Pov Natasha Romanoff:

Nossa missão era algo realmente pessoal. Fury não brincava em serviço!

A família Barton precisava de proteção. Nossos dossiês possuem nossos pontos fracos e o ponto mais fraco de Clint é a Laura com seus dois filhos. Meu ponto fraco era meu afilhado, mas atualmente é o Cop mais meu namorado.

Uma coisa da qual posso me orgulhar é da capacidade de auto-proteção que Steve Rogers possui, não precisava me preocupar com ele, pelo menos foi o que disse para mim nessa última semana.

Quatro semanas sem ter nenhum contato com o mundo exterior, Fury garantiu o ambiente mais seguro para a família Barton. Sem acesso a pulsos magnéticos um abrigo idílico e seguro. Familiar como um lar, mesmo que eu soubesse que aquela casa e aquele jardim estavam localizados dentro de um submarino, eles transmitiam segurança e conforto. Demoramos uma semana para chegar até ali e antes de entrar deixei uma mensagem para Steve.

Estou com saudades e não pretendo passar mais tempo debaixo d’água. Clint queria que eu permanecesse com ele, mas eu não podia abrir mão da ação, eu quero lutar, quero estar ao lado do meu Capitão. Estava indo embora quando vi Tony entrando com Pepper, os sogros e dois embrulhos azuis.

O abrigo submarino possuía três casas no total, uma estava ocupada por Clint e sua família, a segunda seria ocupada pela família Stark e a terceira ficaria vaga, caso mais alguém precisasse de proteção.

— Ruivinha eu senti sua falta!

Abracei Tony tomando cuidado para não apertar o embrulho que ele segurava com esmero.

— Quem é esse serzinho?

Pepper apresentou o embrulho dos seus braços depois o de Tony:

— Robert e Howard Stark Potts, mas pode chamá-los de Rob e How.

Dei um amplo sorriso para os bebês. Gêmeos idênticos, os fios negros e lisinhos alinhados com carinho, a pele branquinha e as mãos gorduchinhas, How abriu os olhos e me brincou com aquele azul profundo e um pouco mais escuro que o habitual, uma mistura perfeita dos olhos do pai e da mãe, mas mesmo que esse detalhe lembrasse Pepper o resto era a cara do Tony. Dizem que recém nascidos tem cara de joelho, mas aqueles dois joelhos eram a cara do pai.

Disse acariciando a bochecha rosada de How:

— Eles são lindos.

Tony riu orgulhoso e Pepper agradeceu. Deixei eles se acomodarem e aguardei a volta de Tony, nós dois vamos voltar juntos, mesmo que os outros não saibam disso.

Pov Steve Rogers:

Um mês completo sem a minha ruiva, a última mensagem que ela me deixou foi comporte-se estou ajudando Clint. Ela completou com Ps.: Eu te amo Rogers. A única coisa que me mantém tranquilo é a certeza de que ela está segura.

O primeiro modelo que capturamos e destruímos foi o do Hulk, Bruce foi fundamental durante esse processo. O segundo foi o do Thor, mas nessa batalha Wanda se feriu, algo que deixou Visão furioso e o Tony apreensivo em relação a deixar Pepper e os filhos recém nascidos longe do abrigo que Fury sugeriu. O modelo de robô similar ao Homem de Ferro estava servindo de isca, Visão e Bruce estavam desvendando o padrão de coordenadas através dela. Tony sabia que o próximo ataque seria realizado pelo clone da Nat, mas ainda não sabíamos onde.

Um frio percorreu a minha espinha enquanto eu ajudava Sharon a analisar a ficha da Nat. O nome completo dela era Natalia Alianovna Romanova, ela entrou para KGB no meio da Guerra fria, Nat também possui um super-soro correndo em suas veias, as missões dela envolviam atentados a escolas, estúdios de dança (ballet), orfanatos, hospitais, bases militares russas, inglesas, americanas e canadenses, antes da SHIELD ela tinha muito sangue inocente nas mãos. A última missão não registrada pela SHIELD que ela participou foi em Budapeste, lá ela conheceu o agente Barton, ele a trouxe para conhecer Nick Fury e os dados a respeito dela sumiram. Natasha Romanoff recebeu uma identidade nova, um passaporte novo, uma nova nacionalidade, novas missões e poucas delas envolviam assassinatos, Nat estava em relatórios de resgate e roubos de informações privilegiadas, a melhor hacker de seu tempo. Os melhores resultados, ela sempre possuía as melhores metas, poucas folgas, férias inexistentes, Natasha é a chave do sucesso de Nick na área de espionagem e agentes duplos, ela possui capacidade de disfarce e adaptação admiráveis e invejáveis.

Sharon suspirou e disse irônica:

— Sua garota é um achado e tanto Capitão.

Senti o sangue ferver nas minhas veias, mas não vi necessidade real de provar o valor inestimável da minha namorada, amante e amiga. A agente Carter estava sensível esses dias e estaria assim pelos próximos meses. Buck e ela começaram um romance e mesmo sendo conturbado ele deu frutos, Carter carregava um bebê do seu melhor amigo e por esse único e exclusivo motivo eu precisava ser gentil com ela.

— Não abuse da minha paciência. Sei que está exausta e entediada por estar por fora da ação, mas não use isso como desculpa para atacar a minha ruiva.

Sharon deu de ombros e fechou a pasta que tinha nas mãos.

— Não é a falta de ação que me incomoda de fato, é não saber como James está lá fora. Soa clichê e brega, mas me preocupo com ele, na verdade me preocupo com vocês dois. Sua namorada não está aqui para ver como você voltou destruído da última vez, mas eu estou.

Senti os dedos dela deslizarem pela lateral do meu rosto, onde havia um roxo na semana passada, nada grave, nada que o super-soro não desce conta.

Um pigarro na porta da sala me fez desviar os olhos dos dela. Nat estava parada ali com Tony ao seu lado, não deu nem tempo de levantar Nat sumiu e Tony deu de ombros como se dissesse fez merda agora conserta.

Pov Natasha Romanoff:

Tony me atualizou sobre as últimas missões. Hulk e Thor, Bruce Banner de volta, Wanda internada e inconsciente, Steve lendo inúmeros relatórios sobre a minha antiga vida.

Eu era a próxima ou melhor a pior versão de mim era a próxima.

— Onde seu antigo eu gostaria de cometer um atentado? Entendo que isso seja uma pergunta desconfortável para se fazer, mas…

Interrompi Tony:

— Não precisa ficar cheio de dedos, não costumo mais falar daquela época, mas nesse caso vou abrir uma exceção.

Tony  suspirou me indicando os fones de co-piloto do avião, coloquei os fones e ajudei a aterrissar, estávamos a poucos passos do meu loiro. Mesmo morrendo de saudades não sabia como ele me receberia. Será que tinha digerido toda a minha podridão sem julgamentos, ou estava apenas me aguardando para me comunicar o fim do nosso relacionamento? Fosse qual fosse a resposta eu estaria pronta para seguir em frente, precisava terminar com aquela versão minha e com a versão torta dos outros, devia essa para o Clint desde Budapeste.

Tony arqueou as sobrancelhas.

— Ruiva você ainda não me respondeu.

Suspirei exasperada.

— Preciso de um mapa completo dos ataques anteriores, vou fazer uma triangulação de aparição com o local da sua casa, assim vou ter a área coberta e dessa área vou averiguar orfanatos e estúdios de ballet. Esse era o meu antigo estilo.

Tony deu de ombros e tentou me consolar colocando as mãos nos meus braços em um carinho reconfortante. Abracei ele e ele retribuiu.

— Esse lance de paternidade está moendo o meu estilo descolado e indiferente.

Sorri para ele.

— Eu gosto dessa versão sua Stark.

Entramos no elevador e ele apertou o botão do andar da sala de reuniões.

Tony me entregou um pen-drive.

— Sexta-feira colocou os dados que você mencionou mais cedo aí. Sei que nada que eu disser vai tirar a culpa dos seus ombros ou aliviar a tensão de ter todos os seus erros exibidos de maneira acusatória, mas sei que essa Natalia não é a Natasha Romanoff que eu conheço, aquela que me fez perceber o tanto que estava sendo imprudente quando nos conhecemos, a Natasha que me fez notar o tanto que ser pai era extraordinário.

Dei um amplo sorriso e peguei o pen-drive.

— Obrigada Tony.

As portas se abriram e nós entramos na sala.

Carter estava com as garras no rosto do meu namorado, Steve estava perdido nos olhos dela, a expressão dele era um misto de admiração e compreensão. O que terminou de me arrebentar foi o diálogo que estava acontecendo.

— … Sua namorada não está aqui para ver como você voltou destruído da última vez, mas eu estou.

A SUA namorada está bem aqui seu idiota.

Não disse nada, mas Tony pigarreou tirando o casal do clima em que estavam inseridos. Saí sem me importar, se Rogers não estava com saudades de mim, talvez eu devesse esquecer o resquício de saudades que eu ainda sentia dele.

Entrei no elevador e esperei ele parar no meu andar. Pus os pés dentro do meu quarto e tirei os sapatos, a blusa de frio e fiquei com a minha calça jeans clara, meu par de meias brancas e a camiseta preta, andei até o banheiro e coloquei o meu café da manhã e almoço vaso abaixo. Esse nervosismo alinhado a pressão da saída do mar e do avião fizeram meu estômago dar uma vacilada.

Fiquei uma semana inteira assim quando cheguei no abrigo debaixo d’água. Clint disse que as crianças também demoraram a habituar-se com o ambiente, o que me deixou tranquila, mas agora que estou aqui tenho quase certeza que estou tendo uma intoxicação alimentar. Precisava dar uma passada na enfermaria. Calcei um all-star preto e fui andando até a enfermaria.

Bruce estava lá.

— Nat eu senti sua falta enquanto estava na Austrália.

Sorrindo aceitei o abraço dele.

— Também senti saudades suas Bruce. É bom ver você.

Ele deu uma risada.

— Gostaria que fosse sob circunstâncias melhores.

Assenti para ele.

— Eu também.

Andamos até uma mesa e sentei na cadeira.

— O que a trás aqui Nat?

Dei de ombros sendo evasiva.

— Pergunto o mesmo para você Dr. Banner?

Ele acendeu a mesa e uma radiografia tomou conta do tampo brilhante.

— Estou ajudando o Visão a trazer a Wanda de volta a consciência mais rápido. Utilizando as ondas telepáticas que ela emite de maneira involuntária posso induzir uma conexão cerebral entre os dois. O laço afetivo que compartilham é forte o suficiente para tirar a Wanda do mundo mental em que ela se isolou.

Conexão e laço afetivo, coisas que Steve deveria compartilhar comigo. Meus ombros caíram e eu tentei me concentrar na extensa explicação do Bruce sem bocejar, mas o sono foi me vencendo e acabei dormindo.

Pov Steve Rogers:

Tony bloqueou a minha saída da sala e me encurralou sério.

— Steve a Nat não está levando essa história de ter a vida dela exposta para todos nós numa boa. Fury e Barton eram os únicos que sabiam dessa parte da vida dela, nós fazíamos alguma vaga e remota ideia das atrocidades que ela cometeu em nome da KGB pelas coisas que ela deixava escapar uma vez ou outra. Mas ter a vida esmiuçada é outra história. Durante esse momento conflitante ela é recebida por essa  ceninha entre você e a Carter.

Dei de ombros irritado, joguei a pasta em cima da mesa e passei as mãos pelo cabelo irritado e vencido.

— Demorei um tempo para digerir o que li. Usei o princípio de que ela estava fazendo o que era melhor para o país dela a mando dos militares e serviço secreto do país dela. Fui racional o máximo que pude e se um dia ela estiver pronta para conversar sobre isso comigo eu vou ser um bom ouvinte. Quero acima de tudo que ela entenda que nenhum de nós dois somos perfeitos, temos falhas, mas é através delas que nos amamos e por elas que nos completamos. Ceninha? Nós dois não temos nada além de amizade e consideração um pelo outro.

Tony deu um tapa na própria testa.

— A Nat não sabe do lance entre o braço de ferro e a sobrinha da sua ex-garota de ouro. O que ela viu foi o namorado dela se engraçando com a agente Carter durante sua ausência.

Então por isso ela saiu abruptamente daquela forma. Dei um suspiro de indignação.

— Valeu Tony, achei que ela só não quisesse falar comigo. Achei que de alguma maneira ela achasse que estava invadindo a vida dela mexendo em seu passado.

Tony riu sem humor.

— Não é atoa que demora a pegar as referências, você deveria dizer para ela que você não anda escondendo loiras debaixo do seu escudo durante a ausência dela. E fazer aquele discurso sobre o passado dela.

Concordei andando para o elevador.

Procurei Nat pelo salão de jogos e nada, fui até a garagem e o carro dela continuava lá, liguei para o celular dela, mas caiu na caixa postal, passei no refeitório, mas não a vi por lá, fui até o quarto dela e nada. Talvez ela estivesse na enfermaria quando entrei me deparei com Nat dormindo no sofá e Bruce Banner admirando-a sentado na mesa.

Ele disse sem humor:

— Boa noite Capitão.

Andei até Nat.

— Boa Noite Bruce, posso levá-la para o quarto dela?

Bruce deu de ombros.

— Ela é a sua namorada, não deveria me pedir permissão.

Peguei Nat no colo e ela ajeitou-se passando os braços pelos meus ombros e suspirando de satisfação.

— Não gostaria que ficasse um clima estranho entre nós dois Bruce.

Ele abriu a porta e eu passei por ela.

— Eu também não Capitão, mas ela é a mulher que eu amo, e saber que ela ama outro é doloroso. Sei que ela está melhor com você, então preciso aprender a me contentar com a felicidade dela, mas já vou logo avisando, se você a magoar o Hulk vai acertar as contas com você.

Maneei a cabeça.

— Se isso acontecer, eu mesmo peço pelo acerto de contas.

Ele sorriu e eu andei com ela para o meu quarto enquanto deixava o Bruce para trás.

Ajeitei Nat na cama e fui tomar banho, quando voltei ela já tinha ido embora. Nós precisávamos conversar e colocar os pingos nos i’s antes que as coisas tomassem uma proporção catastrófica. Já bastava o drama de ter que enfrentar uma versão de metal dela, não precisava ter que lutar contra a de carne e osso.

Saí andando até a porta do quarto dela, mas no corredor encontrei Sharon desmaiada, a peguei no colo e levei até a enfermaria, Buck não demorou a aparecer por lá. Bruce Banner chamou as enfermeiras e elas logo ajudaram Sharon, uma grávida completando quatro meses, ela nem parecia estar com algo crescendo dentro de si.

Deixei Buck e ela a sós, os dois estavam meio brigados graças ao perigo das missões recentes, mas não tem como ele sair da ação logo agora que tem um mundo exclusivamente dele para proteger. Sharon e esse neném deram um novo significado para a vida do Buck e eu admirava isso. Meu mundo tem um emaranhado de fios ruivos, olhos verdes e um sorriso encantador.

Saí da enfermaria e andei até o quarto dela, parei diante da porta e exitei um pouco antes de bater.

Ela abriu a porta vestindo uma blusa preta de moletom, apenas isso, as pernas alvas expostas e os fios desarrumados, os pés descalços e um brilho de saudade no olhar. Não pedi desculpas, não falei com ela sobre o relacionamento conturbado do Buck com a Sharon, apenas beijei-a.

Se o mundo for acabar pela manhã não me importo, se Ultron voltar e escravizar a humanidade, não me importo, o que eu quero é matar a saudade dela, matar essa saudade louca da minha amada. Afundei meu corpo no dela, meus dedos nos fios ruivos, cravei meus dentes por aquele pescoço imaculado, nosso amor não foi urgente, foi desesperado.

Assim como dois amantes apaixonados amamo-nos e sem arrependimentos me perdi nela como ela perdeu-se em mim. As palavras não foram necessárias e o sorriso dela no fim daquela noite sem estrelas compensou, a espera, a saudade e a dor, a falta de esperança e o teste contra a minha paciência.

Ela suspirou.

— Isso é o famoso sexo de reconciliação.

Beijei o topo da cabeça dela, ajeitando o cobertor sobre nós.

— Nós não fazemos sexo, só amor.

Ela afundou o rosto no meu peito e disse:

— Senti saudades do seu perfume, da sua voz, da maneira como o meu corpo se sente em casa quando está dentro dos seus braços, da maneira gentil como passa a mão pelo meu cabelo, do seu sorriso, das noites insones e das noites de sono tranquilo, senti falta de estar com você. Lembra da nossa última conversa.

Dei um sorriso ladino.

— Aquela em que você ameaçou me acorrentar ao pé da sua cama para sempre.

Ela percorreu as unhas fazendo desenhos imprecisos pelo meu abdômen.

— Isso mesmo. Gostaria de saber se agora que conhece a  assustadora e desalmada Natalia Alianovna Romanova, ainda quer passar o resto da sua vida comigo?

Olhei dentro dos olhos verdes dela, o medo e a insegurança pintavam a expressão dela.

— Natasha Romanoff eu te amo. Isso deveria bastar para garantir a nossa permanência pela eternidade.

Ela sorriu aliviada.

— Eu também te amo Steve Rogers e nada vai ser capaz de separar-nos.

Ela fechou os olhos e dormiu tranquila, continuei ali, observando e velando seu sono. Meu anjo, minha garota.