Acordo do que pareceu o mais longo dos meus pesadelos e por um momento esqueço de tudo o que aconteceu. Mas com a mesma rapidez que dormi, as memórias voltam e começo a chorar novamente. Minhas criadas não estão no quarto e agradeço por isso. Deito e olho para o teto por horas pensando no próximo passo. Se quisesse sair do país sem ser notada, ia precisar de ajuda.
Dou meia volta quando estou prestes a bater na porta e volto a andar de um lado para o outro sem saber o que fazer. Abro a porta agora e o acordo, ou espero até de manhã? Afinal são 3 horas da madrugada.Bato na madeira lentamente, não quero que as outras pessoas saibam que estou lá. Ninguém atente. Pelo jeito vou ter que entrar mesmo. A porta não range, não faz nada, e quando o vejo dormindo ao lado de Lucy meus lábios se abrem de felicidade. Aspen merecia uma mulher como Lucy. Estava tão alegre por eles. Pelo menos um conseguiu seu final feliz. Me viro em direçao a porta quando ouço uma voz me chamando.
_America, o que esta fazendo aqui?
Lucy começa a se levantar lentamente com cuidado para não acordar o novo namorado, mas sem muito sucesso.
_O que está acontecendo? Meri?
_ Desculpa acordar vocês, mas preciso da sua ajuda pra sair do país.
Depois que as palavras sairam da minha boca percebi o quão louca elas pareciam. Será que estava fazendo a coisa certa?
_Sair do país Meri? Porque? Você está louca? Sua vida está aqui! Sua família inteira!
Ouvir isso só aumentava minhas dúvidas sobre o futuro. Mas preciso fazer com ele entenda o que estou passando. Olho para Lucy com um olhar de súplica e ela imediatamente entende.
_Aspen, ela passou por muita coisa. Ver o amor da sua vida se casando com outra e construindo uma família não deve ser fácil. Tenho certeza que a decisão foi difícil. O que você sentiu quando ela foi selecionada? Se ponha no lugar dela. Ela é nossa amiga. É nosso dever ajuda-la! -O que vocé precisa Meri?
_Ajuda para sair do palácio sem que ninguém me veja. Hoje à noite. As câmeras não podem me ver. Não quero que me achem, quero construir uma nova vida, longe de tudo que me fez mal. Voce pode fazer isso?
_Vou me trocar. Arrume suas coisas. Te encontro no seu quarto em 1hora. Esteja pronta.
Me despeço de Lucy uma última vez. Prometo que escreverei com notícias sobre minha vida e que sempre que possível voltarei para visitar. As lágrimas rolavam pelo meu rosto e era impossivel escondê-las.

_Cuide dele por favor. Não deixe que ele dê uma de heroi! Precisamos dele vivo.

Olho para o quarto uma última vez. Tantos momentos. Uma lágrima escorre pelas minhas bochechas e sei que ja está na hora de ir. Aspen chega logo, e em silêncio andamos pelos corredores a procura de uma passagem secreta que possa nos levar à floresta. Enquanto ando pelos corredores, me lembro de tudo o que aconteceu. Meu primeiro encontro com o princípe no jardim, e imagino o que teria acontecido se ele não tivesse aparecido. O incidente com Celeste e todas as outras vezes que tive vontade de estrangula-la. Quem diria que agora ela seria uma das pessoas mais difícieis de dizer adeus. Até mesmo as ameaças do Rei não pareciam mais assustadoras como antes. Passei nesse lugar os melhores da minha vida, mas os piores também.
_ Chegamos Meri. É só pular o muro e estará fora do palácio. Tem certeza que é isso que quer?
_Tenho sim. So quero pedir mais um favor. Não conte a ninguém por favor. Diga que estou bem, a salvo e que preciso de um tempo sozinha, mas que volto. Diga que os amo e que vou sentir saudades.
Nesse momento desabo completamente. Aspen sempre foi a única coisa certa na minha vida e sei que sempre estará ao meu lado. Sei que dizer adeus é necessário mas é praticamente impossível. Quem diria que duas pessoas como nós, estariam nesse lugar, nessa circunstância depois de tudo o que aconteceu. Agora me resta rezar pelo felizes para sempre daqueles que amo e recomeçar a vida sem medo de novas decepções.
As ruas de Angeles são frias e escuras. Não há muito movimento, somente padeiros abrindo suas padarias e jornaleiros começando seu dia. A essa hora não acharei um ônibus em lugar algum. Então entro no primeiro café que acho e espero pela minha comida. Ninguém me reconheceu ainda, provavelmente o sono de estar acordado naquela hora ajudou. Vários quadros e mapas decoram as paredes, fotos de cafezais, pessoas que não conheço e algumas que pareciam ser de outras lojas ao redor do mundo. De acordo com o que li nas paredes, o primeiro Nixen's Coffe abriu no antigo Reino Unido e foi se espalhando pelo mundo. Um país bem longe daqui, do outro lado do oceano, o suficiente para mim. Pego minhas coisas e vou para o único lugar onde poderia encontrar um meio de locomoção que me fizesse chegar na minha nova casa sem ser notada, e para isso preciso de uma história, preciso de uma nova identidade.