Imperfeito escrita por Lyn Black


Capítulo 1
Folhas


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos ao primeiro capítulo de Imperfeito.
Essa é a minha primeira long-fic e estou bem animada com ela.
Nos vemos nas notas finais,
Boa leitura!



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Folhas

 

A mudança nas árvores evidenciava que o outono estava se aproximando. A pintura de realidade que o verão proporcionava aos olhos do mundo ia se descolorindo com o passar dos dias, se transformando em um desenho mais alaranjado e de pinceladas mais intensas.

Embora a mãe da menina lamentasse que o verão estivesse se despedindo, sua filha não continha a animação. Afinal, o que poderia haver de melhor do que as folhas alaranjadas como o seu cabelo em uma dança da queda com os galhos de madeira castanha como os seus olhos?

Além do mais, a temperatura que parecia abrir espaço a cada nova manhã lhe permitia caminhar pelo bosque próximo da sua casa sem ficar exaurida pelo calor ou ter de se agasalhar. Para ela, o outono era sem dúvida alguma a melhor época do ano. Mais tarde, a fazia se lembrar de tempos escondidos no baú que era a sua memória. Por debaixo de poeira e casacos velhos, lembranças de tempos suaves, alegres e sorridentes sempre estavam associados a estação. A jovem sempre continha um suspiro de resignação ao se lembrar de sua infância. Naquelas eras, ela era apenas uma pequena princesa, com a mais bela coroa de cipós e flores silvestres.

Foi em julho que a tão esperada carta chegou. O dia amanheceu chuvoso, uma daquelas chuvas de pingos grossos que faziam um barulho irritante na janela do seu quarto. No primeiro dia de setembro, os pais se despediram da filha mais nova na Estação. Houve abraços e beijos, recomendações e piadas. A menina no fundo estava temerosa, afinal nunca havia ficado tanto tempo longe dos pais. Porém, as cartas poderiam muito bem resolver os problemas. E, afinal, seus irmãos e seus milhares de primos estariam lá junto dela, pensou. A ruiva poderia estar receosa, mas mal conseguia esperar a chegada. Será que ela teria grandes habilidades? A caçula ansiava por testar os seus limites. Quem poderia dizer as aventuras que a aguardavam?

Quando mais velha, num de seus últimos anos, ela pensou, irônica, em como fora tão esperançosa ao esperar que Hogwarts a receberia de braços abertos. Ela não teve aventuras, embora tenha encarado um mistério que fez com que ela se tornasse, diante de alguns olhos observadores e poderosos, bem mais do que a filha de Harry Potter. Porém, aguardem um pouco, pois essa é uma história para daqui a pouco. 

Desde o momento no qual o Chapéu Seletor a escolheu para a casa das serpentes, ela nunca mais foi considerada como simplesmente Lily Potter. Havia algo que a diferia do restante, ao menos deveria ter. E, por isso, ela passou a ser encarada com uma segunda lente, certa desconfiança irracional.

Não é como se seus pais houvessem a repudiado, na verdade, Harry acreditava que a entendia, mas ela não queria que tentassem entendê-la, pois além de não haver o que entender, Lily sabia que seria uma tentativa frustrada.

A sua geração, a composta pelos primos, e amigos de amigos, pode ser considerada a responsável por Lilian não voltar para casa em nenhum dos Natais e durante as férias encontrar divertimento nas casas de amigos. Minto. Foi uma mistura de tudo que fazia dela Lilian Luna Potter. Um distanciamento mútuo, pouco ruidoso. Ela escolheu erguer uma barreira invisível e a sustentaria ainda por muito tempo.

Os primos passaram a ignorá-la, falar-lhe mal, os irmãos olhavam-na torto e sempre que podiam implicavam com a garota que não tinha culpa alguma se seu destino era aquele ou se era assim. Ela não iria mudar o que quer que fosse, e eles só poderiam aceitá-la ou concretizar o abandono. 

Ela instituiu esse pensamento em sua mente, pois se importar não era uma vantagem em absoluto.

O convívio com os pais gradativamente diminuiu, uma vez que ela estudava em um colégio interno, e não se esforçaria para restabelecer uma conexão que sequer deveria ter sido quebrada. Em consequência, nesse anos de sua vida eles se tornaram pergaminhos velhos e amarelados que desconheciam sua nova escrita.

Talvez tenha sido má interpretação da lua, mas ela jurou ter escutado os pais entre murmúrios se perguntando o que haviam feito de errado. Porém, o que era o errado ao qual eles se referiam? Interpretações, milhões de interpretações, não é? Cada um tira as suas próprias conclusões, as que mais temem e esperam, e não há nada a se fazer, pois o dano já está feito e o machucado pode fechar, mas deixará cicatrizes.

No primeiro ano, Lily se entristeceu e fechou-se em seu próprio mundo de sonhos onde ainda era mais uma na foto de família e não encarava nada daquilo com ironia. Em sua estranha mente, chegou a conclusão que o seu ruivo nunca havia se encaixado mesmo com o dos outros. Escurecido e enfraquecido, era mais puxado para um castanho. 

Acho que nós podemos dizer que com o tempo ela aprendeu a lidar com tudo aquilo. Encontrou em si mesma o apoio mais fundamental e fez amizades estranhas e peculiares. No final, ela poderia ser julgada egoísta, mas parou de se preocupar com a opinião de sua perfeita família onde era o estorvo, o prego quadrado nos buracos redondos. Ela às vezes se deixou sentir a tal dor da distância e lágrimas secas escorreram pelo seu rosto de porcelana. Entretanto, foi na casa que era tão condenada pelos outros onde aprendeu que embora na maioria das vezes seja indicado levantar a cabeça e responder como um soldado de gelo, existem momentos nos quais sozinhos podemos chorar todas as frustrações que guardamos.

Foi dessa forma que a ruiva que não era tão ruiva assim, levou seus primeiros anos em Hogwarts. O que era para ser um lugar para se fazer amizades para toda a vida, se tornou um campo de batalha onde as armas são as máscaras e o vencedor é aquele que as sustenta por mais tempo.

Lilian Luna Potter perdeu a ideia sobre como o mundo era aos seus onze anos, pois ninguém esperava que ela, justo ela, caísse naquela casa. Depois de ver a reação da família, ou melhor, de todo as pessoas que a rodeavam, sorriu lamuriosa e passou a desacreditar quando alguém vinha pedir segundas chances, oportunidades para se infiltrar em sua vida novamente. E quanto a casa, sempre soubera que não se contentaria com um “Eu quero ser”, típico dos gryffindors, e apenas seria ela mesma com um “Eu serei”. Lily se encaixava entre os ambiciosos, era a mais pura e límpida verdade e um real motivo de orgulho.

Os anos passaram para todos e Lilian que deixou de ser a garotinha que entrou em Hogwarts pela primeira vez. No Natal, diga-se de passagem, ela costumava ficar por Hogwarts mesmo, e achava o brilho que a escola ganhava algo mágico. Ela até costumava receber um dos suéteres de sua vó, que costurava em prata as suas iniciais.  Recebia-o até com um tanto de emoção, pois sentia saudades de sua avó, sempre fora apegada à matriarca dos Weasley's. 

Não haviam sido poucas as vezes que burlou as regras da escola e durante os fins de semana de Hogsmeade visitou A Toca. Era até bem fácil arranjar um pouco do pó de flú,  e viajar pelo sistema de lareiras. O ambiente era prontamente ignorado por ela, que se esgueirava pelos corredores até a cozinha onde a senhora costumava estar assando alguma deliciosa comida. Lilian Luna acreditava que a Diretora Mcgonnagal tinha conhecimentos de suas escapulidas, mas fingia não o ter.

Molly sempre a considerou sua neta, a pequena Lily, e talvez tenha sido uma das poucas parentes que conseguiu voltar com a relação que tinha com a garota. Talvez Minerva Mcgonnagal tivesse um pouco de compaixão por Lily Potter. Luna era determinada, Minerva a conhecia desde pequena. A menina não a desapontara quando fora para a Slytherin. Ela tinha potencial e colocara quem ela era em primeiro lugar e Mcgonnagal, podemos dizer, se identificava. 

Em seu quinto ano, Lily prestou os N.O.M.S e recebeu resultados excelentes. Ela conseguiu se classificar para um intercâmbio e não fosse a sua idade, estaria estudando no Instituto Bruxo Alemão de Pesquisas para Jovens. Embora não houvesse compartilhado seus resultados com ninguém além de seus mais próximos amigos, recebeu uma oferta feita por Vivianne Wildgeon, a professora de Runas Antigas para ser auxiliar nas pesquisas e aulas no ano que se seguiria. Praxe, era necessária a autorização dos pais. É curioso que a cada vez que trocavam sílabas, eles se surpreendiam com a filha, que era estupidamente autêntica e instável.

Aquela tarde estava um tanto quente. Ela Desceu as escadas silenciosamente e encontrou os pais tomando chá na sala de estar. 

— Preciso que assinem um pedido da Professora Vivianne Wildgeon, de Runas. — falou com gentileza, ainda que fazendo uso de um tom levemente imperativo.

A voz adocicada assustou os pais. Mal haviam tido tempo de falar com ela naquelas férias. Ela só havia retornado para a casa dos Potter na noite anterior, depois do inesperado fim de sua estadia na casa dos Nott.

— Lily, não compreendo o motivo de apenas vir falar conosco quando deseja algo. - Ginny comentou. A garota apenas manteve o olhar gélido e ignorou a reclamação da mãe.

— Foi me oferecida uma vaga como auxiliar em pesquisas e nas aulas de Runas Antigas da Professora Vivianne Wildgeon. Basta que assinem, por favor. - falou objetiva, cansando-se com a enrolação dos pais.

— Uma vaga? Eu não tinha ideia que era tão boa nessa matéria. Lembro-me que apenas Hermione a fazia, aqueles símbolos era bem difíceis. Parabéns, Lily. - disse Harry, impressionado com a filha. Assinou surpreso. Acreditava que ela era uma boa aluna, mas nada levemente fora da curva. Para a sua fala recebeu um arqueio de sobrancelha em retorno, seguido de um meneio em agradecimento e um sorriso.

Era verdade de os pais de Lilian Potter não tinham ideia da capacidade do pássaro engaiolado que ela era. Intimamente, a garota agradecia por isso. Via muito bem a pressão exercida por Hermione e Ronald Weasley em cima de Rose. Ela quase tinha pena da outra. Porém, fora opção de Rose exibir-se daquele modo por todos os anos, não fora? Ela tinha as suas dúvidas, mas optava por não se meter com a menina-modelo Weasley. Lily contava os dias para que a outra finalmente se fartasse e fosse embora.

Aparentemente, como uma aluna brilhante com um sobrenome altamente reconhecido, Lily já chamava atenção de recrutadores do Ministério da Magia. Em maio, um dos chefes do Departamento de Mistérios, que havia sido reconstruído após a Guerra, fez questão de interceptar Harry Potter em meio a um dos corredores do Ministério para falar sobre a caçula dos Potter.

— Deve estar muito orgulhoso, Potter. Eu estaria, é claro que sim. Espero vê-la daqui a alguns anos. — disse e saiu andando apressado deixando o famoso Harry Potter impressionado com como o nome de Luna estava se espalhando tão cedo.

Até Ginny viu sua filha se tornar tópico em uma conversa com a antiga Pansy Parkinson, que estava trabalhando no setor de diplomacia do Ministério e fora quem estabelecera a possibilidade do intercâmbio na Alemanha para os alunos com mais de dezessete anos de Hogwarts. 

Entretanto, nenhum dos antigos gryffindors encontrou coragem suficiente para abordar a filha sobre o assunto. Ora, se ela fosse tão inteligente como lhes pareceu, certamente exibiria os resultados, não? Era o que eles fariam, e a cada dia, Lily se tornava mais como uma incógnita do que com uma pessoa.

Entretanto, Harry e Ginny apenas não se davam conta do quanto diferente Lilian era deles. As aulas recomeçaram antes de eles encontrarem situação propícia para questionarem-a. Lily era esquiva como uma serpente. Não era tão estranho assim que ela houvesse sido escolhida para a Slytherin.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dessa espécie de introdução mesclada com capítulo.
Saibam que todos vocês são muito bem-vindos nos comentários!
É rapidinho e muito importante para os autores.
Até o próximo,
Bjs

OBS: esse capítulo foi revisado e alterado (levemente, nada que comprometa a história) no dia 22/10/2016.



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