— Diego, você está aí?! —exclamou Letícia surpresa.

— Não, sou o irmão gêmeo dele. — respondeu com desdém.

— Impossível, ninguém é assim tão panaca quanto você. —disse dando um soco em seu braço.

— Chega disso— repreendeu Henrique— Senhorita poderia voltar para cá? — indagou apontando para as cadeiras posicionadas em frente sua mesa, com um olhar fixo e julgador.

Letícia saiu de perto de Diego e sentou-se, as meninas fizeram o mesmo enquanto continuei em pé, avaliando aquela cena, imaginando o que iria sair disso tudo— Erika, sente-se também.

— Não, eu prefiro ficar em pé, diretor. — ele acenou com a cabeça concordando.

Todos na sala começaram a se entreolhar enquanto o diretor acendia um cigarro e folheava alguns papéis— Bom, depois de conversar com o professor Júlio sobre o ocorrido de ontem— fez uma pausa, voltando seu olhar sério em nossa direção— Decidimos dar-lhes pequenos castigos. — sorriu.

— Mas diretor, para todas nós? — indagou a baixinha— Não é justo, foram elas que começaram.

— Eu repito, essa fala é minha anã. — bufou Letícia impaciente.

— Não quero ouvir mais nada de vocês. Fiquem quietas. — ordenou novamente folheando os papéis.

Nesse momento Diego soltou um riso audível para todos ali presentes, a atenção das garotas e também do diretor foram até ele, que se mantinha imóvel e com um sorriso cínico no rosto— Está achando isso engraçado, Diego? — perguntou seu pai.

— Bom, não é todo dia que vejo uma situação como essa. — respondeu indiferente.

— Se esqueceu da conversa que tivemos a pouco? —Henrique lançou lhe aquele olhar intimidador, o sorriso dele murchou na hora dando lugar a uma expressão desanimadora. — Ótimo.

O que será que estavam conversando? — O castigo de vocês será “leve” e servirá apenas de amostra para que repensem seus atos inapropriados. — tirou o cigarro dos lábios o colocando no cinzeiro prateado— Vocês três irão ajudar nos serviços diários da escola. — apontou para elas entregando uma folha para cada.

— Como assim serviços diários? — questionou a gordinha.

— Leiam os papéis. — respondeu o diretor seco.

— Varrer o pátio, aguar as plantas... Lavar o banheiro? — questionou incrédula a baixinha.

— Exatamente— as três se entreolharam— Júlio disse que seria bom para vocês aprenderem algumas coisas, os funcionários concordaram e acharam ótimo ter ajuda. — sorriu gentilmente.

— Porque apenas nós três? E quanto as duas? — apontou a baixinha para Letícia e eu.

— O castigo delas será diferente, vocês já podem ir.

— Mas... Isso não é justo — retrucou a baixinha indignada.

O diretor a fitou impassível, com um olhar de que estava decidido e nada o faria mudar de ideia, elas então se levantaram e deixaram a sala, após isso fiquei ainda mais apreensiva quanto a meu castigo— Letícia, você se encarregará de ajudar um aluno.

— Ajudar um aluno? Como assim? — perguntou confusa.

— Seu colega de classe, Lukas, me parece que ele tem certa dificuldade em física e suas notas estão bem ruins, como essa é sua matéria dominante, seu trabalho será ajudá-lo para que não fique de recuperação.

— O que? — gritou surpresa.

O que está acontecendo? Isso não pode ser coincidência, logo após Letícia dizer-me que ele anda a perseguindo, porque o diretor escolheu logo essa tarefa para ela? Quando que por impulso olhei para Diego que não disfarçava um sorriso debochador e orgulhoso, isso só pode significar uma coisa... — Mas não entendo, porque tenho de fazer isso? Eu prefiro fazer o mesmo que as outras. — exclamou Letícia indignada.

— Os pais desse aluno tem uma amizade de longa data comigo, tenho grande consideração por ele sendo que também é amigo de meu filho, então seria interessante dar uma mãozinha a ele, e também... — pausou pegando novamente seu cigarro — Diego quem propôs essa ideia.

Eu sabia!

Letícia levantou-se de um pulo e foi até ele— Qual é a tua, idiota? — gritou novamente socando seu braço.

Ele sorriu e continuou em silêncio— Letícia, sente-se! — ordenou o diretor já impaciente. — Seu dever é ajudá-lo a melhorar suas notas até as provas finais, antes das férias. Se não conseguir fazer isso terá um castigo muito pior.

— As provas finais? Mas elas começam semana que vem.

— Então é melhor se apressar. — sorriu gentilmente— Você já pode ir.

Letícia olhou decepcionada para eles, depois encarou-me boquiaberta, como se estivesse prestes a explodir, fiz um sinal com a cabeça tentando dizer o quanto também estava insatisfeita sendo que nem sabia qual seria o meu castigo, ela saiu batendo a porta irritada. Eu a entendo muito bem, só mesmo Diego para ter uma ideia dessas, a obrigar a ficar com Lukas sendo que não o suporta.

Continuei imóvel onde estava desde que adentrei a sala, apenas esperando minha vez, com um desconforto no estômago que crescia cada vez mais e mais conforme o decorrer dos fatos. — Erika agora o seu castigo. — fitou-me com um brilho no olhar. — Pensei muito a respeito disso, afinal você é namorada do meu filho.

Diego finalmente se moveu sentando-se em umas das cadeiras— Seu castigo será ser apresentadora dos projetos na feira de ciências que ocorrerá quando voltarem das férias.

— Apresentadora? Quer dizer aquelas pessoas que ficam com o microfone em um palco falando para milhares de pessoas? — deixa de ser besta garota, é claro que é isso.

— Exatamente, todo ano um aluno é selecionado para ser apresentador na feira, este ano você fará isso.

— Mas, isso é considerado um castigo? — perguntei insegura na esperança dele mudar de ideia, talvez achando que isso seria fácil demais.

— Sim, um castigo terrível para pessoas antissociais que temem falar para multidões. — sorriu malicioso.

Como ele poderia saber uma coisa dessas a meu respeito? Novamente olhei para Diego, que se encontrava de costas para mim sentado, esse cretino, aposto que foi ele de novo, deve estar descontando as coisas que falei para seu pai ontem, isso também explica o castigo sem noção que deram a Letícia.

Eu não estava vendo seu rosto mas podia até sentir que ele estava rindo de mim— Tudo bem. — aceitei.

Não tem mais o que fazer, o jeito mais fácil é me encher de açúcar quando chegar o dia, isso me deixará elétrica e desinibida. — Mas isso não é tudo. —continuou Henrique.

— Ein?

— Nas férias, quero que nos acompanhe para passar uma semana em nossa casa na praia.

— O que? —Diego e eu falamos ao mesmo tempo.

— Qual é pai? Que ideia é essa? Você disse que meu castigo seria ir com vocês para lá, esse foi o combinado. — exclamou irritado.

— Exatamente, mas eu não mencionei que seria só isso. — sorriu— Conversei com sua mãe e decidimos que seria bom conhecermos sua namorada um pouco melhor. Certo, Erika? — fitou-me orgulhoso.

Conhecer a mãe dele? Uma semana na casa de praia? Sozinha com sua família e.… com ELE?

Parece que vou precisar de muito mais açúcar.

[...]