— Como é?! — gritou Letícia— Ele tentou beijar você?

— Shhh... Fala baixo. — sussurrei olhando para os lados.

— Eu não acredito, aquele cretino. — bufou indignada.

Ela está fazendo um alvoroço por isso, talvez eu não devesse ter contado esse detalhe sobre o encontro— Bom isso não importa, já que não aconteceu.

— Claro que importa—exclamou alterada— Ele está querendo enfeitiçar você, não percebe?

— Se ele lançou um feitiço em mim não fez efeito nenhum— suspirei deitando a cabeça sobre a mesa— Estou com sono.

Na noite de sábado planejei dormir o domingo inteiro para compensar toda a irritação que tive, mas acordei às duas da manhã e não consegui fechar os olhos, como se meu sono houvesse sido roubado e em troca um cansaço dez vezes maior tomasse lugar, e minha mãe não me deixou em paz querendo ajuda para organizar as coisas que ainda estavam encaixotadas da mudança. — Erika, você fez bem. Boa menina. — disse Letícia afagando meu cabelo.

— Obrigada senhora Letícia. — sorri.

— Não sou uma senhora— resmungou— Falando nisso Diego não apareceu hoje.

— Porque teve que se lembrar dele? — indaguei decepcionada— Meu dia está sendo ótimo tirando esse sono.

Diego não apareceu na escola hoje, eu me senti muito aliviada por isso, mas ao mesmo tempo um receio tomou conta de mim, fico pensando que tipo de coisas ele vai me dizer ou fazer quando nos encontrarmos, ao que parece nem mesmo o Lukas sabe alguma notícia dele.

— Eu só acho estranho, mesmo sendo um preguiçoso é raro ele faltar à aula. —disse pensativa.

Isso me lembra, apenas mais duas semanas de aula, estou tão ansiosa por isso que nem parece que comecei a estudar tem pouquíssimo tempo, talvez iremos viajar para nossa antiga cidade em Goiás, poderei ver meus avós, meus amigos e descansar bastante.

Também preciso pensar em alguma coisa para me ver livre dessa chantagem do Diego, com a cabeça mais fria tenho certeza que alguma ideia vai aparecer, ou não... Otimismo não é algo que reside em mim com muita frequência. — Ele deve saber o que faz. —falei sarcástica.

Ele vindo à escola ou não minha preocupação com ele é zero, eu ficaria bem contente se não aparecesse mais para ser sincera, o sinal tocou indicando o término do intervalo, Letícia me puxou pelo braço para tirar-me da confortável posição deitada sobre a mesa, quando chegamos até a entrada da sala as três garotas que não vão com a nossa cara estavam paradas lá, eu me espreitei para conseguir entrar quanto a Letícia ficou encarando-as— Com licença.

Elas se entreolharam, e a mais baixinha, morena de cabelos encaracolados e dente encavalado sorriu e curvou-se para Letícia passar, um gesto parecido em como os príncipes fazem para as princesas— Passe vossa alteza.

Letícia lançou lhes um olhar de desprezo e então passou, quando a gordinha decidiu empurrá-la quase a fazendo cair de cara no chão, eu a segurei rapidamente— Essa é minha chance. — sussurrou para mim.

— O que? — essa não... Ela não pode estar falando sobre-

— Vocês pediram por isso, suas lambisgóias. —gritou dando um soco na cara da morena que continuava na posição de reverência.

Ela cambaleou desajeitada sobre as duas atrás dela— Qual seu problema? Sua idiota. — gritou a gordinha.

— Qual o meu problema? Vou mostrar a vocês. — Letícia avançou para cima delas puxando o cabelo da gordinha a fazendo gemer de dor.

— Letícia para!— a agarrei pelas costas afastando ela das três garotas.

— Me solta Erika. — ordenou Letícia visivelmente alterada.

Quando a baixinha aproveitou-se que eu estava segurando Letícia e veio aos tapas para cima de nós, isso de repente se tornou uma muvuca de gritos, tapas, xingamentos, elas contra nós duas, pessoas se amontoando em volta dizendo incentivos de briga, eu cheguei a levar um tapa no rosto não sei dizer de quem, mas ardeu pra caramba.

Estou sendo agredida sem nem ao menos fazer parte da briga.

Até que chegou um professor para separar a briga, ele agarrou a baixinha pelos braços ordenando que parasse, as outras duas ofegantes e descabeladas nos olharam incrédulas, eu continuava tentando controlar Letícia que estava inquieta e eufórica— Chega dessa palhaçada, agora! — gritou o professor vermelho como um tomate. — Afastem-se todos vocês e voltem para suas salas.

Os alunos em volta resmungaram coisas indecifráveis devido ao grande número de vozes ao mesmo tempo, soltei Letícia que aparentemente já estava mais calma, as três meninas nos olhando com ódio— Que vergonha vocês cinco, jovens damas brigando dentro da escola, é o cúmulo. — exclamou visivelmente irritado.

Damas? Estranho ouvir essa palavra.

— Professor essa maluca nos agrediu sem motivo algum— protestou a gordinha— Estávamos conversando quando ela voou pra cima de nós.

Seu rosto também estava vermelho e ela transpirava loucamente, com a face redonda ela parecia outro tomate— Mentira professor— disse Letícia— Elas estavam bloqueando a entrada da sala e me empurraram quando passei. Erika é testemunha. — apontou para mim.

Ele passou o olhar por todas nós balançando a cabeça em desagrado— Vão todas para diretoria, agora!

— Mas isso não é justo. — disse a baixinha com o cabelo em pé— A culpa não é nossa.

— Essa fala é minha, anã. — retrucou Letícia.

— Chega de discussão, vamos agora. — mandou, caminhando na frente.

Ficamos paradas encarando umas as outras, olhei para elas e a visão seria até engraçada se não fosse caótica, todas com o uniforme amarrotado e cabelos em pé, arranhões ali e aqui. Provavelmente vão chamar nossos pais por isso, sinto minha bochecha arder, levo a mão até o local massageando, olho para Letícia, e pode até ser algo da minha cabeça, mas... Ela está “radiante”.

Aposto que ao dizer, agora é minha chance, se referia a briga que não aconteceu com as garotas do segundo ano, então aproveitou para descontar todo o estresse nelas, ao tirar a mão do rosto notei algo sobre meu mindinho, era sangue, passei o dedo sobre meu lábio inferior e ficou claro.

Devo ter levado um soco e nem notei com toda a adrenalina.

O que eu vou dizer aos meus pais sobre isso?

[...]