O tempo parecia ter parado. Dentro da cabine de Skye nada que acontecia do lado de fora podia ser escutado e nem mesmo o sacolejar do navio conseguia incomodar Edmundo.

Enquanto aproveitava aquele pequeno momento de calmaria, o garoto observava Skye. Ela estava mergulhada em um sono tranquilo e se mantinha de costas para Edmundo.

Suas costas eram a única parte de seu corpo que não estavam cobertas pelo lençol branco e se moviam no ritmo de sua respiração. Seus cabelos estavam um pouco desgrenhados. Seu rosto não tinha o olhar desafiador de sempre, nem o sorriso sarcástico. Ela parecia tão... Pura.

Edmundo poderia passar o dia inteiro observando-a, mas uma tempestade caía lá fora, e apesar de querer mais que tudo ficar ali até que Skye acordasse, ele tinha que ajudar a tripulação.

Suas roupas ainda estavam encharcadas quando Edmundo vestiu-as novamente, mas isso não importava, pois assim que saiu da cabine silenciosamente ele foi atingido pela chuva forte. Edmundo caminhou até o convés e avistou Caspian no meio da multidão de marinheiros.

– Você demorou! – exclamou Caspian, puxando Edmundo até o camarote da popa.

– É... É que a Skye... – gaguejou Edmundo, enquanto pensava em algo para acobertar o que realmente havia acontecido – Bem... Ela demorou um pouco para se acalmar e... E aceitar que não iria voltar para o convés.

– Imagino. – disse Caspian, sentando-se em uma cadeira – Afinal, é a Skye. A propósito, ela está bem? Sabe, depois de ter sido arrastada por aquela onda.

– Ela... Ela dormiu, depois de um tempo. Mas parecia muito bem.

– É melhor assim. Obrigado por ter cuidado dela Eddie. Agora vamos, ainda temos muito trabalho a fazer.

[...]

Skye acordou assustada. A imagem da Feiticeira Branca atormentou seus sonhos. Era uma versão esverdeada e fantasmagórica da mesma, mas não deixava de ser aterrorizante. No pesadelo, a Feiticeira tentava ao máximo corromper Edmundo, tentando fazer com que o garoto deixasse Skye e se juntasse a ela. Skye coçou os olhos, ordenando a si mesma que se acalmasse, pois aquilo era apenas um pesadelo.

A garota se sentiu um pouco desorientada e analisou sua cabine. Sentia que algo havia mudado, mas parecia tudo igual. Ela olhou para baixo e só então reparou que estava totalmente despida.

Skye se cobriu com o lençol rapidamente, como se alguém pudesse lhe ver naquele estado, apesar de estar sozinha na cabine. Foi então que as lembranças lhe atingiram como um soco.

A onda lhe arrastando. Edmundo lhe pegando em seus braços. Ela lutando para ir até o convés. Edmundo dizendo que iria lhe proteger. Suas roupas sendo jogadas no chão.

Não demorou muito para perceber que era Skye que tinha mudado.

[...]

A tempestade finalmente parecia ter cessado, e deu lugar a um sol forte. Ele já estava quase no meio do céu, quando Skye finalmente tomou coragem para sair de sua cabine. No convés, a primeira pessoa que apareceu na sua frente é Ethan.

– Nossa! – exclamou Ethan – Pensei que não iria sair da cabine hoje. Eu já estava indo ver como você estava.

– Está tudo bem – disse Skye, novamente lembrando-se do que havia acontecido – É só que...

– Eu sei.

– C-Como assim você sabe? – perguntou Skye assustada.

– Todo mundo sabe Skye. – disse Ethan, passando um dos braços ao redor dos ombros de Skye – Você foi arrastada por uma onda enquanto dava uma de rebelde.

– Ah, sim. É isso. – sussurrou Skye, aliviada.

– Claro que é. Estavam todos preocupados com você. Lúcia estava quase invadindo seu quarto, mas Edmundo garantiu que você estava ótima, mas só precisava descansar.

Edmundo!

– Onde ele está? – perguntou Skye, olhando a sua volta.

– Bem – começou Ethan – Neste exato momento, ele está nos observando de uma forma estranha, lá na proa.

Skye olhou automaticamente para proa. Edmundo estava encostado na balaustrada, olhando na direção de Skye. Seu rosto não tinha nenhuma expressão e assim que percebeu que Skye também lhe observava, seus olhos voltaram-se para o mar.

– Ele não gosta de mim, não é? – perguntou Ethan, acordando Skye do transe.

– Não é isso. – respondeu Skye rindo.

– Claro que é. Acha que já não percebi? Só não te contei nada porque sabia que você iria discordar.

– Vocês só não se conhecem direito. – suspirou Skye – Vou falar com ele sobre isso.

– Não precisa se preocupar. – retorquiu Ethan, segurando as mãos de Skye para demonstrar confiança – Sério, já estou acostumado com as pessoas me tratando de uma forma estranha. Para falar a verdade, acho que só você e Lúcia são realmente legais comigo.

– Por esse motivo acho que já está mais do que na hora desse tipo de comportamento acabar. – articulou Skye, soltando as mãos de Ethan e se afastando.

Skye também queria conversar com Edmundo sobre Ethan, mas aquele só era mais um pretexto para que pudessem falar sobre a noite passada.

Ela subiu as escadas da proa e se encostou na balaustrada, logo ao lado de Edmundo que continuava olhando para o mar. Skye não sabia o que dizer, e antes que algo viesse a sua mente, ela olhou para Edmundo. Os dois se encararam e após alguns segundos começaram a rir. Nada precisava ser dito, pelo menos não até conseguirem parar de rir.