— Por que você está com tanto sono? — Albus me interrogou, estreitando os olhos.

Scorpius deu uma risadinha maldosa e arqueou as sobrancelhas, esperando para ver qual seria minha resposta. Decidi ignorá-lo. Eu tinha decidido não contar aos outros minha aventura com Scorpius para que eles não criassem teorias absurdas, mas para Scorpius, aquilo ia parecer ainda mais suspeito quando eles descobrissem.

Mas eles não iam descobrir!

Dessa forma, passei o dia inteiro fingindo que nada tinha acontecido, cochilando quietinha pelos cantos e evitando conversas.

— Tem dias que cansam mais que os outros. — murmurei, me servindo de sopa — Será que eles não vão servir café?

— Pro jantar? — Anna questionou.

— Você está tomando café desde que acordou, Rose. — Scarlett estranhou. — E não ligou para os broches que ainda estão rodando pelo castelo.

Realmente. Naquela manhã, tomei pelo menos umas dez xícaras de café. No almoço, fui até a cozinha e pedi uma garrafa extra. Durante as aulas eu me sustentei em pequenos goles e agora, no jantar, eu adoraria mais umas xícaras.

— Isso me parece cansaço de uma noite quente e duradoura de sexo. — Drew comentou e os outros me olharam chocados, acreditando veemente na constatação tarada do garoto.

— Mas já? — Alícia parecia empolgada — Rose, sua danadinha! Até que enfim! A gente conhece o cara?

— O quê? Não! — larguei minha sopa de lado — Não teve sexo durante essa noite!

— Mas teve durante o dia? — Jared questionou.

— Não teve sexo. — o cortei.

— Então você é virgem? — Lindsay abriu a boca surpresa.

— Não, não sou.

— Você não é virgem? — Albus gritou chocado.

— Por Merlin! Foi Scorpius! Eu saí com Scorpius!

— Você transou com Scorpius? — Albus gritou ainda mais alto e as pessoas em volta arregalaram os olhos.

— Eu só saí com Scorpius! — puxei Albus pela gravata, querendo que ele calasse a boca.

— A gente saiu. — Scorpius confirmou num tom maldoso.

— Vocês estão se pegando? — Anna perguntou com um ar sonhador.

— Eu fui praticamente arrastada. — expliquei.

— Então você foi estuprada? — Albus continuava gritando.

Balancei a cabeça negativamente e voltei para a minha sopa. Aquela cena estava patética.

De repente, Scorpius já contava todo o enredo que vivemos e até minhas reclamações ele fez questão de frisar. Anna o tempo todo me olhava maliciosa e eu desisti de tentar me inocentar. Minha ideia de manter segredo foi um fracasso. E o pior de tudo é que a mente deles trabalhava como se tudo fosse terminar com “e transamos”. 

— E nós conversamos. — ele finalizou, quando eu já estava terminando minha sopa.

— Sobre o que? — Anna ainda insistia. 

— Sobre várias coisas! — Scorpius continuou — Sobre sentimentos, sobre gostos, sobre sexo…

Larguei meu talher com força sobre o prato enquanto os outros gritaram animados, atraindo toda a atenção do Salão Principal. Encarei Scorpius incrédula e ele deu de ombros, achando a maior graça naquilo.

— Eu sabia! — Drew berrou — Todo mundo sempre fala de sexo!

— Você viu Scorpius pelado? — Lindsay perguntou gritando e todo mundo em volta guinchou de excitação.

— Eu não vi ninguém pelado! Vocês são malucos? — eu ria nervosa.

— É um assunto universal. Todo mundo gosta de falar sobre sexo. — Scarlett constatou.

— E de fazer também. — Jared opinou e os outros concordaram.

— E foi a noite toda? — Alícia parecia assustada — Você realmente está um caco hoje…

— Nós não fizemos nada. — Scorpius levantou as mãos, sinalizando para que eles se acalmassem. Minha vontade era me esconder por baixo da mesa, mas apenas joguei o cabelo na frente do rosto. — Foi só conversa. Sem nenhum interesse entre as partes.

— Como se fala sobre sexo se não há interesse entre as partes? — Lindsay questionou e todos os outros concordaram com ela.

— Nós falamos sobre experiências! — Malfoy deu de ombros, como se fosse previsível.

— Você tem experiências sobre sexo? — Albus parecia apavorado — Rose, você é minha garotinha! É só um bebê!

— Nós temos a mesma idade! — gargalhei constrangida.

— Seu pai sabe disso? — ele ainda me acuava.

— Deixei pra contar na ceia de Natal desse ano. — debochei e os outros riram. — Eu estava triste e magoada. Scorpius estava sem sono. Eu e ele só saímos para que eu não surtasse. Foi só isso. Não teve sexo. Só conversa. Contei coisas pra ele. Nada demais.

— Desculpa, Rose, mas isso me parece muito com um enredo de comédia romântica que começa com sexo. — Lindsay alfinetou.

— Você está romantizando algo nem um pouco romântico — falei e cutuquei Scorpius para que ele me ajudasse.

— Sabiam que Oscar Wood goza com cinco minutos? — Scorpius gritou.

Jared cuspiu suco de abóbora para o alto e toda a Máfia explodiu em risadas. Olhei para Scorpius apavorada, mas ele já estava tendo uma crise de riso terrível com Drew e eu fiquei preocupada com Jared, que ficava cada vez mais vermelho. Anna precisou se levantar e Alícia abanou Lindsay que parecia que prestes desmaiar.

— Já chega! Dever de casa! Todos vocês! Agora! — gritei ordenando.

Como uma mãe, me levantei e apontei para a saída. Obedientemente, eles foram saindo um por um enfileirados, ainda suspirando e dando risadinhas.

Os levei direto para o Salão Comunal e tratei de ocupá-los, os lembrando da pilha de dever que todos tinham. Meu plano de dormir cedo tinha ido pro inferno, mas pelo menos eles haviam esquecido do assunto pervertido.

Com meu planejamento em mãos, passei a lição de Poções para Lindsay, Scorpius e Jared, a de Trato de Criaturas Mágicas para Scarlett e Drew, encarreguei Alícia de terminar Estudo Avançado dos Trouxas e me juntei a Anna e Albus para finalizar anotações sobre Transfiguração. Eles pareciam estar se esforçando e eu me senti orgulhosa. Por mais que resmungassem, eu percebia vontade de tentar e isso já era um grande passo. Eu ainda tinha muita coisa pela frente, mas nosso início estava sendo bom.

Consegui terminar minhas anotações primeiro que todos eles e comecei a dar pequenas dicas nas redações e trabalhos. Scorpius e Drew tentaram me subornar para finalizar o trabalho por eles, mas meu sono me deixava ainda mais determinada; eles só sairiam dali quando cada centímetro de pergaminho estivesse completo.

Esclarecendo uma dúvida de Scarlett, percebi que precisava ir até a biblioteca. Trato das Criaturas Mágicas não fazia parte da minha grade. Eu precisava ler algum autor.

— Estou indo buscar um livro para Scarlett. Querem alguma coisa? — ofereci.

— Isso significa que estamos liberados? — Scorpius perguntou esperançoso.

— Não. Estão liberados depois que terminarem. — falei como se fosse óbivo, já puxando Scarlett pela mão.

— Traga algo para que eu entenda porque Transfiguração é tão infernal. — Albus resmungou.

Mesmo com meu corpo dando leves sinais de que minha energia realmente estava no fim, eu precisava encontrar um livro que pudesse incentivar Scarlett. Manter qualquer um dos integrantes focados na lição era muito difícil. Eles eram muito agitados e raramente conseguiam ser sérios. Eu precisava agir como uma mãe rabugenta e mandona grande parte do tempo. Agora que eu tinha a atenção da garota e fizera os outros esquecerem o assunto "sexo", eu lutaria para que continuássemos progredindo.

Enquanto caminhávamos, instiguei Scarlett a falar sobre suas criaturas mágicas preferidas e com isso consegui prender sua atenção pela matéria. Prometi que a levaria um dia em Hogsmeade para conhecer Hagrid, meu padrinho. Era impossível não se apaixonar pela essência de Hagrid e Scarlett também era uma pessoa incrível. Ela ficou animada de conhecer um magizoologista.

Na biblioteca, entretanto, a animação de Scarlett pareceu murchar um pouco. Enquanto procurava nas estantes minha edição preferida de Newt Scamander, ela pareceu um pouco entediada.

— Se você me joga em uma sala e me obriga a fazer alguma coisa, meu cérebro automaticamente vai trabalhar pra que isso não aconteça. — ela murmurou quando a confrontei. — A biblioteca me dá essa sensação; a sensação de que estou fazendo tudo por obrigação.

Olhando o último corredor em que poderia estar a edição que eu queria, eu a encontrei. Estávamos com sorte. Em poucos minutos já era o toque de recolher.

— Scarlett, se considere com sorte! — gritei animada.

— Ou nem tanta sorte assim.

Quando notou a presença de Erick Jordan atrás de nós, Scarlett rosnou como um animal e estreitou os olhos. Tudo que eu não queria naquele momento era um briga. Meu corpo não estava com os reflexos afiados.

— Agora anda com essa daí? — ele se dirigia à ela, e apontou para mim — Rose Weasley é suja.

— O quão desesperada você acha que estou para receber conselho de alguém como você, Jordan? — Scarlett disse com nojo.

— Você gostava de me ouvir no seu ouvido, Scar...

Scarlett fechou os punhos com raiva e tombou o pescoço de lado, parecendo ainda mais ameaçadora. A peguei pelo braço e tentei tirá-la dali, mas ela parecia congelada no lugar e não tinha como comparar minha força com a dela.

— Scarlett, vamos... — tentei persuadí-la.

— Ele acabou de te ofender na minha frente, Rose. Não vamos sair sem um pedido de desculpas. — Scarlett sibilou.

Erick gargalhou debochado e se escorou na estante mais próxima, cruzando os braços na frente do peito, como sempre fazia. Por instinto, agarrei minha varinha presa no cós da minha saia e mentalizei qualquer feitiço que pudesse afastá-lo de nós duas.

— Então vamos ficar aqui a noite toda. — Erick disse venenoso — É Rose quem me deve desculpas por nunca ter me dado mole. Se é tão fácil comê-la, eu gostaria de saber.

Scarlett avançou feroz para cima de Erick, mas eu entrei na frente, grunhindo em pânico e a empurrando para longe dele. A risada que Erick dava parecia irrita-la ainda mais e eu quase deixei que ela o quebrasse no soco, mas aquilo nos traria tantos problemas que continuei lutando para levar Scarlett para longe.

— Scarlett, não entre na pilha! — eu fazia extrema força para afastá-la — Não vale a pena! É isso que ele quer!

— Vem, Scarlett gostosinha!

— Eu poderia tirar esse teu sorriso imbecil com um soco, seu intragável! — Scarlett ainda tentava avançar, mas não com tanta vontade mais — Você ainda entra na reta, Jordan.

— Lembra quando a gente transou, Scarlett? — ele atiçou ainda mais — Você gemia bem gostoso em cima desse intragável, não é?

Erick estava fazendo o que sempre fazia. Explanando sua relação com garotas que ainda caíam na sua lábia. A forma com que ele tratava o sexo era repugnante.

— Scarlett, vamos embora, por favor! — implorei. Pensei que não conseguiria contê-la de tão irada que ficou, se debatendo para avançar — Deixa esse babaca aí, Scarlett. Vamos, por favor.

— Sua hora ainda vai chegar, Jordan. Mais cedo do que imagina. — Scarlett parou de lutar contra mim.

Puxei a garota pela mão e virei as costas para Erick, saindo sem olhar para trás.

E esse foi o nosso erro.

Houve um baque forte. E Scarlett caiu desnorteada no chão.

— Scarlett! — gritei assustada.

Ele tinha a acertado certeiro na nuca com um livro grosso e pesado. Erick Jordan a golpeou pelas costas! Ele pegou Scarlett do chão pelo colarinho da capa e a socou com tudo na estante mais próxima. Gritei horrorizada quando percebi que ela desmaiara.

— Achou alguém à altura, não é? — ele gritou e a atirou contra a estante novamente.

— Solte-a! — voei para cima dele para que ele a soltasse, mas ele apenas me empurrou para o lado, me derrubando com tudo no chão. Meu pulso latejou quando caí por cima dele. 

— Vai se arrepender, garota! — ele a socou violentamente na estante outra vez. Seu corpo parecia mole e sem vida. — Não se pode medir forças com um homem como eu, está me ouvindo? Mostra o teu talento, Schmidt!

Eu achei que Erick estava transtornado, mas quando Drew apareceu e nos viu, a fúria de Erick poderia ser comparada a nada. Drew Nott correu até nós ainda mais alterado, e rugindo com um fúria descomunal, derrubou Erick com um empurrão.

— Sente meu talento agora, filho da puta! — Drew proferiu e Erick recebeu um soco que provavelmente quebrou algum osso de seu rosto.

Corri para Scarlett que continuava jogada no chão e tentei arrastá-la para longe dos garotos que lutavam. Mas era incomparável. Não havia luta: havia uma surra.

Drew despejava um golpe atrás do outro no rosto de Erick, que parecia em pânico por baixo de tanto sangue. Seus braços tentavam atingir Drew, mas ele apenas se debatia como um polvo.

— Nunca mais encoste nas minhas garotas, Jordan! — a voz de Drew era ainda mais grossa e ele cuspia enquanto falava. Seus olhos estavam desfocados e ele não dava trégua. — Nunca mais, ouviu bem?

— Drew! — minhas mãos tremiam sem parar, mas tentei tirá-lo de cima do garoto — Drew, vamos sair daqui!

— Essa foi a última vez que eu te avisei. — o tom de Drew era assustador.

— Drew, vamos! — puxei seu rosto pra mim. Seu olhar psicótico se tornou mais suave e ele respirou fundo — Deixe ele aí. Se virem vocês assim, pode ter expulsão!

— Ele desmaiou a minha garota, Rose! — ele arfava — Ele... Ele empurrou você!

— Precisamos levar Scarlett para a enfermaria. — tudo em mim tremia. Minha voz, minhas pernas, minhas mãos...

Isso pareceu acordá-lo, porque ele saiu de cima de Erick que já estava desacordado e correu para Scarlett, a pegando no colo. Aquilo me matou. Erick havia sido covarde em atingi-la pelas costas e ela só estava tentando me defender. Era minha culpa!

— Você precisa sair daqui. — juntei forças e sussurrei — Se alguém souber dessa briga…

— Chame ajuda para esse… — Drew o olhou com nojo, mas não conseguiu terminar.

Olhei para Erick desmaiado no chão. Eu poderia chamar qualquer um e dizer o que encontrei apagado e machucado na biblioteca. Mas não. Não dessa vez.  Juntei todo o ódio acumulado que eu tinha, escarrei e cuspi bem próximo de seu rosto. Deus que tenha piedade, porque se dependesse da minha, Drew teria quebrado todos os ossos da cara daquele maldito.

— Ele não precisa da minha ajuda. Só quero tirar vocês dois daqui, Drew. — murmurei amargurada —  Uma hora ou outra alguém vai achá-lo. Erick não vai receber sequer um ato de misericórdia. Não de mim.

Mesmo diante de tanto nervosismo, Drew conseguiu sorrir.

— O Chapéu Seletor não erra, Rose. — ele disse orgulhoso e sem mais demora, saímos para cuidar da minha amiga.

“Se enganava quem pensava que em Hogwarts não havia conflitos desse tipo, porque tinha, e se envolvesse Scarlett - ou seu parceiro -, era sinal de que fora uma briga das boas.”