Potens Summi escrita por Samantha


Capítulo 18
Agora não tem mais volta, minha criança


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a Miss Riddle, Ana Black Levesque e Luiza Avelino por comentarem e darem sua opinião sobre a pergunta que fiz nas notas do capítulo passado ♥
Boa leitura!



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Aurelia passou cerca de uma hora cuidando de Sapphire dentro de um dos quartos de hóspede, que foi onde o estranho portal as havia deixado. Após realizar os devidos curativos, a velha disse-lhe para dormir um pouco e conduziu Astrid para fora do quarto antes de fechar a porta.

As duas caminharam por um corredor de paredes brancas. Ao que parecia a Astrid, todos os cômodos eram brancos, com móveis devidamente polidos e organizados. O chão era de madeira, mas não rangia quando pisavam nele.

Subiram um lance de escadas e caminharam até o fim de um corredor. Acenando com a mão, Aurelia abriu a porta e deixou que Astrid entrasse primeiro.  A garota contemplou o grande escritório (branco, obviamente) com um calafrio: As paredes estavam cheias de fotos, pedaços de matérias do Profeta Diário e pergaminhos colados. A escrivaninha estava atolada com livros e tinteiros. Aurelia, novamente com um aceno da mão esquerda, jogou um monte de livros de cima de uma das poltronas que estava de frente para a escrivaninha. Convidou Astrid a se sentar e ela fez o mesmo com uma grande poltrona – um dos únicos móveis que não estava atolado de coisas – atrás da escrivaninha.

— Esse é o único cômodo que não me incomodo em deixar sujo. – Aurelia deu de ombros – Bom... Acho que podemos conversar agora.

Astrid assentiu silenciosamente.

— Como já é óbvio para todos nós, principalmente depois dessa última noite, você é a minha sucessora. O que você demonstrou com êxito ao acalmar a garota loba se chama Animalium. Como eu já disse, foi a minha primeira habilidade também. É a habilidade de se comunicar com animais, mas pode se desenvolver mais e até mesmo se fundir com outras habilidades que você venha a ter. É difícil de explicar agora, mas você entenderá com o tempo.

A velha puxou um dos livros da pilha, que era preto com letras negras prateadas. Ao reconhecer o objeto, Astrid disse:

— O Arquivo da Potens Summi. Ok, mas por que isso seria importante agora? Da última vez estava vazio.

Aurelia revirou os olhos:

— Vamos, Black. Pense! – a velha estralou os dedos – Como eu disse no bilhete que você encontrou aqui quando o abriu, é você quem faz a sua história. Por isso está vazio, por ora. Agora que finalmente tivemos a nossa confirmação, tente de novo. – estendeu o livro para Astrid, que soprou-o.

O livro se abriu, mas desta vez, haviam informações em suas páginas. Na primeira página, havia a pintura da cintura para cima de uma senhora de cabelos negros perfeitamente presos em um coque. Possuía um rosto severo e pálido, e pequenos olhos negros que faiscavam em sua direção. A parte de seu vestido que fora retratada na pintura era verde musgo, de mangas longas e com uma gola que escondia seu pescoço. Abaixo da pintura, havia uma legenda:

Ophelia Slytherin, data desconhecida.

Astrid franziu a testa para a obra.

— Havia algo sobre essa mulher em Potens Summi Através dos Tempos. Era a mãe de Salazar Slytherin...

— E a primeira Potens Summi que se tem conhecimento. O seu maior dom e especialidade era persuadir pessoas a fazerem o que ela quisesse. – disse a velha sombriamente – Muito mais eficiente do que a Maldição Imperius, e com esse dom ela podia ter controle total sobre qualquer ser vivo. Achei estranho não saber sobre nenhum crime ou acidente que ela tenha causado com isso, já que ela parece o demônio em forma de gente. Enfim... Vai ver ela era uma bunda mole. Provavelmente demorou muito para entender a complexidade de tudo aquilo... – e virou a página.

Na segunda página, havia a pintura de uma mulher magra de pele negra. Seus cabelos estavam enrolados em um turbante colorido, e seu rosto era marcado com traços fortes: sobrancelhas grossas, grandes olhos castanhos, nariz achatado e lábios carnudos. Ela segurava uma galinha. A legenda dizia:

Ellaria, 1630.

— Nunca descobri o sobrenome dessa mulher. Enfim, não era gente importante. Era uma africana que estava em Portugal, obrigada a trabalhar como escrava no mundo dos trouxas. Era praticante de Voodoo, uma espécie de tradição religiosa antiga. Nunca entendi muito bem isso. É parecida com magia, só que mais manual, eu diria. – Aurelia olhou com atenção para a figura – Toda a sua família adoeceu e morreu cedo, menos ela. A vadia viveu por mais anos que uma pessoa normal, e essa façanha foi possível porque seu primeiro dom foi Reliquiae, a habilidade de se adaptar ao ambiente para sobreviver. Desde que era jovem, seus senhores notaram isso nela. Tentaram afoga-la, mas ela adquiriu guelras para respirar debaixo d’água. A colocaram no fogo, mas ela saiu sem uma queimadura sequer. E depois que aprendeu a dominar essa e suas outras habilidades, ela se vingou bonito.

Astrid engoliu em seco. Aurelia continuou.

— É claro, Ellaria foi perdendo os poderes quando sua sucessora ascendeu, mas muitos diziam que ela nunca havia morrido. Eu li que, combinando suas práticas de Voodoo com seu Reliquiae, ela conseguiu vida eterna.

— E isso é verdade?

— Não sei, talvez seja alguma historinha de merda que inventaram. – Aurelia deu de ombros – Não descobri nada.

Astrid deu uma última olhada em Ellaria antes de virar a página. Na terceira, havia uma bela pintura de uma bela moça de vestido branco – provavelmente de casamento – com mangas levemente bufantes. Não escondia o pescoço como o de Ophelia Slytherin. Era aberto nos ombros, possibilitando a visualização de sua clavícula. Em seu pescoço estava pendurado um bonito colar com um pingente de Musgravite (uma pedra extremamente rara). Seu rosto era magro, jovem e sua expressão era de desdém. Possuía lábios finos e nariz levemente achatado, mostrava nos olhos uma expressão de desdém. Os cabelos castanhos estavam perfeitamente arrumados em um penteado da época.

A legenda mostrava:

Matilda Rivers, 24 de abril de 1752.

— Essa é a mulher que matou um monte de gente, certo?

— Sim, Black. E essa foi a primeira Potens Summi encontrada pelo Ministério. Antes da última moça da figura que vimos, as Potens Summi eram muito mais cuidadosas. Veja bem, não há registro algum delas nesse intervalo de tempo, entre Ophelia Slytherin e Ellaria. Até a própria conseguia esconder bem sua condição, visto que o Voodoo era mal visto na Europa e ninguém nunca daria atenção para uma escrava. Eles a achavam no máximo excêntrica, mas era só isso. Mas a partir de Matilda Rivers, as coisas mudaram.

— Matilda sempre foi uma jovem bruxa muito vaidosa, rebelde e instável. Era sangue puro, irlandesa e estudou em Hogwarts, foi selecionada para a Sonserina. O dom que ela melhor dominava era Recensere, a habilidade de mudar de forma. Assim, ela se tornou a moça mais bonita da época.  Nunca usou esse dom para causar problemas de extrema gravidade em sua adolescência, até então apenas o usou para atrair um rapaz de quem gostava, o que conseguiu com êxito. A data da foto é 24 de abril de 1752, dia de seu casamento... E foi tirada um pouco antes do terrível acidente que matou muitos mestiços, nascidos trouxas e trouxas.

Astrid engoliu em seco, mas deixou Aurelia continuar.

— Matilda sempre foi uma mulher extremamente mandona e egocêntrica. Quando seu esposo caiu na real, desistiu do casamento e a traiu no dia do evento. Cheia de ódio e com seus poderes no auge, Rivers saiu descontrolada pelas ruas de Londres, matando qualquer pessoa que cruzasse seu caminho. – Aurelia consultou uma informação debaixo da legenda - No total, foram 20 mestiços, 65 nascidos trouxas e 80 trouxas mortos. E depois, não satisfeita, ela foi atrás do marido. Prendeu-o numa fogueira e deixou-o queimar vivo. Uma testemunha local, que já não é mais viva, é claro, disse que ela assistiu com um grande sorriso no rosto e desfrutou de muitas taças de uísque de fogo. Um Auror do Ministério, Octavian Sand, conseguiu captura-la horas depois quando ela jazia embriagada no chão, desacordada ao lado da fogueira.

— Que bizarro. – Astrid não tinha palavra melhor para classificar o acontecimento.

— Pois é. Como era de se esperar, a moça foi executada. – Aurelia disse – Ela era muito jovem quando morreu, e quando eu estava estudando sua história, pensei: Seria esse o fim da raça das Potens Summi? Bom, definitivamente não foi o fim, afinal, estamos aqui. Contudo, esse poder demorou muitos anos para voltar a se manifestar, não faço ideia do porquê. Por um tempo, o Ministério pensou que a palhaçada toda havia acabado... Até que uma Potens Summi ascendeu. Minha antecessora.

Aurelia virou a folha. Na quarta página, havia desta vez uma imagem que mostrava uma moça magra de pele bronzeada e cabelos negros cacheados. Trid não conseguia ver seu rosto claramente, pois a foto havia sido tirada de longe. Trajava um vestido de baile verde, de mangas curtas e cheio de babados. Estava parada perto de uma árvore e parecia observar alguém que vinha em sua direção.

Barbara Moon Scamander, 1853

— Essa é Barbara Moon Scamander.

— Scamander? – Astrid franziu o cenho – Ela é parente de Newt Scamander, de Animais Fantásticos e Onde Habitam?

— Exato. Ela era tia do Newt. Cheguei a conhece-lo, um amor de pessoa. – disse Aurelia casualmente – A especialidade de Barb era a natureza. Ela fazia crescer árvores e flores lindas, mas era capaz de causar terríveis tremores terrestres. Ela queria entender como tudo aquilo começou e então criou O Arquivo de Potens Summi, que é basicamente um diário, onde ela escreveu todas as suas descobertas. Viajou pelo mundo para estudar nossa raça.

Aurelia sorriu tristemente ao olhar a foto e Astrid não pôde conter um sorriso também.

—Ela veio até mim quando descobriu que eu seria a próxima, e se ofereceu para ser minha mentora. Me ajudou quando ninguém mais queria e eu sempre serei grata por isso. Passou O Arquivo para mim quando chegou em uma idade avançada, para que eu continuasse seus estudos. Ela descobriu algo que vem nos incomodando há muito tempo e, agora que você é uma de nós, eu devo dizer.

Era muita informação por um dia. A cabeça de Astrid doía, mas ela se recusava a parar.

— O que é?

— Quando estava viajando pela Coreia do Sul, Barbara viu e ouviu coisas esquisitas sobre coisas que só uma Potens Summi faria...  Mas, se ela não havia feito as coisas das quais ouviu dizer, quem havia?

Astrid franziu a sobrancelha.

— Espere aí. Você está dizendo que há uma outra Potens Summi?

— Não é nada confirmado – Aurelia suspirou – mas suspeito o bastante para investigar. Barb passou a vida inteira procurando pistas, mas infelizmente não encontrou o bastante. Morreu em uma noite de agosto de 1950, enquanto dormia.

As duas ficaram em silêncio por um instante, ambas perdidas em pensamentos. Aurelia continuou:

— Eu continuei o trabalho dela. Vamos discutir isso mais tarde, se aceitar, é claro. – a velha ergueu as sobrancelhas. – Vai ser uma jornada difícil, mas valerá a pena. Você terá toda a ajuda que precisar, não só de Dumbledore, mas minha também. Você precisa ter consciência das coisas se realmente quiser aprender. Pode ser perigoso viver com um fardo desse, ainda mais sem instruções e com Você-Sabe-Quem por aí recrutando seguidores para a sua causa. É complicado resistir às Trevas. A escuridão é sedutora e persuasiva.

Astrid sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— Estou dentro. – disse Astrid – Obrigada por me ajudar, Aurelia.

A senhora, satisfeita, acenou com a cabeça. Virou a próxima página e ali estava uma foto da jovem Aurelia Oberlin, trajando suas habituais vestes negras e uma expressão séria.

Aurelia Oberlin, 14 de maio de 1942

— A minha história você vai aprender aos poucos, minha querida.

 Por cima do livro, estendeu o braço e subiu a manga das vestes pretas. Em volta deste, tatuagens estavam ilustradas como braceletes. Astrid pôde ler: Animalium, Aer, Somnium, Ostium.

— Inúmeras habilidades já nasceram em pessoas da nossa raça ao longo dos anos: o dom de controlar os elementos, mudar de forma, curar, até mesmo andar pelas paredes... No geral, uma Potens Summi tem de três até seis grandes habilidades com inúmeras possibilidades de uso.

— E qual é a que você domina melhor? – perguntou Astrid, curiosa.

Somnium, é claro. – disse Aurelia – É a habilidade de ilusão. Posso criar coisas que vão confundir sua mente e te fazer acreditar, mas que não são reais. Posso até mesmo invadir sonhos... É, sem querer me gabar, sou a melhor ilusionista que conheço.

Astrid riu. A velha consultou um relógio na parede.

— É, temos algumas horas até amanhecer. Logo terá que voltar para escola. Arranjaremos um bom horário para nos encontrarmos, garota.

 Aurelia fechou O Arquivo da Potens Summi e o estendeu para a garota. Quando o tocou, as janelas se abriram e uma brisa violenta invadiu o escritório, voando até o livro e se infiltrando dentro do objeto com rapidez. A garota contemplou o objeto novamente e leu as letras prateadas da capa:

O Arquivo da Potens Summi, por Astrid Teles Black.

Astrid prendeu a respiração. Aurelia Oberlin cruzou os braços e disse calmamente:

— Agora não tem mais volta, minha criança.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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