Após todos os narnianos que haviam aparecido dentro do nevoeiro embarcarem no navio, Caspian resolveu baixar um pequeno bote para que pudessem ir adiante no imensidão branca, pois o Peregrino não podia navegar numa profundidade tão baixa como aquela.

Os Reis e Rainhas, juntamente com Eustáquio, Ethan e Ripchip, foram adiante. Apenas quando adentraram a brancura, foi que perceberam o que realmente era aquilo.

— São Lírios. – disse Skye, tirando uma flor da água e colocando-a nos cabelos.

Já tranquilos quanto a isso, o grupo começou a conversar enquanto Edmundo e Caspian remavam. Eustáquio resolveu explicar como havia voltado a ser menino.

— E como é que foi? – perguntou Edmundo, após o primo terminar a história – Quando Aslam transformou você.

— Por mais que eu tentasse, não estava conseguido sozinho. Daí ele se aproximou de mim. Doeu um pouco, mas foi uma dor boa, tipo quando você tira um espinho do pé. Ser dragão não foi nada mal. Eu acho... Que fui um dragão melhor do que um menino mesmo. Desculpa ter sido tão chato.

— Tudo bem Eustáquio. – disse Edmundo – Você foi um dragão bem legal.

Enquanto os outros continuavam conversando, Skye analisou Lúcia, que olhava para a imensidão de Lírios.

— Lúcia.

— Sim?

— Acho que nunca tive a oportunidade de dizer isso. – começou Skye – Mas você é linda, e a pessoa mais corajosa que eu já conheci.

Lúcia sorriu envergonhada, segurando a mão de Skye.

— E você é a melhor espadachim que já conheci. – disse Lúcia dando um leve empurrão em Skye – Obrigado por sempre se preocupar comigo.

As duas sorriram de mãos dadas. Skye percebeu que Eustáquio observava as duas.

— Você é extraordinário Eustáquio, e foi muito corajoso.

— E-Eu? – perguntou Eustáquio boquiaberto.

— Sim. – respondeu Skye rindo – Foi realmente ótimo ter convivido com você. Principalmente quando você virou um dragão. Essa foi a melhor parte.

Aquilo estava parecendo uma despedida, e Skye sentia isso, mas sua mente dizia que tudo ficaria bem.

[...]

— Meus amigos. – informou Ripchip – Nós chegamos.

O mar de Lírios se estendia por mais alguns metros, para depois ser substituído com um banco de areia, onde havia uma enorme parede azul. Só ao chegarem à beira do banco de areia, foi que Skye percebeu que a parede na verdade era uma onda gigantesca caindo sem cessar, no mesmo lugar.

O grupo desceu do bote, avançando pela a areia. Eles só pararam quando estavam a pouquíssimos metros da onda.

— Aslam. – sussurrou Eustáquio.

O Grande Leão estava bem ao lado deles. Aslam andou até a frente do grupo e disse:

— Bem vindas crianças. Agiram muito bem, muito bem mesmo. Estão bem longe, e agora a jornada acabou.

Aslam pousou seus olhos em Skye. Um olhar penetrante que arrepiou os pelos da nuca da garota, e confirmou uma coisa na qual ela já desconfiava. Estava na hora.

Como Skye estava mais afastada do grupo, não foi muito difícil se afastar mais ainda. A garota andou vagarosamente até a grande onda, sentando-se na beirada, enquanto os outros continuavam dando atenção a Aslam. O Leão não pareceu se incomodar com a distância dela.

A água batia em seus pés e depois subia. Skye podia ouvir as vozes dos outros, mas fazia um grande esforço mental para não entender o que diziam.

Skye não sabia quanto tempo havia se passado, até que Ripchip aparecesse ao seu lado.

— Vim dizer adeus minha Rainha. O Grande Leão permitiu que eu parta para seu país. Gostaria de dizer que foi uma honra servi-la.

— Eu que agradeço Rip. – disse Skye sorrindo enquanto passava a mão na cabeça peluda do rato – Eu desejo que você seja muito feliz.

Ripchip fez uma reverência e desembainhou a espada, entregando-a para Skye.

— Pode cuidar dela para mim? – perguntou.

— Com todo o meu coração. – respondeu Skye, também fazendo uma reverência.

Ripchip se afastou da garota, subindo em um barquinho minúsculo, que remou sozinho, levando-o até o topo da onda, onde desapareceu.

Os outros voltaram a conversar, e novamente Skye tentou não entender o que diziam, mas poucos minutos depois, Edmundo sentou-se ao seu lado.

Os dois se fitaram. O coração de Skye doía, pois já sabia o que estava por vir.

— Aslam conversou comigo. - começou Edmundo – Sabe daquele jeito que ele sempre faz. Escutei sua voz na minha cabeça.

— E o que ele disse? – hesitou Skye.

Edmundo desviou seus olhos dos de Skye, e manteve sua atenção na onda.

— Que está na hora de nós partirmos. Para sempre.

Há muito tempo atrás, bem antes de virar Rainha, a tia de Skye, Prunaprismia, deixou-a de castigo por algo que Skye não recordara mais. A garota ficou o dia inteiro trancada em seu quarto, e grande parte desse tempo ela passou chorando. Só após várias lágrimas, foi que Skye percebeu que chorar não ajudaria em nada, e simplesmente parou. A partir desse dia em diante, Skye prometeu para si mesma que nunca choraria por nada ou ninguém.

Mas naquele momento, a dor que Skye sentia era tão grande que sua promessa se desfez. As lágrimas rolaram pelo seu rosto sem a mínima cerimônia. Edmundo nunca havia visto a garota chorar antes.

— Mas ele também me disse outra coisa...

Skye não disse nada. O seu choro era calmo, sem soluços. Ela olhou novamente para Edmundo.

— E-Ele disse que o nosso amor é forte e verdadeiro. – continuou Edmundo, limpando uma lágrima na bochecha de Skye – Tão forte que dará frutos.

Skye ficou boquiaberta. Suas mãos automaticamente correram até seu ventre e Edmundo sorriu.

— Você pode ir comigo se quiser.

Aquilo atingiu Skye como a flecha de um caçador atinge um animal. Ela não queria se separar de Edmundo, principalmente nas circunstâncias na quais ela se encontrava. Mas isso também significava abandonar Nárnia. Abandonar Caspian. Abandonar Ethan.

— Eu não posso fazer isso. – soluçou Skye, seu choro aumentando impiedosamente – Eles são a minha família.

— Eu nunca pediria isso para você. – sussurrou Edmundo, abraçando Skye.

Skye soluçava violentamente, e suas lágrimas grossas molhavam a camisa de Edmundo.

— Vai ficar tudo bem. – sussurrou Edmundo, colocando a mão em cima do ventre da garota – Ethan cuidará de vocês dois. Ele fará o que eu não poderei fazer.

Skye apertou seus braços ao redor do pescoço do garoto. Ela não queria que aquilo fosse verdade, não podia ser.

— P-Por que você não pode ficar? – soluçou Skye.

— As coisas nem sempre são do jeito que nós queremos. – cochichou Edmundo, com a voz embargada.

Skye desfez o abraço, envolvendo o rosto de Edmundo com suas mãos. Os lábios dos dois se encontraram. Aquele era o beijo mais doloroso da vida de Skye. O beijo mais triste para Edmundo. Seus corpos se completavam, mas teriam que se separar. O sentimento infinito que um dia os uniu nunca mais seria sentindo.

— Eu te amo, Edmundo. – sussurrou Skye quebrando o beijo – Eu te amo mais que tudo.

— Eu também te amo Skye, eu também te amo.