Yellow escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 8
Capítulo 08 - Segredos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657164/chapter/8

(Ohio Players – Love Rollercoaster)

A sala dos professores era enorme, com três grandes janelas na parede do fundo, dois sofás azuis, uma mesinha de centro, uma mesa, uma geladeira, um balcão com uma máquina de café e outras coisas, além da grande máquina de comida.

Molly estava em pé no sofá, com um pacote de Doritos na mão. Ela comia os salgadinhos como se fosse uma hóstia consagrada.

Mia rodava pela sala, com os olhos fechados e algumas cheetos de queijo na boca. Pareciam chapados, chapados de comida.

Alfie batia na máquina para ela liberar sua barra de chocolate tamanho grande.

— É melhor devolver meu dólar, sua vagabunda — disse ele, pouco antes de sua barra cair no pequeno compartimento. Ele pegou e abriu. — É isso aí, vadia!

Wooooooooooohoooooo! — disse Molly, gritando e derrubando Doritos em todos os lugares.

Quando Sally chegou à sala dos professores, minutos depois, Mia estava deitada em um sofá e Molly no outro, cheia de pacotes de salgadinho ao redor.

Alfie estava deitado no chão com os braços abertos, com várias embalagens de chocolate ao redor e a boca toda suja. Era como se tivessem acabado de fazer sexo.

— Oh meu deus, o que aconteceu aqui? — perguntou ela, olhando para a bagunça do local.

— Paraíso — respondeu Molly, com os olhos fechados e um sorriso no rosto. Os dedos estavam sujos do pó laranja do salgadinho.

— O quê?

— Não ligue, ela está delirando — disse Mia. — Esses salgadinhos são divinos. — Ela beijou uma embalagem vazia de Doritos.

Sally riu.

***

Troye permanecia na biblioteca sozinho, andando para lá e para cá, olhando os livros nas prateleiras, fazendo barulhos com a boca e às vezes cantando baixinho.

Depois ele se sentou e olhou ao redor, entediado.

***

Mia, Molly, Sally e Alfie estavam sentados nos sofás da sala dos professores.

— Você ainda tem um pouco de chocolate no rosto — disse Sally, apontando, enquanto comia uma barrinha de cereais.

Ele limpou com as costas da mão e depois passou no sofá.

— Bela sala os professores têm aqui, hein — falou ela, observando o local ao redor.

— Pois é, aqui é tão legal, acho que vou invadir algumas vezes — disse Mia.

— E vai voltar pra detenção — completou Molly.

— Talvez até encontre vocês de novo.

Molly olhou o relógio redondo na parede.

— Droga, eu deveria estar no salão de beleza em vinte minutos — disse ela.

— Ocasião especial? — perguntou Mia.

— Ah sim, eu vou sair como meu namorado, ele vai me levar para jantar e talvez depois finalmente role alguma coisa... Larry está sendo muito paciente.

— Larry Mitchell? — Ela pareceu surpresa.

— Sim, o quê? Você o conhece?

Mia olhou para Alfie, que estava com a cabeça baixa.

***

Era uma noite de sábado. Alfie — na verdade, Patricia — saiu do clube Love acompanhado de Mia. Usava um longo vestido vermelho brilhante, peruca afro, brincos de argola e uma maquiagem forte. Os dois estavam rindo.

— Você precisa me chamar mais pra vir a esse clube, amiga — disse Mia. — É a coisa mais divertida do mundo!

— Eu vivo te chamando, mas você nunca bem — falou Patricia, que depois se abaixou um pouco e mexeu nos sapatos, tirando também a peruca. — Esses sapatos estão me matando... E esse calor também.

— Então fique aqui que eu vou pegar o carro.

— Eu prefiro.

— Já volto.

Mia saiu e Alfie ficou na calçada, esperando. A rua estava vazia, pois ainda era cedo. Ele tinha saído um pouco antes do horário normal.

Alfie olhou para o lado e viu um grupo de garotos vindo, todos usando roupas e tênis de marca. Os filhos de papai da escola, ele os reconhecia. Ao vê-lo, eles sorriram. Alfie olhou para frente e ignorou.

— Ei, Alfred — disse um deles, um loiro e alto. — O que houve com as suas roupas, cara?

Os outros riram.

Alfie sentiu alguém apalpando sua bunda.

— Então, eu não acho que você deveria sair por aí vestindo essas coisas?

— Me deixa em paz, Larry — falou ele, em um tom despreocupado.

— O que você vai fazer se eu não fizer?

Ele não respondeu.

Larry segurou a mão de Alfie e levou até sua calça.

— Você gosta disso, não é?

Alfie se virou para ele, soltando sua mão violentamente. Estava furioso, a ponto de explodir.

— É, eu gosto, eu sempre tentei evitar, mas você está me provocando, seu gostoso. Vamos foder ali naquele beco, com tanta força que eu vou precisar de uma cadeira de rodas amanhã.

Larry o olhou com fúria. Ninguém tirava sarro com ele. Ninguém.

Ele se aproximou e segurou Alfie com força pelo pescoço, deixando-o realmente assustado.

— Vire homem, sua putinha — disse ele, e depois o empurrou, fazendo-o cair no chão e derrubar as coisas da sua bolsa brilhante.

— Ei! — um homem gritou. Um dos seguranças do clube.

Os garotos saíram rindo e Mia chegou, ajudando o amigo a se levantar.

Ela os olhou furiosa.

— Eu odeio esses caras.

— É, eu também não sou muito fã deles.

***

Molly estava com a boca semiaberta, surpresa.

— Larry fez isso? — perguntou ela.

Alfie assentiu com a cabeça.

— Eu não acredito. — Ela parecia chocada. — E eu sempre achei que ele era um cara legal.

— Não é sua culpa, é apenas como as coisas são... A garota mais popular sai com o garoto mais popular e os dois saem pisando em todo mundo.

— Mas eu não sou assim.

Alfie deu um pequeno sorriso, nada irônico. Verdadeiro.

— Pior que eu acredito.

— Mas e tudo o que você fez com a Sally? — perguntou Mia.

— Tudo o quê? — Molly pareceu surpresa.

Sally deu um sorrisinho.

— Talvez eu possa ter omitido alguns fatos — disse ela.

— Ela colou chiclete no cabelo — falou Molly. — Eu tive que cortar uns seis dedos!

— Isso foi cruel — disse Mia.

Sally deu de ombros.

— Mas você é um pé no saco, às vezes — ela falou pra Molly e desta vez foi ela quem deu de ombros, concordando.

Troye abriu a porta da sala dos professores e entrou.

— Eu preciso sair desse lugar! — disse ele.

— O que houve? — perguntou Sally.

— Nada, mas eu estou prestes a morrer de tédio.

— Rainha do drama — falou Molly.

— Onde está o namorado da Sally? — perguntou Mia.

— O quê? Ele não é meu namorado!

— Não é o que parece.

— Ela tem razão — concordou Alfie.

— Pois é, está óbvio para todo mundo ver que você está caidinha por ele — disse Molly.

Ela deu um sorriso envergonhado.

— Está tão óbvio assim?

Mia assentiu com a cabeça.

— Ele está no banheiro — disse Troye, sentando-se ao lado de Molly em um sofá. — Aquele garoto é meio estranho.

— Ele só está passando por um momento difícil — falou Sally. — Não o julgue.

— Não está mais aqui quem falou. — Troye levantou as mãos em sinal de rendição.

— Oh meu deus, você está totalmente apaixonada por ele! — Mia riu.

— Quer parar com isso? Eu só acho ele bem legal.

— Só isso mesmo, né? — Alfie falou, com um sorriso malicioso. — Querida, nós vimos vocês dois dançando, se não estava rolando um clima ali, eu não sei o que estava.

— Nós podemos, por favor, parar de falar sobre o Harry? — perguntou Troye.

Mia e Alfie o olharam com estranheza.

— Eu achei que essa fala seria da Sally — disse ele.

— Ele tem razão, vamos falar sobre outra coisa, pelo amor de Deus — falou Sally.

— Alguém tem grandes segredos para serem contados? — perguntou Mia.

— Nem fodendo que eu conto meus segredos — disse Troye.

— Então você tem. — Ela riu.

— Claro que tenho, todo mundo tem.

— Se eu deixar alguma comida cair no chão, eu pego de volta e como — falou Alfie.

— Isso é nojento — disse Molly.

— Eu também faço isso — falou Troye.

— Eu também — Sally concordou.

— Só eu tenho senso de higiene, então?

— Vamos ver se o seu segredo é pior, então — disse Alfie.

— Pois é — concordou Mia. — Qual é o seu segredo, princesa?

— É. — Sally sorriu, apoiando o queixo na mão fechada, com um sorriso curioso. — Qual é o seu segredo, princesa?

Ela sorriu.

— É claro que eu não tenho segredos.

— Qual é, todo mundo tem segredos — disse Sally.

— Pois é, Molly, ele é tão ruim assim? — perguntou Mia.

Ela revirou os olhos.

— Tá bom — disse. — Mas vocês prometem que não contam a ninguém?

— Claro, docinho — falou Mia.

— Isso soou irônico.

— Conta logo a porra do segredo, mulher!

— Eu tenho uma tatuagem — ela respondeu, quase sussurrando. Depois sorriu.

— Oh meu deus, cadê? — Mia ficou animada.

— Não posso mostrar.

— Por quê? — Alfie perguntou.

— Porque fica em um lugar de difícil acesso.

Mia e Alfie caíram na gargalhada.

— Eu não acredito!

— Pois é, meu pai quase me engoliu por causa disso. — Ela revirou os olhos, sorrindo.

— Sua vez, Sally — disse Mia.

— Pois é. — Molly apoiou o queixo no cotovelo, sorrindo. — Qual é o seu segredo, princesa?

— Hm, deixe-me ver... Ah, sim!

— O quê?

— Eu sou virgem.

— Isso não é segredo, docinho — disse Mia. — Vamos lá, conte!

— Tá bom, deixe-me ver...

Ela colocou o dedo no queixo olhando para cima.

— Quando eu ando de metrô e vejo algum idoso, finjo que estou dormindo para não ter que ceder o assento.

Mia riu.

— Você é das minhas.

— Isso é meio cruel, mas eu também faço. — Troye deu de ombros.

— Quem nunca? — disse Alfie.

— O quê? Você tem que ceder o lugar no metrô? — perguntou Molly.

— Claro que sim, é um gesto educado — falou Sally. — Você nunca andou de metrô?

— Não, na verdade.

— Enfim — disse Mia. — Troye não precisa dizer nada porque nós já sabemos o seu segredo.

Alfie e Molly riram. Sally não entendeu.

— O quê? Eu não sei, o que é?

Os outros se entreolharam. Troye corou.

— Não acredito que eles sabem e eu não — ela disse para ele. — Conta!

Ele com certeza não contaria.

— É, Troye — falou Mia, sorrindo. — Conta.

Ele fez que não com a cabeça.

— Ah, por favor!

— Tá bom.

Os outros ficaram esperando ele declarar seu amor de uma tarde pela garota.

Troye estava pensando em algo. O que ele contaria? Que já repetiu de ano há alguns anos? Que ele nunca nem beijou alguém? Que ele já foi pego se masturbando por seu avô? Que ele nunca beijou ninguém! Sim definitivamente seria isso.

Ele estava um pouco nervoso. Nunca beijei ninguém, nunca beijei ninguém, nunca beijei ninguém, nunca beijei ninguém, ele pensava. Diga isso logo, Troye!

— Eu sou gay! — ele falou, finalmente, arregalando os olhos ao perceber que não era aquilo que queria falar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!