Yellow escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 3
Capítulo 03 - Presos




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— Como assim, presos? — perguntou Mia.

— As portas estão fechadas e não há ninguém em toda a escola.

— Você não tinha que fazer xixi? — disse Molly.

— Sério que isso é importante agora? — falou Alfie, levantando-se.

Todos seguiram o garoto gótico.

Molly colocou sua bolsa sobre a carteira e saiu correndo desajeitadamente por causa dos saltos.

— Espere por mim! — disse ela.

***

Instantes depois, os seis estavam parados em frente à porta dupla da entrada da escola. Eles olhavam para o lado de fora pelos dois retângulos de vidro. A neve cobrira tudo, não dava para ver nem os carros estacionados.

— Não pode ser — disse Sally.

— Eu sabia que não era para eu ter vindo para a escola hoje! — falou Troye.

— Essa deve ser a pior nevasca de todos os tempos — comentou Mia.

— Eu vou ligar para meu pai — disse Molly, voltando correndo para a sala, correndo com passos pequenos e barulhentos.

— Você procurou em todos os lugares? — perguntou Alfie. — Tem que ter alguém aqui.

— Acho que suspenderam as aulas e nos esqueceram — respondeu Sally.

Troye caminhou pelo corredor olhando para dentro das salas. Todas estavam vazias.

Ele começou a subir as escadas.

— Aonde você vai? — perguntou Mia, que ainda estava na porta.

— Vou pegar minha mochila — respondeu ele.

— O que vamos fazer agora? — perguntou Sally.

— Esperar que alguém venha nos buscar — respondeu Mia.

O garoto gótico começou a caminhar de volta para a sala de detenção, que ficava um pouco longe dali, nos últimos corredores da escola.

Os outros o seguiram, esbarrando com Molly no caminho.

— Eu não consigo ligar pro papai — disse ela, a ponto de chorar.

— Calma, princesa — falou Mia, ironicamente. — Não é como se fôssemos ficar aqui para sempre.

— Mas eu tenho hora marcada no salão de beleza hoje... Meu cabelo tem que ficar lindo para amanhã.

— E o que tem amanhã?

Ela olhou para Mia com desdém.

— Ah, é, você não deve ter sido convidada.

— Olha, não importa, vamos voltar para a sala de detenção e esperar alguém. Eles não podem ter nos esquecido aqui.

— Talvez isso faça parte do castigo — disse o garoto gótico, que continua a caminhar na frente deles.

O garoto gótico estava sentado na mesma carteira, com os pés em cima da cadeira da frente, os fones no ouvido e os braços cruzados.

Sally estava um pouco atrás, deitada sobre sua mochila verde com ursinhos pendurados nos zíperes. Com certeza não estava dormindo, mas o tédio já a tinha consumido.

Troye apoiava os cotovelos na mesa e tinha a cabeça entre as mãos, olhando para o quadro negro vazio, enquanto imaginava quando iria para casa. Esperava que fosse logo.

Mia estava sentada sobre as pernas em cima da mesa do professor, enquanto Alfie estava em uma cadeira ao lado, com as pernas cruzadas.

Molly passava batom rosa nos lábios enquanto se olhava em um pequeno espelho circular.

A sala estava mergulhada em um profundo silêncio.

— Eu sinto falta do meu cachorro — disse Molly, guardando o batom e o espelho dentro da bolsa branca.

— Nós estamos aqui há apenas uma hora — falou Mia.

— Mesmo assim. — Ela olhou ao redor. — Por que essa sala não tem janelas?

— Como eu vou saber? Provavelmente pra ninguém fugir.

Ela ficou em silêncio, batendo os dedos contra a mesa. Olhou para todos os outros e depois cutucou o garoto gótico no ombro.

— Ei.

Ele tirou os fones e olhou para ela, aborrecido por ter sido interrompido.

— Qual o seu nome? — Molly perguntou, sorridente.

Ele fez uma cara de desdém.

— Harry — respondeu friamente, colocando o fone novamente e virando-se para frente.

Ela cutucou de novo e ele se virou, desta vez mais aborrecido, mas sem dizer nada.

— O que está ouvindo, Harry?

— Por que você quer saber?

— Não sei, só quero socializar.

— Socialize com os outros, me deixe em paz. — Ele se levantou e foi até o outro lado da sala. Sentou-se novamente e colocou o fone.

Ela cerrou os olhos e fez um bico, olhando para ele.

— Idiota.

— Meu nome é Troye — disse Troye, com um sorriso tímido.

— Eu não perguntei.

— Mas você disse que...

— Alguém tem chiclete? — Molly interrompeu.

Troye desistiu de falar com a garota e se virou para Sally, que já não estava mais com a cabeça deitada sobre os braços.

— Não me surpreende que você odeie essa garota.

Ela sorriu.

— Eu tenho pastilha — disse Mia.

— Eu quero chiclete.

— Ok, então.

— Eu não aguento esse silêncio — falou Alfie. — Quem quer jogar "eu nunca"? — Ele levantou a mão.

Molly olhou para ela com desdém e depois voltou sua atenção às unhas cor-de-rosa.

— O que é isso? — perguntou Sally.

— Você nunca jogou? — disse Mia. — Ai que fofa.

— Não tem graça se não tiver bebidas — falou Troye.

— Você já jogou isso? — Sally perguntou.

— Não, vi em um filme — ele respondeu, meio envergonhado.

— É, não tem graça — disse Mia.

— De que tipo de filmes vocês gostam? — perguntou Alfie.

— Hm, não sei, acho que... Filmes de terror — respondeu Sally.

— Eu tenho medo deles, prefiro comédia.

— Se nós sobrevivermos, poderemos ver Pânico 2 nos cinemas.

— Sobreviver? — disse Mia.

— Nunca assistiu O Iluminado? Em certo ponto, um de nós vai ficar louco e tentar matar os outros... Eu acho que vai ser aquele dali. — Alfie apontou discretamente para Harry, fazendo os outros três rirem.

Depois de um breve silêncio, Alfie reclamou:

— Eu estou com fome.

— Eu também, mas estamos presos aqui — disse Mia. — Ah, eu só queria ir pra casa! — Ela deitou a cabeça na mesa.

— Então vamos comer — concluiu Troye.

— Como assim? — perguntou Alfie.

— Já que estamos sozinhos aqui, ninguém vai ligar se pegarmos algo na cantina... Deve ter alguma coisa lá.

Eles se entreolharam, com sorrisos nos rostos.

— Troye alguma coisa, você é um gênio! — disse Mia.

— Thompson.

— O quê?

— Meu sobrenome... É Thompson.

— Ah, sim.

Ela se levantou e os outros três também. Molly olhou para eles.

— Você vem com a gente, bonequinha? — perguntou Alfie.

— É, eu poderia comer uma maçã — disse ela, dando de ombros.

Neste momento, Harry viu os outros saindo e tirou o fone.

— Aonde vocês estão indo? — perguntou ele.

— Vamos comer alguma coisa — respondeu Mia.

— Onde?

— Na cafeteria... Você vem?

— Mas isso é totalmente proibido.

— É mesmo. — Ela sorriu.

Ele sorriu pela primeira vez e se levantou da cadeira.

***

— Esse lugar é meio assustador quando está vazio — comentou Alfie.

— Eu ouvi dizer que uma garota se matou no banheiro do segundo andar e o assombra até hoje — disse Mia.

— Ela cortou os pulsos e bebeu o próprio sangue? — perguntou Troye.

— Sim.

— Na história que eu ouvi, ela se matou em uma das salas de aula.

— Na versão que me disseram, ela morreu depois de engolir um rato — disse Sally.

— Então já sabemos que tudo é mentira — falou Alfie.

— Mentira ou não, eu não me atrevo a entrar naquele banheiro.

Eles cruzaram a porta dupla da cafeteria e entraram. O salão estava completamente vazio, mas as luzes estavam ligadas. Havia várias mesas circulares e no canto esquerdo, uma fileira com os locais para se servir. Atrás estavam as portas para a cozinha. Três delas.

— Eu nunca entrei nessa cozinha — disse Mia, passando para o outro lado do balcão. Os outros fizeram o mesmo.

Ao entrar na cozinha, eles perceberam que o local era totalmente sem graça, com freezers e fogões enormes. Os seis voltaram e olharam dentro dos recipientes do balcão. Ainda havia algumas batatas fritas e outras coisas.

— Eles provavelmente servirão isso amanhã — falou Mia.

Harry pegou uma com a mão e comeu.

— Estão frias.

— Claro — falou Mia, comendo uma também.

Molly caminhou até um freezer e pegou um suco de caixinha. Troye fez o mesmo. Depois, eles sentaram em uma mesa.

— Está frio aqui — disse Sally, cruzando os braços.

— Está mesmo — falou Mia.

— O que estamos fazendo aqui, exatamente? — perguntou Alfie. — Se vamos ficar aqui por mais algumas horas, melhor irmos para a biblioteca, eu sei ligar o aquecedor de lá.

— Me ganhou com o aquecedor — falou Troye.

Eles se levantaram e começaram a caminhar em direção à biblioteca.


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