Yellow escrita por Eduardo Mauricio
— Oi? — disse Molly.
— Quer dizer, eu nunca beijei ninguém — ele disse, nervoso.
— Você é gay e nunca beijou ninguém?! — falou Alfie.
— Eu pensei que você ia dizer que gosta da Sally — disse Mia.
— Você gosta de mim? — Sally ficou surpresa.
— Não, quer dizer, sim, mas como amiga.
— Claro que não gosta, ele é gay — falou Molly.
— Eu não sou.
— Mas você falou.
— Vamos esquecer isso?
—Você gosta da Sally ou não? — perguntou Mia.
— Não.
— Você é gay ou não?
Ele relutou em dizer, revirou os olhos e suspirou.
— Sim.
Ela abriu um sorriso de surpresa.
— Isso é maravilhoso!
— Pois é! — falou Sally.
— Eu sempre quis ter um amigo gay — disse Molly. — E agora tenho dois! — Ela olhou para Alfie.
— Bem-vinda ao time, querida — falou ele.
— Mas não contem nada pra ninguém, por favor. — Ele colocou a mão na testa. — Eu nem deveria ter contado a vocês, droga.
— Não tem problema, cara — disse Mia. — Isso é sensacional!
— Pois é, mas eu realmente achei que você estava gostando da... — Alfie falou, mas parou ao perceber o que realmente estava acontecendo. Não era de Sally, ele pensou. — Oh meu deus.
Troye arregalou os olhos, como se mandasse ele ficar quieto mentalmente. Alfie obedeceu.
— Isso precisa de uma comemoração. — Molly se levantou e foi até a máquina de comida. Colocou um dólar dentro e pegou uma barra de chocolate.
Abriu e dividiu.
Mia ergueu seu pedaço da barra.
— Ao Troye e sua nova descoberta! — disse ela, e todos brindaram com seus chocolates, menos Troye, que se limitou a sorrir envergonhado.
***
Alguns minutos depois, eles estavam voltando para a biblioteca. Molly levava consigo um punhado de chocolates e doces.
— Eu encontro vocês lá, vou dar uma passadinha no banheiro, ok? — disse Sally.
— Tudo bem — respondeu Mia.
Ela entrou no corredor à direita e os outros seguiram para a biblioteca.
Depois de cruzar alguns corredores e subir as escadas, eles chegaram. O local estava completamente vazio. Molly despejou as coisas em cima de uma mesa e se sentou.
Troye caminhou para lá e para cá. Mia e Alfie se sentaram.
Quando ele percebeu que Mia e o olhava com um sorriso no rosto, fez uma cara de estranheza.
— O que foi? — ele perguntou.
— Nada — ela respondeu. — Não é nada.
— Diga.
— É sério, não é nada.
Ele cerrou os olhos.
— Tá bom, então.
— Lembra quando você perguntou se tinha algo acontecendo entre Sally e Harry e ficou todo nervoso depois?
— Lembro da primeira parte, sim.
— Por que você ficou nervoso se não gosta dela?
— Eu não fiquei nervoso nem chateado.
— Eu não disse que você tinha ficado chateado.
— Mas ficou implícito.
— Troye, eles não estão aqui, você pode falar. Tem alguma coisa que não sabemos?
Ele ficou em silêncio por alguns instantes, pensando no que responderia.
— Não, não tem nada — disse ele, por fim. — Me deixem.
***
Sally virou à esquerda em mais um corredor e caminhou até o final dele. As portas dos banheiros masculino e feminino ficavam bem próximas uma da outra. As duas estavam abertas e com as luzes acesas. Ela estava prestes a entrar na porta do banheiro feminino quando ouviu algo vindo do outro. Parecia alguém chorando.
Ela espiou levemente colocando a cabeça no espaço aberto da porta. Harry estava lá, de frente para o espelho agora quebrado, olhando fixamente para um enorme caco de vidro na sua mão. O que estava passando em sua mente?
Aquilo a deixou devastada.
Sally entrou no banheiro silenciosamente, deixando o cheiro de água sanitária impregnar seu nariz, e se aproximou. Ele a viu pelo reflexo do espelho, mas não se virou para olhá-la.
— O que você faz aqui? — perguntou, enxugando as lágrimas. Ele tinha tirado a sombra preta.
Harry soltou o caco. Os olhos azuis estavam avermelhados e marejados.
— O que você estava pensando? — perguntou ela, sem se aproximar. Ele ainda a olhava apenas pelo espelho.
— Nada — respondeu ele. — Eu queria ficar sozinho, se você não se importar.
Ela olhou para o espelho quebrado, havia um pouco de sangue nele. O sangue era de Harry e estava em suas mãos, nos seus punhos.
— Eu me importo — disse ela.
— O que você quer?
— Eu quero te ajudar. — Sally começou a se aproximar.
— Você não deveria me querer por perto.
— Mas eu quero. — Ela tocou seu ombro. Ele olhou pelo espelho. — Deixe-me ajudá-lo... Você não precisa ficar sozinho.
Ele abaixou a cabeça e ficou em silêncio por um momento, olhando para o caco. Em seguida, caiu em lágrimas. Ela o abraçou por trás, colocando a cabeça em seu ombro.
Harry não disse nada, só chorou.
Ela sentia os olhos começando a arder e lacrimejar.
— Eu estou aqui — disse. — Você não precisa ficar sozinho.
Ele a afastou.
— Eu não quero jogar meus problemas em cima de você, Sally. — Harry finalmente se virou, a encarando com os olhos cheios de tristeza.
Ele caminhou até o canto do banheiro e se sentou no chão branco e limpo.
Ela o acompanhou e sentou ao seu lado, passando um braço pelos seus ombros.
Harry deitou a cabeça nas pernas dela e ela começou a mexer em seus cabelos loiros, enquanto a primeira lágrima caía dos seus olhos.
— Eu sinto falta da minha mãe — disse ele, chorando. — Ela era tudo o que eu tinha e ele a tirou de mim, e a culpa foi minha.
— A culpa não foi sua, por que você acha isso?
— Meu pai sempre reclamava que eu era uma criança problemática, sempre mandava ela cuidar do "seu maldito filho" e parar de "ser uma vadia", como ele mesmo dizia. Quase sempre, isso vinha seguido de socos, e eu sempre assistia...
Ele pausou, soluçando. Apertou os olhos e chorou mais.
— Há 6 anos, eu o vi matar minha mãe bem na minha frente, tudo porque eu havia quebrado alguns discos.
Sally não sabia o que dizer.
— Eu nunca contei isso a ninguém — ele disse.
Harry se levantou e a olhou nos olhos.
— Mas você é diferente. — Finalmente um sorriso surgiu em meio a tantas lágrimas. Um sorriso pequeno, mas verdadeiro.
Ela sorriu de volta, com os olhos cheios de lágrimas. Eles se aproximaram. Quando o beijo aconteceu, foi como uma explosão. Úmido e salgado por causa das lágrimas. Apaixonado.
Quando se afastaram, eles se olharam mais uma vez e começaram a rir. Harry recostou sua cabeça nos ombros de Sally e segurou sua mão.
— Obrigado — disse ele.
Ela não respondeu, apenas sorriu.
— Acho que nós deveríamos voltar para a biblioteca — ela disse, depois.
— Eu queria ficar sozinho com você — ele falou, se levantando e olhando-a nos olhos.
Sally sorriu.
— Tudo bem.
Ele a beijou novamente.
— Desculpa por ter sido grosso com você antes — disse Harry.
— Não precisa se desculpar.
— Preciso sim, você me tratou tão bem e eu só a afastei... É que eu tenho problemas em confiar nas pessoas, elas não costumam ser amigáveis comigo.
— Mas você não me afastou. — Ela passou as costas da mão no rosto dele e sorriu. — Você me atraiu.
***
Na biblioteca, os quatro estavam no andar de cima. Molly sentada em uma enorme almofada verde, Mia e Alfie sentados no chão, ela encostada nas grades de madeira e ele na estante de livros, e Troye sentado na sacada.
— Você é um... garfo? — perguntou Molly para Alfie.
— Quase — respondeu ele.
— Uma colher — disse Mia.
— Isso aí.
— Esse jogo é deprimente — falou ela.
— É sua vez agora — avisou ele.
— Eu não quero jogar.
— Ei, onde estão Sally e Harry? — perguntou Molly.
— Provavelmente namorando em algum dos corredores — respondeu Troye, desanimado.
— Eles são tão fofos juntos — disse Mia.
— Infelizmente, sim — disse ele, abaixando a cabeça.
— Cara, você está me confundindo, pensei que não gostasse dela.
— E não gosto. — Ele a olhou por alguns segundos, até ela perceber e abrir a boca.
— Não é o que eu estou pensando, é? — perguntou Mia.
— O quê? O que foi? — perguntou Molly, curiosa. — Eu sou um pouco lenta.
— Isso é sério? — disse ela para Troye.
Ele assentiu com a cabeça, um pouco envergonhado.
— O que é sério?!
— Eu não acredito que você gosta dele.
— Gosta de quem? Oh meu deus. — Molly finalmente percebeu. — Do Harry?
— Infelizmente.
— Deve ser terrível para você ver ele com a Sally, então.
— Eu já estou acostumado a ter paixonites impossíveis. — Ele deu de ombros.
— Sei como é — falou Alfie.
— Qual é — disse Molly. — Você pode achar alguém melhor do que aquele garoto problemático.
— Ele tem motivos para ser assim — falou Mia.
— Eu sei, é só que... Sei lá, eu o achei meio dramático... Mas não vou julgar, afinal, eu nem o conheço direito.
— Pois é — disse Alfie. — Que tal voltarmos a jogar?
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!