Stiles estava inquieto, andando de um lado a outro perto das escadas pensando se deveria ou não descer as escadas e ver Scott. Não estava preparado para ver como o outro reagiria a si, notou quão magoado ele estava assim que seus olhares se encontraram. O pior é que não era simplesmente mágoa, era traição.

Havia esperado algumas horas até que o irmão, e também ele próprio, pudesse se acalmar, e logo caminhou rumo ao convés inferior. Caminhou até finalmente chegar nas celas, onde podia ver Scott sentado meio encolhido, recostado na parede. Sua expressão era tão desolada que por um instante fez com que Stiles estancasse no lugar.

— O que veio fazer aqui? Eu não quero te ver, Stiles. - a voz de Scott chegou aos seus ouvidos, baixa e cansada. Aquele tom ferido de mais cedo praticamente havia sumido, mas o rapaz ainda podia sentir a dor em cada palavra.

— Meu capitão permitiu que eu cuidasse de você. - Stiles sussurrou voltando a andar e entrando na cela, fazendo questão de deixar a mesma aberta. - Eu... Vou olhar esses ferimentos. - ele abriu a sua maleta e umedeceu um pano com rum e limpou as feridas do marinheiro, pegando em seguida uma pasta de ervas e recobrindo os ferimentos.

Apesar de no início Scott tentar esquivar-se dos toques, depois permitiu que Stiles tratasse de si, afinal sabia que seus ferimentos iriam infeccionar se não fizesse nada. Ele observava com atenção seu irmão, ele parecia bem ali, feliz. Mais feliz do que em todas as vezes que o vira em Cambridge.

Stiles sentia o olhar do mais velho queimando, o silêncio, especialmente para ele que tinha dificuldades em permanecer quieto por muito tempo. Entretanto, quando Scott voltou a abrir a boca, rapidamente desejou o silêncio incômodo de volta.

— Você envergonhou nosso pai. - disse Scott, no entanto não soava ácido, sua intenção não era ferir o médico. - Sabia disso? Ele ficou desesperado quando soube do sequestro pelos piratas, saber que o filho dele se uniu aos piratas vai matá-lo de desgosto...

— Nosso pai... - Stiles engoliu em seco, mantinha a cabeça baixa enquanto cuidava dos ferimentos, não queria que Scott visse suas lágrimas. - Eu prometi jamais voltar a morar sob o teto dele, ele deixou evidente antes de eu partir que era uma vergonha como filho.

— O que quer dizer? - Scott esqueceu a conversa anterior, afinal anos antes havia estranhado a escolha de carreira do irmão ao abandonar as colônias. - Stiles...

O rapaz se levantou colocando um prato de sopa e um cantil com água para o comodoro, deixando o local rapidamente. Ou melhor, tentando, pois um rapaz louro bloqueou a sua saída, fazendo ambos se chocarem.

— Ele te fez alguma coisa? - indagou Isaac muito seriamente, vendo o amigo negar com a cabeça, escondendo o rosto em seu peito. - Escuta aqui, seu imbecil, não ligo se é irmão do Stiles. - ele puxou a porta da cela, fechando. - Machuque ele, e será abandonado na primeira ilha que acharmos. - ele apertou mais um dos braços em torno do médico. - Vamos doutor, vou te levar pra cabine.

Stiles se deixou ser levado para fora dali, seu pai jamais deixaria de ser um assunto delicado. Enquanto isso, deixavam um estático Scott para trás, afinal desde que chegara ali, vira um lado totalmente diferente dos piratas. Ao menos aqueles que vira ao redor de seu irmão.

Scott ficou várias horas ali sozinho, havia comido a sopa e se encolhido contra a grade, estava bastante ferido e não conseguiria escapar, especialmente em alto mar. Ele só voltou a mover-se ao ouvir a tranca de sua cela, mas se recostou novamente ao ver que não era seu irmão ali.

— O temido Derek Hale? Admito que esperava mais. - zombou Scott, apesar de claramente não estar em posição para tal. - Onde está meu irmão?

— Quieto, você não é grande coisa. - Derek jogou um cantil para o homem, antes de erguer sua caneca e começar a beber. - Stiles está dormindo, ele pode ser forte, mas foram emoções demais para ele. - ele possuía tanto carinho ao mencionar Stiles, que Scott ficou surpreso. - Mas não foi sobre isso que vim falar com você. - ele mostrou uma chave. - Ela abre um par de correntes que serão postas em seu pulso.

O rapaz pendurou a mesma no corredor em um local onde, após certo esforço, certamente Scott conseguiria pegar. Claro que isso deixou o oficial intrigado, afinal piedade era a última coisa que esperava de um pirata.

— Daqui dois dias vamos atracar em Londres, só temos que resgatar alguém, sem saques e mortes. - ele sentou-se e cruzou os braços. - Stiles insiste em ir, mas eu preciso de algo para manter sua segurança caso algo dê errado.

— O que tenho a ver com isso? - indagou um confuso Scott, não sabia aonde Derek queria chegar.

— Se eu morrer nessa missão, será protegendo minha família. - ele levou a mão até o peito. - Stiles é minha família agora, e quero que, caso algo dê errado, o leve para casa. - indicou a chave, antes de pegá-la de volta. - Daqui dois dias você será levado conosco, estará algemado. Quando estiver sozinho pode fugir.

Scott desconfiava das ações da tripulação, mas na verdade sentira a diferença de tratamento graças ao médico. Ele se voltou para o pirata, estreitando os olhos.

— Não acredito em uma palavra que me diz. - cruzou os braços, não poderia baixar a guarda, provavelmente um destino pior lhe aguardava. - Não confio em piratas, deve estar se divertindo me dando falsas esperanças.

Derek não esperava uma resposta diferente, mas no fundo tinha esperanças. Se no final não pudesse salvar suas irmãs da maldição, ao menos precisava manter sua família viva. Mesmo elas podendo se cuidar, Stiles era um caso a parte, quanto tempo ele duraria?

— Eu amo seu irmão. - Derek foi direto, tais palavras atingindo Scott como um soco. - Se eu morrer, diga a todos que eu o mantive refém, comigo morto, nada mais o manterá preso a esta vida no mar. 

Derek se levantou e já estava caminhando para o convés superior quando a voz do prisioneiro chegou a si, o fazendo parar de andar e fitar o rapaz sobre o ombro.

— Está enganado, Hale. - Scott fechou os olhos, conhecia a teimosia do irmão. - Ele ama o mar, e mesmo se você morresse, infelizmente não conseguiria o tirar daqui. - desviou o olhar. - Pois o mar seria a única lembrança que você deixaria de si mesmo.

Scott então decidiu ficar quieto, já havia dito tudo que deveria. Toda proximidade que havia visto mais cedo fazia sentido, o sentimento seria recíproco? Não era como se fosse relevante àquela altura.

De olhos fechados, assimilava tudo que ouvira. Laura Hale queria o usar como moeda de troca caso seu irmão fosse capturado, já Derek Hale planejava o usar para redimir seu irmão. Mas no fim, Scott tomara sua decisão. Independente do que dissera ao Hale, independente do que Stiles quisesse, levaria seu irmão de volta para casa.