Missão Cumprida escrita por Dr Aquarius


Capítulo 1
Missão Cumprida




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Missão Cumprida

Logan se senta ao lado da maca. Nunca achou que alguém tão importante para ele acabaria nesse tipo de situação, com fios e cânulas ligados ao corpo para sobreviver. Tudo que ele quer no momento é que seu sofrimento acabe.

Vamos entender tudo isso do começo.

~

A briga foi feia a ponto de mandar Terry para o sofá.

Espera um minuto, quem?

Terry Blanchard e Logan Harvey eram um casal há dois anos e moravam juntos a um.

O primeiro era professor de anatomia numa das universidades locais, formado em biologia. Alto, cabelos e olhos castanhos e a pele num tom bronzeado leve. O segundo era auxiliar administrativo na empresa de seu pai. Mais baixo que Terry, cabelos loiro-escuros, quase castanhos, olhos azuis, pele clara como leite e grandes bochechas que o namorado adorava apertar.

Houve uma pequena discussão no dia de Ação de Graças daquele ano e, com pequena, estou sendo eufêmico.

A família de Logan recebeu os dois para o jantar, porém, não se conteve quanto aos comentários a respeito da família de Terry e este acabou perdendo a paciência. Sua família não era habituada a ver o filho com outro homem, sempre ficava desconfortável. Isso devia ter um efeito negativo sobre a cabeça dos pais de Logan, que acharam que podiam criticar a família do namorado do filho em sua presença. Pior de tudo, com coisas das quais não tinham certeza.

E se tinha algo que Terry odiava eram falsas acusações.

As palavras que ele proferiu em troca não foram gentis e nem mesmo a forma como deixou a mesa, ou a casa dos sogros. Logan o seguiu, obviamente. No caminho de casa, os dois discutiram toda a situação e acabaram tomando isso como uma briga entre eles.

Logan se recusava a aceitar que Terry fosse tão grosso com seus pais. O outro se recusava a desculpar-se pelo que fez.

E foi assim que dormiram em cômodos separados na noite do ocorrido.

Na manhã seguinte, Logan desceu já com o terno, pronto para o trabalho. Esperava encontrar o namorado para conversar um pouco mais antes de ir ao trabalho, mas não havia nem sombra do moreno em lugar algum da casa. O sofá foi deixado numa bagunça e os utensílios de cozinha que empregou no seu café da manhã permaneciam sobre a mesa.

Rubor subiu ao rosto do loiro. Terry sabia o quanto ele odiava desorganização e isso foi proposital. Mas afinal, que horas o professor acordara? Logan nem percebeu quando ele entrou no quarto para se arrumar, mas se já havia saído, com certeza não fora de pijama.

Logan organizou a louça e tomou seu próprio café da manhã. Isso lhe tomou um pouco mais de trabalho. Terry sempre acordava primeiro e fazia o café da manhã para dois, já que o auxiliar era um desastre na cozinha. E não foi diferente naquela manhã, quando Logan queimou uma das torradas e esqueceu de adoçar o café.

O dia no trabalho foi perturbador para ele, sem sequer uma ligação, ou mensagem de Terry, para avisar como estava, se já chegara em casa, qualquer coisa seria melhor que um gelo. Logan odiava quem fugia dos problemas.

Finalmente, terminou seu expediente, seguiu até seu carro e, antes mesmo de começar a dirigir para casa, telefonou para seu namorado. Após uma demora que o fez acreditar que seria ignorado, o celular foi atendido.

— Pois não? – O outro saudou.

— Terry, por que saiu hoje tão cedo, sem dizer nada e não me ligou o dia todo? – Inquiriu, sem sequer uma saudação.

— Acho que você sabe a resposta para essas perguntas – Desdenhou o outro – Mais alguma coisa? O que quer jantar?

— Converso com você em casa. Me poupe do seu sarcasmo por telefone.

— Foi você quem me ligou, ora essa.

Sem outra palavra, Logan desligou o telefone e dirigiu impacientemente para casa. Impaciência tal que quase o fez avançar o sinal vermelho duas vezes. Na segunda, quase atropela o sorveteiro que atravessava. Este só não xingou sua mãe de santa, porque do restante, pode ter certeza que sim.

Assim que chegou à frente da casa, parou ainda na rua, enquanto abria o portão da garagem e, assim que viu a passagem garantida, acelerou sem o menor pudor, não notando o vulto que saltou na frente do carro no último minuto. O golpe foi certeiro e a pancada o fez pisar no freio imediatamente.

Desceu do carro com o coração na mão buscando pelo que atingiu. Um gato estava no interior da garagem, onde fora arremessado pela pancada, tentando arrastar-se, porém, hesitando, pois uma das patas traseiras estava quebrada e o coração de Logan quase saiu pela boca ao notar o osso exposto. Com que força ele acelerou o carro?

O animal miava miseravelmente, estilhaçando ainda mais o interior de Logan. Era muito bonito, inclusive. Bicolor, com o aspecto de um smoking.

— Terry! – A única reação que teve gritar pelo nome do namorado.

Terry apareceu na porta interna da garagem, já esperando por algo ruim. Ele ouvira a pancada do interior da casa e o freio brusco do carro.

— O que aconteceu? – Inquire, observando o animal jogado no chão.

— Eu... Devo ter acelerado um pouco demais – Logan responde nervoso.

— “Um pouco demais”? Além de não existir essa expressão, você cantou pneu quando freou. Você acelerou “muito demais” – Declara o moreno, se abaixando ao lado do animal machucado.

— Ele vai ficar bem? – O loiro ignora a ironia do namorado e se aproxima vagarosamente.

— Não sei. Além da perna, pode ter causado algum dano interno. Pega meu telefone na sala, vou ligar para um veterinário.

O auxiliar não pensa duas vezes antes de obedecer, indo até a sala e encontrando o telefone sobre o sofá. Em poucos instantes está de volta, entregando o telefone a Terry.

O loiro prestou atenção enquanto o outro passava o endereço ao veterinário, que parecia ser seu conhecido. Ficou aparente que ele conseguira um atendimento.

— Um amigo meu vai chegar em alguns minutos. O importante é que não toquemos nele.

— Mas ele não pode morrer assim? – Logan inquire, aflito.

— Tocar nele pode piorar a situação, além de causar alguma dor.

Os miados do gato já tinham parado a essa altura, mas seu olhar doloroso permaneceu.

— Viu o que me fez fazer? – Acusou Logan.

— O quê? – Terry inquiriu, atônito com o surto repentino.

— Você e a sua maldita ironia me deixaram estressado e eu acabei vindo para casa com pressa demais. Quase atropelo um sorveteiro.

Terry precisa segurar o riso pela segunda afirmação.

— Ah, desculpe, senhor estressadinho. O que queria que eu fizesse?

— Conversar como adulto, que tal?

— Para perguntas claramente óbvias? Fui embora hoje de manhã e não te liguei porque ainda estava irritado com a noite passada e, se quer saber, acabei de voltar a ficar.

— E por quanto tempo isso vai perdurar?

— Não sei. Ainda acha que devo me desculpar com seus pais?

— Obviamente.

— Então vai perdurar um pouquinho mais.

Logan permaneceu em silêncio. Era difícil acreditar que ambos tinham a mesma idade (34), mas para todos os efeitos, Terry era uma criança crescida. Por um lado, foi o que fez o loiro se apaixonar por ele, por outro, era o que fazia querer matá-lo.

— Não podemos trazer água, pelo menos? – Inquiriu, olhando para o gato, que respirava com esforço agora, a ponto de ter respirações claramente visíveis.

— Não que eu saiba – Terry continuou encarando o animal. A pata traseira ainda sadia estava por cima da virilha, mas pela região exposta abaixo da cauda, o professor percebeu um fato curioso – É uma fêmea.

— Oh... Por favor, me diz que não estava grávida.

— Acho que não, calma – Terry riu do nervosismo de seu namorado – Não sabia que você gostava tanto de animais.

— Não é “tanto”, mas não quer dizer que eu goste de machucá-los – Logan afirmou.

— Assim que meu amigo chegar, vamos saber tudo, certo? Agora, fica calmo. Que tal subir, tirar o terno e tomar um banho. Eu vigio ela.

— Tudo bem – Logan concordou.

Durante todo o processo do banho e da troca de roupa, sua cabeça não conseguiu apagar a cena do ferimento do animal e isso o deixou enjoado. Sempre detestou maus-tratos com animais e agora ele mesmo era o responsável por um animal ferido.

A campainha tocou quando ele estava terminando de vestir a camisa, já com a bermuda posta. Rapidamente, desceu as escadas, vendo Terry conversar com o veterinário. O homem era um pouco mais baixo que o namorado, com cabelos e olhos castanhos e queixo quadrado, tendo um par de óculos de armação prateada. Uma bolsa preta estava em seus ombros.

— Ela está na garagem – Terry indicou.

— Boa noite – Logan se aproximou, fora da percepção do namorado, até o momento.

— Boa noite. Por onde fica a garagem? – Cumprimentou e inquiriu o veterinário.

O casal o guiou até o animal, que se mantinha acordado, tentando se mexer para longe dali, provavelmente temendo outros machucados.

— Isso foi um golpe feio – Disse o doutor – Como aconteceu?

— Eu acelerei demais pra entrar na garagem. Demais mesmo. Ela entrou na frente do nada. Não a vi chegando.

— Acontece, não se sinta culpados. Gatos não têm uma noção de profundidade apurada. É por isso que eles pulam de lugares altos, sem perceber a altura, ou mesmo fazem pouco esforço para pular de uma área longa – Explicou, enquanto colocava as luvas de borracha.

— Isso explica todos os vídeos de gatos errando o pulo que circulam pela internet – Terry brincou e o veterinário sorriu.

— Vamos ver aqui, garotinha – O veterinário aproximou a mão da ferida, mas não chegou a tocá-la, parecia examinar o contorno do osso e o tamanho do ferimento, depois pegou a bolsa que trouxe e removeu um frasco com líquido transparente e algodão – Poderiam segurá-la por um momento, para que eu possa limpar.

— Isso não vai machucá-la?

— Óbvio – Terry olhou para Logan, destacando o quão idiota a pergunta era – Mas precisa ser feito, o ferimento deve ser limpo. Como devo segurar?

— Segure aqui – O veterinário apontou a nuca do animal e segurou um pouco da pele – Puxe com força, para impedir a movimentação das patas dianteiras. Se ela se estressar e se movimentar, pode piorar.

— Entendi.

Logan assistiu de longe. A gata miava impacientemente enquanto o ferimento era limpo, e depois uma tala foi posta na região, para manter os ossos juntos. Nesse momento, a lamúria foi maior e o auxiliar apenas se sentiu mais culpado.

Serviço terminado, o veterinário tirou as luvas e as enrolou, colocando num bolso separado da bolsa.

— Vou precisar levá-la para exames internos. Raio-X e etecetera. Pode ser que haja edema pela pancada.

— E depois? – Terry inquire – O que acontece com ela?

— Ela provavelmente vai ser marcada e levada a um gatil para adoção.

— Demora muito para serem adotados? – Logan inquiriu.

— Bem... Filhotes costumam ser mais procurados, mas nossa amiga aqui não parece tão jovem. Deve demorar um pouco, quem sabe?

— E se nós adotássemos ela?

— Quê? – Terry virou tão bruscamente que uma dor atingiu sua nuca.

— Que mal tem? Nunca tive um animal, mas sempre quis um. É o mínimo que posso fazer depois de a ter atropelado.

— É uma boa ideia, porém, nesse caso, precisarão pagar o tratamento.

— Aceito – Logan afirmou sem pestanejar.

— Acho muito generoso de vocês. São poucas as pessoas que se preocupam com animais de rua nesse nível. Bem, ela ainda vai precisar ficar internada alguns dias, para ter certeza que a perna dela irá cicatrizar, sem nenhum tipo de inflamação. Já que são donos de primeira viagem, vou tomar esses cuidados por vocês.

— Tudo bem – Terry ainda estava encarando Logan, mas pelo olhar preocupado de seu namorado, sabia que não haveria maneira de mudar sua mente – Quando podemos buscá-la?

— Dentro de três dias, se houver melhora considerável. Até lá, manterei contato sobre todos os imprevistos – O veterinário exclamou – Agora, com licença, vou buscar a gaiola de contenção.

— Toda.

Assim que o veterinário saiu, Logan olhou para Terry apreensivo.

— É bom que não se arrependa disso – Exclamou o moreno – Aliás, você entende algo de gatos?

— Bem... Eles miam e bebem leite – As bochechas do loiro ficaram rosadas.

— Errado. Os animais em geral são intolerantes à lactose. Não se deve dar leite, a não ser que queira eles com diarreia.

— Tudo bem, desculpa se não sei tudo isso.

— Vamos cuidar dela juntos, garanto.

E a promessa foi cumprida. Depois de três dias, os dois estavam voltando para casa com Dalila, o novo nome escolhido para a gata. Terry achou desnecessário um nome tão enfeitado e bonito, já que gatos nem sempre respondem a chamados. Vai saber se Dalila era do tipo que dava ouvidos aos seus “humanos malditos”.

— Tem certeza de que não esquecemos nada mesmo? – Perguntou Logan.

— Lenços umedecidos para limpeza, cama, gaiola para caso de viagens, coleira com guizo para passeio, brinquedos, colônia, lacinhos para o pelo e pescoço, sabonete antipulgas, talco, três pacotes de ração, uma caixa de sachês para jantares especiais e um novelo de lã – Terry conferiu nos dedos – Que eu me lembre, já.

— Ela não gostaria de um...

— Logan, chega – Terry tentou repreender, mas não conseguiu conter o riso – Passamos duas horas naquele pet shop com você decidindo o que precisaríamos, ou não, para ela. Só fica tranquilo, que se ela precisar de mais algo, eu saio e compro.

— Tudo bem – Logan olhou para a gata deitada em seu colo – Ela gosta de andar de carro. Não ficou inquieta.

— Bom saber que poderemos viajar com ela sem problemas.

A chegada em casa foi cuidadosa. A perna de Dalila ainda precisava de muita atenção. Terry deixou Logan a sós com ela pela tarde. O loiro tirou um dia de folga – não, isso não é possível, a não ser que seu pai seja o dono da empresa onde trabalha –, porém, o professor precisava cumprir sua carga horária, além de verificar os projetos.

Logan realmente não tinha ideia do que fazer com uma gata. Ela não perseguiu o novelo de lã quando o loiro rolou-o pelo tapete, nem deu bola para os brinquedos barulhentos que ele apertou. Ela apenas sentava lá, lambia os beiços de vez em quando e quando a caixa de brinquedos estava vazia, se lançou no interior da mesma e deitou-se.

O humano desistiu e sentou-se no sofá, ligando a TV. Assistir um filme de terror... Podia ser uma bobagem, mas sempre ouviu que gatos eram psicóticos. Talvez Dalila se sentisse atraída por isso.

A pior parte é que deu certo.

Na metade do filme, quando Jason Vorhees arremessou seu machado para matar o personagem de Arlem Escarpeta, Dalila aproximou-se, deitou-se sobre as pernas de Logan e manteve sua cabeça virada para a TV. Pelos reflexos escuros da TV, o loiro percebeu que seus olhos estavam bem abertos.

— Se tiver um plano assassino, gostaria de frisar que eu me arrependo muito do que fiz – Brincou, acariciando o pelo da cabeça de Dalila.

A gata também se mostrou bem-disposta na hora de acompanhar Logan para o lanche, saboreando sua ração, enquanto ele dava destino a um sanduíche.

— O que acha de passear? – Perguntou, sentando-se no tapete, perto da gata, que se interessou por suas pernas cruzadas e entrou nos espaços entre elas, sem decidir qual caminho seguir – Passear é coisa de cachorro? Você é meu primeiro animal, poderia me ajudar, sabia?

— Não acho que ela vá responder – Terry disse, parado à porta de entrada – Tiveram uma tarde agitada?

— Quem me dera. Mas sei que ela gosta de filmes de terror.

— Bizarro. Sabe que se ela quiser se vingar...

— Para com isso. Ela é nossa filha agora.

Logan ergueu a gata e a abraçou, esfregando sua bochecha na dela.

— Então, deixa eu dar um abraço nela – Terry decidiu entrar na brincadeira e pegou a gata em suas mãos, se preparando para dar um beijo em sua testa, mas a mesma pôs a pata dianteira em seu rosto.

— Acho que ela não gosta de você – Logan riu.

— Nem um beijinho? Sério? – Questionou Terry, quando a gata abaixou a pata e tentou novamente, porém, ela reergueu o membro para impedi-lo.

— Acho que não – O loiro continuou rindo.

— Tudo bem, fica com o seu papai, mas não me venha com olhões quando estiver com fome.

— Que vingativo você – Logan riu, enquanto Terry subia as escadas rindo também.

E este foi apenas o primeiro dia. A gata acabou se revelando bem mais ativa do que parecia. Todas as manhãs, acordava Terry, ou Logan, cutucando seus rostos, ou se jogando sobre a cama, entre ambos. Pelo menos era na hora certa.

— Como está sendo a sua primeira filha? – Terry brincou, numa tarde – Finalmente se acostumou à ideia de deixá-la sozinha?

Já se passavam dois meses e Terry não podia mais levar Dalila para o trabalho por motivos ainda não explicados a Logan, mas o loiro não se sentia bem. Detestava a ideia de deixar a gata sozinha o dia todo, coisa que Terry implicava que ele devia ter pensado antes de adotá-la.

— Eu ainda venho em casa no almoço – Logan exclamou – Não sei porque você não podia mantê-la numa salinha, na faculdade.

— Por que é uma faculdade – Terry riu – Tudo bem, eles não reclamavam tanto, mas uma das minhas colegas é alérgica. Mesmo assim, a professora de semiologia pediu para vê-la de novo semana que vem. Vai usá-la como exemplo na aula de contenção.

— Entendido – Logan retirou a gravata e abriu a blusa, respirando aliviado. Estava uma noite particularmente quente e o ar-condicionado ainda não fizera efeito, por ter sido ligado recentemente.

— Se quiser, posso te mostrar como é a contenção – Terry se aproximou e abraçou Logan por trás, colando seus corpos.

— Ah, é? – O loiro se virou para abraçá-lo e os dois compartilharam um beijo demorado – Essa contenção é muito agressiva?

— Depende da vontade do paciente – O professor mordeu o lábio.

Logan o empurrou para a cama e sentou-se sobre ele, inclinando-se para beijá-lo novamente. Uma presença súbita fez os dois virarem o rosto. Dalila estava sentada ao pé da cama, com a cabeça pendida, analisando a situação.

— Certo, garota, esse não é o tipo de filme para maiores que você pode assistir – Terry brincou.

— Ela deve estar com fome – Logan saiu de cima dele e a tomou no colo – Vou colocar ração e tomar um banho no banheiro de hóspedes. Quero você limpo quando eu voltar. Esses procedimentos têm que ser feitos com higiene, não é?

Terry apenas sorriu maliciosamente e se levantou, enquanto seu namorado levava a gata para baixo.

Dois anos depois, Dalila estava completando seu segundo aniversário com o casal. Terry sempre a tratou com carinho, mas Logan ia bem além. Eram incontáveis as vezes que o professor chegava do trabalho e pegava o loiro desabafando com gata como se fosse uma pessoa. A parte mais interessante era a forma na qual Dalila sentava e o assistia, como se entendesse cada palavra. Os dois se tornaram amigos inseparáveis.

Até para as férias no litoral, Dalila foi convidada.

Mas naquele aniversário, algo estava errado.

— Terry, por que a Dalila não quer comer? – Inquiriu Logan – Essa é a ração de ontem.

— Talvez ela esteja com aquelas frescuras de gatos em querer comida fresca – O moreno deu de ombros, indo até o armário e pegando um pouco de ração fresca, oferecendo a Dalila em sua mão. Ela nunca recusava dessa forma, porém, desta vez a gata não mostrou interesse, apenas virou o rosto e continuou deitada.

— Isso não é normal – Logan constatou.

— Talvez tenha comido outra coisa. Ratos, ou algo assim.

— Dalila não come dessas coisas.

— Ela era uma gata de rua, Loggie. Não perderia esse hábito, nem depois de dois anos.

— Bem... Espero que sim.

Porém, a espera não foi compensada. Dalila não comeu àquele dia e foi levada ao veterinário no dia seguinte. Os exames foram feitos, mas até que os resultados saíssem, Dalila teve uma piora. Passou a se recusar a beber água também.

O diagnóstico pelos sintomas estilhaçou o coração do casal, mas o de Logan mais ainda. Dalila contraiu o Lyssavirus da espécie Rabies vírus. Em outras palavras, o vírus da raiva. Não se sabia de onde, ou como, talvez ela tenha implicado com algum cachorro de rua, ou entrado em contato com algo contaminado durante os passeios. Mesmo com a vacina, não foi possível evitar a infecção.

O que se sabia era que Logan não conteve as lágrimas pelos próximos três dias. Não há cura para raiva, logo, o máximo que podia fazer era prolongar a vida de Dalila, entretanto, não era de seu feitio prolongar o sofrimento de ninguém.

Eutanásia era a única solução, após se tentar de tudo. Logan não teve estômago para aceitar. Quem assinou o termo de permissão foi Terry. Agora, os dois só precisavam esperar pelo dia em que se despediriam de sua querida amiga.

~

Logan se senta ao lado da maca. Nunca achou que alguém tão importante para ele acabaria nesse tipo de situação, com fios e cânulas ligados ao corpo para sobreviver. Tudo que ele quer no momento é que seu sofrimento acabe.

Ele não deveria poder tocá-la, mas sua insistência foi tanta, que o veterinário criou um termo, assinado por ele, para evitar problemas caso ele acabasse contaminado.

Terry e o doutor adentram a sala. A seringa nas mãos do médico faz as lágrimas voltarem. Logan nem achava mais possível que ainda tivesse como chorar.

“O que se passa na mente de Dalila?” ele imagina. Será que está feliz porque seu sofrimento vai acabar? Será que está guardando consigo as memórias dos dois últimos anos, em que fez aquele casal tão feliz?

A resposta é sim. E mesmo que Logan nunca entenda o que ela queria dizer, Dalila sabe que sua missão está completa. Ela o fez feliz e recebeu felicidade em troca. Não há nada mais que ela precise no momento, além do fim da dor.

O doutor pressiona o êmbolo e em poucos segundos, Dalila cerra seus olhos lentamente.

À noite, Logan sonha com Dalila. Ela continua a mesma gata intrometida, onde quer que esteja. Ainda brinca só quando quer, mas com a mesma animação. Ainda gosta de ouvi-lo. O mais surpreendente é saber que ela ainda gosta de filmes de terror.

Quando Logan acorda, com um sorriso bobo no rosto, ele tem, por um momento, a ilusória certeza de que onde quer que Dalila esteja, ela o está esperando para que possam assistir mais um filme juntos.


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Notas finais do capítulo

Terminei essa ontem. Reli só uma vez. Não sei se me passaram muitos erros, mas desculpem por todos eles xD
Espero que tenham curtido.



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