Imperfeito escrita por Lyn Black


Capítulo 13
Encontros


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!
Chegamos ao décimo terceiro capítulo e, devo dizer, eu não imaginava que esse projeto fosse realmente ir para frente ou se transformar tanto ao longo desses onze meses. Dias 7 de novembro completaremos um ano de Imperfeito! Não sei se esse será o último capítulo até o fim de outubro, quem sabe eu dou um jeitinho especial para postar entre o dia 20 e o dia 31, mas vamos lá ao que interessa.
Erros ortográficos, caiam foram.
LeitorXs novXs e velhXs, podem entrar com tudo.
Sem mais delongas,
Boa Leitura!



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Encontros

 

Havia um conjunto de murmúrios ao seu redor. Mil vozes se fundindo num zunido eclesiástico e profano, deixando-a tonta, mas desperta. Ela contou. Um, dois, três. Respirou fundo por breves momentos, antes de levantar a cabeça, colocar um sorriso educado e perigoso no rosto e ir para o tablado que ficava diante da classe que a conhecia vagamente de aulas passadas. Com um aceno de sua varinha, todos se viram impedidos de falar.

Não parecia interessante ou pedagógico, mas os estudantes a olharam sob uma nova lente e fecharam as matracas.  Ela pronunciara cada palavra com esmero e cuidado, passando não a imagem de uma sextanista da slytherin, mas sim da substituta da Professora Wildgeon. Uma versão mais nova, quem sabe, da rígida professora, só que com uma expressão menos austera e com um vocabulário mais jovem e menos arrojado.

A aula do quarto ano já estava chegando ao fim e, logo, a turma quintanista da slytherin viria em companhia dos ravenclaws para a aula de Runas Antigas. Dispensou os garotos e garotas que faziam um muxoxo final diante da tarefa de casa, uma redação grande, trabalhosa, embora para os verdadeiros interessados, uma chance de se debruçar sobre assuntos sobre runas que não viam todo o dia. Vivianne lhe mandara uma carta dizendo que se sentisse a vontade para cobrar lições, então não via erro em fazer da sugestão, realidade.

Apagou o quadro com um aceno e se pôs a revisar a avaliação que Vivianne deixara preparada para a turma seguinte. Munida com um pesado dicionário e histórico sobre magia rúnica, alterou pequenos detalhes e terminou de fazer o gabarito, deixando-o de lado. Na sala de RA, as mesas eram dispostas em círculo. Para o teste, separou-as, criando um ambiente comum na sala que sempre lhe parecera mais excêntrica. Enquanto esperava os alunos, alguns amigos seus inclusive, continuou a escrever um ensaio para transfiguração, com apoio de vários livros-texto que espalhou pela primeira carteira. Como a sala nunca enchia por completo, Lily pretendia usar daquele espaço para os seus interesses.

Após cerca de quinze minutos, escutou uma batida na porta. Sem desviar os olhos da redação, destrancou-a e falou em alto tom “Entre!”. Ela escutou as suaves pisadas, o ruído de uma mala batendo contra o corpo de seu dono. As solas pareciam pouco desgastadas. Pousou a pena por alguns instantes. Ela conhecia aquele jeito de andar. Levantou os olhos quando um corpo se colocou diante de si, impedindo que a luz das vidraças chegasse de forma abundante até a mesa.

— Alô, Lilian. – disse Albus Potter, mirando seus olhos verdes nas íris castanhas da menina.

— Albus, – pronunciou o nome cordialmente. – no que posso ajudar? – ela questionou com um tom estranho, inclassificável. Largou a pena com cuidado para não manchar o pergaminho e dispôs as mãos sobre a mesa.

O garoto coçou os cabelos negros, que diferente dos do irmão eram pouquíssimo rebeldes.

— Você deve saber que o Halloween está chegando, é daqui a aproximadamente duas semanas, na verdade. – ele enrolou um pouco, as mãos nos bolsos da calça, o olhar vagueando pela sala. – Harry mandou avisar que vem para a comemoração.

A Potter arqueou uma de suas sobrancelhas e deu de ombros.

— Eu gosto do Samhain, mas a escola banaliza tanto que geralmente prefiro apenas marcar presença no baile. Vou me certificarei de cumprimentá-lo, quem sabe poderemos tirar até uma foto de família. Fique tranquilo, garanto que não me esquecerei de te chamar. – ela fez uma pausa, que usou para avaliar o irmão mais velho, um misto de sorriso de deboche e de divertimento no rosto. – Aviso dado, garoto dos recados. – finalizou com humor, o que arrancou um riso meio contrariado do Potter do meio.

Ele deu meia-volta, mas hesitou ao chegar ao batente da porta.

— Sabe, Lily, se estivesse vestindo vermelho e dourado, o que te provavelmente faria ser próxima deles, você provavelmente seria o prodígio da família.  Adorada e paparicada, como uma rainha. – falou convicto e com amargor.

— Sorte a minha que não estou, então. Deixo o encargo de ser o menino de ouro para você, Albus, pode ficar com todas as expectativas, eu insisto. – disse.

Ele não assentiu nem a respondeu, mas ela escutou um curto suspiro. O seu irmão continuou a andar, embora tenha olhado por sobre o ombro uma ou duas vezes, perdido em relação à menininha que sempre fora a sua pequena irmã. Afinal, quem era aquela garota de nome Lilian Luna Potter? Albus Severus tinha a certeza de que no espectro mais positivo da realidade, mesmo fazendo uso do filtro mais otimista, ela era a única que realmente se conhecia.

 

—-----

 

O Baile de Halloween, embora para os mais tradicionais, o Samhain.

Aquele era o assunto da escola fazia já uma semana, mas Lily só veio a dar atenção a esse fato recentemente, então espero que vocês, espectadores, compreendam a demora em se tocar nesse assunto em especial. Lilian nunca foi de festas, diferente de Alexia, que gostava de todo o preparo, de trançar os cabelos para fazer um coque elegante, embora se frustrasse com o aborrecedor tédio em muitas ocasiões. Além do mais, com toda a agitação em sua vida, Lily não poderia se preocupar menos com algo que nunca dera real valor.

Eis que a nossa protagonista já havia recebido dois educados convites. Um de um garoto mais novo da gryffindor, ela não sabia bem o nome nem o que o levara a tentar convidá-la, o que foi bem vergonhoso, aliás, e um de um ravenclaw do sétimo ano, o qual a questionara de maneira tão educada e tímida, que ela dissera que iria pensar. Veja bem, faltavam duas semanas para o baile, consequentemente, a maioria estava tentando arrumar um par o quanto antes. Não ela, Lily não se importaria em entrar estonteantemente magnífica sozinha, seria até interessante. Isso se ela fosse, mas já chegara à conclusão de que o dormitório vazio não seria a melhor opção. E não seria uma má ideia usar o vestido que tinha ganhado de Dominique no Natal passado. Ela dançaria, beberia algo para maiores, riria, quem sabe acabasse em algum canto com alguém, poderia planejar algum sórdido assassinato em meio às conspirações na mesa que sentaria, provavelmente com Rosier, Zabini, Malfoy, Parkinson, Nott e quiçá, não por sua escolha, os Selwyn e aproveitaria a herança da comemoração da passagem para o inverno.

Lily estava num dos corredores mais frequentados, apoiada na mureta, terminando a redação de História da Magia. Era segunda-feira, um dos piores dias da semana. Como havia sido liberada antecipadamente da aula de História, resolvera adiantar o trabalho que Griffiths pedira ali mesmo, já que poucos passavam pela região, portanto o barulho estava quase ausente, num nível aceitável. Havia uma aluna mais nova na outra ponta do corredor, dormindo era o que parecia e só quando ela olhara pela última vez, cinco minutos antes.

— Lily, você precisa me ajudar. – as palavras que escutou saíram atropeladas.

Ela largou os papéis para encarar o garoto loiro, que parecia cansado considerando as olheiras. Observou o uniforme desalinhado, os olhos sempre tão concentrados completamente bagunçados e se arrastou para o lado, abrindo um espaço entre as duas pilastras que se acomodara para Scorpius.

— Certo, respire fundo. O que aconteceu?

Malfoy se jogou na mureta e largou a mochila no chão. Ele coçou a cabeça, incerto sobre o que o levara a falar com Lily Potter, dentre todas as pessoas. Afinal, convenhamos meus ouvintes, eles parecem amigos? Colegas de casa, “amigos” em comum, interesses até similares e problemas, como qualquer um, eles eram e tinham. Talvez fosse a expressão da menina, que o fizesse sentir certa segurança. Ou quem sabe a linguagem corporal da Potter, sempre demonstrando aparentar firmeza. No terceiro ano, Scorpius notara como ela andava sempre de cabeça erguida, passos largos e nariz empinado quando estava sem companhia. Ela precisava manter aquela fortaleza erguida, ninguém faria isso por ela.

— Eu não sei como começar. – Scorpius falou frustrado, a cabeça pesando. – Nada parece certo.

Lilian suspirou e pousou a mão no ombro de Malfoy, um afago suave, acolhedor. Scorpius levantou os olhos e a encarou, aquele azul tão firme, agora turvo. Ele pareceu tomar fôlego, puxou ar para os pulmões.

— Lilian, seja sincera. O que você diria se alguém falasse que Scorpius Malfoy convidou Albus Potter para o baile de Halloween?

Lily parou o afago por um momento, surpreendida pelo que durou no relógio dois segundos, mas para o garoto uma vida.

— Bem, eu perguntaria se ele aceitou. – ela olhou para a parede, um pequeno sorriso cruzando o seu rosto. - Caso sim, eu sorriria e pensaria que meu irmão não é tão idiota assim. Provavelmente se eu cruzasse com ele, até o olharia orgulhosa, não que ele fosse entender a mensagem. Caso não, bem, eu iria te procurar. E dependo das ações de Severus, ele se veria comigo, e pode acreditar que a piedade não estaria em jogo.

Houve uma pausa, deixa para que Malfoy se pronunciasse, mas nada veio.

— E então, Scorpius, o que ele falou? A sua felicidade vem em primeiro lugar, mas eu estava mesmo querendo treinar uns feitiços.

O garoto balançou a cabeça em negação e pulou da mureta, mexendo nos cabelos nervosamente, até encontrar a parede diante de Lily, onde se recostou.

— Eu não sei. Simplesmente não faço ideia. – ele riu com escárnio de si mesmo. – O tão corajoso Scorpius Malfoy não esperou resposta alguma e simplesmente pediu desculpas e foi embora, deixando a sala inteira em um silêncio repentino e Potter em choque. – Scorpius se arrastou até o chão, nervoso. - O que eu tinha na cabeça? – sussurrou para si mesmo. – Eu nem mesmo tenho certeza de que ele gosta de garotos.

Lily ainda se mantinha surpresa, afinal nunca o imaginara como cunhado e realmente não sabia se seu próprio irmão poderia vir a gostar de Malfoy em um modo romântico. Isso doeu um pouco, pois eles a rejeitaram, tal como ela, que diante das primeiras tentativas de aproximação da família foi bem incisiva no seu orgulho e ressentimento, mas ela se importava.  Ela ainda tinha interesse em suas vidas.

Aquele era de certo um acontecimento inesperado, mas agora ela estava centrada em prestar apoio a Scorpius, afinal por que não o fazer? Cada vez lhe parecia mais nítido que não conseguia depositar confiança integral em ninguém, mas isso não a impedia de ajudar os outros, que curiosamente pareciam acreditar e confiar nela de verdade.

— Você sabe que eu não sou a melhor para te ajudar nisso, não é? Por Morgana, Scorpius. Se você queria conselhos amorosos devia ter procurado Aisha, eu não faço ideia de como lidar com esse tipo de situação. De qualquer forma, caso ele aceite, e isso vá para frente, bem-vindo à família. – falou com sinceridade até demais, o que o impressionou, e causou uma pequena risada nasalada. A expressão do menino melhorara, notou.

Lily desceu do murinho, e pegou a mochila de Malfoy. Sorria, tentando melhorar o humor dele. Entregou-lhe a bolsa que ele jogara no chão.

— Venha, vamos pegar algo na cozinha, de preferência algo bem doce. – ela esticou a mão e pegou a de Malfoy, e ele, surpreso, segurou-a, fazendo de apoio para se levantar. – No caminho, você pode me explicar como conseguiu se apaixonar por Albus Potter.

Malfoy até tentou argumentar que não estava envolvido dessa forma, mas o olhar de Lily era bem claro, e ele não viu problemas em lidar com aquilo na companhia da ruiva do sexto ano.

Scorpius baixou os olhos e deu de ombros, um sorrisinho escapando pelas suas sempre sérias feições. Ela continuou:

— Temos todo o tempo do mundo. O almoço começara daqui à uma hora, então não se apresse, certo?

Malfoy revirou os olhos e foi andando junto da Potter. Ele seria o assunto de Hogwarts, mas finalmente, os sinos tocaram aleluia, ele tomou alguma atitude. Pelo menos havia tentado, ora, agido, e não se arrependia, apenas preocupavam-no as consequências e o quão doloroso poderia ser a provável rejeição. Enquanto isso não vinha, ele podia se orgulhar de seu “meio-ato” de impulsividade, um dos primeiros na lista que se alongaria com o passar dos anos.

 

—-----

 

Ela batucava na mesa, produzindo um som oco e contínuo. Lily olhava para o pergaminho, decidida a focar apenas nas contas sobre proporção de ingredientes em poções com a variante idade que tinha que fazer para a aula de Skuld. Nunca imaginara que haveria de usar aquela coisa trouxa que sua prima tanta gostava, a tão incrível matemática, no ramo das poções.

Entretanto, Galbraith considerava de extrema importância tal tópico, algo sobre ter ciência na hora de produzir poções originais. Então passariam o próximo mês longe de caldeirões reais, avaliando propriedades mágicas, calculando taxas, analisando exceções, reações e buscando um embasamento teórico aparentemente fundamental.

Na verdade, o humor da professora até se manifestara de forma inesperada, para a surpresa dos quatro estudantes, ao ser questionada sobre a imprevisibilidade ainda sim apresentada após os grandes cálculos. “Na arte de poções ninguém “chuta” proporções, nós estimamos, Srta. Rookwood.”. 

A mente da Potter, entretanto, estava bem distante.

Talvez por causa do baile de Halloween, afinal aquilo era um dos clássicos eventos sociais de Hogwarts, e ninguém menos que o honrável Harry Potter marcaria presença nele provavelmente com Ginny, na celebração que deixara de ser só um banquete fazia alguns anos. Harry Potter, o seu pai. Estatura média, cabelos pretos, olhos esverdeados, óculos provavelmente novos, um terno italiano, o olhar de desdém, enfim, era algo inevitável. Ela teria que o encontrar, e posar para uma foto, sorridente ao longo do Chefe do Departamento dos Aurores. Provavelmente apareceria em uma pequena revista de fofocas, a filha rebelde da figura mais adorada do mundo bruxo.

Lilian sentiu olhos sobre si, e virou-se tão abruptamente que pegou os globos de Astra vidrados nas suas costas. A garota levou o que quer que estivesse bebendo aos lábios, deixou o copo na mesinha ao lado da poltrona onde estava sentada e levantou-se. Lily notou que as olheiras não estavam disfarçadas daquela vez. Selwyn andou até Lilian e pousou as mãos no pergaminho da outra. 

— Você teria um momento para conversar, Potter? – questionou com aquele olhar arrogante suprimido por uma violenta força de vontade. Lilian assentiu, entediada. Qualquer coisa que a distraísse, mesmo que provocasse sua irritação.

— Fique a vontade, Selwyn.

Astra arrastou a cadeira, causando um ruído que a incomodou, percebeu a ruiva pela sua expressão facial. Luna notou que ela carregava algumas folhas a tiracolo. A garota colocou-as a mesa, na direção de Lily, que observou com atenção considerável a letra vítima de um feitiço para ficar mais elegante, mas no fundo reconhecível. Ignorou o aperto no peito, a saliva que engoliu com dificuldade.

— Encontraram essa carta em meio das coisas de Deschanel. Por acaso, a destinatária era você.

Lily olhou para o papel, duvidosa e desconfiada. As impressões que tinha, os sonhos que vinha tendo, ou melhor, a falta de sonhos ou pesadelos, condenada a observar a movimentação angustiante e ininterrupta de Michelle no dossel ao lado, não eram de ajuda naquele momento. Tirou o cabelo do rosto, inclinando a face para poder analisar o papel, mas mantendo uma distância segura.

— Eu me pergunto como você conseguiu isso. É suposto que itens assim fiquem com os aurores.

Astra Selwyn revirou os olhos, e pareceu se tornar mais insatisfeita do que o normal, ela é uma pessoa bem perfeccionista, sabe, sempre atenta aos mínimos detalhes.

— Eu nunca te interroguei sobre as suas muito peculiares atitudes, portanto não tente o fazer comigo. A questão é que ela não foi enviada, talvez porque Alexia tenha escrito no dia em que foi parar na Ala Hospitalar. Aliás, você deveria me agradecer por ter te livrado de um longo interrogatório.

Lily olhou de relance para o papel, balançando a cabeça em negativa. Aquilo parecia com a caligrafia de Rockenbach, mas ela estava com receio numa taxa que não era dispensável.

— Essa não é a letra dela, acredite. Alguém deve estar tentando te meter em problemas, você devia tomar cuidado. – tentou soar simpática e convincente, embora houvesse animosidade em sua fala, disfarçada habilmente.

Astra bufou discretamente e aproximou a sua cabeça da de Lily.

— Acredite no que quiser, Lilian Potter, isso não altera a verdade. - A Selwyn pareceu contrariada ao continuar a sua fala, mas decidida a tentar mais uma vez. – Potter, você ao menos consegue ler o que está escrito? Só me responda essa pergunta.

A garota deu de ombros e correu os olhos pela primeira linha, onde havia a passagem de um livro, julgou previamente.

— Sim, por que pergunta?

Astra sorriu dubiamente.

— É claro que eu poderia estar inventando, mas parece que ela colocou um feitiço que permitia a leitura por apenas certas pessoas. Fique com eles, qualquer coisa são apenas uns papéis, destrutíveis e esquecíveis.

Lily prendeu a respiração e levantou os olhos, encarando os orbes de Astra os quais nunca haviam parecido tão cheios de um suspense mágico.

— Você está falando sobre assuntos suspeitos no meio do Salão Comunal, onde todos nos veem e comprovam a nossa pequena interação. O que você ganha com isso tudo, Astra? Você me detesta; nunca me ajudaria voluntariamente.

A Selwyn riu, fazendo um movimento com as mãos de displicência. De longe elas pareciam amigas conversando, talvez sobre algum trabalho, ou quem sabe política, nunca poderia se saber com aquelas mentes sempre buscando se informar.

— Acho que já está na hora de entender que ninguém faz algo puramente por vontade de ajudar, Lily. Todos nós temos segundas intenções, mesmo sem nem sabermos quais são.

Ela não esperou réplica e levantou, mas fez uma pausa, um vinco apareceu em sua testa e se inclinou sobre os cálculos de Lilian, corrigindo alguns números, parecendo gostar daquilo que estava entediando a Potter fazia meia hora.

— Antes de vir para Hogwarts eu tomava classes sobre poções todo santo dia, até mesmo em feriados. – apontou para os números. – Como eu era proibida de mexer sozinha nos ingredientes tóxicos, essa era a parte mais divertida.

Lily continuou muda, mas quando Astra já estava há um passo de distância se pronunciou.

— Como você sabe que essa carta, se é que é uma carta, está destinada a mim sendo que você teoricamente não poderia lê-la, Astra?

Astra deu de ombros e sorriu, e falou com a voz ainda baixa, mas audível, embora se distanciasse.

— Alexia sempre foi uma exímia feiticeira. Não posso negar que passamos intermináveis horas juntas quando crianças, e você sabe que alguns laços resistem à duras penas. Até o jantar, Luna.

Ela refletiu por meros segundos antes de pegar os papéis e dobrá-los com cuidado. Guardou-os na bolsa e continuou seus desatentos cálculos, com a mente mais ocupada do que antes.

 

—-----

 

Como ela anda distraída nesses dias, eu diria. Nem percebe a movimentação ao seu redor. Nem mesmo nota os olhares de Alexander Zabini, numa hesitação contínua em falar-lhe, ou mesmo a interação entre Hélio Wald e Henriette Fortescue. Antigamente ela diria que há coisa nisso, mas Luna parece meio alienada, centrada em perguntas, as quais ela não está tão diretamente relacionada como gostaria para ter as respostas mais rapidamente. Então, como alcançá-las?

Raciocínio? Algum vilão desconhecido resolve contar todo o seu terrível plano?

Qual é o desfecho dessas mil pontas soltas?

Ora, vocês sabem que eu devo me manter de boca fechada, dizem que segredos apenas podem ser guardados por uma pessoa, e nessa era não vale a pena se arriscar de maneira tão imatura e irresponsável. Vocês também, certo? Bocas fechadas. Ninguém viu nada, ninguém esteve por lá.

E Lilian, desculpe desapontar, mas nessa história você é apenas meio para que as revelações tenham mais efeito. Um dos muitos pontos de vista, pessoa complicada e interessante, sem dúvida você é. Instigante, talvez por isso eu tenha me fascinado tanto pela sua vida, e goste tanto de mostrar as coisas ao seu redor. Há certa preocupação, é verdade.

Há uma fada.

Há um aviso.

E olhe em que posição nesse jogo de breu você está. Pois é, você não tem ideia.

Acho que todos já se cansaram de meus enigmáticos avisos, do perigo nunca evidenciado, das ameaças incompreensíveis, afinal seus olhos são os de Lily, mas não resistirei em lançar apenas mais uma sentença:

A história é contada pelos vencedores. Lembrem-se disso a cada livro lido e fato narrado.

 


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Notas finais do capítulo

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