Eu tinha ficado até muito tarde na biblioteca. Estava terminando um trabalho gigante de Poções, mesmo que faltassem duas semanas para entregá-lo.

Como minha mãe, eu queria ter um histórico escolar de dar gosto. Com apenas alguns dias que as aulas haviam começado, eu já estava conseguindo um mínimo reconhecimento pelos meus próprios esforços. Era mágico estar em um lugar que eu poderia brilhar sem precisar dos meus pais.

A bibliotecária já havia ido se deitar e me fizera prometer que logo sairia. Eu era uma visitante fiel! Ela gostava de mim.

Depois de finalizar o pergaminho de 1 metro sobre os benefícios de se estudar Poções, juntei minhas coisas e fui guardar os livros que tinha usado.

Quando estava guardando o último livro, tropecei em algo e caí com tudo no chão. Meus pergaminhos, minha mochila e minha dignidade foram arremessados para todos os lados e eu praguejei com raiva.

Sentado no escuro, estava alguém, quieto e sozinho.

— Não é muito inteligente ficar em lugar parecendo uma estátua. — comentei zangada.

Com o feitiço Lumus, iluminei o corredor e joguei a luz direto da cara de...

— Malfoy! — minha voz saiu estridente e eu recuei, envergonhada.

Scorpius tinha uma mancha horrível no olho esquerdo e o lábio cortado. No colo, ele tinha uma pilha de livros. Ao ver que ele estava sem as calças, senti o rosto arder ainda mais de vergonha e desviei o rosto.

— Por favor, não faça alarde. — ele sussurrou.

Por um momento, me lembrei dos avisos do meu pai para se manter afastada e cogitei pensar em quão esquisito seria se eu saísse correndo sem olhar para trás. Eu seria muito maluca? Quando a resposta “SIM” foi evidente, decidi que se juntasse minhas coisas rápido, poderia me mandar sem parecer uma retardada.

— D-d-desculpe, eu não te vi aí. — comecei a pegar minhas coisas com pressa. Mas com quanto mais rapidez eu tentava juntar as coisas, mas fácil elas escorregavam.

Dando um muxoxo de impaciência, Scorpius juntou o que conseguia alcançar sem sair de debaixo da pilha dos livros que lhe cobriam e me entregou.

Quando guardei tudo e me preparei para sair, uma voz fina me fez estagnar no lugar. Era minha mãe e suas falas de poder ajudar as pessoas, atuando dentro da minha consciência. Olhei para Scorpius novamente e respirei fundo.

— O que aconteceu com você? — perguntei, tentando não ofendê-lo.

Ele sorriu sem humor. Vê-lo assim, só me fez ficar ainda mais determinada a ajuda-lo.

— Istann não gosta de mim. — Scorpius disse — Ele e seus amigos se aproveitam que eu não tenho amigos e fazem o que querem, até mesmo me bater e arrancar minhas roupas! — sua voz foi aumentando e quando vi, ele já gritava — Agem como se eu fosse a droga de um monstro quando tudo que eu mais quero é ficar invisível nessa droga desse lugar! Eu tenho onze anos! Não matei ninguém e não sou um comensal! — de repente, Scorpius já estava chorando copiosamente — Eu odeio Hogwarts! Eu odeio esse lugar! Eu odeio todo mundo! Eu só quero voltar pra casa!

Malfoy socou os livros em seu colo com força e os espalhou sem querer. Envergonhado e chorando, ele os juntou com pressa, fazendo com que mais lágrimas caíssem. Com meu coração acelerado, virei o rosto para o outro lado e fingi não ver sua cueca.

— Estou aqui desde o fim da última aula. — ele soluçou — Instann me pegou e me bateu antes que eu conseguisse pedir ajuda. Levou minhas calças e minha capa. Estou rastejando pelos corredores desde então e só posso sair quando não tiver mais ninguém aqui.

Scorpius limpou o rosto molhado na manga da camisa e ficou com o rosto vermelho.

Sem pensar muito, tirei minha capa e coloquei sobre sua perna. Malfoy me olhou assustado e eu ignorei o constrangimento.

— Pode vestir minha capa. — falei — Vai conseguir se esconder e chegar ao seu dormitório. E tome... — de dentro de minha mochila, tirei o pedaço de torta de salsicha que havia pegado para comer quando sentisse fome e diversos doces que sempre tinha para beliscar enquanto estudava — Deve estar morrendo de fome.

Os olhos de Scorpius marejaram outra vez e ver aquele garoto tão indefeso, me fez subir uma ira enorme por Garret e seus amigos idiotas.

— Obrigado, Weasley. — Malfoy disse baixinho — Não vou me esquecer disso.

— Minha mãe sempre diz para ajudar as pessoas. — e meu pai disse para ficar longe de você, mas tudo bem — Não deixe que Garret bata em você outra vez. Procure alguma ajuda ou...

— Sério mesmo. — Scorpius se levantou, colocou minha capa e se cobriu rapidamente. Ele segurou minha mão e me olhou no fundo dos olhos. — Não vou contar para ninguém para não perseguirem você também, mas não vou jamais me esquecer disso.

Consegui sorrir amigável e balancei a cabeça em concordância. Com um último aceno, me despedi e fui me deitar.

No outro dia de manhã, Scorpius e os outros enfrentaram Instann. Uma semana depois, Scorpius tinha o mais forte e invejável grupo de amigos, que protegiam uns aos outros como animais ferozes. Duas semanas depois, minha capa apareceu pendurada na maçaneta do meu dormitório. Anos depois, ele havia aceitado me ajudar.

Scorpius estava retribuindo uma capa preta, um pedaço de torta e algumas guloseimas. Coisas das quais nós nunca mais tocamos no assunto.