Ecos escrita por Laís


Capítulo 3
Will the misty master break me?


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Alguém aqui ainda? Queria pedir desculpa pela minha ausência, detesto abandonar histórias assim, mas não tava sendo fácil estudar e existir *dramatic music playing*.
Esse capítulo é beeem curtinho só pra acordar quem estiver por aqui, mas espero que gostem. Desculpa se houver repetição, to meio enferrujada.



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Julia sentiu a garganta arder. Cruzou os braços em um gesto de defesa instintivo e, em parte, para esconder suas mãos trêmulas. A primeira reação do seu corpo quando confrontado com situações de estresse era o ardor na nuca e, naquele instante, sentia a presença da cicatriz atrás do seu pescoço mais intensamente do que nunca.

—Como você... – odiou o som da sua voz. Baixa, assustada, trôpega. Pigarreou e tentou esconder o nervosismo – Como você me achou?

—Oh, eu não sabia que você estava se escondendo – seu tom parte sarcasmo, parte ameaça. Levantou-se da mesa e começou a caminhar em sua direção – Você estava?

Julia não respondeu. Desviou o olhar para o chão e tentou continuar respirando, contudo as paredes pareciam preparar uma emboscada, encurralando-a e, quando ele finalmente chegou tão perto que sua respiração aqueceu o rosto de Julia, o teto afunilou-se por completo; estava sem ar. Engaiolada.

—Hein, menininha? Estava fugindo de mim? – ele acariciava sua bochecha levemente – Você sabe que isso acabaria comigo. Para de olhar para o chão, eu estou aqui na sua frente e deveria ter pelo menos a decência de me encarar enquanto parte meu coração.

Manteve os olhos abertos, com receio de fechá-los e deixar que uma lágrima escapasse.

—Não, eu não estava fugindo de você, eu só...

Antes que concluísse a resposta, foi arremessada de encontro ao sofá, mas caiu no chão antes que o alcançasse, batendo as costas na mesinha de centro.

—Então se não estava fugindo... Me diz por que eu voltei para casa um dia e você não estava mais lá? – as palavras eram carregadas de fúria, mas quase inaudíveis. Aquela tranquilidade a aterrorizava.

Sentindo uma pontada aguda nas costas, levantou o rosto para olhá-lo.

—Eu sinto muito.

—Isso não vai remendar os pedaços do meu coração, vai? Você tem sorte que estou aqui por negócios e sem tempo a perder, mas digo uma coisa – nessa hora, abaixou-se e segurou o rosto de Julia em suas mãos – Preciso viajar, talvez fique duas semanas fora, mas depois volto direto para casa e você vai estar me esperando, tudo bem? Porque eu amo você e nós precisamos ficar juntos, não vê isso? Até sua mãe concorda que somos perfeitos um para o outro. Eu sei que todo casamento tem suas dificuldades, por isso pretendo perdoá-la, porque eu sei que tudo o que estava precisando era de um pouco de perspectiva, mas agora que viu como o mundo trata pessoas pequenas assim como você, vai voltar, sim? É um lugar cruel aqui fora sem ninguém para cuidar do seu bem-estar. E eu protejo você, não é? Sempre.

Depositou um beijo na testa dela e fez menção de ir embora, porém deteve-se na porta.

—Ah, antes que eu me esqueça... Você sabe que odeio o seu cabelo curto, então... Por favor.

E fechou a porta.

E Julia chorou.

~x~

Spencer não cruzava seu caminho há três dias, isso não era incomum, aliás, ele já sumira uma vez desde o momento que passou a observá-lo, mas já estava começando a ficar inquieta. Isso acontecia sempre que topava com a mesma pessoa no metrô todos os dias, no mesmo horário. Se, em determinado dia, essa pessoa não aparecesse, começava a preocupar-se. Será que perdeu o horário? Está doente? Vai ser demitida por isso? E isso a perturbava por muito tempo. Se importava com esses desconhecidos, talvez, por desejar que alguém notasse sua ausência no dia em que fosse sua vez de sumir.

O reencontrou no sábado de manhã, jogando xadrez na praça próximo à cafeteria que frequentavam. Ficou sob a sombra de uma árvore, observando de longe. A forma como franzia os lábios e a testa captou sua atenção e ela se divertiu imaginando a criança que ele um dia fora. Por algum motivo, imaginou um jardim e várias peças eletrônicas de um rádio velho quebrado. Imaginou a curiosidade, talvez ele sendo expulso de algum cômodo da casa por mexer em livros que pertenciam aos seus pais. Tudo aquilo poderia nunca ter acontecido, mas agora existia na mente dela. Julia inventava histórias de pessoas que jamais se aproximaria. Involuntariamente, caminhou até onde Spencer estava sentado jogando com um rapaz bem mais jovem. Quando deu conta de si, ficou estática ao sol pensando como fora parar ali.

—Ah cara, como você consegue fazer isso? – o jovem desconhecido reclamou.

—Eu aprendi com uma pessoa.

—Mestre Yoda ou coisa do tipo?

Spencer sorriu. Um tipo de sorriso tímido, sem abrir a boca, como alguém que tivesse vergonha de fazê-lo, mas havia uma ternura atípica em seus olhos, parecendo se recordar de algo especial.

—Algo do tipo – respondeu, sorrindo e percebeu a presença de Julia. Pareceu demorar a encontrar alguma felicitação.

—Olá! – Julia resolveu tirar o peso dos ombros de Spencer em um dos surtos de espontaneidade que lhe viam como um relâmpago. –Eu estava pensando... Você tem algum lugar para estar agora? – repetiu a pergunta que lhe fizera da última vez que se viram.

Parecendo levemente espantado pela proposta, Spencer a fitou por alguns segundos enquanto Julia torcia para que sua espontaneidade não sucumbisse à voz interna que lhe dizia para voltar para casa e arrumar suas coisas.

—Não, lugar nenhum.

Julia assentiu e pareceu esquecer o que tinha para dizer em seguida. Spencer levantou e postou-se à sua frente.

—Não vai dizer tchau para seu amigo? – fez menção para o jovem perdido nos acontecimentos.

—Ah, claro. Até semana que vem – acenou levemente. – Você tem algum lugar em mente?

—Na verdade, não.

Os dois riram e nenhum conseguiu detectar o nervosismo na risada do outro – eram ambos patéticos para certas coisas.

—Isso parece ótimo. Vamos andar então.

Você já fez isso? Só andar.

Só andar, sem ideia de aonde vai chegar? Não era uma sensação boa, mas também não era ruim. Eu me senti preso e livre, ao mesmo tempo, como se eu mesmo fosse a única pessoa que não me permitisse ser grande ou infeliz. 

Markus Zusak 


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Notas finais do capítulo

Queria muito saber se ainda tem alguém lendo e o que acharam. Milhões de beijos!!