Apenas um sonho escrita por Florrie


Capítulo 6
Sansa




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Ela se olhou no espelho do seu quarto analisando cada detalhe de sua aparência. Pareço mais velha, mas não tão mais velha. Ainda podia ver a menina que tinha sido, sentia-se como a menina que tinha sido, mas seu corpo... Era um corpo já amadurecido com discretas marcas das gestações que tinha tido. Sansa passou os dedos pelo rosto, pelas sutis diferenças dos anos. Estava tão absorta em suas observações que não notou quando a porta foi aberta e alguém entrou.

– Sansa. – a voz da sua irmã lhe tirou a concentração. – O que está fazendo?

– Nada importante. – respondeu. – E você? Está vestida para alguma ocasião especial?

Arya estava com um bonito vestido de veludo azul, lobos dourados foram bordados na saia e na manga e um colar de perolas ornamentava seu pescoço. Não conseguia se lembrar de alguma vez ter visto sua irmã tão bonita quanto agora.

– Culpe Wynafryd por isso. – ela respondeu. – Recebemos uma carta hoje cedo, mas você estava dormindo.

– Algo ruim?

– Não. – suspirou. – Fomos informados que muito em breve receberemos visitas importantes.

– Visitas?

– Sim, visitas de Ponta Tempestade. – sua irmã a olhou como se a informação despertasse algum tipo de memória nela, mas nada aconteceu. Dez anos se passaram, pensou, quem herdou Ponta Tempestade? Arya não tinha lhe dito o fim dos filhos de Cersei, mas se estivessem vivos certamente não teriam herdado as terras do Rei Robert. – Então...?

– Se espera que eu me lembre de algo me desculpe, mas não veio nada. – Sansa sentou-se na cadeira de sua penteadeira. – Quem é rei em Ponta Tempestade? Talvez Lorde Stannis.

– Não. Stannis morreu antes mesmo da separação dos reinos. Ele tinha uma herdeira, Shireen Baratheon, mas ela também morreu.

– Então quem está vindo?

– A antiga rainha procurou por bastardos do rei e os legitimou para que tomassem conta de Ponta Tempestade, havia uma condição, claro.

– Qual?

– Que dobrassem os joelhos.

Sansa sabia que o rei Robert tinha vários bastardos espalhados por Westeros. Um prazer mórbido tomou conta dela ao imaginar o desgosto de Cersei Lannister ao ver seus filhos rebaixados enquanto os bastardos do marido eram elevados. Isso se ela viveu para ver.

– Eu conheço o rei, ele... Ele é um amigo de longa data, nos conhecemos logo depois que eu fugi de Porto Real. – sua irmã pareceu diferente ao falar, mas logo voltou ao normal. – Seu nome é Gendry. Ele está trazendo os irmãos, entre eles está alguém por quem você tem grande carinho.

– Quem? – perguntou.

– Mya Baratheon, mas você a conheceu por Mya Stone. – Sansa a olhou chocada. Mya Stone? A bastarda do Vale era agora uma princesa? – Vocês duas são grandes amigas.

– Ela... Deuses, uma princesa?

– A filha mais velha de Robert que se tem conhecimento. – sua irmã respondeu. – Ela estava em Winterfell quando as gêmeas nasceram.

Sansa pensou na Mya que conheceu no Vale. Será tão bom vê-la de novo. Um rosto conhecido talvez lhe trouxesse alguma luz. Ela também poderia perguntar sobre as coisas que aconteceram no Ninho, coisas que nem mesmo Arya poderia saber.

– Você vai contar a ela? – Arya perguntou.

– Eu não sei... Talvez.

– Bem, faça o que achar melhor. – sua irmã sorriu. – Também vim lhe dizer que Ben está procurando-a por todo o castelo, consegui levá-lo para o outro lado de Winterfell, mas o menino é teimoso.

– O que ele quer?

– Que você assista o seu treino.

Jon estará lá? Sansa mexeu a cabeça afastando aquele pensamento.

– Então eu irei.



O pátio estava repleto de homens, todos riam e lançavam palavras de encorajamento aos dois meninos que lutavam com espadas de madeira no centro. Sansa logo reconheceu Ben, seu cabelo negro estava todo desgrenhado e suas bochechas coradas com o esforço, contudo, o menino parecia animado com tudo aquilo. Seu adversário era um garoto da sua idade que se esquivava com surpreendente destreza dos ataques de seu filho. Arya sorriu ao lado dela e disse:

– Aquele é Pate, filho da cozinheira. Ele e Ben são grandes amigos. – nessa hora seu filho derrubou o outro garoto no chão, isso gerou uma onda de comemorações.

Sansa correu os olhos pelas pessoas ao redor. Homens, em sua maioria desconhecidos, sorriram e gargalhavam, entretanto, havia um que só deixou escapar o fantasma de um sorriso. Jon elogiou os meninos e disse alguma coisa para seu lobo Fantasma, ela sentiu uma estranha inquietação em seu peito. Aquela sensação a fez querer voltar para o quarto e se esconder, mas então Benjen a notou ali e correu até ela.

– Mamãe! – ele levantou a espada de madeira e sorriu. – Viu que eu ganhei?

– Sim, eu vi. – respondeu. – Será tão bravo e destemido quanto... – ela quase deixou escapar a palavra pai, suas mãos tremeram e sua cabeça girou um pouco. A frase lhe pareceu tão natural, era como se ela tivesse falado mil vezes antes. Pensou no que poderia dizer e então completou – seu avô.

Satisfeito Ben voltou para o centro do pátio onde pediu por outra luta. Arya colocou a mão em seu ombro preocupada.

– Você pareceu fraca agora a pouco.

– Estou bem, não se preocupe.

Ela forçou um sorriso e depois voltou seus olhos para o pátio. Notou que Jon estava com o rosto virado em sua direção, sentiu que ele queria vir até ela e dizer algo, mas não o fez.

– Milady Sansa. – uma bonita voz chamou atrás dela. Sansa se virou e viu Val, a mulher deslumbrante que conheceu na reunião. – Milady Arya.

Ainda vestia branco, mas hoje trazia detalhes dourados que realçavam o loiro dos seus cabelos. Novamente aquele sentimento estranho tomou conta dela, uma desconfiança até então inexplicável.

– Seu filho luta como o pai. – a mulher loira comentou ao parar do lado dela. – Será bonito como ele também.

– Sim, ele será. – respondeu friamente sem entender o porquê de fazer isso.

Observou a mulher que agora olhava para o pátio. Será que é casada? Deveria perguntar isso a Arya depois. Alguém com tamanha beleza não teria dificuldade em encontrar um marido. Val olhava intensamente para um ponto e Sansa resolveu seguir a linha da sua visão, passou por Tormund e Larence Snow até chegar a Jon que agora dizia comandos para os meninos.

O modo como ela o olhava a incomodou. Não deveria, pensou, mas então se lembrou que ele era seu marido, não importava se ela não lembrava, Val não sabia disso. Fechou os punhos irritada e voltou sua atenção para o pátio. Talvez estivesse vendo coisas... Talvez... Mas aquela sensação no seu peito era definitivamente real.

Risos encheram o pátio. Seu filho agora estava caído no chão, com o garoto Pate encima dele sorrindo vitorioso.

Sansa olhou para o menino corado de vergonha, ele tinha um machucado na bochecha. Pobrezinho, ela tinha que ir até ele e ter certeza que o garoto estava bem. Pôs-se a andar, mas foi parada pela mão de Arya.

– Você sempre faz isso. – ela comentou. – Acho que sua mente pode esquecer as coisas, mas o corpo não.

– Do que está falando?

– Quando Ben cai no chão você sempre vai até ele preocupada, sabe, as crianças precisam se machucar para aprender a lutar. – Sansa olhou para Arya e então para Ben, ele estava agora de pé apertando a mão de Pate. – Quando Ben caiu você o olhou do mesmo jeito de sempre, quase como se...

– Mãe! – um vulto vermelho se jogou abraçando suas pernas. Sansa ficou sem reação por alguns instantes até notar a garotinha ruiva levanto os braços. – Mãe!

Brianna ou Eddara? Não demorou muito para deduzir que se tratava de Brianna, a outra menina vinha no colo da ama e estava quieta observando tudo ao seu redor. Sansa pegou a garotinha no colo e não pôde evitar o sorriso que se formou. Novamente aquele sentimento estranho no seu peito, um tipo de aquecimento que a fazia se sentir bem.

– Como você está? – perguntou lhe dando um beijinho na ponta do nariz. A menina levantou sua boneca Jonquil animada.

– Eu penteei o cabelo da Jonquil até que ele ficasse bonito.

A ama fez uma breve reverencia com Eddara em seus braços.

– Desculpe Milady, Brianna insistiu em vir até aqui fora.

– Quero falar com papai. – disse a menina nos seus braços. Ela ficou inquieta, querendo ir para o chão, Sansa atendeu seu pedido e logo a garotinha correu em direção do homem no pátio. – Meu Florian papai.

Sansa observou quando Jon a pegou no colo lhe direcionando um de seus raros sorrisos. Ela estava hipnotizada, seu coração acelerou um pouco no peito, uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo familiar. Jon disse algo para a menina que riu em deleite.

– Mãezinha. – a voz de Eddara soou baixa e tímida ao seu lado. Sansa tratou de espantar os pensamentos estranhos que se formaram na sua cabeça e focou na outra garotinha.

Eddara e Brianna eram iguais na aparência, mas dava para notar que podiam ser tão diferentes quando o sol e a lua. A menina se encolheu no seu colo e dirigiu seus olhos para o pátio. Sansa a balançava enquanto ela fazia desenhos com um dos dedinhos no ar.

– O que está desenho? – Arya perguntou com um sorriso doce. A menina demorou um pouquinho para responder timidamente.

– Um barco tia, como aqueles que os guerreiros usam para ir para outros lugares.

Eddara voltou ao seu desenho.

– Ela é tão quieta. – comentou baixinho para que só Arya ouvisse.

– Ela pode ter a sua aparência, mas tem bastante do pai, muito mais do que qualquer um dos outros.

A garotinha se remexeu nos seus braços e chamou pelo pai, foi quando Sansa notou que Jon caminhava na sua direção. Brianna brincava com Jonquil e o pequeno Ben seguia o pai esforçando para imitar seu caminhar, o lobo Fantasma vinha logo atrás. Sua respiração parou por alguns instantes, fazia dias que eles nem sequer trocavam mais do que meia dúzia de palavras cordiais. Tentou imaginar como é que a nova Sansa o tratava, ela o ama, disse Arya, não como um irmão, mas como um homem. Essa Sansa certamente sorriria para ele e quem sabe depositaria um casto beijo em sua bochecha, do jeito que os pais dela faziam no passado. Corou com o pensamento, seu coração voltou a pular.

– Papai me prometeu tortinhas de limão no jantar. – Brianna anunciou.

Jon lhe lançou um sorriso culpado.

– Sinto muito, mas o Florian não ficou pronto a tempo. – O clima ficou tenso. O que eu diria? Pessoas próximas os observavam, especialmente Val, ela parecia curiosa com a sua resposta.

– Acho que tortinha de limão no jantar não fará mal. – disse arrancando risos não apenas de Brianna como também de Ben. – Não se acostumem.

Cometeu o erro de olhar seu suposto marido nos olhos. Foi como se os segundos se arrastassem. Enquanto encarava aquela tempestade cinza algo em sua mente explodiu... Algo parecido com uma memória?



Eu amo os seus olhos
. Disse entre um beijo e outro. Cinzas como o Norte.

Eu também amo os seus olhos. Ele respondeu, sua respiração foi de encontro com seu pescoço, as mãos dele desceram pelas suas costas até encontrar as presilhas douradas. Azuis com o céu.



Seu rosto devia estar péssimo, pois Arya estava com as mãos em Eddara, quase como se temesse que a menina caísse. Jon a olhava de forma indecifrável, as crianças não perceberam nada e os adultos... Esses pareceram preocupados, ao menos a maioria.

– Está bem princesa? – a voz de Val a tirou de seu estado de choque.

Eu estava... Nós estávamos... A imagem parecia saída de um sonho estranho, surreal.

Ao mesmo tempo, no seu coração, ela tinha certeza de que foi uma memória.

O modo como se sentiu quando ele a tocou, Deuses, nunca pensou em sentir nada do tipo. O que é isso? Perguntou-se assustada.

Arya pegou Eddara dos seus braços.

– Eu... – voltou a olhar para Jon. – Eu gostaria de descansar.

Ela saiu andando antes que alguém pudesse lhe fazer perguntas.




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Notas finais do capítulo

A primeira lembrança - clap clap
Comentários são apreciados.
Beijos ;*



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