Yellow escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 10
Capítulo 10 - Bolas de Neve




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657164/chapter/10

Deitados no chão da ala infantil da escola, em uma grande sala com tapetes decorados com o alfabeto, enormes janelas pelas quais se via a neve, pequenas mesas de madeira pintadas de roxo e vários brinquedos coloridos para todos os lados, Sally e Harry conversavam.

— Eu moro a dois quarteirões daqui, mas sabe por que eu não fui para casa?

— Por quê? — Ela virou a cabeça e olhou para ele. Ele fez o mesmo.

— Porque a última coisa que eu quero no meu dia sempre é chegar em casa... Minha avó não é uma pessoa muito agradável, e o namorado dela muito menos.

Harry voltou a encarar o teto.

— Você deve estar achando estranho minha avó ter um namorado, eu também acho. Mas essa é ela, sem chá com bolachas e tricô, apenas maconha e sexo com homens com metade da idade dela. — Ele sorriu.

Sally ficou em silêncio por um momento.

— Ela me odeia, talvez por eu odiar o desgraçado do meu pai... Provavelmente, ela é uma pessoa tão ruim quanto ele.

— Eu sinto muito.

— É, eu também.

Houve um silêncio desconfortável mais uma vez.

— Você gosta dos seus pais? — ele perguntou.

— Por que a pergunta? — Ela o olhou.

— Só responda.

Sally olhou para o teto novamente.

— Eu acho que sim.

— Acha?

— É, não... É claro que eu gosto deles, eu os amo, mas eles conseguem ser um pé no saco às vezes. Eu mal posso esperar para ir para a faculdade e poder ir morar sozinha.

— Entendo. — Ele também olhou para o teto, encarando a lâmpada fluorescente apagada no centro da sala.

Toda a sala estava iluminada pela luz do dia que entrava pelas janelas, mesmo que o sol não estivesse aparecendo.

— Você é virgem?

Ela demorou um pouco para responder. Seu coração bateu mais rápido. Ela ficou um pouco nervosa.

— Você está fazendo muitas perguntas estranhas.

— Desculpa, eu só queria saber.

Mais alguns instantes em silêncio. Sally estava ficando cada vez mais nervosa. E se ele tentasse algo? Ela não tinha certeza se estava preparada para algo assim.

— Sou — respondeu, alguns instantes depois.. — Por quê?

— Então você nunca esteve com um garoto.

— Não é porque sou virgem que nunca tive um namorado.

— Você teve?

— Não.

Ele riu.

— Por que você está rindo?

— Nada... Eu também nunca tive uma namorada.

— Então você também é virgem?

— Eu não disse isso. — Harry sorriu novamente.

— Ah...

— Eu não costumo namorar, Sally, nunca encontrei alguém que valesse a pena... Até agora.

Ela sorriu e ele se aproximou, beijando o pescoço dela. Sally sentiu um arrepio em sua pele e seu coração acelerou.

Harry colocou as mãos na cintura dela e começou beijá-la na boca. Ela permitiu, estava quase paralisada. Só conseguia beijá-lo.

As mãos dele desceram um pouco até o quadril. Aos poucos levantou o vestido azul claro dela. Sally se afastou alguns instantes depois.

— Eu não sei se deveríamos estar fazendo isso — disse ela, um pouco preocupada.

— Confie em mim — ele falou e voltou a beijá-la.

***

Minutos depois, na biblioteca, Alfie estava deitado no carpete, com a cabeça apoiada na mão e o cotovelo no chão. Mia encostada nas grades de madeira da sacada, Troye ao lado dela, e Molly deitada de barriga para baixo, com a cabeça entre as mãos e balançando as pernas no ar.

— Eu sinto falta do meu cachorro — disse ela.

— Nós só estamos aqui há... — Ela olhou no relógio de parede acima da estante. — Quatro horas.

— Só?

— Eu quero ir pra casa — falou Troye.

Ele se levantou e andou de um lado para o outro, entediado. Depois correu para a janela.

— Alguém me ajude! — gritou.

Os outros riram.

— Ei — disse ele.

— O quê?

Troye se virou com os olhos arregalados e um sorriso no rosto.

— A nevasca acabou!

— O quê? — disse Mia, correndo até a janela.

Os outros fizeram o mesmo.

A neve não caía mais, mas as ruas ainda estavam cheias.

— Eu não acredito que não vimos isso — falou Alfie. — Há quanto tempo ela parou?

— Não sei, acho que não faz muito — disse Troye. — Mas ainda não dá para alguém vir nos buscar, acho que os carros ainda não conseguem passar.

— É só questão de tempo até chegar algum caminhão para tirar a neve, pelo menos a nevasca parou — falou Mia.

— Aleluia! — gritou Molly, com as mãos pra cima, e os outros a olharam com estranheza, caindo na risada.

— Amém — brincou Mia.

Troye começou a correr e pular e desceu as escadas pelo corrimão.

Woohoo!

(Charli XCX – Simply Irresistible)

Mia olhou para os outros e deu de ombros, depois correu e também desceu pelo corrimão, escorregando e gritando.

Alfie e Molly desceram com classe, pela escada.

— Precisamos avisar aos dois pombinhos — disse Mia.

Eles saíram da biblioteca correndo e começaram a dançar pelo corredor, rodando e pulando, mesmo que não tivesse música tocando.

Troye começou a bater nos armários azuis, animado.

— Finalmente! — gritou Alfie.

— Nós vamos para casa, baby! — falou Molly.

— Finalmente comida, finalmente cama, finalmente videogame! — exclamou Troye.

Quando cruzaram um corredor perto da escada, encontraram Sally, surpresa.

— O que houve? — ela perguntou, rindo.

Mia puxou o braço dela e começou a dançar.

— Nós vamos para casa! — disse Alfie, dançando ao redor dela.

— Como assim?

— A nevasca acabou — falou Molly.

— Alguém já chegou para nos buscar?

— Não, mas não deve demorar muito — respondeu Mia. — Cadê seu namorado?

— Ele não é meu namorado... E eu não sei onde ele está — ela mentiu.

Nesse momento, Harry saiu de uma sala no fim do corredor.

— Ah, aí está você — disse Sally, sem jeito.

Mia a olhou com desconfiança.

— O que houve? — ele perguntou.

— A nevasca acabou! — respondeu Molly, animada.

— Uau, isso é ótimo — disse ele, mas sem sorrir. Ele estava feliz, mas sentia que não precisava demonstrar. Não para eles, apenas para Sally.

Os outros quatro voltaram a pular e dançar pelo corredor, gritando que iriam para casa, enquanto Sally e Harry caminhavam atrás deles.

Os dois se olharam e sorriram, lembrando do que acabaram de fazer. Depois deram as mãos.

***

Instantes depois, eles estavam sentados ao redor da mesa na biblioteca, como no início.

— Temos que esperar alguém vir nos buscar — disse Mia. — Isso pode demorar um pouco.

— Por que não ligamos? — perguntou Molly.

— Para avisar que estamos presos aqui? Acho que eles já sabem — respondeu ela.

— Nós já ficamos aqui a tarde toda, mais alguns minutos não vão nos matar — falou Sally.

— Quando eu chegar em casa, eu vou tomar um pote enorme de sorvete e assistir Friends — disse Troye.

— Sorvete? Sério? — falou Mia, e ele deu de ombros.

— Eu vou tomar um banho quente e dormir até amanhã — disse Molly.

— Eu super preciso de um banho quente agora — falou Alfie.

— Isso não é legal? — disse Sally. — Há algumas horas, nós éramos praticamente desconhecidos dentro daquela sala da detenção... E agora somos amigos.

Eles sorriram. Ela olhou para Harry e retribuiu o sorriso. Eles talvez fossem mais que amigos agora.

— Amizades começam rápido, o difícil é mantê-las por perto — disse Troye. — Nós vamos mantê-las por perto?

— Vocês são as primeiras pessoas que gostam de mim de verdade — falou Molly. — Então, é claro que sim. Eu estou cansada de ser uma vadia sem remorso.

— Bem, eu e Alfie já estávamos cansados de jogar banco imobiliário sozinho — brincou Mia.

Mmm-hmm — ele concordou.

— Sabe de uma coisa? — disse Sally. — Que bom que eu fui para a detenção hoje.

Os outros sorriram, refletindo. Era a primeira vez da maioria deles na detenção, e já haviam feito novos amigos.

Olhando por outro lado, aquela talvez fosse uma das melhores tardes de suas vidas em muito tempo.

***

Minutos depois, os seis estavam parados em frente à porta dupla da entrada da escola, olhando a neve do lado de fora pelos dois retângulos de vidro na porta.

— Eu acho que ainda vai demorar um pouco para que algum carro consiga passar por aqui — disse Sally.

— Os caminhões de tirar neve vão chegar em breve, vamos esperar — falou Troye.

— E se não tivermos que esperar? — disse Harry.

Todos olharam para ele.

— Como assim? — perguntou Mia.

Ele deu um leve sorriso no canto da boca.

— Peguem seus casacos.

***

(Seinabo Sey – Younger)

Com seus casacos e luvas, eles saíram da escola e mergulharam no ar frio daquele dia. A nevasca tinha começado a voltar aos poucos, com flocos de neve caindo do céu e se desfazendo nas mãos deles.

A rua estava vazia, havia apenas carros cobertos pela neve e prédios acinzentados.

Os seis andaram lado a lado, com as mãos no bolso, indo para casa.

Troye sentia que havia tirado um peso das costas, ele sentia que finalmente existiam pessoas que lhe conheciam como ele realmente era.

Sally olhava para Harry de um jeito diferente agora. Como tudo aquilo havia acontecido apenas em uma tarde? O que aconteceria a partir de agora? Será que eles ficariam juntos?

Ela desejava que sim.

Harry estava andando um pouco atrás dos outros, olhando para eles. Eram as primeiras pessoas em quem ele sentia que podia confiar em muito tempo. Ele abriu um sorriso. É, talvez eles realmente fossem legais.

Molly pegou um punhado de neve e fez uma bola. Em seguida jogou em Troye, que olhou para trás e sorriu.

Ele se abaixou e fez uma, revidando o ataque. Os outros se entreolharam e deram de ombros. Mia e Alfie começaram a fazer bolas de neve e atirar nos outros. Sally e Harry também.

Os seis permaneceram no meio da rua vazia, fazendo uma divertida guerra de bolas de neve.

Eram amigos agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Yellow" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.