Ela teve um sonho estranho onde estava de volta as criptas de Winterfell. Era escuro e assustador, as estatuas a encaravam com olhos de pedra, pareciam enxergar algo que ela não via. Uma voz sinistra sussurrou no seu ouvido acorde Sansa... Ela pulou e olhou para o lado, mas não havia ninguém. Prometa-me Ned, outra voz, dessa vez de uma garota, vinha de uma das estatuas, mas Sansa não saberia dizer qual. Eu prometo Lya, respondeu a voz do seu pai. Os olhos encheram de lagrimas ao pensar no pai morto em Porto Real.

Sansa? Uma voz conhecida a chamou.

- Quem está ai?

Ela girou o corpo tentando encontrar alguém, mas tudo o que enxergou foram as estatuas. Os dragões estão voando no céu, alguém lhe disse, uma voz feminina dessa vez, poderia ser Randa ou mesmo Mya. Sansa? A outra voz voltou. Jon? Pensou. O que Jon estaria fazendo em seu sonho?

Prometa-me Ned. A garota voltou a sussurrar.

Qual o nome dele? Seu pai perguntou de volta.

Jon. A garota respondeu.

Acorde Sansa. A voz sinistra voltou.

Ela acordou der repente sem saber ao certo o que tinha acontecido. Seu coração batia forte e acelerado, seus dedos tremiam e seus olhos ainda tinham algumas lagrimas. A garota sentou-se na cama enquanto se preocupava em desacelerar a respiração. Muito em breve o pequeno Robert vai acordar e ele vai querer minha companhia. Myranda e Mya também estariam pelo castelo. Ela adoraria conversar com Mya e ouvir os gracejos de Randa.

A garota se pôs para fora da cama e logo sentiu o frio. Estranho, o ninho não era quente como Porto Real, mas também não se lembrava de estar tão frio assim. Sansa passou a procurar por algo que pudesse lhe esquentar quando notou seus aposentos. Aqueles não eram seus aposentos. Onde estou? Sansa conhecia aquele lugar, sabia que sim. Correu até a janela e prendeu a respiração ao notar que não estava no Ninho.

Winterfell. Ela quase chorou.

Ainda estou sonhando? Só podia ser um sonho. Não era possível ela ter dormido em sua cama no Vale e ter acordado em Winterfell. Se isso é um sonho que eu durma mais um pouco.

A porta do quarto se abriu e uma mulher de expressão solene entrou.

- Lady Stark. – ouvir alguém a chamando assim a fez sorrir. Nos sonhos ela podia voltar a ser Sansa Stark, filha de Lorde Eddard Stark e de sua senhora Catelyn Stark. – Devo preparar seu banho minha senhora?

- Eu adoraria.

- O pequeno Lorde já está acordado e pergunta pela senhora.

Pequeno Lorde? Estaria ela falando de Robert? Mas o que o jovem Robert Arryn estaria fazendo em seu sonho em Winterfell?

- Lorde Robert está aqui? – perguntou.

A mulher a olhou confusa, como se não tivesse entendido sua pergunta

- Desculpe Lady Stark, mas não conheço nenhum Lorde Robert.

- Robert Arryn, Lorde do Ninho. – ela insistiu. A mulher ficou ainda mais confusa.

- Vosso primo, Lorde Robert Arryn? – Sansa acenou afirmativamente. – Lorde Robert morreu já faz alguns anos milady, a senhora não se lembra?

Morreu? Sansa sabia que o garoto tinha a saúde fraca e que todos esperavam que ele morresse ainda novo. Seu lugar seria ocupado por Harry Hardyng e segundo os planos de Petyr ela o desposaria e se tornaria a senhora do Vale. O garoto era irritadiço e chorão, mas ainda assim Sansa sentiu-se triste de saber que ele estava morto em seu sonho.

- Oh... Morto... – ela não percebeu a lágrima solitária até que a mulher se aproximou e a enxugou com um dos dedos.

- A senhora está se sentindo bem? Devo chamar o meistre?

- Você disse que ele morreu há alguns anos?

- Sim minha senhora. – ela respondeu. – Logo no inicio da volta dos dragões. – volta dos dragões, aquilo não fazia nenhum sentindo na sua cabeça. Eu só quero viver meu sonho em Winterfell mais um pouquinho... Sansa acenou afirmativamente com a cabeça esperando encerrar aquela conversa. – A senhora tem certeza que não lembra?

- Eu lembro, é claro... – mentiu. – Gostaria do meu banho agora.

- Como à senhora desejar.

Depois de um bom banho ela se sentiu muito melhor. Sansa escolheu um vestindo cinza que tinha o lobo dos Stark costurado nas mangas, sentiu-se animada e feliz por poder vestir suas cores novamente. Já pronta ela rodopiou as saias como uma criança faria e soltou risadinhas ao correr novamente até a janela e constatar que continuava em casa. Quero sair, quem sabe papai não está vivo em meu sonho, ela queria ver também sua mãe e todos os seus irmãos. Robb, Bran, Rickon, até mesmo Arya, ela agarraria a menina e lhe cobriria de beijos.

Jon, Deuses, ela também gostaria de vê-lo. O irmão bastardo com quem nunca teve um grande laço.

Sansa olhou ao redor procurando pela a criada, mas notou que ela tinha sumido. Bem, não precisava dela, conhecia sua casa melhor do que ninguém. A menina saiu dos seus aposentos e pôs a andar pelo corredor. Ela rapidamente notou algumas tapeçarias enfeitando as paredes, tapeçarias que nunca estiveram ali. Que estranho.

- São cenas de canções. – ela constatou depois de parar na frente de uma e analisá-la. – Mas por que estão aqui?

Sua pergunta foi respondida por uma voz atrás dela.

- A senhora as escolheu para decorar vosso corredor. – ela girou surpresa e quase deu um gritinho ao notar que se tratava do Cão. O que ele faz aqui? Sandor Clegane não deveria estar em Winterfell, ele pertencia a Porto Real e aos seus dias com os Lannister. – Está com o olhar assustado do antigo passarinho.

- Eu... O que você está fazendo aqui? – perguntou incerta.

- O que eu faço todos os dias?

Eu não sei.

- Eu estou protegendo a senhora como manda aquele juramento que o senhor seu marido me fez ler diante dos outros lordes pomposos.

Senhor meu marido?

- Do que está falando? – seu tom agora beirava ao irritado. Ela não tinha marido, ao menos não em Winterfell. – Lorde Tyrion...?

- O duende? – o homem riu alto e então a olhou como se ela estivesse com alguma doença grave. – Está mesmo falando do duende?

Sansa sentiu o coração acelerar. Marido? Que outro marido poderia haver? Talvez Harry, Petyr planejava casá-la com ele – mas então por que estava em Winterfell? A garota recuou assustada até bater as costas na parede.

- Eu... Onde está o meu pai? Minha mãe... Meus irmãos...

- Seu irmão deve estar com o seu marido no conselho discutindo qualquer coisa que não me interessa, sua irmã acordou sem vontade para falar de colheitas e então foi treinar no pátio. – Sandor deu outro passo em sua direção e ela se apertou contra a parede. Seu gesto trouxe um semblante de desagrado para o rosto dele. – Está com medo de mim?

Estou segura em Winterfell, disse a si mesma, e tudo não passa de um sonho, ninguém pode me machucar aqui. Sansa controlou a respiração e ajeitou a postura, com a cabeça erguida falou:

- Não tenho medo, estou apenas cansada.

Sua mentira não o convenceu, ela sabia disso.

- Está com fome então? – o Cão perguntou. – As criadas lhe servirão o desjejum no pequeno salão e o garotinho deve aparecer em breve.

Garotinho... A pergunta lhe subiu a garganta, mas ela comprimiu os lábios impedindo-se de falar. Era um sonho e sonhos não costumam fazer nenhum sentido, além do mais, cada pergunta que faço mais tola pareço.

- Ótimo, irei para o salão.

Passou a andar tranquilamente e o Cão a seguiu. Ela podia ouvir o som dos passos dele ecoando pelas pedras aquecidas do castelo. Ambos caminharam por algum momento, winterfell parece maior do que me lembro, e também mais decorada. Sansa observava tudo deleitada e até se esqueceu do homem atrás dela.

Não deixarei que ninguém estrague o meu sonho, pensou, sonhos tão bons são raros demais para isso.