Yellow escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 9
Capítulo 09 - Apaixonado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657164/chapter/9

— Oi? — disse Molly.

— Quer dizer, eu nunca beijei ninguém — ele disse, nervoso.

— Você é gay e nunca beijou ninguém?! — falou Alfie.

— Eu pensei que você ia dizer que gosta da Sally — disse Mia.

— Você gosta de mim? — Sally ficou surpresa.

— Não, quer dizer, sim, mas como amiga.

— Claro que não gosta, ele é gay — falou Molly.

— Eu não sou.

— Mas você falou.

— Vamos esquecer isso?

—Você gosta da Sally ou não? — perguntou Mia.

— Não.

— Você é gay ou não?

Ele relutou em dizer, revirou os olhos e suspirou.

— Sim.

Ela abriu um sorriso de surpresa.

— Isso é maravilhoso!

— Pois é! — falou Sally.

— Eu sempre quis ter um amigo gay — disse Molly. — E agora tenho dois! — Ela olhou para Alfie.

— Bem-vinda ao time, querida — falou ele.

— Mas não contem nada pra ninguém, por favor. — Ele colocou a mão na testa. — Eu nem deveria ter contado a vocês, droga.

— Não tem problema, cara — disse Mia. — Isso é sensacional!

— Pois é, mas eu realmente achei que você estava gostando da... — Alfie falou, mas parou ao perceber o que realmente estava acontecendo. Não era de Sally, ele pensou. — Oh meu deus.

Troye arregalou os olhos, como se mandasse ele ficar quieto mentalmente. Alfie obedeceu.

— Isso precisa de uma comemoração. — Molly se levantou e foi até a máquina de comida. Colocou um dólar dentro e pegou uma barra de chocolate.

Abriu e dividiu.

Mia ergueu seu pedaço da barra.

— Ao Troye e sua nova descoberta! — disse ela, e todos brindaram com seus chocolates, menos Troye, que se limitou a sorrir envergonhado.

***

Alguns minutos depois, eles estavam voltando para a biblioteca. Molly levava consigo um punhado de chocolates e doces.

— Eu encontro vocês lá, vou dar uma passadinha no banheiro, ok? — disse Sally.

— Tudo bem — respondeu Mia.

Ela entrou no corredor à direita e os outros seguiram para a biblioteca.

Depois de cruzar alguns corredores e subir as escadas, eles chegaram. O local estava completamente vazio. Molly despejou as coisas em cima de uma mesa e se sentou.

Troye caminhou para lá e para cá. Mia e Alfie se sentaram.

Quando ele percebeu que Mia e o olhava com um sorriso no rosto, fez uma cara de estranheza.

— O que foi? — ele perguntou.

— Nada — ela respondeu. — Não é nada.

— Diga.

— É sério, não é nada.

Ele cerrou os olhos.

— Tá bom, então.

— Lembra quando você perguntou se tinha algo acontecendo entre Sally e Harry e ficou todo nervoso depois?

— Lembro da primeira parte, sim.

— Por que você ficou nervoso se não gosta dela?

— Eu não fiquei nervoso nem chateado.

— Eu não disse que você tinha ficado chateado.

— Mas ficou implícito.

— Troye, eles não estão aqui, você pode falar. Tem alguma coisa que não sabemos?

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, pensando no que responderia.

— Não, não tem nada — disse ele, por fim. — Me deixem.

***

Sally virou à esquerda em mais um corredor e caminhou até o final dele. As portas dos banheiros masculino e feminino ficavam bem próximas uma da outra. As duas estavam abertas e com as luzes acesas. Ela estava prestes a entrar na porta do banheiro feminino quando ouviu algo vindo do outro. Parecia alguém chorando.

Ela espiou levemente colocando a cabeça no espaço aberto da porta. Harry estava lá, de frente para o espelho agora quebrado, olhando fixamente para um enorme caco de vidro na sua mão. O que estava passando em sua mente?

Aquilo a deixou devastada.

(Adam Lambert – Mad World)

Sally entrou no banheiro silenciosamente, deixando o cheiro de água sanitária impregnar seu nariz, e se aproximou. Ele a viu pelo reflexo do espelho, mas não se virou para olhá-la.

— O que você faz aqui? — perguntou, enxugando as lágrimas. Ele tinha tirado a sombra preta.

Harry soltou o caco. Os olhos azuis estavam avermelhados e marejados.

— O que você estava pensando? — perguntou ela, sem se aproximar. Ele ainda a olhava apenas pelo espelho.

— Nada — respondeu ele. — Eu queria ficar sozinho, se você não se importar.

Ela olhou para o espelho quebrado, havia um pouco de sangue nele. O sangue era de Harry e estava em suas mãos, nos seus punhos.

— Eu me importo — disse ela.

— O que você quer?

— Eu quero te ajudar. — Sally começou a se aproximar.

— Você não deveria me querer por perto.

— Mas eu quero. — Ela tocou seu ombro. Ele olhou pelo espelho. — Deixe-me ajudá-lo... Você não precisa ficar sozinho.

Ele abaixou a cabeça e ficou em silêncio por um momento, olhando para o caco. Em seguida, caiu em lágrimas. Ela o abraçou por trás, colocando a cabeça em seu ombro.

Harry não disse nada, só chorou.

Ela sentia os olhos começando a arder e lacrimejar.

— Eu estou aqui — disse. — Você não precisa ficar sozinho.

Ele a afastou.

— Eu não quero jogar meus problemas em cima de você, Sally. — Harry finalmente se virou, a encarando com os olhos cheios de tristeza.

Ele caminhou até o canto do banheiro e se sentou no chão branco e limpo.

Ela o acompanhou e sentou ao seu lado, passando um braço pelos seus ombros.

Harry deitou a cabeça nas pernas dela e ela começou a mexer em seus cabelos loiros, enquanto a primeira lágrima caía dos seus olhos.

— Eu sinto falta da minha mãe — disse ele, chorando. — Ela era tudo o que eu tinha e ele a tirou de mim, e a culpa foi minha.

— A culpa não foi sua, por que você acha isso?

— Meu pai sempre reclamava que eu era uma criança problemática, sempre mandava ela cuidar do "seu maldito filho" e parar de "ser uma vadia", como ele mesmo dizia. Quase sempre, isso vinha seguido de socos, e eu sempre assistia...

Ele pausou, soluçando. Apertou os olhos e chorou mais.

— Há 6 anos, eu o vi matar minha mãe bem na minha frente, tudo porque eu havia quebrado alguns discos.

Sally não sabia o que dizer.

— Eu nunca contei isso a ninguém — ele disse.

Harry se levantou e a olhou nos olhos.

— Mas você é diferente. — Finalmente um sorriso surgiu em meio a tantas lágrimas. Um sorriso pequeno, mas verdadeiro.

Ela sorriu de volta, com os olhos cheios de lágrimas. Eles se aproximaram. Quando o beijo aconteceu, foi como uma explosão. Úmido e salgado por causa das lágrimas. Apaixonado.

Quando se afastaram, eles se olharam mais uma vez e começaram a rir. Harry recostou sua cabeça nos ombros de Sally e segurou sua mão.

— Obrigado — disse ele.

Ela não respondeu, apenas sorriu.

— Acho que nós deveríamos voltar para a biblioteca — ela disse, depois.

— Eu queria ficar sozinho com você — ele falou, se levantando e olhando-a nos olhos.

Sally sorriu.

— Tudo bem.

Ele a beijou novamente.

— Desculpa por ter sido grosso com você antes — disse Harry.

— Não precisa se desculpar.

— Preciso sim, você me tratou tão bem e eu só a afastei... É que eu tenho problemas em confiar nas pessoas, elas não costumam ser amigáveis comigo.

— Mas você não me afastou. — Ela passou as costas da mão no rosto dele e sorriu. — Você me atraiu.

***

Na biblioteca, os quatro estavam no andar de cima. Molly sentada em uma enorme almofada verde, Mia e Alfie sentados no chão, ela encostada nas grades de madeira e ele na estante de livros, e Troye sentado na sacada.

— Você é um... garfo? — perguntou Molly para Alfie.

— Quase — respondeu ele.

— Uma colher — disse Mia.

— Isso aí.

— Esse jogo é deprimente — falou ela.

— É sua vez agora — avisou ele.

— Eu não quero jogar.

— Ei, onde estão Sally e Harry? — perguntou Molly.

— Provavelmente namorando em algum dos corredores — respondeu Troye, desanimado.

— Eles são tão fofos juntos — disse Mia.

— Infelizmente, sim — disse ele, abaixando a cabeça.

— Cara, você está me confundindo, pensei que não gostasse dela.

— E não gosto. — Ele a olhou por alguns segundos, até ela perceber e abrir a boca.

— Não é o que eu estou pensando, é? — perguntou Mia.

— O quê? O que foi? — perguntou Molly, curiosa. — Eu sou um pouco lenta.

— Isso é sério? — disse ela para Troye.

Ele assentiu com a cabeça, um pouco envergonhado.

— O que é sério?!

— Eu não acredito que você gosta dele.

— Gosta de quem? Oh meu deus. — Molly finalmente percebeu. — Do Harry?

— Infelizmente.

— Deve ser terrível para você ver ele com a Sally, então.

— Eu já estou acostumado a ter paixonites impossíveis. — Ele deu de ombros.

— Sei como é — falou Alfie.

— Qual é — disse Molly. — Você pode achar alguém melhor do que aquele garoto problemático.

— Ele tem motivos para ser assim — falou Mia.

— Eu sei, é só que... Sei lá, eu o achei meio dramático... Mas não vou julgar, afinal, eu nem o conheço direito.

— Pois é — disse Alfie. — Que tal voltarmos a jogar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!