, mas parece aconchegante. Quase não é possível se ver a pintura original das paredes devido à quantidade de quadros pendurados ou desenhos que ele mesmo fez em seu tempo livre. O apartamento mais parecia uma biblioteca ambulante.Os gêneros são completamente diferentes, cada um mais estranho do que o outro. Tinha certeza que se olhasse na geladeira, um livro explicando como congelar suco de laranja, estaria ali dentro. Mas não, eu olhei.
Não há muitas fotos de sua família em porta-retratos. Estes são ocupados com fotos de paisagens de todos os lugares do mundo que ele um dia já pisou. Em um canto da sala, pincéis e telas ficam depositadas sobre um lençol bastante sujo de tinta. Sou imediatamente atraída para a porta ao lado. Em passos lentos, vidrada, vou na direção.
_Está trancado .- Bradley diz se colocando entre mim e a porta.- E você, não pode entrar.
_Porque?-me sinto ofendida.
_Porque não está pronta para ver o que tem dentro- ele diz simplesmente enquanto me guia de volta para a sala.
_E o que tem lá dentro?-pergunto curiosa.
_Meu quarto.
_Gostaria de te contar, antes que ficasse sabendo por outra pessoa.-ele começa.Respira fundo e continua- Eu me demiti.- termina falando mais rápido do que consigo acompanhar e é onde estou agora. Tentando entender porque ele faria isso.
_Você fez o que? Pirou?
_Posso te assegurar que minha cabeça está perfeitamente normal- ele diz me puxando para perto de si.- Semana passada conversamos e eu me exaltei porque estava bravo por não poder ser o namorado que você merece. Essa foi a única solução que encontrei- ele diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
_Mas você ama ser professor.-digo assutada. Não acredito que ele fez isso realmente.
_Sim, eu amo. Mas eu am... mas você é mais importante do que um simples emprego.- ele concerta.
Uma parte de mim gostaria que ele tivesse terminado o que começou e dissesse que me ama, mas outra parte agradece, se ele tivesse dito, não sei se poderia corresponder. Adoro Bradley, mas ainda estou me recuperando de Maxon. E ele está com o coração partido, assim como eu. Enfrentar seus medos e me contar o que aconteceu com Katerina foi mais difícil do que ele faz parecer.
_Então vai passar seus dias procurando emprego de agora em diante?
_Não.- ele responde contente. Não? Preciso definitivamente trabalhar na minha cara óbvia de confusão, porque sempre percebem.- Eu amo fazer isso, mas preciso de uma folga. Vou aproveitar minha namorada agora que ela virou amiga do palácio e tirar vantagem disso- ele diz rindo.
_É serio Brad. Você não pode simplesmente viver sem trabalhar!- digo seria. Como ele pode estar rindo em uma situações como essa?
_Relaxa Lou. Não sou pobre.- ele diz serio para minha surpresa.
_Como assim não é pobre?- digo confusa.
_Quero dizer que minha família é importante em meu país e mesmo que eu tenha cortado os laços com eles, não quer dizer que eu não tenha minha herança ou dinheiro guardado. Não se preocupa comigo.
_É amigo da família real também?-digo gargalhando, como se fosse a última coisa que possa acontecer.
_Pode se dizer que sim- ele diz distante.
_E o que foi fazer fora essa semana inteira?
_Para falar a verdade, fui Falar com a minha irmã.
_Foi para o outro lado do mundo sem avisar?- pergunto assutada. Que pessoa viaja e não avisa ninguém?
_Precisava de um tempo sozinho e ela pareceu a pessoa certa.
Passamos um tempo com ele contando tudo o que aconteceu e sobre sua irmã. Ele fala dos irmãos com tanta paixão, que até poderia se passar por mim. Tenho certeza que May enlouqueceria se o conhecesse. Deitar em seu colo, com o simples som de nossas respirações me faz sentir calma. Como se todo o resto do mundo não existisse e todo o barulho fora do apartamento tivesse, por um milésimo de segundo, extinguido.
_Lou, você vai para Illea com Lyra e Henry?
Lyra e Henry não tiveram sua lua-de-mel ainda. Alguma coisa a ver com o castigo dos pais de Henry pela confusão do casamento. Mas durante a festa, pelo o que entendi, Maxon os chamou para passar um tempo lá e conhecer o país. Aposto tudo o que tenho que Clarkson fez com que Maxon e Kriss se enturmassem para fazer uma aliança. Mas com aliança ou sem, os dois aceitaram e segunda feira vão para Angeles e fazer um tour por todo o país por duas semanas e só voltarão no começo de abril. Henry me convidou para ir junto, rever minha família, essas coisas. Mas como poderia dizer para ele que minha família não me reconheceria? Lyra tentou argumentar, mas quando Henry põe uma ideia na cabeça, nada tira.
_Ainda não sei. Tenho medo da reação de todos quando chegar. Eu fugi de casa, não sei como voltar.-digo honesta. Realmente não sei como voltar, apesar de não ser o único motivo.
_Poderia se fantasiar de outra pessoa e ir como uma amiga dos dois.-ele diz rindo, como se fosse a pior ideia que ele já teve na vida. Mas eu não ri, porque ele me deu a melhor das ideias. Ninguém precisa saber que sou America Singer.

Parece que um furacão passou pela sala. Assim que piso em casa, ouço Lyra e Celeste gritando uma com a outra, jogando roupas e sapatos para todos os lados. Eu tenho a esperança de que meu quarto seria uma zona de paz, mas estou enganada. Ele, na verdade, parece o mais desorganizado de todos.
_Porque concordamos em dividir roupas mesmo?-grito para as duas que estão em algum lugar. Rio para mim mesma e começo a arrumar meu quarto.
Enquanto coloco o último salto na prateleira, Celeste aparece e rezo para que não seja para pedir alguma peça.
_Vou com eles! Vai também né? Diz que vai!-dá gritinhos enquanto pula no mesmo lugar e bate palmas- Vai ser demais, nós três em Illea!-ela termina toda animada.
_Acho que você se esqueceu que Henry vai também.- Viro as costas e vou à procura de Lyra.
_Ele não conta- ela responde emburrada.- Vai ser legal. Todos estão com saudades de você.
_Eu sei que estão. Eu quero ir, mas não sei se consigo. Não estou pronta sabe.-digo em dúvida.
_Lógico que está!-Lyra chega entrando na conversa- Acha que não te vi conversando com Maxon? Duas Vezes? Você já o superou, mas continua mentindo para si mesmo não sei porque.-termina saindo de lá do mesmo jeito que chegou, do nada.
Não conseguiria dizer não para a cara de Celeste de expectativa, então disse que iria para Ille com ela e todo mundo.
_Estou louca para ver Lucy e Aspen juntos! E Marlee e Carter! Sei que estão bem, mas será que os machucados já melhoraram?-pergunto avoada.
Celeste endurece na hora. Ela se lembrou de algo, tenho certeza. Olho para ela com meu olhar de “o que vpcê está me escondendo”e ela responde com vergonha.
_Maxon me disse na festa que Marlee está grávida. Eu esqueci de falar, me desculpa!
Marlee está grávida! A melhor notícia que poderia receber. Mesmo sem precisar pedir os detalhes, Celeste me contou tudo o que sabia. Estou tão feliz pela minha amiga, ela merece um final feliz.

É uma segunda feira. Pode me chamar de irresponsável por faltar aula. Vou falta duas semanas de aula, mas é por uma boa causa. Hoje é oficialmente meu último dia trabalhando no Nixen's Coffe. Pensando bem, eu não aparecia para trabalha já tinha bastante tempo, mas do mesmo jeito, eu, Celeste e Lyra estávamos relaxando, olhando o movimento, esperando dar o horário do avião para finalmente, arrumarmos nossa mala direito. Porque na zona de ontem, foi impossível.
_Senhorita Nixen, essa carta chegou para a senhorita semana passada, mas como só apareceu aqui hoje.- a garçonete que acho que se chama Jane, se aproxima com um envelope em mão- Bem, está aqui.- ela diz entregando para Lyra e saindo de fininho.
O rosto de Lya se contorceu de felicidade, pena até tristeza enquanto lia o papel. Quem quer que tenha escrito a carta, mexeu com ela. Celeste, antes mesmo que eu pudesse abrir a boca para perguntar alguma coisa, fala primeiro.
_De quem é?- ela pergunta enquanto pega a carta da mão de Lyra à força.
_E se fosse um tipo de segredo de estado?- Lyra diz ofendida.
_Se fosse um segredo de estado, com muita ênfase no se, não seria entregue em uma carta- Cel retruca. Lyra dá de ombros, concordando.
Assim que terminou de ler Celeste passa para mim, sem entender o significado do que está escrito.
“Senhorita Lyra,
Gostaria de me desculpar primeiro, não mandaria para a senhorita se não fosse completamente necessário. As coisas ficaram difíceis em casa, mas saiba que estou envergonhado de estar fazendo escrevendo isso, mas minha mulher está me obrigando. Segundo gostaria de desejar boa sorte, apesar de eu não saber no dia porque a Senhorita estava com pressa. E terceiro gostaria de lhe dar meu parabéns! Vi nas notícias sobre seu casamento e gostaria de lhe desejar tudo de bom, e que fico feliz que tenha conseguido chegar a tempo. Gostaria também de dizer que, se eu viver até lá, será uma honra ser sua súdita. Me desculpe novamente.
Sr. parkins.”

_No dia que estava indo para o casamento, esse taxista, foi na contra-mão, passou todos os sinais vermelhos e radares possíveis no caminho para que eu chegasse rápido na Igreja. Eu disse que ele poderia me mandar as multas e aqui estão.
Lyra está com o coração amolecido. Com certeza. Conheço sua cara. Parece carente e triste, mas na verdade é sua cara de concentração.
_Já sei!- ela pula da cadeira- Sr. Parkins vai ser promovido como o meu motorista particular! O motorista particular da princesa.- ela diz animada- Eu sou demais.
_Lyra, só tem um problema.- digo receosa.- você não anda de carro mais.
_Podemos fazer um sacrifício- diz olhando para Celeste, que não parecia ceder.Olho para ela, com repreensão e ela fica brava.
_Tá bom! Você pode voltar a andar de carro.- diz carrancuda.
A aposta das duas, sobre praia ou parque aquático, não teve boas consequências para Lyra. Além de perder 20 libras, Lyra teria que ficar sem andar de carro por 3 meses. Claro que ela já quebrou o trato várias vezes, mas nós relevamos.

Quando deu a hora do vôo, subimos e fechamos as malas, na maior tranquilidade. De acordo com Lyra, Henry se atrasaria mais do que nós, então não é necessário pressa. O jato real está parado na pista e quando o vejo, todas as minhas inseguranças voltam. Já não sei se ir é a melhor das ideias.