Imperfeito escrita por Lyn Black


Capítulo 3
Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, quero desejar um 2016 maravilhoso para todos!
Em segundo lugar, desculpem-me pela demora! Com essas festas de fim de ano acabei me enrolando, principalmente porque viajei. Entretanto, fiz um capítulo grandinho, então espero que compense.
Gostaria de agradecer a todos que estão me acompanhando e as três pessoinhas adoráveis que comentaram no último capítulo: LuMaia, AnnaRose Black e Karen Dayara, MUITO obrigada pelo apoio!
Em terceiro lugar, gostaria de notificar uma pequena mudança na história. Dominique Delacour será entre 2-3 anos mais velha que a Lilian, o que significa, que ela terá 19 anos e Lily terá 16 anos.
Espero que gostem,
Boa Leitura!



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Estrelas

Pergaminho após pergaminho foi desenrolado, medido e, com um pequeno toque da varinha de cedro posicionado exatamente em frente da bruxa. Após sentar-se na cadeira com estofado da cor azul, retirar da maleta de couro algumas penas e um pequeno vidro de tinta preta- ébano, Lilian apenas parou de escrever em breves momentos nos quais molhou rapidamente a pena, de uma forma tão apressada que às vezes tinha de molhar novamente, pois a tinta não havia penetrado na ponta do delicado utensílio.

Encurvada e com os calos nas mãos avermelhados, não podemos dizer que ela reclamava tanto assim da dor nas costas devido à posição desconfortável, pois lhe era um deleite escrever e pesquisar, por maior o trabalho que fosse. O relógio que quando olhara pela primeira vez marcava o número sete, agora quase se encostava ao número doze. Sentada no fundo da biblioteca, perto a uma prateleira repleta de livros sobre a magia nos povos celtas, a pena arranhava o papel produzindo um som irritante, mas não alto o suficiente para que a bibliotecária, Madame Evan, houvesse notado que alguém ainda estava dentro da ampla sala. Também, não podemos culpar a senhora que tinha problemas de surdez.

No momento em que Lily deixou de viver o fim de um dia para se renovar com o começo de outro, estava terminando de dissertar as mudanças que Loreta Sillian havia feito em Hogwarts. Aquele havia sido mais um dos trabalhos de História da Magia que a nova professora, Isla Griffiths, havia pedido que fizessem.

Todos deveriam escolher um ex-diretor da escola e pesquisar quais as diferenças que eles haviam feito e quais "escolas de pensamento" eles haviam inserido em Hogwarts. No começo, julgara que fosse um trabalho próprio para os secundaristas, até encontrar a história de uma das poucas mulheres na grande lista de diretores. A partir daquele momento começou a compreender a obscuridade da relação entre o Ministério e o Diretório, que muitas vezes conflitava com os interesses do governo. A traidora de sangue que a muito custo chegara naquele cargo ficara famosa por isso.

Em meio a uma das muitas linhas que adornavam a bela conclusão do texto, Lily parou por um breve momento. Quando tencionou levantar da cadeira para buscar algum outro artigo sobre a L'Association Gargouille , organização liderada pela ex-diretora de Hogwarts, que estreitou as relações entre os bruxos e os sereianos, escutou um clique e as luzes se apagaram.

Entretanto, diferente de muitos, que se desesperariam, a garota apenas suspirou e fez um feitiço não verbal que fez surgir pequenos pontos de luz azulada ao seu redor. Caminhou apressada até a porta que estava trancada por algo bem mais poderoso do que um Colloportus e olhou pela vidraçaria se alguém vinha. Sorrindo com a possibilidade que se apresentava, andou até onde deixara os muitos pergaminhos prontos e as tantas penas usadas e com um encantamento, tudo estava dentro da mala.

Presa na biblioteca, Lily fez o que sempre ansiara, mas nunca conseguira permissão. Parecia, ao menos tinha essa impressão, que o seu pai temia que ela se desvirtuasse do "caminho da luz" e aderisse ao lado das trevas e, dessa forma, teria persuadido os professores para que se esforçassem em mantê-la longe de qualquer artigo relacionado às artes das trevas. Ela achava que aquilo beirava ao ridículo, mas era uma hipótese. 

Enquanto pensava sobre a atitude do pai, a slytherin concluiu que assim como nem toda serpente prezava pelo que Potter dizia acreditar, nem todo leão honrava os ditos e as proclamações de sua casa. Entretanto, ela logo percebeu que havia um erro gritante e atormentador nessa afirmação. Ser do lado da “luz” ou do das “trevas” não estava ligado a casas de Hogwarts. Era uma escolha pessoal e nunca fora um dos requisitos de sua casa ser um simpatizante de magias escuras. Frustrada com os estigmas impostos pela sociedade bruxa-inglesa, Lilian destrancou a porta da seção reservada com uma facilidade preocupante.

Após transfigurar um dos suportes de leitura em uma vela “fogo-aceso”, um fogo que aquece, mas não queima, começou a analisar as prateleiras. Aquela oportunidade era preciosa. Selecionou um volume de tamanho médio, quinhentas páginas, para passar a noite. O livro parecia mais pesado do que julgara com um breve olhar. Sua capa dura tinha a cor desbotada e o título, em letras douradas, se desfazia tornando apenas o final do mesmo visível. Após começar a folhear a obra, tomou-a como uma leitura interessante, principalmente, pois parecia se situar no começo daquela era, justamente os tempos de ascensão de ramos das magias obscuras. A lombada do livro e suas folhas de material pouco resistente comprovavam que ela estava com uma antiguidade nas mãos.

Folheando as páginas, ela poucas vezes tirou os olhos das letras, apenas quando bocejou longamente. Porém, a jovem estudante sabia que quando o Sol aparecesse por entre as árvores e os campos de Hogwarts, iluminando com seus raios a sua pele e tornando os seus olhos um castanho tão intenso como o dos troncos da floresta, ela colocaria em si mesma um feitiço de desilusão e esperaria pacientemente a bibliotecária abrir novamente a porta envidraçada, para sair. Sorte de Lily que Evan chegava de madrugada.

Não foi muito difícil mascarar as olheiras que estavam em seu rosto e fazer parecer que tivera uma excelente noite de sono nos dormitórios luxuosos da sua estimada Slytherin. Entretanto, antes de sair da biblioteca, não resistiu e puxou o antigo livro para a sua mala de couro de dragão.

Andou pelos corredores até uma das costumeiras rotas traçadas pelos slytherins para chegar ao Grande Salão e, depois de tirar o feitiço de desilusão, seguiu pelo mesmo como se não houvesse nada de errado. No fundo, contava com a descrição de seus colegas, caso alguém houvesse notado o seu sumiço. Não se metiam nos assuntos alheios enquanto eles não os afetassem. Para o bem ou para o mal, ela era respeitada dentro da casa e aparentemente ninguém se atreveria a desafia-la tão cedo. Morava num ninho de cobras, onde a sua faceta mais dispersa entre as mentes era a da ave que se alimenta de serpentes.

—---

Quando entrou no Salão Principal, Lilian Potter atraiu diversos olhares. Com um sorriso singelo no rosto, dirigido para quem a olhasse, ela andou distraidamente até a mesa com a toalha verde escura. Durante seu trajeto, a jovem conseguia enxergar curiosidade em muitos dos colegas que descaradamente ou mesmo que pelo canto dos olhos a observavam.

Lily sempre fora a garota simpática com suas belas amizades da Slytherin. A súbita separação dos amigos tinha sido encarada como um fato estranho. Na verdade, aquela era a palavra que as bocas fofoqueiras de Hogwarts haviam considerado mais propícia. Pois era estranho que o grupo houvesse rompido por parte de Lilian Luna, uma situação muito inesperada.

Dos muitos olhos que observaram a slytherin entrar, vários possuíam como donos pessoas da mesa que ela própria se dirigia. Entretanto, os que mais chamaram atenção da garota, foram duas safiras que a olhavam com expectativa e com uma pontada discreta de resignação.

O rosto da filha de Theodore Nott poderia ser considerado angelical, como se com uma aura pueril o cercando. Havia um ar juvenil nela, como se os problemas não a atingissem. O pequeno nariz arrebitado formava em conjunto com os lábios em formato de coração, feições belas. Os cabelos eram escuros e lisos. Por muito tempo, as pessoas acreditavam que ela e a Potter tinham uma amizade relativamente forte. Entretanto, aquele ano parecia estar repleto de surpresas.

Luna sentou-se num lugar vago no meio da mesa e, antes mesmo de dar a primeira garfada no belo ovo mexido com torradas e mel que colocara apressada em seu prato, foi interrompida por um homem que se apressou da mesa dos professores em sua direção. Com os cabelos escuros arrepiados e os olhos marrons brilhantes, ele se parecia bastante com o pai deles, embora puxasse mais o avô paterno.

— Lily, minha irmã, - falou com um toque quase imperceptível de ironia - como tem sido sua primeira semana de aulas? – perguntou divertido enquanto se sentava sem-cerimônias em sua frente. – Mamãe enviou-me uma carta e disse que você ainda não mandou noticias. O que lhe custa, Lilian?

Ela o olhou por cima da vidraria que guardava água quente para chá, concentrada demais como se estivesse medindo qual seria a melhor resposta. Para os ouvintes, aquela era uma pergunta retórica, mas ela sentia o deboche que era direcionado à sua pessoa.

— A minha semana tem sido bastante corrida, Sirius, obrigada por perguntar. Pode parecer indelicadeza não mandar cartas para Ginny, mas seria uma falta de senso ainda maior manda-las. – ela fez uma pequena pausa para pegar uma maça de uma das bacias folheadas a ouro. - Agora, fale logo o que veio fazer aqui. Alguma mensagem para mim? – ela bebericou a xícara que tratou de encher enquanto falava com o irmão mais velho.

Após começarem a conversar baixo, com expressões que não mostravam que alguma confusão agraciaria o café-da-manhã, os alunos retomaram aos seus próprios diálogos, embora de vez em quando algum espichasse a cabeça para ver como os dois estavam indo.

James Sirius Potter bufou levemente e revirou os olhos, mesmo que mantivesse um sorriso no rosto. Lilian por muito tempo fora a sua pequena e indefesa irmã mais nova. Depois que a menina de cabelos pouco ruivos entrou em Hogwarts, ele mudou suas concepções. Ela começara a agir como uma ardilosa sonserina e renegara tudo que aprendera. Ele mal a reconhecia.

James nunca entendera como ela conseguia adivinhar os seus objetivos. Lentamente ele tirou um pequeno pedaço de pergaminho do bolso. Enrolado e preso por uma fita azul, ela arqueou uma sobrancelha quando pegou o papel das mãos do irmão, e o guardou dentro da bolsa que James não notou que estava ao lado dela.

— Não está curiosa, Lilian? Ah, e a propósito, espero te ver hoje na aula de Defesas. Não se atrase. – a garota deu um sorriso irônico, e pensou em como eram interessante os feitiços e contrafeitiços. Ainda gostaria de descobrir a verdade por trás de como eles reagiam. Isso era fato: Lily Potter queria compreender os motivos para tudo. Curiosa como os pais, quando somada a sua ambição, formava um quadro especial. É claro que a garota esperaria para ler o pergaminho depois, longe das vistas do irmão. Pelo visto fazia parte do programa de estágio ser um mensageiro dos professores em geral.

Em silêncio, ela começou a realizar a sua refeição. De vez em quando parava e percorria os olhos pelo Salão, desinteressada. Por um momento, entretanto, seus olhos se fixaram em algo estranho. Alguém havia se levantado da mesa, com uma irritação que causara certa comoção entre os alunos. Fixou suas íris em Aisha Nott que exaltada virou as costas para o grupo que costumava a rodear e com pouco esforço leu o que os lábios da outra falavam: Ela estava certa em deixar vocês. Todos aqui são completamente hipócritas.

A morena arruivada riu baixo ao escutar alguém rebater, falando que ela estava mais do que incluída no tal grupo de hipocrisias. Escolheu fingir não notar o burburinho que se instalara. Ela acreditava que era tudo organizado para que as confusões ocorressem sempre no auge dos cafés-da-manha. Chegava a ser engraçado. Ela já havia protagonizado algumas, até.

A Potter abriu um sorriso discreto, e começou a contar as horas. Levantou e seguiu pelos corredores até a sala de Transfiguração. Era sexta-feira e ela apenas ansiava pelo término da semana. Estava na hora de dar um “Olá!” do seu lado. Esperava que Edelweis, sua coruja de plumas brancas, estivesse bem disposta. As viagens em direção à França não eram tão fáceis assim.

 

—--

 

Os corredores eram longos e revestidos por grandes pedras. Muitos eram iluminados por archotes e vários quadros costumavam estar distribuídos pelas paredes. E aquele não fugia do padrão. O castelo de Hogwarts era rústico, com suas torres e seus imponentes arcos. Dominique já lhe contara que Beauxbatons tinha a forma de um delicado palácio de cristal. Muitos anos antes, quando fora na final da Copa Mundial de Quadribol, no Deserto da Patagônia, conhecera um velho amigo de seus pais, Victor Krum. Ela se lembrava como o homem contara uma história sobre Durmstrang, a grande fortaleza no meio do oceano onde o búlgaro estudara, mas nada a encantava mais do que as acolhedoras lareiras e as assustadoras gárgulas de Hogwarts.

Com O Salgueiro Lutador e A Floresta Proibida, a escola era o seu lar. É claro que em nossas verdadeiras casas passamos por todos os tipos de momentos. Andamos sozinhos pensativos (se houver espaço suficiente) e dançamos sem se preocupar se alguém está nos vendo em nossos lapsos de confiança.

Mesmo que ela tivesse um objetivo, que era chegar à nova sala de Defesas Contra As Artes Das Trevas, Lilian andava distraída, pensando nos fundadores da escola e em como teriam construído o grande castelo. Hogwarts, Uma Historia, fora um exemplar que devorara com louvor, mas nem mesmo a obra de mil páginas sanara as suas dúvidas.

Ás vezes, Lily se pegava pensando o porquê de ter sido escolhida para a Slytherin. Nunca conseguira se definir. Não era covarde, mas não poderia se dizer totalmente corajosa. Era uma garota nota A, sempre sedenta por conhecimento, mas dependendo da situação estabelecia outras prioridades. Embora não fosse paciente, era leal, a pessoa mais leal de toda a Slytherin. E, ambição? Tinha um tanto, era esperta, mas não andava em cima outros, na verdade não se agradava com aquilo. Os fins justificavam os meios, mas ela sempre tomava cuidado com o que escolhia.

Para muitos alunos, não era comum uma garota com o potencial de Lily Potter para ser adorada por todos, negasse toda a devoção. Andar sozinha? Nem mesmo os solitários o faziam. Entretanto, Lilian Luna preferia.

Logo chegou a porta da sala. Um grupo de alunos, tanto ravenclaws quanto slytherins estavam juntos e, surpreendentemente, eles pareciam alegres. As varinhas estavam sendo agitadas e animais de essência perolada estavam os circundando. Ela logo localizou o colega de casa e antigo amigo, Kabir Patil Falk pronunciando “Expecto Patronum”. Da ponta da varinha de araucária, uma madeira um tanto exótica, ela viu crescer uma raposa que deu algumas voltas e correu em sua direção, atraindo olhares. Falk lhe mandou um sorriso e após se encostar-se a uma das pilastras, jogou para o ar, com tom de desafio:

— Lily Potter. É estranho que eu nunca tenha visto o seu patrono. Estamos mostrando nossos guardiões. - ele fez uma pequena pausa que criou uma tensão entre os alunos, principalmente entre alguns de verde e prata que se entreolharam receosos. - Qual a forma do seu? – o moreno de olhos verdes levantou uma sobrancelha sabendo que estava atacando pelo ponto certo. A garota, que não poderia ser chamada nem de morena nem de ruiva, olhou para ele indiferente, mas com a mente procurando a melhor resposta.

Com um sorriso misterioso nos lábios, ela se limitou a pegar a varinha do bolso interno da capa e mexer nela, como se prolongando a revelação de um segredo.

— Como deve saber Kabir, “Expecto Patronum” significa chamar, reclamar o seu guardião. Surpreendentemente para muitos de vocês, eu sigo a corrente de pensamento onde eu sou a guardiã da minha própria pessoa e, de que a ajuda sempre virá para aqueles que forem merecedores. – ela falou calmamente, demonstrando uma tranquilidade e realização que frustrou o garoto. Do que serviria fazer uma afirmação arrasadora se esta não afeta o atacado?

A fala da perfeita Lily Potter foi suficiente para causar faces confusas e intrigadas. Como Potter não tinha uma lembrança feliz o suficiente para realizar o feitiço? Pois atrás do que ela falara, as pessoas concluíram isso. Entretanto, não houve tempo para muitos comentários.

Passou-se menos de um minuto até Nicole Wood chegar pelo corredor, lembrando um velho mestre de poções quando com a varinha em punho fechou as cortinas das janelas, deixando que apenas os archotes iluminassem a região. Porém, apenas isso poderia fazer com que o velho Snape fosse lembrado. Com seus cabelos castanhos claros e sorriso contagiante, a professora era querida pela maioria dos alunos. Entretanto, isso não a fazia menos respeitada, na verdade, com um olhar, todos já haviam entrado na sala e silenciosos se sentado.

Seguindo a mulher, vinha um jovem que mesmo com o porte de atleta, estava se cansando devido à pilha de mais de dez livros grossos que carregava para a Professora Wood. Percorrera todo o castelo carregando o material. Seria mais fácil realizar um feitiço de encolhimento, mas a professora o advertiu sobre os danos que esse tipo de feitiço causava nos exemplares, então não lhe restou opção.

Lily Potter não pode conter um pequeno riso ao ver a situação do irmão mais velho. Era irônico que o pomposo e metido James Potter estivesse, agora, tendo de se esforçar para conseguir o que queria. A primeira aula da matéria começou com uma pequena apresentação.

— Bom tarde a todos! – a Professora Wood falou contente. – Honestamente, o sexto ano é quanto ao conteúdo um dos meus favoritos. Neste período iremos tratar sobre os primórdios das artes das trevas e a influência dos fatores culturais e religiosos para o desenvolvimento das magias que repeliam ou mesmo anulavam os feitiços. Pode parecer um assunto entediante, mas logo entenderão o quanto interessante se dava a criação das magias. É uma época repleta de relatos dos Manus Magicae, o povo que não usava varinhas. – a professora ainda não terminara de falar quando foi interrompida por uma mão estendida no ar.

— Sim, Srta. Nott? – ela deu a fala para a aluna.

— Professora Wood, eu acredito que o desenvolvimento de feitiços seja algo muito interessante, mas qual a sua relação com Defesas Contra as Artes das Trevas? – a professora sorriu-lhe feliz pela oportunidade de fornecer a resposta da pergunta que habitava as mentes de muitos alunos.

— Os Manus Magicae tinham uma peculiar cultura: eles colecionavam animais, como posso dizer... Diferentes. Curiosamente, muitos desses seres eram originários de magias das trevas. Por volta do ano de 97 d. C. – ela olhou para os alunos e um vinco apareceu entre as suas sobrancelhas.

— Não estão anotando? – o comentário movimentou os estudantes que logo escreviam o que ela dizia. - Bem por volta dessa época, Filius Baltazar, a serviço do Mago da Armênia, a Professora Griffits já deve ter comentado sobre ele, entrou em uma busca por seres das trevas. Devido à ordem de leva-los vivos para o excêntrico mago, ele acabou aterrorizando populações. Então, muitos dos Manus Magicae começaram a desenvolver feitiços contra as ameaças. – após dar a explicação, a professora se voltou para o lado e riu de si mesma.

— Quase me esqueci, este ano contaremos com a ajuda de James Sirius Potter, o meu mais novo estagiário. – Nicole Wood olhou brevemente para o ex-aluno que piscou para a turma, recebendo de volta suspiros de vários e olhos sendo revirados por parte de muitos outros.

Entretanto, o olhar de Potter se fixou apenas na irmã mais nova que estava estranhamente concentrada em seu pergaminho, alheia a aula. Ele tentou olhar o que ela tanto rabiscava, mas considerada a distância entre os dois, aquela era uma tarefa complicada.

Lilian Luna Potter não parecia perdida no mundo da lua, no espaço repleto de seus pensamentos cheios de boas vibrações. Naquele momento, a Potter parecia imersa em um oceano tempestuoso e incerto. Era mais do que um fracasso. Era desilusão. Não deveria ser tão difícil produzir um patrono. Ela tinha lembranças incríveis com a família e com os amigos, mas uma sombra estava em todas elas. Todas aquelas pessoas haviam a desapontado de alguma forma. E o seu guardião recusava-se a tomar a forma de um fio de luz.

Entretanto, após perceber o olhar do irmão mais velho e, receando que ele a denunciasse de alguma forma, guardou o pergaminho onde um desenho havia sido feito, no bolso, e retirou outro da mala, onde copiou o que sua dupla, Eridanus Goldestein, um ravenclaw com quem simpatizava, havia escrito.

 

—--

 

Assim que a sineta tocou, a bruxa tratou de guardar seus materiais apressada, e logo saiu desembestada, quase correndo, pelos corredores. Atravessou as escadarias que se movimentavam, com um sorriso no rosto. Apertou o bilhete na mão, com uma ansiedade muito curiosa. Quando abrira o papel, pois quase se esquecera do mesmo, vira que com uma letra um tanto garranchosa, a professora de Runas Antigas havia lhe convocado para uma conversa.

Bateu na porta de mogno três vezes, como costumava fazer antes de entrar na sala de aula. Logo, escutou um “Entre” e segurou a maçaneta. Antes de abri-la, regulou a respiração e colocou a típica máscara de frieza no rosto. Assim que entrou no recinto voltou a fechar a porta, com uma calma invejável.

— Boa tarde, Professora Wildgeon. – a mulher levantou da escrivaninha onde parecia estar escrevendo algo, e foi receber a aluna.

— Boa tarde, Lilian. Posso chamar-lhe assim? – a garota se limitou a acenar positivamente. – Ótimo! Realmente ótimo. Trate-me como preferir, Vivianne ou mesmo Wildgeon. Se nesse ano iremos trabalhar juntas, podemos deixar essas formalidades de lado. Soube que seus pais deram a autorização, o que facilitou muito as coisas.

A slytherin coçou a garganta, pois previu que um monólogo estava se principiando.

— Eu recebi o bilhete onde a senhora disse que precisava organizar os horários. Fico honrada pela oportunidade que me ofereceu. Tenho muito interesse pelo matéria! – a outra apenas sorriu e balançou a cabeça.

— A senhorita é uma das poucas a pensar assim. O assunto que leciono é geralmente taxado de enfadonho e sem uso. – ela riu sem muito humor - O corpo docente em conjunto a escola quer inserir o projeto de monitoria. Uma experiência para os alunos que se sobressaem em alguma disciplina, se assim eles desejarem. – ela andou até uma poltrona de camurça vermelha e a convidou a sentar-se na outra. - A diretoria achou melhor começar com uma matéria, como foi mesmo que se referiram: secundária. 

A Potter estava atenta a cada palavra da professora. Vivianne nunca fora uma mestra muito contagiante, portanto não tinha muita intimidade com os alunos. Entretanto, ela sempre nutrira um apreço especialíssimo pela professora das runas, o que facilitava as coisas.

— De certo estão errados, Professora. Ela é apenas muito mais difícil e complexa, o que leva a falta de interesse por parte de alguns alunos. Quando e como irei começar?

Depois dessa pergunta, as duas sentaram-se para um chá. Vivianne era uma bruxa severa e queria tudo planejado sem erros. No final das contas, a garota apenas saiu da sala na companhia da mestra de Runas Antigas em direção ao Salão Principal, as duas atrasadas para o jantar.

Lilian Potter se despediu da professora com um aperto de mão e um sorriso no rosto. Ficou combinado que ela atenderia as aulas dos terceiro e quarto anos. Basicamente, ela supervisionaria os alunos de uma forma mais próxima. Vivianne explanou que dali um tempo iniciaria um projeto de decifração de alguns livros recém-adquiridos para a biblioteca de Hogwarts. Se não fosse um impedimento para a garota, ela poderia auxilia-la no decorrer das traduções. A perspectiva de um ano ocupado por muitos assuntos instigantes fazia com que ela ficasse extremamente bem-humorada.

Algumas pessoas até desviaram o olhar dos pratos e dos amigos, para observar quem vinha chegando. Apressando o passo para logo chegar até a mesa de Slytherin, Luna sentou-se sem muita cerimônia e tratou de colocar o que lhe apeteceu no seu prato. Em meio a garfadas não muito tímidas, ela foi interpelada por um dos companheiros de casa.

— É verdade, Potter? – uma voz grave perguntou quase provocativa. Quem interrompia o seu jantar era Alexander Zabini. Filho do empreendedor Blaise Zabini, um homem rico e recluso da sociedade bruxa-inglesa, cursava o último ano e poucas vezes conversava longamente com Lilian, isso se não passava direto quando Scorpius parava para falar-lhe algo.

— Qual afirmação eu tenho o poder de desmentir, Francis? – ela perguntou animada enquanto enchia o seu copo com suco de abacaxi. O garoto pareceu não gostar do modo que a sextanista havia se dirigido a ele. Eram poucos que o chamavam pelo segundo nome. Muitos poucos. Na verdade, lhe incomodou o fato de que ela sabia de sua outra denominação. Então, procurando armas no que as bocas fofoqueiras e não muito verídicas de Hogwarts apresentavam, resolveu seguir com o seu propósito.

— Já foi beijada por alguém, Luna querida? – questionou maldoso. – Pelo o que dizem não. – e riu com descaso, sendo recriminado levemente por um ouvinte da conversa, o tal Malfoy, que estava se divertindo à custa dos dois. Eles pareciam gato e rato, era o que achava. Tinha dias que o amigo era educado com Lily. Outras vezes eles a esnobava, ou tentava diminuir a Potter.

— Prefiro tomar a iniciativa, Francis. Agora, deixe-me comer! – e voltou a atenção para o prato de rosbife com arroz com calda de alcaçuz. O outro, vendo que pagaria de bobo ao tentar chamar a atenção dela mais uma vez, levantou-se e seguiu o caminho, logo desvirtuando seus pensamentos para os problemas de família.

 

—--

 

Lilian foi uma das últimas a deixar o Salão Principal. Na verdade, queria forrar o estômago para a noite em claro que já previra que ganharia de presente. Esporadicamente, a Potter sofria de insônia. Com o tempo, se acostumara e passara a sobreviver às noites sem dormir.

Andou calmamente até as masmorras, estranhamente não encontrando ninguém em seu caminho. O Salão comunal, entretanto, estava apilhado de alunos. A maioria estava esparramada nos sofás, conversando e jogando algo. Alguns outros estavam sentados nas mesas de madeira enegrecida, onde aparentemente estudavam, algo que ela julgava ser incapaz de fazer com toda aquela balburdia.

Correu para o seu dormitório, e tão logo tomou um banho relaxante, sentou no dossel que tinha uma bela colcha verde escura. Após tirar do criado-mudo um pergaminho e uma caneta de tinta azul, invenção trouxa que achava mais útil que a pena; uma vez que não havia grandes riscos de derramar tinta na cama, tentando não transformar sua letra em garranchos, redigiu uma carta:

“Minha querida Dominique,

Espero que esteja bem. Li a sua matéria para o Semanário de Poções, e devo lhe parabenizar! Espero que ainda possamos fazer muitos experimentos juntas. Sabe que compartilho de seu amor por poções.

Como vão as coisas na França? Aqui na Inglaterra temos uma situação estável. Se tio Bill assina o Profeta Diário, e você vier a folheá-lo, esteja certa que nem toda a informação é verídica. Sugiro uma revista mais centrada como O Bruxo Trivial. É recente, mas tem uma boa aclamação tanto dos críticos quanto do público.

Deixando as formalidades que me são características de lado, como vai o seu namoro com o tal Romeu de Veneza? Seja completamente sincera, certo? Nossas cartas vão para o fogo, tenha toda a certeza disto. Quanto a mim, acho que deve estar a revirar os olhos para o meu coração, como você disse mesmo... Intocável. Todo ano espero que o amor chegue, mas de nada muda e o tempo passa. Além do mais, de jeito nenhum quero acabar casando com um dos meus colegas de escola, que nem parte de nossa família!

Está gostando do estágio no Laboratório Pierre Dumas? Se desejar escrever páginas descrevendo o lugar, ficarei feliz em lê-las. Aqui em Hogwarts, na verdade, estou em situação diferente da do ano letivo anterior. As questões vão além do posto de monitoria em Runas Antigas que me foi concedido, isso mesmo, pode se alegrar pela minha alegria! Acredito que me esqueci de mencionar isso na minha última carta, e desculpo-me. Sabe como posso ser distraída.

Finalmente, vi os meus mais próximos colegas retirarem as máscaras ao escutar seus comentários e planos maldosos em relação a uma nascida-trouxa da Hufflepuff no final do quinto ano. Sabe como não tolero essas coisas, não é, Dominique? Na época, decidi por me afastar um tanto, nada muito explícito. Quis ver se as minhas suspeitas estavam corretas.

Como lhe contei na última carta, passei uma temporada na casa dos Nott. O que eu não esperava era encontrar todo o clube reunido. Após escutar as piadas de mau gosto dirigidas à família Parkinson, eu cortei relações com eles. Pois bem sabe que o irmão mais novo de Michelle é um aborto mágico. Foi o meu limite, prima.

Busco por seus conselhos e adoraria ver-lhe no recesso de Natal, se assim fosse possível.

Mande lembranças para meus tios distantes e para a Victorie.

Sabe que detesto mexer em assuntos delicados, mas se ainda tem contato com Louis, por favor, mande os meus mais sinceros abraços.

Cumprimentos,

Lilian Luna Potter”

Após finalizar a carta e a reler mais algumas vezes, corrigindo com a varinha alguns erros e apagando e reescrevendo frases, Potter saiu do quarto, e após colocar a carta dentro do bolso interno do longo casaco bege, seguiu apressada pelo salão, se esgueirando como uma sombra pelos corredores da escola.

Andou bastante até chegar ao corujal. Após assobiar baixo, viu uma coruja de plumas tão claras como a neve voar em sua direção. Fez um carinho na cabeça do animal, que bicou o seu rosto de leve, como se estivesse lhe dando um beijo.

— Desculpe vir lhe incomodar essas horas, Edelweis. Está bem o suficiente para transportar a primeira carta da semana? – perguntou, sendo respondida por um pio agitado e logo a coruja voou até o seu casaco, puxando-o.

— Como sabe que isso está aí, Edel? – e logo revirou os olhos, rindo consigo mesma pela esperteza da coruja. – Bem, vou acreditar que isso é um sim. - Retirou a carta do bolso, esta que havia sido posta dentro de um envelope e lacrada com mais do que feitiços. A cera que foi usada para grudar a aba do envelope tinha formato. Aquele era mais um dos artifícios da doce Lily. Um brasão, sua própria marca estava lá, em vermelho escuro. LLP.

A coruja segurou a carta com as patas e, antes de alçar voo, escutou as coordenadas da moça.

— Entregue a carta apenas para Dominique Delacour Weasley, sim? Boa viagem, Edelweis!

E dessa forma despediu-se do ser, que bateu as asas em direção a outro país, enquanto Lilian voltava seus passos para o seu dormitório.

Quando lá chegou, viu que a outra cama já estava ocupada pela sua costumeira companheira de quarto, Michelle Parkinson. Até o quarto ano, cada dormitório era repartido em três. Entretanto, a partir do quinto, era concedido mais espaço para os estudantes.

A outra ressonava profundamente, e Lily a invejou por isso. Parecia que não conseguia pregar o olho de verdade, mesmo depois de ter feito de tudo e do cansaço estar a dominando. Naquele momento quis ter caído na Ravenclaw. O chapéu seletor bem que teve essa dúvida, mas vendo que ela não se indisporia quanto a ir para a Slytherin, a mandou para lá. Lilian queria ter ido para lá por um único e brilhante motivo. Da torre onde os ravenclaws ficavam, haviam lhe contado que era possível ver a imensidão dos céus e quem sabe, olhar para as estrelas seria a solução para a sua ausência de sono.

Estas a embalavam sempre, com seu brilho distante e quase imortal. Eram belas e guardavam dentro de si histórias desconhecidas e um poderio, uma mutabilidade e uma inconstância que a fascinavam mais do que tudo. Por um momento, ela lembro-se que da casa dos Potter ela tinha uma visão privilegiada do céu.

Aquele foi um dos poucos momentos que Lilian Potter desejou estar em casa.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo?
Podem comentar lá naquele espaço branco tudinho que eu vou responder animada!
Bjs
Lyn

OBS: esse capítulo foi revisado e alterado (levemente, nada que comprometa muito a história) no dia 07/07/2016.



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