Imperfeito escrita por Lyn Black


Capítulo 2
Águas


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores amados!
Peço desculpas pela demora, mas minhas férias começaram há pouco e só agora estou podendo me dedicar realmente. Em meio a folhas escritas em aulas de português e a montagem do cronograma da história (isso mesmo, agora tenho um todo organizado), escrevi esse capítulo.
Gostaria de agradecer a LuMaia e a Karen Dayara por comentarem e a todos que estão me acompanhando nessa expressão. Ah, e LuMaia, muito obrigado por favoritar ♥ !
Espero que gostem do capítulo!



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Águas

Os passos apressados eram ouvidos pela casa. O quinto degrau da escada principal parecia não parar de ranger sob os pés dos moradores. A família bruxa corria pela casa em uma desarmonia evidente. Ginny gritava para que os filhos se apressassem e parecia que um dos irmãos, Lily não sabia se havia sido James ou Albus, tinha esquecido algo importante o suficiente para atrasa-los e consequentemente causar uma algazarra na casa. Embora o casarão fosse ocupado por apenas cinco pessoas, parecia que um batalhão se fazia presente, o que era apenas a confirmação de alguns dos pensamentos da outra Potter.

Ora, era exatamente por causa daquilo que Lilian detestava voltar às aulas com os Potter. Nas suas cinco idas até a Estação, até aquele momento, só havia tido a companhia deles duas vezes e ela poderia considerar que na última vez estava com os tios Bill e Fleur. Nos outros anos, aproveitara as férias na casa de seus amigos, retornando para a escola junto dos mesmos. O máximo contato que tinha com os pais era um aceno que se fazia presente todo ano na estação muito mais por educação do que por qualquer outra coisa.

A questão era que Lily ficava em dúvida se os slytherins que eram metodicamente organizados ou os Potter que eram desorganizados. Lembrava-se que tudo havia corrido perfeitamente bem quando passara uma temporada na casa da ravenclaw, Alexia Deschanel, no terceiro ano. Sem atrasos ou receios em relação a não pegar o trem, fora uma estadia aprazível e a amizade apenas se fortalecera na época.

Lily seguiu a sua típica rotina naquele primeiro de setembro. Despertou antes dos demais, tomou um copo de suco de uva e comeu uma torrada, apreciando o silêncio que reinava na casa. Depois, tomou o seu banho para apenas ser desperta de seus devaneios em meio as bolhas de sabão pela voz sonolenta de James Potter que estava indo para Hogwarts não como aluno, mas como estagiário da professora de Defesas Contra as Artes das Trevas, abreviando DCAT.

Quando saiu do banheiro, já vestida e perfumada, ignorou as reclamações do irmão mais velho e seguiu para o seu quarto. Após checar se tudo estava na sua mala, fez um feitiço de extensão numa pequena bolsa de couro que encontrara no sótão e colocou a sua bagagem dentro. Os fios levemente castanhos, que haviam perdido seu ar arruivado, foram soltos e ela revirou os olhos para a sua imagem no espelho. Ela era um estorvo no quadro familiar, sempre fora. Eram dez horas e já estava pronta. Esse era o tempo ideal, pois conseguiria se esgueirar pelos vagões até um de seu agrado e poderia iniciar a leitura do mais novo livro que adquirira. Entretanto os planos da garota foram por água abaixo ao descer as escadas e dar de cara com uma família que ainda estava de pijamas tomando o café. Harry tirou os olhos do jornal e olhou confuso para a filha.

— Já está pronta, Lilian? Por que não dormiu mais um pouco? – perguntou enquanto colocava O Profeta Diário de lado. Ela o mirou cética, revirou os olhos e o respondeu:

— Diferente de vocês, eu tenho um horário. Não demorem, por favor. – a garota virou e subiu novamente as escadas, cantarolando baixo uma das músicas trouxas que escutava, uma banda que tinha no nome algo sobre imaginar dragões. Realmente, os demônios eram a perfeita metáfora para a balança que existe em todos.

 

—-----

 

Lily chegou à estação ansiosa. Faltavam quinze minutos para o fechamento da plataforma 9 ¾ e ela só não havia tomado o volante das mãos de Ginny e aumentado a velocidade, pois além de não saber dirigir aquela máquina trouxa, provavelmente causaria um acidente.

Assim que a mãe estacionou o carro, a garota rapidamente destrancou a porta e sem esperar a resposta do seu breve “Até o ano que vem”, saiu correndo até a famosa King’s Cross. Apertou o passo consideravelmente ao escutar James lhe chamando. Logo, estava diante da parede de tijolos desgastada e com os olhos fechados a atravessou sem nem mesmo hesitar por um instante.

Um sorriso discreto ganhou espaço em sua face ao avistar aquela cena que era a partida em direção a um dos mais grandiosos polos de magia do Reino Unido. Entretanto, ela rapidamente mudou a expressão e abriu espaço entre os novatos, que com apenas um olhar saíam do caminho da Potter.

Lily andou tranquilamente até um pequeno grupo de jovens que em algo não muito distinguível, lembravam a ela a sua própria pessoa. Com os olhos piscando tanto perigosamente quanto divertidamente, cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas. Instantaneamente, o grupo se silenciou e a maioria desviou o olhar dos castanhos globos que perscrutavam suas mentes. Ela balançou a cabeça negativamente e virou as costas com um semblante indiferente. Nenhum deles se moveu pelos muitos segundos que se passaram. Aisha Nott suspirou frustrada. Maldito orgulho slytherin.

A outra Potter, como no começo era chamada, seguiu de cabeça erguida e olhos em riste, mas com a mente a mil. Ela acreditava que perdera a capacidade de esquecer e perdoar. Em meio aos seus devaneios, a ruiva não pode evitar o impacto. E com a sua leveza digna da pluma de uma ave de rapina, ela caiu no chão. Ou melhor, ela quase caiu no chão. A figura com cabelos platinados segurou-a a tempo de apenas impedir que a queda fosse tão terrível. Entretanto, Lily constatou que a ajuda poderia vir, mas nunca seria o suficiente para impedir sua ruína.

Sua cabeça doía levemente, mas nada que uma das poções que preparara nas férias não fosse resolver. Sem nem mesmo se dar conta, foi posta de pé pelo garoto. Em dias normais, ela não teria o olhado uma segunda vez antes de mandar o sujeito começar a olhar por onde andava. Porém, ao olhar o grande relógio da plataforma, preferiu não perder tempo com bobagens. Quando foi contornar o garoto, uma mão em seu ombro a impediu.

— Tome cuidado, Potter, se não manter os pés no chão quando a cabeça estiver nas nuvens, vai acabar sendo levada pelo vento. – ela o olhou risonha pela frase e revirou os olhos.

— Não se preocupe, Malfoy. Se o vento tentar levar alguém avoado tenha a certeza de que arrastará a sua pessoa antes de mim. – ela se virou e continuou a andar em direção ao trem, sendo acompanhada pelo solitário Scorpius Malfoy. Para além de sua face agradável que atraia as pessoas, ele não tinha tantos amigos leais assim. Parecia a ela que ninguém os tinha.

Após entrar no grande “Expresso Hogwarts”, bastou que o garoto se distraísse momentaneamente com algo para que a Potter se esgueirasse pelos corredores, despercebida, indo cada vez mais fundo no Expresso. Depois de se esconder nas sombras algumas vezes, ela retirou a velha chave do bolso. Não fora tão fácil assim fazer uma cópia da preciosa chave que o pai guardava em seu escritório. Depois do atentado de 1999, aquelas cabines haviam sido mantidas como um memorial, trancado e empoeirado. Entretanto, mesmo que o lugar tivesse uma aura melancólica, Lily gostava de viajar nele, pois lá ninguém a encontrava e naqueles momentos nos vagões abandonados, ela se sentia acompanhada pelas memórias que nunca teve.

—-----

Após chegar a Hogwarts, o ritual de sempre aconteceu. O Chapéu Seletor ganhou voz e realizou o seu trabalho e como sempre um delicioso jantar foi servido no Salão Principal. A sextanista apreciou especialmente o macarrão com limão siciliano, receita que ainda pretendia convencer os elfos de revelarem. Lily se manteve um tanto afastada dos amigos. Entretanto, não desfrutou do jantar sozinha. Caledônia Rosier, uma setimanista, lhe fez companhia, e mesmo ressentida com os outros, a Potter não conteve as risadas ao dividir uma grande fatia de torta de chocolate com laranja com a outra.

Depois do jantar, todos seguiram cansados para os seus respectivos salões comunais. No caminho, Lily escutou um jocoso comentário. “Os gryffindors é que são os corajosos, mas não são eles que dormem nas masmorras.” e não segurou a risada, baixa, mas ainda sim um pequeno riso. De fato, nas primeiras semanas de estadia na escola de bruxaria dormir naquele inóspito espaço não era muito agradável. Sem duvidas, Slytherin havia concedido as mais luxuosas residências, mas aquilo não apagava os sustos que os pequenos levavam. Lily perdera a conta de quantas vezes encontrara primeiranistas perdidos pelos corredores labirínticos das masmorras de Hogwarts. Graças a Merlin, quando era uma pequena primeiranista tratara de convencer Caledônia a lhe passar um mapa daquela parte do castelo.

A entrada para a o salão comunal era uma parede vazia. Sem quadros como o da Gryffindor (não fora difícil ficar sabendo a sua localização), você deveria dizer a senha que desde o ano passado passara a mudar todo o mês. Na verdade, aquilo havia sido obra sua. Sempre achara ridículo que a senha fosse sangue-puro. Convencera os companheiros de casa a fazerem a mudança com o argumento de que escutara alunos de outras casas tramando entrar no salão. Era verdade, embora um tanto distorcida, e tudo havia sido culpa de Harry Potter e Ronald Weasley que anos antes haviam com a Polissuco invadido o espaço destinado aos slytherins.

Depois de seguir por um estreito corredor iluminado apenas por lâmpadas azuis esverdeadas, Lily chegou ao salão. Com suas poltronas verde-musgo e sua lareira com fogo dos deuses, o que mais a encantava era a vista para dentro do Lago Negro. Não era segredo para quem conhecia a Potter o estranho fascínio que ela nutria pelas águas daquele Lago.

Embora a vista por vezes acalmasse a inquietude de sua mente, apenas parar diante do mesmo e se deixar levar pelo som do movimento constante das águas conseguia controlar a agitação de seu coração. Foi por isso que Lily Luna se esgueirou à surdina da noite, perto do amanhecer, com uma capa azul a cobrindo, pelos corredores da escola, até a Torre de Astronomia. Ora, não era como se pudesse sair pela porta da frente, assim, colocando sua vida em jogo ao confiar em uma velha magia que encontrara num dos livros que Harry Potter herdara dos antecessores, ela saltou da torre enquanto murmurava baixo uma feitiçaria poderosa que fazia a gravidade, os ventos e o mundo favoráveis aos seus desejos. Era um risco, mas a menina com pouquíssimos resquícios do sangue Black, carregava a obstinação das estrelas.

Seguiu correndo até a beira do Lago e lá afundou os joelhos na verde grama úmida pelo orvalho. O som dos corvos junto ao reflexo do céu nas águas era algo hipnotizante. Fazia-a esquecer da renegação, dos olhares julgadores. A inconstância da água sempre encantara Luna. Após entrar em Hogwarts, sempre apreciava passar um tempo em frente ao Lago Negro. Não era incomum escutar os que rodeavam a garota comentando sobre aquele estranho hábito. “Lily deve estar lá como sempre!” Aisha Nott já havia perdido a conta de quantas vezes acertara o palpite. “É terapêutico.” a Potter dizia. Observar a imensidão azul escura era como a meditação que todos necessitam e poucos fazem.

Um dos outros fascínios de Luna Potter era o mar. Este que podia ser revolto ou calmo, e em sua essência era transparente. A mutabilidade inconstante que compunha o mar também compunha seu mundo, seu corpo; sua vida. Talvez fosse pro isso que gostava de visitar especialmente a casa de seus tios Bill e Fleur.

É claro, também costumava se dar muito bem com os três filhos do casal (embora no momento só mantivesse contato considerável com Dominique, a filha do meio). Victorie, a mais velha, morava em um apartamento perto do Hospital Mungus onde fazia estágio. A prima mais velha estava noiva do afilhado de Harry Potter, Ted Lupin.

Já Dominique, embora houvesse optado por cursar em Beauxbatons, sempre trocara cartas com a prima, independente da casa de Hogwarts. A garota, embora fosse três anos mais velha do que Lily, era uma ótima correspondente, e com seu bom humor havia se tornado uma frequente destinatária das cartas de suas cartas. Elas se entendiam e já que Dominique não tinha tanto contato com o lado da família do pai, não havia desenvolvido preconceitos e infantilidades em relação as casas daquele Instituto de Magia que independente das histórias não era o seu lugar.

O filho mais novo do casal, Louis, era um ano mais velho do que Lily e pelo o que ela se lembrava com os seus cabelos platinados e olhos azuis, era uma réplica masculina da mãe. Entrementes, Lily não o via desde o aniversário de onze anos dele. Não sabia muito bem o que acontecera, mas após ser tomado como aborto mágico, Louis fora morar com a irmã de Fleur, Gabrielle, na Holanda. Nunca compreendera o afastamento do garoto, afinal, quanto a isso a família Weasley fora extremamente acolhedora, lembrava-se bem.

Sentada em frente ao lago, com o rosto sereno e um sorriso displicente, ela se camuflou na grama e não foi vista por ninguém. As estrelas se transformaram no mais belo cobertor, e o musgo que beirava o lago nos contornos da mais confortável cama. A tensão que se alojava no coração da garota após tantas condenações foi expelida gradativamente enquanto ela respirava o ar fresco. Puro. Assim como o seu nome. A flor mais pura deixou cair a sua complexa cabeça no chão de terra e adormeceu. Os raios do Sol naquele dia demoraram a tomar conta dos céus. Parecia que a noite, o vazio pontilhado de luz, se identificara com a menina. E ela a abraçara com ternura.

Parecia que apenas sozinha naquela imensidão, perdida entre o que existe e não existe, Lilian Luna Potter conseguia sair da gaiola na qual fora presa. Pois poderia parecer que ela se libertara das correntes, mas enquanto estivesse naquele mundo rodeada por tantas mentiras e holofotes, referências e imposições ela nunca seria livre para se dizer imperfeita.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Adoro conversar seja por palavras faladas ou escritas, então não fiquem receosos, pois vocês são muito bem-vindos naquele espaço bonito ali embaixo ;)
Espero que tenham gostado do capítulo!

OBS: esse capítulo foi revisado e alterado (levemente, nada que comprometa a história) no dia 07/07/2016.
Bjnhs
Lyn