É normal ficar nervosa certo? É a primeira vez que vou sair com ele realmente e não tenho ideia do possa acontecer. E se ele for um louco estripador? Ou um assassino violento? Só percebo que estou falando tudo em voz alta, em vez de simplesmente pensar, quando Celeste e Lyra começam a gargalhar.

_Você está de brincadeira né? Por favor diz que você não disse isso!- Lyra quase não consegue falar de tanto que ri. Celeste não está muito diferente.

_America, relaxa. Vai ficar tudo bem. Ainda faltam uns minutos para ele chegar. Já arrumou tudo? Por precaução, coloca essa faca na bolsa- diz Celeste me entregando uma faca gigante- Nunca se sabe o que pode acontecer.

Tenho certeza que minha cara não foi das melhores. Fico espantada.

_Tadinha Celeste! Não faça isso com a garota!- diz Lyra rindo- Não faça isso com a garota sem filmar sua reação. Você tinha que ter se visto, foi hilário.- ela continua em um tom de conselho.

Rio sarcasticamente e saio da sala as deixando sozinhas.

Não demorou muito para que Bradley me mandasse uma mensagem dizendo que está me esperando lá em baixo.

_Não se esqueça de me ligar e dizer para onde vocês vão! Celeste tem 20 libras para me pagar!

_Eu não vou fazer isso!- respondo indignada, elas vão estragar tudo.

_Se você não ligar, eu ligo. -Lyra responde e sai do cômodo rapidamente.

Bradley está de bermudas e uma regata que permite que veja todos os seus músculos. Calça chinelos e usa um óculos de sol no rosto que o deixa ainda mais bonito.

_Preparada?- diz me beijando.

Assim que nos separamos, respondo que sim e entro no carro animada.

_Então de onde você conhece Celeste Newsome?- me pergunta sem tirar os olhos da estrada.

_Sabe quem ela é?

_Quem não sabe quem ela é. Ela é uma das modelos mais famosas e lindas desse mundo.

Dou um soquinho em sua barriga.

_Ei! Pra que isso?

_ Por ficar olhando foto de modelos de biquíni- respondo rindo.

_Então agora não posso mais olhar revistas quando estiver esperando no consultório do médico? Você é muito chata sabia? Só poque ia pro médico toda semana só para “ler”as revistas.- terminou com um sorriso debochado.

_Você se acha muito engraçadinho né?

_Fazer o que. É tudo parte do meu charme natural!- responde convencido

_Que charme?- entro na brincadeira.

_Essa doeu- respondeu botando na mão no coração.- Não vai ganhar a próxima Johnson.

O que me atrai tanto nele é que ele é livre. Livre para fazer o que quiser, errar, fugir, ir aonde quiser, quando quiser. Ele não tem responsabilidades, nada que o faça ficar em um lugar. Sei que em Illea, eles dizem que somos livres, que independente de nossa casta somos livres para tomarmos um a decisão, mas eu não concordo. Estive presa desde que nasci e finalmente consegui me livrar das minhas correntes. Ele possui a liberdade que sempre sonhei.

_Mas respondendo sua pergunta, minha família era 5, trabalhamos em uma de suas festas de aniversário e ficamos amigas.

_ Você não fala muito da sua vida em Illea.- comenta

_E você não fala sobre a sua vida em Gales.

_Quer saber da minha vida é isso?- balanço a cabeça afirmativamente.- Eu digo uma coisa, depois você.- confirmo- Tenho dois irmãos. Charlie, minha irmã mais velha, tem 29 anos, já é casada e está grávida do seu primeiro filho. Eles quase nunca vem nos visitar aqui, dizem que é o trabalho. Meu irmão mais novo, Jamie, ele tem 22 e está noivo de uma mulher daqui, por isso se mudou e eu vim junto, não tinha nada para mim em Gales, então decidi fazer a sorte aqui. Sua vez.

Conto sobre minha família, não escondo nada. Eles são as pessoas que mais amo nessa vida. Ele parece impressionado com o fato de eu ter 4 irmãos e uma família grande assim.

_Quero uma família grande. Mesmo amando a minha, passamos muito tempo separados e na maioria das vezes quando estamos juntos, brigamos por alguma coisa. Meus pais não quiseram me deixar vir para cá de jeito nenhum, precisei de muita briga para conseguir. Paço muito tempo viajando, nunca tenho um motivo para me estabelecer, espero que dessa vez me deixem quieto onde estou.- ele diz pensativo, parece reviver memórias de um passado não muito distante.

_Eu também. Sempre convivi nesse meio, então estou acostumada com a bagunça e agitação, não gosto de coisas paradas.

Depois que terminei de falar, um silêncio constrangedor se instalou. Acho que nenhum dos dois queria chegar nesse assunto sobre família ainda. Agradeço pelo telefone ter tocado. É a Lyra, claro que ela ligaria. Coloco no viva voz.

_Então Lou, Sr. Misterioso já disse aonde vão?- Lyra pergunta intrigada.

_Sr. Misterioso? Que apelido é isso?- Bradley pergunta entrando na brincadeira.

Ouço Celeste falar um ''Ops''e as duas voltam a rir.

_Porque você nunca diz aonde vamos.

_Faz sentido- responde pensativo.

Bradley pega o telefone e diz:

_Lyra, Brighton Beach.

O barulho do outro lado da linha foi ensurdecedor. Celeste gargalha e grita, enquanto Lyra não fala nada. Posso imaginar sua cara nesse momento. Se Celeste não parar rápido, ela vai receber um lindo soco na cara. Lyra detesta perder. Rapidamente Lyra se despede e desliga o telefone, agora elas vão brigar porque Lyra não quer pagar a aposta. Que bom que não estou lá para as ouvir reclamando.

_Pode me explicar o que acabou de acontecer?- Bradley pergunta com uma mão no ouvido- Elas romperam meu tímpano!

_ Celeste e Lyra apostaram sobre onde você vai me levará.

_ E quem ganhou?- perguntou realmente interessado.

De novo dou um soco em sua barriga.

_Relaxa Lou, só hoje. Finge que nada mais existe e pensa só em mim e você em uma praia linda.- disse enquanto fazia cara de cachorrinho.

Como resistir àquele rostinho. Cedi.

Demorou mais ou menos uma hora para chegar no lugar, e nesse meio tempo conversamos e nos conhecemos mais. Tinha tanta coisa sobre ele que me intrigava. Poderia ter ficado assim por horas, mas assim que chegamos, Bradley estacionou e fomos em direção a praia.

Absolutamente maravilhosa. Nunca tinha estado em uma praia na minha vida e a sensação não poderia ser melhor. Uma roda gigante beirava o mar e um pouco a frente, um pier se estendia para dentro do oceano. Preciso ir lá, tem uma montanha russa! Olhando para os dois lados, é possível ver a praia se estendendo até virar somente um pontinho no horizonte. A silhueta dos pequenos prédio e das casas tona a vista do horizonte ainda mais bonita. Estou maravilhada e Bradley percebeu.

_Gostou? Você me disse quando nos conhecemos que nunca tinha estado em uma praia, e que no cruzeiro vindo para cá, você via um interminado de água, mas nada de areia. Aqui não tem areia, as praias da Grã-bretanha tem pedras ao invés de areia. Mas acho que o sentido é o mesmo.- terminou dando de ombros.

Colocamos uma toalha entre as pedras e deitamos. Bradley trouxe comida e me senti como em um piquenique.

_Porque você fica olhando para traz toda hora?

_ O que? Ah não sei. Desculpa.

Deixo o assunto de lado, mas não vou deixar de prestar atenção. O homem de terno atrás de nós não se move desde que chegamos. Não sei de onde o assunto surgiu, mas assim que a ideia me veio em mente, não resisti de fazer a pergunta.

_O que você faria se fosse rei?

Ele se espanta com a minha pergunta, pensa por um tempo e finalmente responde.

_Tudo dependeria da minha rainha.- ele responde simplesmente. Fico confusa.

_Reis e rainhas se casam por aliança sempre, sem nenhum interesse amoroso, só político. Se esse fosse meu caso e não amasse minhas esposa, concentraria metade do meu tempo no reino e a outra parte tentando me entender com ela para que nosso casamento não seja insuportável. Se ela for o amor da minha vida, nenhum reino, nenhum poder poderia fazer com que a colocasse em segundo plano. Eu dedicaria tudo e todos para seu bem estar, porque ela seria a única coisa que me manteria são naquela loucura. Se eu fosse rei, cuidaria dela, para que ela cuide de mim. De qualquer jeito o interesse prevalece. - terminou com uma tentativa de sorriso irônico.

Não entendo porque ele termina seu discurso daquele jeito. Ele poderia ter emitido a última frase e teria parecido um perfeito cavalheiro, amoroso e dedicado. Mas não. Ele acredita que falou demais e que eu tenha percebido seu lado vulnerável. Ele não quer parecer vulnerável, ele não quer abrir seu coração totalmente. Porque? O que aconteceu em seu passado?

Antes que tivesse tempo de responder ou fazer perguntas, ele se levanta e tira a camisa. Não fui a única que ficou encarando seu peitoral. Ele percebe e ri.

_Sou tímido, para de me olhar.- rio também e me levanto. Estou com vergonha de ficar de biquíni na frente dele.

_Vai ficar com vergonha de mim? Estou decepcionado com você.- diz com um sorriso torto

Assim que tirei o vestido, corei mais do nunca.

_Sou tímida para me olhar- respondo em uma tentativa de imitar sua voz. Rimos e fomos para a água.

Quando começa a escurecer, ele me leva para a roda gigante. Diz que o por do sol é esplêndido e que daqui de cima seria melhor ainda. E ele estava totalmente certo. O sol descia e deixava a noite sem estrelas, com um tom avermelhado. O azul do oceano se encontra com o azul negro do céu e cria uma sombra nas moradias. Viro de lado e olho para Bradley que possui os olhos brilhando, fico o observando por um tempo até que sou notada. Ele chega mais perto, passa o braço pela minha cintura, me fazendo ficar mais perto ainda de si e sussurra no meu ouvido.

_ Obrigada por ter me perdoado.

Sorrio

_Sempre- respondo e o beijo.

Nos separamos quando a cabine chegou ao chão. Andamos de mãos dadas por um tempo até que pergunto se a noite já tinha acabado.

_Acha que já vamos embora? Não podemos ir sem que eu te desafio a ir naquela coisa!

O brinquedo é feito de metal e parece uma catapulta gigante. Acho que esse é o objetivo. As pessoas sentam e ela te lança para o alto. Não vou naquilo de jeito nenhum. Discutir com Bradley consegue ser pior do que com Lyra. Tentei dizer que não iria naquilo nunca, mas ele não me deu ouvidos. Ele me disse que ia no banheiro e que eu devia guardar nosso lugar na fila. Fiz a única coisa sensata nesse momento. O segui.

Ele não vai para o banheiro. Ele vai até o homem de terno. Não consigo chegar muito perto, mas uma parte da conversa consigo ouvir.

_O que você está fazendo aqui? Achei que tivesse deixado muito claro para eles que eu não vou fazer nada do que eles estão mandando.- Bradley diz desesperado.

_Eles sabem o que você fez. Quem você é. Não os desafie. Seus pais podem ter te safado de uma, mas eles não vão te tirar dessa.- responde o homem frio.

_O que eles querem que eu faça? Já disse que a culpa não foi minha!

_Eles manterão contato! Não se distancie da garota, pela sua própria proteção.- diz o homem dando meia volta e indo embora.

Corro o mais rápido que pude de volta para a fila sem que Bradley me veja. Quando chega, seu rosto está abatido, parece ter visto um fantasma. Para manter as aparências pergunto:

_Viu um espírito no banheiro? Você está pálido.

Ele simplesmente ri e disse que está um pouco enjoado. Ele me assegura que está bem e que poderíamos ir no brinquedo.

Fico com a adrenalina no máximo por bastante tempo, mas valeu a pena. Quando poderia fazer isso de novo? Nunca. Nessa noite resolvo que aproveitaria o que pudesse e que iria em todos os brinquedos que pudesse, me preocuparia com o que ouvi amanhã. Imagino Gerard aqui, ele com certeza ficaria louco de animação. Se algum dia conseguir, vou trazer ele aqui.

_ Te pego amanhã?

_Amanhã não dá. Desculpa. Lyra surgiu com essa ideia de ir no baile no palácio, já conseguiu os convites e tudo.

_Ah claro...- responde perdido em seus próprios pensamentos.- Só não deixa aqueles nobres te olhares. Você é minha!- diz me abraçando e beijando minha testa.

_Sou sua depois que o ultimo sinal toca.- digo rindo.

Na hora de ir embora, durmo em seu ombro a viagem inteira, só me lembro de acordar agora, domingo de manhã. Me estresso só de pensar em tudo o que pode acontecer hoje. Vai ser um longo dia.