Sonho x Realidade escrita por M1ssingN0


Capítulo 1
Capítulo Um – Mudança




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– Filha, acorda. –disse enquanto puxava meus pés, eu nunca gostei muito de ser acordada dessa forma. – Vai se atrasar logo no primeiro dia? Vamos!

Agora minha coberta estava no chão, minha mãe sempre foi tão impaciente, principalmente com horários, sempre toda enérgica antes de algum compromisso, seja trabalho, viagens, escola e etc...

Depois de ficar mais alguns segundos refletindo sobre isso me sentei na cama, era sempre tão difícil levantar para mais um dia de tarefas e rotina cansativa, não sou um exemplo de motivação ou força de vontade na vida, não sei dizer o porquê, mas minha idade não corresponde a minha personalidade, posso dizer que sou bem ranzinza e sem graça, e eu enxergo isso muito bem sem os outros precisarem me dizer. Minha mãe costuma falar que sou uma jovem-velha, e sou obrigada a concordar, mas chega de enrolação, hoje é o grande dia, o dia em que começo na nova escola.

– Não que isso seja uma alegria para mim... – coloquei meus chinelos da Minnie e fui em direção ao banheiro, senti um cheiro bom vindo da cozinha. –Panquecas.

Não demorei muito no banho, embora eu goste de usar esse momento em que fico sozinha para pensar em coisas que normalmente não penso, não queria que minha mãe viesse bater na porta me apressando, não gosto de ser cobrada quanto a minha demora em algo, eu não sou lenta, mas certas coisas eu gostaria de levar o tempo que fosse preciso para fazê-lo com calma. Voltei para o meu quarto e encontrei meu novo uniforme sobre a cama, – Que? –Algo está errado...

– Oh mãe, – gritei– Pode vir aqui, bem rápido.

Depois de uns minutos ela chegou a porta do meu quarto onde eu estava parada, olhou para mim ainda com meu roupão e cabelos encharcados, ainda não acreditando que eu nem sequer tinha começado a me arrumar.

– O que você está fazendo parada feito uma pedra?

– Mãe, olha só, – apontei para o uniforme– Por que tem uma saia ali?

– Como assim, esse é o seu uniforme, qual o problema?

– E desde quando uma saia é usada como uniforme? Que tipo de escola é essa?

– Menina deixe de drama, isso é mais normal do que você pensa, o problema é que sua escola anterior era mais "liberal" por assim dizer e vocês podiam usar suas roupas do dia a dia, mas esta escola é do tipo tradicional.

– Eu sei que existem escolas com uniformes desse tipo, mas o que isso significa? Você sabe muito bem que não gosto desse tipo de coisa, – eu não sou do tipo que curte essas coisas, como posso dizer... muito femininas. – Fala sério mãe, não tem uma calça ou bermuda para me emprestar dessa mesma cor em azul?

–De jeito nenhum! Você vai usar e ponto final, além do mais você não entra sem o uniforme, está mais do que na hora de entender que você é uma moça e precisa se portar como uma.

– Eu odeio saias e vestidos, me sinto desprotegida.

–Desprotegida? – perguntou me empurrando para dentro do quarto– Sem drama, vamos, vou te ajudar a se vestir logo.

Minha mãe foi em minha direção secando meu cabelo com tanta força que fiquei tonta, segurei os braços dela. – Mãe, eu me troco sozinha, pode sair. E se continuar secando meu cabelo com tanta violência isso vai virar um ninho de passarinho.

– Qual o problema? Você não tem nada que eu não tenha aí. – de novo esse tópico, ela gosta mesmo é de pegar no meu pé.

– Isso não me importa, agora pode sair enquanto me visto com essa droga de uniforme.

– Olha essa boca. – saiu batendo a porta.

Parece que não tem jeito, a vida é tão irônica, não importa como eu pense, parece que ela está sempre me colocando a prova.

Depois de uns 10 minutos eu estava pronta, cabelo penteado e seco, preso em rabo de cavalo, uniforme cheio de frescuras em ordem, peguei a minha bolsa e dei uma última olhada no espelho, a saia junto com a blusa eram de cor azul escuro, a camisa e meias brancas, o sapato social era preto, não fui muito com a cara daquela coisa, era pesado e muito desconfortável então coloquei um allstar da mesma cor.

Sai do quarto e fui em direção as escadas, o cheiro de panquecas ainda estava no ar, pelo menos iria me acabar com essas delícias que minha mãe fazia muito bem.

– Que fome. – Entrei na cozinha e fui logo em direção ao prato com as panquecas de queijo, minha mãe estava na pia lavando a louça. Quando me viu parou o que estava fazendo e deu um tapa na minha mão antes de chegar ao prato. – Aí, que isso?

– Não dá tempo de você comer, ninguém mandou ficar enrolando tanto tempo para levantar e se trocar, precisa sair agora.

– Hã? A escola é aqui perto, não leva nem 10 minutos andando até lá mãe. – fui com a mão de novo em direção ao prato e ela me deu outro tapa, isso arde.

– Não quero saber, precisa estar lá as 8, já são 7:45, você vai chegar atrasada então precisa sair agora, não se preocupe, quando chegar as panquecas estarão dentro do micro-ondas. – dito isso ela levou o prato para fora do meu alcance, ninguém merece, além de tudo vou ficar com fome. Quando estava indo em direção a porta, carrancuda ela me disse.

– Que tênis é esse? Pode voltar agora e colocar o sapato do uniforme.

– Tchau mãe. – bati a porta e sai correndo em direção à escola, pelo menos isso eu faria conforme minha vontade hoje, que manhã mais estressante, nesse bairro não vi ninguém com o mesmo uniforme que o meu, várias pessoas também estão indo em direção a suas escolas e trabalhos, me sinto como uma esquisita aqui, percebo alguns olhares sobre mim, isso não me incomoda. Já aprendi a lidar com esse tipo de coisa, afinal eu sempre fui meio estranha... Faz dois meses que nos mudamos para cá, apareceu uma boa oportunidade de emprego para meu pai nesta cidade, este lugar é muito diferente de onde costumávamos morar, aqui perto tem um condomínio de luxo, então certas coisas são bem diferentes da realidade a qual estou acostumada, todas essas coisas finas e elegantes me deixam acuada, não sei lidar com esse tipo de gente e o pior... É que esta escola é frequentada pela maioria dos filhos dessas pessoas ricas, não é à toa este uniforme esquisito.

Cheguei em frente ao pátio da escola em 7 minutos, bem menos do que eu previa andando devagar, ainda faltam alguns minutos até bater o sinal, já vim aqui antes com minha mãe para fazer a matrícula então tenho uma noção de onde ficam os banheiros, a secretaria e a área de esportes, também tem o refeitório e o jardim logo a frente. No portão havia um senhor cumprimentando os alunos, parece mesmo que eles ficam de olho nos uniformes.

Espero que não implique comigo por causa do tênis... fui em direção ao portão de entrada, quando me aproximei o senhor de cabelos já grisalhos, meio barrigudo e baixinho me fitou dos pés à cabeça, deu um sorriso e disse;

– Bom dia minha jovem, gostei do seu sapato, são bem bonitos não?

– Ah... é que os outros não me serviram bem então...

– Não tem problema, o exigido é que o uniforme esteja em ordem, o sapato social é apenas um adicional, alguns alunos fazem isso também, então não acho que implicaram muito com você. – ah... esse homem me parece ser legal, talvez esse lugar não seja tão ruim assim, embora ele seja apenas o porteiro.

– Obrigada senhor, hm... Qual seu nome? – ele pareceu surpreso, deu uma risada longa– Eu disse algo errado?

– Não minha jovem, acontece que é muito raro um aluno se importar com coisas como o meu nome por aqui, me chamo Pedro, prazer em conhecê-la.

– Igualmente. – me virei de costas em direção a entrada, precisava encontrar minha sala, afinal eu não conhecia o andar de cima.

– Hey minha jovem. – gritou o porteiro.

– Hã?

– Não me disse seu nome.

– Ah, me chamo Erika. – ele deu um último sorriso antes de se virar de volta aos alunos que chegavam aos montes, entrando pelo corredor percebi como estava lotado, era uma mistura de conversas aleatórias que se tornava difícil decifrar, eu pensei em perguntar para alguém sobre a sala 7, que seria a minha, mas não me senti confortável o suficiente, todos parecem tão indiferentes a estranhos e a perguntas... Ou talvez seja apenas minha imaginação, sendo que não me sinto bem neste lugar, qual dos dois? É difícil dizer...

– Aí– senti meu nariz arder com o impacto, bati em alguém, de onde esse cara saiu?

– Olhe por onde anda menina. – que? Você que atravessou na minha frente de repente, idiota.

Ele era mais alto que eu, não pude ver muita coisa já que estava de costas, até que eu percebi que ele estava de mãos dadas com uma menina, ele se abaixou e cochichou algo no ouvido dela, então ela começou a dar risinhos. Estão rindo de mim, tenho certeza. Até que ele se virou e pude ver o rosto dele... E caramba...

Era muito bonito, tinha os olhos azuis claros e o cabelo castanho escuro e ondulados, tinha um porte atlético, não era magro nem musculoso, parecia um desses atores americanos, alguns descreveriam como "perfeito"

– Seu nariz é tão duro quanto um pedaço de pau, quase fez um furo nas minhas costas. – disse esnobe.

Até parece...

Todos em volta começaram a gargalhar, a garota que estava com ele até chorava de tanto rir, mal coloquei os pés aqui e já sou o centro das atenções, apenas confirmei o que sempre soube, perfeição é algo que não existe nesse mundo, ainda mais um palhaço egocêntrico como esse.

Dei de costas e fui procurar a bendita sala 7, deixando para trás todos rindo de mim, isso não iria me afetar, não sou tão sensível assim, aprendi a lidar com coisas bem piores, subi as escadas e fui para o andar das classes, era bem extenso, se fosse olhar uma por uma iria me atrasar, vi um garoto mexendo em seu celular em frente a sala mais próxima e decidi perguntar, depois do que houve, passar vergonha não me importa mais.

– Com licença, saberia me dizer onde fica a sala 7?

Sua atenção enquanto mexia no celular se direcionou a mim, me mediu dos pés à cabeça, qual o problema com esse pessoal?

– Você é nova? – perguntou.

– Sim, ainda não conheço a ordem das salas e...

– Você é bonita!

– Quê? – o que? Eu apenas fiz uma pergunta e esse cara já me vem com essa, ninguém merece...

– Vem comigo, vou te levar lá. – deu de costas e foi andando na minha frente, bom não importa se ele é estranho e sem noção, só me importa chegar a essa sala logo. O corredor estava cheio, o que não era novidade, alguns me perceberam na multidão e não disfarçaram olhares, nada discretos por sinal.

– Aqui, está entregue. – apontou para sala sorrindo, ele era um rapaz da mesma altura que eu, com cabelos pretos enrolados e feição gentil, isso só me diz uma coisa... Ele é bem suspeito!

– Err... obrigada de verdade, estou mais tranquila agora, pelo menos não cheguei atrasada.

– Não precisa agradecer, sério. – ah... talvez ele não seja tão ruim. – Como pagamento só quero um encontro com você, aliás qual o seu nome?

Caramba...Um pior que o outro.

– Sou Erika, obrigada, mas... não posso sair com você apenas porque quer, mas obrigada pela ajuda. – não adianta ficar evitando essas pessoas, tenho que dizer as coisas certas nos momentos certos, se não vou acabar arrumando encrenca. Ele pareceu meio surpreso pelo que eu disse, isso é bom, parece que ele entendeu.

– Nossa, você é a primeira novata que me dá um fora, gostei. Venho aqui no intervalo te conhecer melhor, até.

Deu de costas e saiu andando, se perdendo naquele mar de pessoas, não dando tempo para uma resposta de minha parte, até agora o único ser aparentemente normal que conheci foi o porteiro, só de imaginar meus dias aqui já fico enjoada... ou talvez seja fome? Provavelmente as duas coisas!

[...]


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Notas finais do capítulo

Primeiro capítulo, deixe seu comentário se gostou, críticas também são bem vindas, estou sempre disposta a melhorar, rumo a uma perfeição utópica e inalcançável, isso serve como motivação para continuar.



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