— Você não devia estar aqui.

                Rickon ignorou a garota. Continuou seguindo em frente, por entre as tendas e barracas montadas ao redor de Correrrio. Ninguém o reconhecia por ser o rei de Winterfell, não com as roupas de criados e estando entre tantos outros ruivos. Ele jamais poderia fazer isso no Norte, as pessoas conheceriam seu rosto a milhas de distância. Tinha conseguido fugir dos seus guardas e irmãos com bastante facilidade, mas infelizmente, não foi capaz de fugir de todos os olhares.

                – Você é um rei, tem deveres com seu povo. – insistiu a garota.

                – Assistir rainha Myranda cantar não é um dever real.

                A garota o alcançou rapidamente. Ela tinha pés rápidos para uma garota.

                – A princesa Sansa precisou tomar o seu lugar. – a garota agarrou seu braço e o fez virar bruscamente.

                – Senhora Lyanna, não deve tocar no seu rei de forma tão displicente.

                Lyanna Mormont não vacilou nem por um segundo diante dele, mas Rickon estava acostumado com isso. Ela era terrivelmente teimosa e tão honrada e dura quando um guerreiro nortenho, na verdade, ela até mesmo lutava como um guerreiro nortenho. O rapaz não gostava de admitir, mas já tinha perdido uma luta contra aquela garota dezenas de vezes. Lyanna era um palmo mais baixa, para olhá-lo arrebitava o nariz e o encarava com seus olhos escuros pequenos.

                – Sua Graça não é rei agora, é apenas um criado que quer assistir os pantomineiros. – a garota arqueou a sobrancelha. – Ou estou errada?

                Rickon bufou irritado.

                – Você é tão irritante.

                – Deixe-me acompanhá-lo Sua Graça, posso defendê-lo.

                A menina vestia-se com uma calça escura e uma cota de malha cinza, dificilmente seria a roupa de um criado, mas pelo menos ela teve o bom sendo de não colocar o urso dos Mormont em evidência. Notou que também trazia sua espada embainhada na cintura.

                – Não preciso de alguém para me defender.

                – Sua Graça não tem herdeiros...

                – Claro que tenho; minhas irmãs e meus sobrinhos. – livrando-se do aperto de Lyanna, o rapaz voltou a andar pelas tendas, mas parou der repente quando um barulho alto e estridente soou pelo campo. – O que foi isso?

                – Alguém chegou. – respondeu ela.

                E então um dragão branco sobrevoou o céu acima deles. Era uma besta enorme, que cobriu o sol por alguns segundos e fez surgir uma sombra quilométrica. Até mesmo Lyanna olhou admirada. É o dragão de Jon.

                – Os Targaryen chegaram.

Não apenas os Targaryen, ele constatou ao chegar junto com tantos outros plebeus perto da entrada no castelo. Centenas de pessoas vieram assistir as três famílias reais chegarem. Lyanna reclamou todo o caminho, disse que ele devia estar lá dentro para recepcionar os convidados, mas Rickon simplesmente a ignorou.

                Três bandeiras ondulavam. A rosa dos Tyrell, o sol e a lança dos Martell e o dragão dos Targaryen. O rei Aegon, irmão de Jon, vinha na frente no seu garanhão branco, ele esporeou o cavalo para que este chegasse mais rápido a entrada. Do lado de fora dos portões estava Jon, quando o irmão se aproximou e desceu do cavalo, os dois se abraçaram sorrindo. Rickon também viu Sansa, que se apressou para cumprimentar a rainha Margaery que vinha acompanhada de sua filha mais velha, a princesa Elia.

                Os outros monarcas surgiram na sua visão logo depois. Tanto o rei Willas, quanto a princesa Arianne, casaram-se com bastardos. Tinha até uma canção para cada um deles sobre isso. A princesa Arianne estava acompanhada de perto pelo seu marido Daemon enquanto o rei Willas vinha com sua esposa Nymeria, prima da princesa dornesa.

                Ele estava fascinado como a criança que foi um dia. Observando todo o mar dourado e prateado das três comitivas reais. Começou a nomear as outras que tremulavam, não se lembrou de todas, o que faria o meistre virar a cara de decepção.

                Rickon teria continuado a assistir se não fosse pela irritante Lyanna, que o puxou por trás e o arrastou através de multidão até que se livrassem deles. Tentou se soltar, mas aquela garota tinha um aperto forte.

                – Eu estava vendo!

                – Vamos voltar Sua Graça.

                – Eu ainda não assisti os pantomineiros. – ele se afastou e cruzou os braços, tão orgulhoso quanto um rapaz da sua idade podia ser. – E quem é que vai me obrigar a voltar? Você?

                – Não majestade. – e então ela sorriu, o tipo de sorriso que o fez ficar desconfiado. – Mas a senhora Brienne sim.

                Então a garota apontou para trás dele e foi quando Rickon percebeu a figura grande e corpulenta da senhora Brienne.

                – Majestade, é hora de voltar.