Imperfeito escrita por Lyn Black


Capítulo 4
Diálogos


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores queridos!
Meus agradecimentos vão para todas as pessoas que estão acompanhando essa história.
Espero que gostem do capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.
Desculpem-me por qualquer errinho gramatical. Faço meu máximo para que eles passem bem longe da história hahaha.
Sem mais delongas,
Boa Leitura!



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Diálogos

Enquanto picava as pétalas da Moonlight Fiore, flor de origem italiana necessária para a realização do Veneno Verdan, Lilian se lembrava do efeito do nascer do Sol nas águas do Lago Negro, fenômeno que presenciara devido a sua falta de sono.  As cores se misturaram, e uma dança de essências começou. Luna também teve a chance de observar os sereianos agitados realizando o que parecia ser um ritual. Eles eram misteriosos, e aquilo atiçava a curiosidade da garota. As cores do líquido dentro do caldeirão de cobre fizeram-na se lembrar do evento.

Seus movimentos eram automáticos, como se estivessem programados. Ela apenas continuava a cortar a flor e a colocar os pedaços das pétalas numa pequena bacia. Esta continha o Extrativo de Coloração preparado por Eridanus, e tomando o cuidado de prensar a cada minuto a mistura setes vezes seguidas, Lily pensava também no Verdan. Haviam sido informados que ele induzia a uma espécie de deterioração das células do corpo humano. O professor não havia sido muito específico.  

Ao longo dos anos, ela aprendera a controlar o sono que lhe abatia após noites onde dormia pouco mais de três horas. Entretanto, ela não precisou domar a vontade de fechar os olhos quando adentrou a Sala das Poções. Os cheiros, as fumaças que saiam dos caldeirões e todo o ambiente metálico, eram como uma droga para Lily, que a despertava. E ela era viciada nela.

A aula avançada ministrada por Edmundo Viscot seria assistida por apenas cinco alunos selecionados minuciosamente para o programa intensivo. Uma sonserina, uma grifinória, dois ravenclaws e uma hufflepuff. Uma vez que tão poucos alunos tinham o necessário para fazer as aulas avançadas e apenas Poções Básicas havia se tornado uma exigência comum para a maioria das profissões, o grupo excepcional teria aulas separadas.

Para Lily, as classes deixariam de ser tão abrangentes e pouco proveitosas. Não era mentira que antes, devido à falta de vontade de muitos estudantes, as aulas não rendiam tanto. Entretanto, a turma formada por Lily Potter, Eridanus Goldestein, Alexia Deschanel, Verena Rookwood e Henriette Fortescue tinha condições de acompanhar a proposta do curso.

Embora fosse considerado controverso ensinar a realização de um tão perigoso veneno, o Professor Viscot acreditava que seria interessante vê-los tentar fazer a desconhecida poção. Ele apenas escreveu as instruções no quadro. Era uma primeira aula e queria ver como os aprendizes se sairiam. Era impossível que qualquer um deles conseguisse reproduzir a poção, por mais talentoso que fosse. Era uma prova de limites, ele pensou. Até onde eles chegariam.

Estava terminando de explicar o que queria da turma quando foi interrompido por um patrono. O gato era uma das muitas formas que representava a Diretora Minerva Mcgonnagal.  Ele era convocado com urgência. Levemente decepcionado por ter de cancelar a aula, falou:

 – Lamento meus caros, mas como escutaram tenho de ir. Podem considerar que estão dispensados. – disse enquanto pegava alguns frascos de dentro de um estojo de prata e os guardava no bolso interno da capa.

 – Um momento, professor. – quem falou foi a grifinória Verena Rookwood. – Podemos ficar aqui e preparar a poção. São três períodos de aula, acredito que nesse meio tempo já tenha regressado. – propôs convicta.

 – Terminantemente não, Srta. Rookwood. Caso não tenha me escutado, esse veneno é muito arriscado de se preparar. Caso aconteça qualquer incidente, um bruxo treinado deve estar aqui para resolver o problema. – e saiu andando com a capa cinza fazendo-lhe sombra.

Os estudantes se entreolharam desanimados. A sonserina, entretanto, parecia apática em relação aos outros. Anotava as instruções em um caderno sem pauta com muita atenção. Olhando bem, não era uma caneta em sua mão? Embora parecesse bem concentrada, quando escutou as cadeiras se arrastando, deu um salto da sua bancada que fez com que os outros parassem. Um sorriso de lado surgiu em seu rosto e ela levantou-se. Os quatro colegas pararam e olharam mais atentamente para a Potter, que logo começou a falar.

 – Não vejo problemas em fazer o Verdan se o prepararmos juntos. É um risco quando cinco caldeirões diferentes estão sendo usados, principalmente por causa dos ingredientes necessários. Alguns elementos em contato nos momentos errados podem ter consequências desastrosas. Acontecem acidentes, é verdade, são dezesseis etapas diferentes, que precisam ser realizadas com intervalos quase nulos, e é necessária vigilância constante quanto ao preparo. Podem ver que é necessária à feitura de outras poções, bem costumeiras, para a realização do Verdan. Mas não há padrão exato para esse veneno.  Não veem? E é exatamente por isso que apenas se nós cinco o fizermos juntos, conseguiremos o excepcional. – falou com uma ponta de orgulho.

 – Acho que você não escutou o que Viscot disse; Potter. Terminantemente, não. – apontou Goldestein. Recebeu apenas um revirar de olhos da ruiva que se aproximou dos outros alunos. Verena rapidamente acenou com a cabeça em apoio a sua ideia. Henriette, uma simpática garota de Hufflepuff, pareceu considerar, mas não estava muito convencida.

 – Isso seria contra as regras, Lilian. Não quero perder pontos para a minha casa. – objetou Deschanel. Logo continuou. – Entretanto, será muito difícil conseguir esses materiais por conta própria e o professor adiará essa aula devido ao cronograma. Podemos tentar. – e foi até a ruiva.

Eridanus ainda mantinha um pouco de resistência. Henriette e Verena trocaram olhares e seguiram para a sala-anexo e depois para bancada de Lily, a fim de começarem a separar os elementos primordiais.  Era uma poção muito complicada e apenas um Mestre poderia realiza-la com perfeição. Mas, talvez dividindo os processos e se atendo a todos os detalhes, eles tivessem sucesso.

A manhã daquele primeiro sábado em Hogwarts foi agitada na velha Sala de Poções.  Gritos de um lado para o outro, instruções sendo revisadas e muita tensão. Parecia um teste de fogo e eles queriam um resultado exemplar. Era uma estrutura complicada a do veneno, pois necessitava de outras poções para chegar ao seu produto final. Por sorte, todos ali estavam habituados à preparação das mesmas e sabiam os procedimentos de cor. 

Eram confusas as orientações. Pegaram um grande caldeirão de cobre para preparar o veneno em si, e o colocaram na bancada central. Tinha sincronia, a equipe estava fazendo um bom trabalho, mas era estressante, não podiam negar. Separadamente já haviam trabalhado juntos, mas os cinco fazendo aquilo como uma só mão era algo novo.

Verena ficara encarregada de selecionar os melhores ingredientes (tinha um olfato apurado muito útil), de transportar as poções de um lado para o outro e de medir as quantidades das misturas. Lily tinha em mãos a responsabilidade de ir montando o veneno. Frascos iam chegando e ela tinha de ir os colocando no momento certo, dando as voltas sem erros, pois se errasse, o trabalho estaria perdido. Henriette e Eridanus estavam fazendo as poções adjacentes que por mais costumeiras que fossem ainda davam certo trabalho. Alexia estava ajudando na realização das outras poções, ao cortar as raízes e encontrar as melhores formas de extrair os sulcos. Por estar acostumada a ser dupla de Lily na aula, participava da feitura direta do Verdan, que precisava de atenção redobrada na sequência dos ingredientes que eram misturados com as outras poções.

O tempo foi passando e podemos voltar para o momento onde Lily começava a cozedura das amassadas pétalas de Moonlight. Já estava chegando a hora do almoço e provavelmente alguém daria falta dos cinco. Por cima das fumaças coloridas, Henriette falou:

 – Praticamente terminei a última poção necessária, só tenho de deixa-la cozinhando por uma hora. É melhor irmos almoçar. Posso ir primeiro, comerei rapidamente e depois, alguém vai indo. – os outros balançaram a cabeça afirmativamente. O suor escorria nas testas dos alunos. E os cabelos, de Verena principalmente, estavam bem armados devido aos vapores. Não havia como negar de onde eles haviam saído.

Lilian a olhou de soslaio para os outros e abaixou o fogo onde preparava umas das últimas partes da poção. Cruzou as bancadas e olhou a hufflepuff.

 – Espere. Não de parecer que está apressada. Se alguém lhe questionar invente uma desculpa boa. – ela olhou em volta e sorriu. – Diga que vai se encontrar com Rookwood para algum trabalho. Ela é mais próxima de você aqui. – parou um momento enquanto analisava a situação. - O veneno tem de descansar por trinta minutos antes da última etapa, então tirarei esse tempo para almoçar e aproveitarei para pegar um livro necessário para terminar a poção. Pegue uma rota pouca usada. – aconselhou, em seu um tom mais ameno.

— Está bem, Lilian. Mas temos um problema. Nós cinco ficamos aqui por tanto tempo que os aromas estão impregnados nas nossas pessoas. Eu já tentei antes e não há feitiço que elimine isso que não seja um bom banho. Os alunos podem não saber, mas todos no palanque devem ter ciência que a aula foi cancelada no seu começo.  – falou aflita. Verena pareceu receosa assim como Eridanus.

Alexia se limitou a rir um tanto.

 – Bem, bem. Damos um jeito. – a loira tirou da bolsa que havia carregado para a sala um frasco de perfume. – Passe um pouco, o cheiro é tão forte que mascarará. Mas esperem um segundo. Pergunto-me agora o que faremos com esse veneno quando ele estiver pronto. São completamente ilegais as nossas atividades, além de não terem propósito definido.

Eridanus levantou-se da bancada após encher um frasco transparente com um líquido magenta. Olhou para as garotas com a tez enrugada e com as sobrancelhas fincadas.

 – Por que acham que Viscot queria fizéssemos esse veneno? Comprovamos que são necessárias cinco pessoas para tentar concluir o Verdan. Seria impossível de conseguir faze-lo sozinhos. Ele nunca deve ter contado que avançaríamos com a poção. Podemos ser descobertos. Espanto-me que ninguém tenha vindo para esses lados ainda. Mas o que faremos com ela? Eu não quero envenenar ninguém. – e deu de ombros enquanto se afastava para a outra saleta.

Lilian voltou a sua atenção para o caldeirão de cobre.

 – Vá logo, Fortescue. Resolvemos isso depois, certo?

E assim os quatro continuaram a trabalhar. De quando em quando, enquanto picava ingredientes, Verena resmungava sobre o quanto aquela fumaça fazer mal para o cabelo dela. O comentário provocava risos em Alexia, caras incrédulas de Eridanus e comentários provocativos de Lily.

Era verdade, a mais pura verdade. Naquela sala abafada de poções, Lily Potter esqueceu o quanto mal dormira na noite passada. Acho que era porque ela se sentia descontraída ao redor daqueles estranhos. Tão peculiares como ela. Descobrira recentemente que quantidade não é qualidade. Seria estorvo junto aos aspirantes à pocionistas. Mas quem sabe fosse bom para ela.

—--

Era mais ou menos três horas da tarde quando os cinco estudantes começaram a se reunir ao redor da mesa. Uma jovem de cabelos aloirados se inclinava sob a bancada, olhando o conteúdo que estava no caldeirão. Inclinou-se mais um pouco e inspirou a fumaça que saia do recipiente.

 – Ei, Deschanel, não que eu me preocupe, mas isso aí é fatal. Não queremos ter de nos explicar para ninguém se você começar a passar mal. – comentou uma garota de cabelos pretos e de olhos castanhos. Verena Rookwood tinha acabado de chegar. Fechou a porta com cuidado e a trancou com um feitiço. A loira revirou os olhos e se afastou da bancada.

 – Tem um cheiro agradável, parecido com velas derretendo e praia. – comentou.  A morena sentiu a curiosidade arder, mas se conteve. Dependendo da poção, apenas a fumaça que saia poderia ser prejudicial.

Num dos cantos da sala, Henriette juntava os ingredientes remanescentes. Enquanto isso Eridanus estava limpando os outros caldeirões e as bancadas. A menina da casa do texugo parou por um momento e virou-se.

 – Onde a Lilian foi afinal? – os outros deram os ombros e se voltaram para as suas atividades. Não tinham ideia. Potter saíra sem dar explicações para ninguém, apenas avisando que logo estaria de volta. Para a Fortescue aquilo era o cúmulo. Principalmente, pois os outros não achavam nada demais. Enquanto juntava as asas de fadas mordentes num pote de cristal, observou pelo canto do olho Deschanel abandonar a bancada e começar a folhear o livro que estava ao lado do caldeirão. Viu nitidamente um vinco aparecer entre as sobrancelhas de Alexia.

 – Ela pegou esse livro, não? Está em italiano. Conclusioni Per Veleni. É de Ambrogio Lunardelli. Significa Conclusões Para Venenos.  – comentou a ravenclaw. Enquanto mexia no antigo livro, lembrou-se de uma aula de feitiços do último ano. Aprendeu que a maioria das poções precisava de um feitiço de finalização. Eles são cargas de palavras, histórias, runas e tons que conduzem a magia e embora não sejam considerados essenciais para a arte das poções, sem eles não há florescimento ou ligação das misturas.  Alexia continuou a folhear o livro, sendo observada pelos outros. – Estranho... O Verdan não está na lista. Lunardelli é um gênio, ele sabe todos os venenos, ou pelo menos um dia soube, já que parece que se esqueceu deste. Deve ter sido por isso que ela saiu.  – concluiu. Lily Potter tinha a certeza de que naquele livro em especial estaria tudo necessário para terminar a poção. No entanto se enganara.

Eridanus se aproximou da mesa e pegou o exemplar.

 – Eu não tinha ideia de que Hogwarts tinha um exemplar dele. É um mestre talentoso, mas controverso. Não é como se as pessoas confiassem num velho aficionado por venenos. – passou a mão na capa, quase que hipnotizado, o que gerou risos em Verena que o observava.

Ela se preparava para fazer um jocoso comentário, mas logo fez silêncio ao escutar os barulhos do lado de fora. Eles haviam colocado um feitiço de silêncio na sala, mas feitiços perdem o seu efeito. Henriette aproximou-se dos outros quando viu a maçaneta girar. Uma figura encapuzada entrou. Para o alívio deles, logo baixou o capuz. Retirou e colocou a capa azul numa cadeira próxima. Era Lilian Potter. Sua pressa e agitação eram tanta que nem parou para rir das faces dos colegas. Não deu tempo para questionamentos e começou a falar:

 – Bem, vamos ter de enfrascar a poção assim mesmo. Um feitiço que não é próprio para a mesma pode ser prejudicial. Além disso, são raras, mas algumas poções não precisam dessa conclusão. Quem sabe os feitiços que usamos nas poções adjacentes, em reação sejam o necessário. – aproximou-se do caldeirão que ainda estava sendo aquecido a fogo baixo. Com a varinha o desligou. Alexia pegou frascos e uma concha.

Começou a enchê-los com muito cuidado. Logo tinha os dois recipientes repletos de um líquido de cor bela. Esverdeado, mas com toques de ouro.  Lilian, mais do que os demais, ficou encantada pela cor. Era como se a grama houvesse se convertido em água e os raios do Sol estivessem tocando a sua superfície. Como um sonho esquecido em sua memoria. Como uma lembrança apagada que reaparece em sua mente preocupada.

Alexia esvaziou todo o recipiente de cobre. Após fechar os frascos, pronunciou um feitiço que extinguiu o que restava da poção no caldeirão. Os vidros delicados estavam abrigando algo mortal. É claro, não tinham total certeza de que a poção estava perfeita, mas a descrição que Viscot dera batia com o que haviam produzido. E, quanto ao feitiço final, este geralmente era dado junto às instruções. Quem sabe, o que Lily falou era verdade e o veneno era uma exceção.

Henriette deu um pequeno sorriso e bateu palmas, animada.

— Bem, conseguimos! Uma gota poderia matar a todos nós. – falou enquanto se agachava para olhar melhor a poção. Divertida falou que ele poderia ser confundido com algum tônico.

Verena pegou um dos frascos e após segura-lo por alguns segundos, colocou-o bem longe de si.  

— O que faremos agora? Quem vai ficar com eles? – perguntou ao mesmo tempo em que um semblante preocupado começava a aparecer em sua face.

Lilian os olhou com confusão. Ela não entendia aquela gente. O que desejavam? Jogar fora o trabalho deles? Que assim fosse se não houvesse solução. Eridanus pegou um dos frascos e o segurou com firmeza.

— Eu não irei jogar o meu trabalho pelo ralo. Mesmo que não seja permitido, podemos guarda-lo. Eu nunca li sobre esse veneno. Deve haver muito para se descobrir sobre ele. Poderíamos estuda-lo. – propôs com um brilho nos olhos. Lilian aprovou a atitude. Era um veneno, mas se fosse guardado com segurança, não faria mal a ninguém. 

Pegou um frasco e o guardou na sua maleta de poções. Todos tinham uma, na verdade. Fora exigida para o curso daquele ano. Pelo menos não fora um completo desperdício de galeões; havia coisas uteis na mala. Os quatro a olhavam não muito felizes.

— Então, quem fica com o outro? – perguntou fingindo que não via as expressões deles pela sua atitude. Uma vez que ninguém se prestou a respondê-la, percebeu que aquelas pessoas não agiriam como os seus antigos amigos.  – Estou lhes fazendo um favor ao ficar com um. Vamos lá, ele estará em segurança em minhas mãos. – os colegas olharam para baixo, pensativos.

Novamente, todos continuaram calados. Quem se mexeu primeiro foi Eridanus. Pegou o vidro restante e colocou-o apressado no seu bolso. Sem olhar para elas, fechou o kit de instrumentos, e tencionou sair da sala. Verena abriu a boca para falar algo, mas Lilian levantou a mão em um gesto para ela se calar.  Após alguns momentos as garotas perderam a sombra do garoto.

— Não se preocupem, eu reponho os ingredientes mais caros. – falou Deschanel. Apresentava-se com indiferença, e Lilian semicerrou os olhos tentando descobrir o motivo de tal postura. – Vemo-nos em alguma aula, meninas. – e saiu andando.

Quanto às outras, foram terminar de guardar as coisas. De vez em quando trocavam algumas palavras sobre os lugares onde deveriam colocar os ingredientes, nada muito importante. Lilian olhou para as duas que estavam se comunicando aos sussurros.

Vendo que elas tinham em mãos o que restava para organizar, pegou a sua capa, e colocou-a sob o corpo miúdo. Era baixa, mas isso não interferia quando desejava impor autoridade. Antes de sair, porém, se virou para as duas meninas. Temiam ser pegas, era apenas isso. E se achassem que queriam envenenar alguém, escutou-as falar aflitas. O peso até havia tentando entrar em seu coração, mas conseguiu repeli-lo.

— Verena, Henriette. – chamou-as, sem se virar. - Essa é uma poção como outra qualquer, entendem? Apenas está bem além do nível usual de Hogwarts. Poderemos estuda-la, juntos. Por ser um veneno, ele é ainda mais interessante academicamente. Eu reporei todo o resto dos materiais. Fiquem tranquilas. Foi um sucesso. – já estava fora da sala quando escutou a voz de Fortescue a respondendo.

— Contanto que esteja em nossas mãos, não teremos nada a temer. Temos de fazer isso novamente, foi uma boa experiência.

Lilian balançou a cabeça e virou-se um tanto. Sorriu para as duas por um momento e, logo retomou o passo. Andou pelos corredores tranquilamente. Era sábado, não tinha aulas, não tinha compromissos. Definitivamente, ela iria de imediato para o Salão Comunal. Um banho cairia bem. Muito bem.

—--

Fora um engano de Lilian Potter pensar que iria direto para a Casa de Slytherin. Encontrara em meio às masmorras, Catarina Dippet, uma primeiranista da grifinória, perdida. Compadecida pelo estado da garota, que estava tão pálida quanto um fantasma, acompanhou-a até o Grande Salão. A menina tinha os olhos vermelhos de choro, e embora a maioria das pessoas de sua casa fossem a ignorar, isso se não atormentassem a menina, achou melhor ajuda-la. É claro, tratara de ralhar durante boa parte do caminho com a grifinória por estar naqueles cantos. Gostaria de falar para a criança que não isso não a tornava covarde, que todos tinham medos, mas não o fez. Era uma muralha inabalável, a Lily Potter.

A sua semana de escola apenas passaria a terminar quando aquela aula em especial se encerrasse. Embora não admitisse, estava cansada. Principalmente pelas dúvidas que teimavam em sobrevoar a sua mente. Entretanto, ela não participaria daquele clube de absurdos formado por aqueles que durante anos considerou tanto.

Quando entrou no Salão, já estava sem a capa e o seu cabelo estava bem preso num rabo de cavalo. Desviou das poltronas, onde alguns alunos mais novos estavam sentados e se dirigiu até o caminho que levava aos dormitórios femininos.

Entrou no quarto e, após trancar a porta atrás de si, correu para o baú de mogno que ficava posicionado junto a sua cama, de onde retirou roupas bem comuns para ficar mais confortável. Ao sentir um arrepio, tratou de separar um suéter azul. O lindo dossel verde claro parecia-lhe um sonho.

Juntou todos os pertences e seguiu para o banheiro ligado ao quarto. Ficou um bom tempo embaixo do chuveiro, pensando na vida, cantarolando baixo algumas músicas e desembaraçando os cachos do seu cabelo. Queria apenas o silêncio que o dormitório que no momento era apenas seu, propiciava.

Quando saiu, se acomodou na grande cama. Olhou ao redor, e viu que deixara a maleta de poções em cima do baú. Depois arranjaria um bom lugar para guardar a poção. Os ombros ficaram tensos quando pensou no que fizera junto a aqueles alunos. Pelo menos estavam no mesmo barco, então ninguém abriria a boca. 

Logo relaxou. Repentinamente olhou para a mesa de cabeceira e pulou da cama. Como era esquecida, pensou. Deixara a sua varinha no banheiro. Andou até lá e pegou-a. Seguiu seu caminho de volta ao dossel e sem tirar os olhos do objeto se jogou na cama. Colocou a varinha em sua frente. Olhava com a testa enrugada para o objeto mágico. Parecia impossível a feitura de algumas magias sem as varinhas. Esses eram os verdadeiros feiticeiros de outrora, ela conjecturou. A varinha os tornava dependentes. Até os onze anos, os jovens bruxos podiam realizar magias involuntárias, acidentais. Quem sabe fosse possível treinar essas emissões, de forma a disciplinar a chama da bruxaria e não ser necessário o uso das varinhas.

Perguntou-se como o Ministério da Magia conseguia rastrear todos os seus passos desde que nascera. Como será que as coisas funcionavam? Quando uma criança bruxa nascia o seu nome aparecia em um livro? Tinha de se lembrar de perguntar isso para a professora de História de Magia. Graças a Merlin já tinha terminado o trabalho de Isla Griffits.

Para uma primeira semana, os professores se mostraram animados até demais. Ainda tinha uma redação de Herbologia para fazer sobre as raras espécies encontradas no Deserto do Atacama. Isso sem contar as práticas de Feitiços, o questionário de Aritmância e as previsões de Astronomia.

Perdida em meio a teias de raciocínio e lógicas intermináveis, Lily se sobressaltou com algumas batidas em sua porta.  Pelo visto teria de guardar o seu veneno outra hora. Levantou-se a abriu uma fresta da mesma. Quem estava parada lá era Provence Nott. Baixa estatura, cabelos loiros e olhos azuis claros. Alguns anos mais nova. Irmã de Aisha, mas muito diferente da mesma. Não era exatamente taciturna, mas parecia muito séria para a idade.

— Pois não? – Lily questionou a garota. Notou o brilho apagado nos olhos da menina e as sardas discretas no rosto. Mal se lembrava da voz dela, na verdade.

— Aisha me pediu para te chamar. – murmurou irritadiça. Não parecia de seu feitio obedecer à irmã. A Potter arqueou uma das sobrancelhas e olhou a terceiranista cruzar os braços. A mais nova com certeza não queria estar ali.

— Eu até poderia lhe fazer de pombo-mensageiro, mas detestava quando tentavam fazer isso comigo. – olhou para a garota que levantara a cabeça e a olhava com expectativa. Retornou para dentro do quarto e calçou um par de sapatilhas amarelas berrantes, as primeiras que viu. Era um presente da sua madrinha, Luna Lovegood, de quem também levava o nome. – Vamos, eu tenho pressa. Ela está no Salão Comunal, imagino.

Apenas esperou um assentimento da caçula Nott, e se virou em direção à saída. Sendo seguida pela menina, abriu a porta da Ala Feminina, e saiu para o Salão Comunal. Lilian, mesmo que não quisesse, sempre chamava atenção. Sua versão relaxada e com aqueles sapatos diferentes causou risos discretos em alguns. Bem, é claro que quando olharam para o seu rosto digno de uma estátua de gelo, calaram-se.

Nott estava rodeada por alguns alunos mais jovens. Estava explicando sobre algo relacionado à Runas Antigas, mas não parecia estar fazendo um bom trabalho.  Potter estranhou o seu comportamento até notar quem estava ao seu lado. Pois Aisha nunca perderia o seu precioso tempo ajudando meros alunos. Ela não faria isso, se Scorpious Malfoy e Alexander Zabini não estivessem ao seu lado. Era uma boa oportunidade para mostrar suas capacitações, Nott provavelmente pensara.

Lilian aproximou-se sorrateira. O primeiro a vê-la foi Malfoy, que sorriu para ela, e acenou. Antes que chegasse perto das lareiras, viu o sonserino se levantar, o que atraiu a atenção de Zabini.

— Hey, Lily. – saudou-a displicente, enquanto se aproximava.

— Scorpius. – disse a garota cordialmente. Ela não se incomodava se algumas pessoas a chamassem por apelidos, mas não retornava o modo de falar.

— Como vai? – ele questionou-a enquanto a mesma se acomodava numa poltrona de couro próxima. A menina mantinha seus lábios retos, mas o amigo do Malfoy, o tal Alexander, reconheceu uma curva sutil, o máximo de sorriso que poderia se conseguir dela em meio ao Salão Comunal.

Ela balançou a cabeça tranquila e falou que estava bem. Não perguntou por ele. Sinal que a conversa era por ora indesejada. Com as mãos repousadas no colo, ela observou a Nott começar a perder a paciência com os mais novos. Parecia que iria começar a apresentar seu repertório de insultos para os amigos da irmã.

— Chamou-me com qual objetivo, Nott? – perguntou, desviando os olhos da cena para a lareira onde chamas esverdeadas dançavam, aquecendo-a.

A morena desviou a sua atenção dos alunos e voltou-a para a figura que casualmente falava com ela. Esperava que a irmã demorasse mais para convencer Lilian Luna. Buscou Provence pelo Salão, encontrando-a próxima, disposta a ver o que acontecia.

— Soube que você vai ser monitora de Runas Antigas. Congratulações, Lily Potter. – falou um tanto amistosa. Mudou a sua posição e lançou uma olhadela feia para os mais novos. – Você poderia ajuda-los, parece que a minha didática não está funcionando. – aquela era uma muito bem oculta referencia às quantas vezes Lily se recusou a ajuda-la nas matérias. Não que Lily se importasse. Era tão simples. Aisha sempre dobrava todos aos seus desejos. Ela não caia na trama. Luna não fazia os deveres alheios. Na melhor das hipóteses, dava uma olhada no trabalho da garota.

Olhando com outros olhos a situação, ou melhor, vendo as feições derrotadas dos colegas mais novos, levantou-se e pegou os papeis que estavam em cima da pequena mesa de carvalho. Suspirou e pegou uma pena. Molhou-a no vidrinho de tinta e fez um círculo. Dentro dele desenhou um símbolo que lembrava um chafariz. Ao redor do círculo, fez pequenos desenhos. Letras estranhas eram o que pareciam.

— Escutem bem, pois não irei repetir. – aquilo chamou a atenção deles, que desanimados se viraram para Lilian. - O alfabeto das runas é extenso. Como vocês estão no começo, além das redações apenas terão de fazer traduções de textos passados por Wildgeon. Peguem o dicionário de runas indicado pela professora na biblioteca e se guiem a partir dele. Não é difícil. – disse devagar. Mostrou a folha para os estudantes mais novos, que fizeram caras estranhas. – Esse é modelo de Gabriela de Andomar. – os alunos mexeram as cabeças em reconhecimento. - As runas comuns, que geralmente eram as conhecidas pela população em geral, ficam fora do círculo. Isso se deve as constantes variações devido às localidades. As excepcionais ficam dentro, pois era norma comum e igual para os privilegiados. Para encontrar esse tipo sugiro O Guia Definitivo das Marcações. Acalmem-se, isso não é um bicho de sete cabeças. – riu suavemente. – Por ora, se contentem com runas sem magia, que não carregam feitiços. São para comunicação e afins. Lembrem-se que para decifrar as inscrições rúnicas, é necessário o modelo, pois externamente haverá o variante linguístico e dentro a essência comum. E, nunca mais peçam para Nott ajuda-los nisso. Se bem me lembro, ela abandonou o curso no primeiro mês.  

Era incrível como os alunos poderiam se assustar com um folha um pouquinho difícil de  decifrar. Aisha a olhou irritadiça, e comentou humorada sobre a desistência de Potter no campo da Adivinhação.  O que gerou risos, puxados por Aisha.

Lily, porém ficou séria quanto foi ressaltada a sua saída da classe.

— Eu não duvido do trabalho de Inomináveis, pessoas competentes do Departamento de Mistérios. – falou orgulhosa enquanto os mais novos se retiraram cochichando. - Apenas não dou crédito para a estabilidade das pessoas. Se não há crença na predeterminação, muitas vezes ela nem acontece. Tomem como exemplo Lorde Voldemort. Se ele não houvesse ficado sabendo da Grande Profecia, tudo teria sido diferente, pois não haveria o Eleito, ou a queda no dia 31. Ele próprio criou um inimigo.  Apenas ele deu o poder necessário para que Harry pudesse o derrotar. – disse com bastante certeza.

Lilian olhou com ares superiores Aisha, que se absteve quanto a responder o pequeno discurso. Tão tola, pensou. Scorpious Malfoy a olhava um tanto perturbado e Zabini mantinha um sorriso sarcástico no rosto. A menina tinha umas ideias cativantes, mas parecia ser uma pessoa complicada.

— Da próxima vez, não ofereça ajuda quando não pode dá-la.  Definitivamente, você é uma perda de tempo. Com licença. Malfoy, Alexander. – despediu-se deles, com a cabeça erguida e um tanto aborrecida. A Nott agia de uma forma que Lily categorizou como completamente desnecessária.

Voltou para o dormitório e encontrou Michelle por lá. A garota redigia uma carta, e levantou os olhos rapidamente para cumprimenta-la. Pelo menos a sua colega de quarto era aceitável, pensou Lily. Estava acostumada a ela. Não eram melhores amigas, mas quando conversam, ficavam horas jogando palavras ao vento. Retirou o suéter e calçou um par de botas. Iria jantar mais cedo hoje.

Foi para o Salão Principal e não o encontrou cheio como de costume. A mesa com mais alunos era a da Hufflepuff e distinguiu os cabelos castanho-claros de Fortescue no meio dos outros. Os alunos da casa de Slytherin costumavam comer mais tarde nos fins de semana. Ainda estava no inicio do banquete. Sentou-se próxima a Caledônia Rosier, uma boa companhia para refeições. Conversaram um pouco sobre o Campeonato Inglês de Quadribol, e Rosier esperou que Lilian terminasse de comer um éclair para juntas, retornarem ao Salão Comunal. A conversa era tranquila. Quando finalmente chagaram, alegando ter de organizar seu cronograma, Lily se retirou.

Quando chegou ao quarto, encontrou a Parkinson colocando a carta que escrevia num envelope. Era interessante que mesmo que aquele fosse seu primeiro sobrenome e os professores não a chamassem assim, houvesse ficado conhecida por ele. Lilian se espantou ao não conseguir se recordar do último sobrenome de Michelle, mas logo deixou o assunto de lado. Não era como se fosse perguntar para ela. 

Disposta a ocupar sua mente com algo extraordinário, agachou-se e começou a vasculhar o que deixara na mala. Nunca colocava tudo no baú. Embaixo de muitas coisas inúteis para o momento, a menina encontrou o exemplar que trouxera consigo. “O Lobo do Mar” de Jack London. Olhou para o livro e decidida, deitou-se na cama, querendo adentrar logo naquele mundo e esquecer o seu cotidiano.

Acho que o cansaço e as exigências daquela semana se acumularam em Lily até chegar ao ponto no qual seus olhos começaram a ver tudo de forma distorcida. Michelle havia acabado de sair do quarto. Comentou algo que Lilian certamente não ouviu. A garota aproveitou aquele momento para se preparar para um sono pesado.

Era outono, então uma temperatura um pouco mais fria do que o usual começava a tomar lugar nas masmorras. Enrolada em cobertas, Luna caiu no sono quase imediatamente. Só deu tempo de empurrar o exemplar para a cabeceira e de desligar o abajur prateado, pois finalmente conseguia imergir numa terra escura, de sono sem sonhos, onde poderia repor todas as energias necessárias. Lilian não pensou na natureza, como de costume, quando sua cabeça afundou no travesseiro de plumas de ganso.

A última coisa que veio a sua mente antes de cair de sono foi uma imagem sem foco. Parecia que uma magia estava acontecendo. A essência de cada pedaço do mundo pareceu soltar-se e, enfim juntar-se nos olhos de alguém. Eram brancos. Quem os possuía não enxergava nada. Mas via tudo. Cabelos negros como corvos. A pele tão pálida quanto à neve. Lembrava-a de um conto trouxa, que nunca gostara muito. A mulher rodopiava ao redor de uma grande fogueira. Talvez aquele fosse um dos prenúncios que a Potter não acreditava. Para ela, não passava de um começo, quem sabe, para o livro que queria um dia escrever.   


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Notas finais do capítulo

Olá novamente!
Espero que tenham gostado do capítulo.
Se quiserem, compartilhem suas impressões sobre a história naquele espaço abaixo. Ficarei feliz em te responder.
Até o próximo capítulo,
Bjs
Lyn



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