Sonho x Realidade escrita por M1ssingN0


Capítulo 47
Capítulo Quarenta e Sete




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— Então... O que veio pegar? — perguntou abrindo o carro.

— Nada, só queria sair de lá... —respondi sentando no banco de trás.

Isso aqui mais parece uma cama de hotel cinco estrelas, me sinto tão confortável e aliviada.

— Que tá fazendo?

— Deitando ué. — deitei de lado me encolhendo— Tô cansada, já deveria saber.

Ele resmungou alguma coisa e sentou no banco do motorista ligando o carro em seguida— O que você tá fazendo? — indaguei assustada.

— Vamos embora, sei o caminho de volta. — sorriu amavelmente.

— Nem pensar— em um puxão tirei a chave do contato segurando firmemente o encarando— Você não é nem maluco.

— Acha que não? — questionou contente.

Na verdade te considero um retardado, mas isso fica em segredo por enquanto.

— Vamos fazer algo interessante. — disse rebaixando o banco e se espreguiçando.

— Então, qual a sua história com aquela garota, Sabrina? — perguntei guardando a chave em meu bolso.

— Vá se danar. — retrucou irritado.

— O que foi isso imbecil? — falei indignada. — Eu apenas te fiz uma pergunta.

— Não, você me fez lembrar daquela criatura desprezível.

— Ora, ora... Por que tanto ódio Dieguinho? — falei irônica.

— Eu tenho certeza de que ela saiu do inferno pra me perturbar— suspirou descontente.

— Mas que coincidência, eu penso a mesma coisa de alguém... — o encarei sorridente— Que não vou dizer o nome, mas estou olhando agora.

Diego me olhou com irritação, mas isso não me importou, me mantive calma — Me diga qual a história por trás de vocês dois.

— Ela é dois anos mais velha, mas não aparenta já que é uma tampinha. Nossos pais fizeram faculdade juntos, então daí pode entender esse “carinho” todo entre eles— retorceu a face com desdém— Menos minha mãe, isso ficou bem claro, desde que me trouxeram aqui e a conheci... No começo era natural, duas crianças brincando, mas depois de um tempo ela se tornou louca, ficava me perseguindo, querendo obrigar-me a brincar de coisas estúpidas...

— Tipo o que? — será que ela queria brincar de boneca com Diego?

Comecei a rir baixinho enquanto ele refletia observando os outros carros ali parados— Queria que eu fingisse ser marido dela, namorado entre outras coisas... — falou com repugnância— Eu era apenas um moleque e aquela diaba queria abusar de mim, quer dizer, não que isso seja tão estranho, afinal sou eu! — terminou tentando fazer graça.

— O que, ela abusou de você?! — gritei surpresa.

— Não, eu sempre dava um jeito de escapar, Sabrina é a primeira mulher bonita que eu rejeitei na vida. E não me arrependo disso. — sorriu com certa decepção no olhar.

— Nossa... Desculpa.

— Pelo que? — resmungou nervoso.

— Por te fazer lembrar dessas coisas horríveis ... — mesmo sendo um cretino, ninguém merece passar por isso.

— Deixa de ser ridícula garota, não preciso de sua pena. — disse com desdém— Isso me fez crescer e entender mais como as coisas funcionam, e que se não tomar cuidado, posso acabar encontrando outra igual a ela.

Então aquela garota é pior do que eu pensei, além de mimada e antipática é uma abusadora de criancinhas bonitinhas, se bem que ela também era uma criança na época.

Olhei para ele naquele banco, com olhar longe encarando o nada, sabendo disso as coisas ficaram mais claras, talvez isso tenha ajudado a formar seu caráter desprezível de hoje em dia, mas não justifica de qualquer forma, querendo ou não senti compaixão para com ele.

E isso foi muito estranho, nunca o encarei assim, como um menino traumatizado por coisas do passado... Sem pensar levei minha mão até ele e acariciei seu cabelo, ele fitou-me calado por um tempo— O que você quer?

— Nada, só tô te fazendo um carinho. — falei me aproximando de seu banco. — E eu gosto do seu cabelo. — admiti.

— Isso não é novidade!— sorriu irônico— Não depois de ver como ficou naquela noite.

— Você pegou a ideia errada daquilo, Dieguinho— com a outra mão também esfreguei sua cabeça— Totalmente errada. — terminei forçando os dedos em seu couro cabeludo como se lavasse um cachorro sujo de lama.

— Está me despenteando paspalha... Sai! — gritou irritado.

Ignorei seu aviso e continuei, só que dessa vez com leveza e cuidado, como eu fazia com minha gata, e ela adorava. — Relaxa, relaxaaa— falei baixinho— Não sei explicar, mas estou com vontade de cuidar de você.

— E eu sou o que, uma criança? Não despeje em mim suas necessidades maternais biológicas. — riu debochando.

É sério, nada do que ele diz está me afetando, como, por quê? Eu só quero alisar o cabelo dele até cansar e dizer chega— Quem sabe, né.

Depois de um tempo no mais puro silêncio, pensamentos aleatórios vieram a mim, da minha infância, dos amigos... E dele.

Uma sensação amarga subiu a boca, e lembranças nada alegres encheram minha cabeça, os movimentos das mãos ficaram mais lentos, quase parando, porém Diego nada disse, nem sequer se mexia.

Eu jurei não ficar mais triste por aquilo, não mais.

Respirei fundo enchendo os pulmões de ar, olhei para ele imóvel — Diego... — murmurei— Diego?

Debrucei-me sobre o banco e me surpreendi ao ver que ele estava dormindo, novamente dormindo no meio de conversas ou situações, fala sério...

— Dormiu com o carinho não é? E ainda reclamou. — sorri.

Suspirei longamente, recostei a testa ao banco onde ele dormia, parei o que estava fazendo, não quero acordá-lo, iria ficar de péssimo humor, a isso com certeza.

Ouvir essa história hoje me mostrou que até mesmo pessoas como ele podem ter um passado complicado e triste, a vida não é fácil.

Nada fácil, não é mesmo? Gabriel...

Comecei a sentir um sono incontrolável e me deixei levar, devo apenas dormir e não lutar contra isso.

Um flash de memórias passavam tão rápido como carros na rua, era difícil decifrar cada fragmento, mas com o pouco que via mais lembranças vinham a tona, quando encontrei Luna, meu primeiro dia na escola, meus amigos que ficaram pra trás e ele... Ele, ele, de novo e de novo.

Tum, tum.

Hum?

Tum tum tum. O que é isso?

Abri os olhos lentamente e me assustei ao ver a cara irritada de Sabrina socando o vidro com tanta força que parecia estar prestes a se quebrar. — Abra esse carro, agora! — ordenou nervosa.

Diego virou o rosto para mim— Finge que ainda tá dormindo. — sussurrou de olhos fechados.

Demorei a entender aquela situação, os vidros estavam abertos antes de dormir, agora o carro estava trancado completamente— Não me ouviu garota? — falou indignada.

— Foi você, não foi? — murmurei sem desviar os olhos dela— Que trancou o carro.

— Cala essa boca. — resmungou tentando controlar a raiva.

Não adianta fingir, ela já viu que acordei, ou melhor ela me acordou, apertei o botão abaixando o vidro antes que ela quebrasse aquilo— O que pensa que está fazendo? — gritou.

— Nada...? — respondi confusa olhando para os lados.

—Diego acorde e vamos voltar. — falou abrindo a porta por dentro, ela me empurrou pro lado sentando em meu lugar perto dele.

Diego permaneceu imóvel, ele deve estar muito desesperado pra fingir dessa maneira— Meu Deus, olha só isso... — falou em tom mais baixo— Esse homem é lindo.

Seu tom agora era de uma mulher apaixonada e fascinada, ela começou a acariciar o cabelo dele arrumando a bagunça que eu havia feito— Acha mesmo? Ele é normal na minha opinião. — dei de ombros.

— Você é doente? Ou talvez cega? — vociferou— Se considera Diego um cara comum é mais imbecil do que aparenta.

— Olha, cada um com sua opinião— e você é muito grossa— E deveria ter mais respeito com as pessoas.

— Não a considero uma pessoa, e sim um verme que deve ser esmagado. — retrucou indiferente.

Minha nossa, ela tem problemas mesmo... Pobre Diego, o que deve ter passado nas mãos dela.

— O que tá olhando? — questionou.

— Nada, nadinha. — sorri.

— Querem calar a boca?!! — Diego finalmente “acordou”.

— Você acordou, lindo. — Sabrina pegou a mão dele apertando delicadamente.

—Impossível dormir com duas tontas gritando— se livrou do toque bruscamente. — Por que veio, Sabrina?

— Vocês demoraram então vim ver o que tinha acontecido. — sorriu alegre— E cheguei bem em tempo, essa estúpida trancou o carro, então você não podia sair, não é? — perguntou a ele— Além disso, a peguei no flagra abusando de você enquanto dormia...

— Quem abusou dele? — perguntei surpresa.

— Você! — apontou o dedo— Tocando ele enquanto dormia, pensa que eu não vi... O lindo e perfeito cabelo, sua sem vergonha.

— Olha aqui sua, sua... — as palavras travaram no momento em que ia dizer— Quem você pensa que é, sua fantasista.

A única abusadora aqui é você!

 

Essa menina consegue fazer meu sangue ferver... Espero não agredir ela nesse tempo que ficaremos aqui.

 

 

 

[...]


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