Potens Summi escrita por Samantha


Capítulo 16
Salgueiro Lutador


Notas iniciais do capítulo

Passei um tempo sem postar, mas aqui estou eu de volta o/
Boa leitura!



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Rachel e Astrid ficaram ali sentadas sem dizer uma única palavra por bons minutos. Cada uma presa em seus próprios pensamentos, duvidosas sobre o que deveriam fazer a seguir. Trid abriu e fechou a boca várias vezes, medindo suas palavras cautelosamente antes de se pronunciar:

— Olha, Rach... Você não é um monstro. Você é minha amiga e não é por causa do que aconteceu agora que isso vai mudar. – Astrid fez uma pausa e limpou a garganta – Eu realmente não sei como consegui te encontrar, tive uma sensação estranha, um formigamento em algum ponto da minha perna esquerda...

Ao se lembrar da terrível sensação, Astrid desceu a meia e tocou o local em sua perna que tanto formigava há alguns minutos. Abafara um grito quando finalmente pôde ver o que havia acontecido.

— Puta merda.

— O que foi? – Rachel finalmente se pronunciou, olhando para Trid com uma expressão assustada.

A garota loira não respondeu. Rach aproximou-se um pouco e direcionou o olhar para o que tanto havia chocado sua amiga: Uma tatuagem havia sido feita em sua perna. Ela leu os dizeres negros de caligrafia delicada:

Animalium.

— Isso sempre esteve aí? – perguntou Rachel.

Astrid negou com a cabeça.

— Esse é o problema. – Astrid engoliu em seco, sentindo lágrimas brotando rapidamente em seus olhos. – Primeiro os sonhos, depois aquela senhora bizarra e agora isso! Eu estou aterrorizada desde que essa coisa começou a me perseguir. – a garota notou que havia falado o que não devia, mas estava assustada demais para se conter – Me desculpe, não espero que você entenda. Eu só precisava botar para fora.

— Como assim? – Rach perguntou, mas não obteve resposta. Astrid havia caído no choro. A garota segurou os ombros da loira e os sacudiu, encarando-a com uma expressão atenciosa – Trid, eu não entendo. Mas eu quero entender, de verdade.

Trid encarou-a de volta: Como havia feito com Harry e Dumbledore, contemplou os olhos negros da garota com extrema atenção. Olhos bonitos, porém tristes. Olhos que haviam visto muitas coisas ruins e guardado tudo para si mesmos, esperando um momento para explodir de angústia, desprezo, raiva. Contudo, não só pareciam guardar as coisas ruins mas também as boas, como um túmulo guarda o segredo de seu defunto. Seus feitos, bondosos ou cruéis, nenhum deles espalhado. Todos transformados em pó com o passar do tempo.

E então desembuchou. Sobre os sonhos esquisitos, sobre Aurelia e sobre a sensação que havia a trazido até ali. A garota magricela ouviu tudo sem reclamar. Astrid passou-lhe as informações sem medo e ficou feliz por encontrar em Rach mais um apoio para se sustentar e não pirar de vez. Astrid, através da visão, descobriu o peso que a garota de tristes olhos negros carregava sobre suas costas, assim como Rachel agora sabia sobre o seu. Ajudariam uma a outra a qualquer custo, pois, a partir daquela tarde em um banheiro escuro e vazio, sua amizade – agora mais verdadeira do que nunca -  havia sido selada por segredos.

As duas se levantaram e saíram do banheiro com passos firmes.

— Está com fome? – perguntou Astrid, enquanto as duas caminhavam calmamente pelo corredor.

— Sim, mas o horário de almoço já passou faz... – Rachel consultou seu relógio – uma hora. De qualquer forma, eu tenho que ir até sala do Dumbledore para... – e abaixou o tom de voz - realizar os preparativos de hoje à noite. Essa foi nossa primeira semana na escola, e minha primeira transformação deste ano letivo. Ele sempre gosta de fazer uma reunião.

— Eu quero ir com você.

— Para a sala do Dumbledore?

— Não, para a Casa dos Gritos. Eu quero te ajudar.

— Eu agradeço a iniciativa mas, acredite em mim, é melhor que não se envolva nisso. É perigoso. – Rachel disse firmemente.

— Mas...

— Mas nada, Astrid Black. Sem discussões. Amanhã posso te ajudar pesquisando em mais alguns livros... Bom, te vejo depois. – Rachel deu-lhe um beijo na bochecha e lhe lançou um sorriso triste antes de lhe dar as costas e caminhar até o fim do corredor.

Astrid ficou parada ali por alguns instantes. Quando começou a caminhar, viu um objeto branco se aproximando ao longe. Quando estava a poucos metros da garota, ela notou que era um pequeno corvo de papel encantado, que voava graciosamente. Para sua surpresa, a pequena ave pousou em suas mãos e se desmanchou até virar um pedaço comum de pergaminho dobrado. Ela o abriu curiosamente.

Olá, querida. Sentiu saudades?

Só passando para avisar que nossa reunião (já autorizada por Alvo) acontecerá um pouco antes do previsto, visto que alguns dons estão começando a se manifestar e não é nada seguro não saber o que fazer quando isso acontece. Falando nisso, parabéns pelo Animalium! Foi o meu primeiro também... Vai ver somos bem parecidas.  Enfim, me encontre amanhã, às 22h, na Torre de Astronomia. VÁ SOZINHA. Nada de levar o garoto da testa rachada, o seu irmãozinho ou a garota dos problemas peludos.  

Espero-te, querida.

Aurelia Oberlin

 

Terminou de ler o pergaminho e guardou-o dentro das vestes. O coração da garota começou a bater muito rápido. Estava com medo do que poderia descobrir amanhã, mas ao mesmo tempo sentia curiosidade e ansiedade. Contudo, não teve muito tempo para pensar nisso, pois ao ouvir a irritante voz de um certo Poltergeist, soube que não estava sozinha e que não teria paz para pensar.

— Olha só, olha só, quem acabo de encontrar! A garota Black, filha do fugitivo de Azkaban! – Pirraça voou até estar perto o bastante da garota para encará-la com uma expressão de zombaria.

— Me deixa em paz, Pirraça.

— HAHAHAHAHA! Deixar em paz, essa é boa! – e começou a discursar como se estivesse falando com sua própria mão – Ouviu isso? Ela é mesmo engraçada.

— Eu não estou com paciência para suas brincadeiras agora. – Astrid disse, tentando soar firme.

— Que pena, porque nós queremos brincar agora! – Pirraça disse para a sua mão, e completou, antes de fazer uma careta bizarra – Vamos lá, filha do assassino Black, vamos brincar!

— MEU PAI NÃO É UM ASSASSINO, SEU MERDA! – Astrid tirou a varinha das vestes mas ficou confusa: Como derrotaria um espírito? Se ela tentasse estuporá-lo, o feitiço atravessaria seu espectro?

Contudo, Pirraça não lhe deu tempo nenhum para pensar. Voando extremamente rápido, tirou a varinha de sua mão, a jogando longe. Depois, pegando uma corda que havia escondido atrás de uma armadura que estava por ali, amarrou suas pernas com ela e começou a puxá-la o fim do corredor, gargalhando. Astrid xingava, esperneava e se perguntava como um Poltergeist podia fazer coisas tão... sólidas.

Pirraça pendurou a corda em um lustre no teto, deixando Trid de cabeça para baixo.

— ME TIRA DAQUI. AGORA. – A garota gritava, perguntando se alguém no castelo poderia ouvi-la.

— Depois... Primeiro vamos brincar. O jogo consiste em ficar o maior tempo que puder pendurada de cabeça para baixo sem vomitar. Valendo, Black! – e saiu voando para longe, deixando-a sozinha.

Astrid se debateu, tentando se soltar e xingando Pirraça em voz alta. Segurava a saia com as mãos, desesperada. Depois de uns três minutos, desistiu e simplesmente ficou pendurada ali, espumando de raiva. Seu rosto estava vermelho e ela sentia o sangue subindo.

— Espera só quando eu pegar aquele filho de uma...

— Trid? – a garota se assustou por um instante, mas ao reconhecer a voz masculina, suspirou de alívio.

— FRED!

Ela viu o garoto ruivo se aproximar com uma expressão curiosa e um sorriso zombeteiro nos lábios.

— O que faz pendurada de cabeça para baixo no lustre?

— Ah, eu me pendurei aqui por diversão. É ótimo e relaxante, você devia se juntar a mim. – Astrid ironizou. Fred ergueu as sobrancelhas, segurando o riso – Vai me tirar daqui ou não?

— Sabia que você fica engraçada desse ângulo? – o garoto Weasley cruzou os braços.

— Pelo amor de Merlin, Fred, eu estou passando mal aqui! – Trid exclamou – ME SOLTA PRIMEIRO E ME ZOA DEPOIS!

 Fred riu e apontou a varinha para a corda, cortando-a. Quando Astrid caiu, o ruivo a pegou no colo com uma expressão divertida no rosto.

— Agora posso zoar? – perguntou, enquanto colocava a garota no chão.

— Um instantezinho. – Astrid deu as costas para ele e correu até a janela mais próxima. Colocou a cabeça para fora e olhou para baixo: Só havia grama. Agradecida por isso, jogou os cabelos para trás e vomitou.

Limpou a boca e caminhou até Fred, que a esperava.

— Ah, encontrei isso no chão. – entregou a varinha de Trid em suas mãos.

— Valeu, Fred.

— Botou tudo para fora e um pouco mais, hein loira? Quem dera minhas Vomitilhas fossem eficientes assim.

— Ainda continua com aquelas experiências doidas? – Astrid perguntou.

— Doidas não, visionárias meu bem. – Fred abriu um sorriso, passando o braço por trás de seu ombro enquanto os dois começavam a andar – As Gemialidades Weasley são de extrema utilidade para os alunos. Você vai ver, vai ficar louquinha quando estiver perto de realizar os N.O.M.S... Para a sua sorte, meu bem, você é amiga de um dos donos e com certeza vai ganhar um bom desconto.

— Muito obrigada, vou me lembrar disso. – Trid riu.

— Você está com uma aparência meio pálida... – Fred observou preocupadamente - O que acha de passarmos na Cozinha e fazermos um assalto básico, aí você manda algo pra dentro e substitui o que acabou de gorfar ali?

Astrid abriu a boca para responder, mas seu estômago roncou alto antes. Os dois começaram a rir.

— Sua barriga respondeu por você, vamos lá, gata.

A tarde de Trid fora bastante agradável. Ela e Fred foram até a Cozinha e encheram os bolsos com bolinhos e outros doces. Caminharam até os jardins, onde o ruivo disse que Jorge estaria. Encontraram-no debaixo de uma árvore, acenando para os dois. Os três então passaram boas horas ali, conversando, rindo e comendo as guloseimas. Há muito tempo Trid não se sentia bem daquele jeito, até mesmo conseguiu se esquecer de todo aquele assunto sobre Potens Summi e sobre o pergaminho que recebera.

Ao pôr do sol, se despediu dos gêmeos e foi até o Salão Comunal da Sonserina. Mal entrou no dormitório e já foi bombardeada com as perguntas de Lupe:

¿Dónde has estado, loca? ¡Desapareciste! Mira, casi me mata.

— Em português ou inglês, por favor. – pediu Trid, rindo.

— Onde você esteve, maluca? Encontrou a Rachel? Ela está bem?

Trid contou sobre seu infeliz encontro com Pirraça e como sua tarde com os gêmeos havia sido divertida. Sobre Rachel, contou apenas que a garota passava bem, e que Dumbledore havia permitido que a garota fosse visitar um tio doente, por isso ela só estaria de volta em alguns dias. Não disse a verdade porque não cabia a ela fazê-lo, Rachel que deveria decidir se contaria ou não.

Lupe também relatara sua tarde. Ela e Belle haviam arranjado briga com Pansy Parkinson, que desta vez havia ofendido os pais de Guadalupe. Belle azarou-a com a varinha, fazendo com que seu cabelo ficasse verde. “Parecia que ela estava fazendo fotossíntese, você devia estar lá, Trid!”

Astrid sentiu falta da amiga. Com toda aquela confusão de Potens Summi, ela não teve tempo de conversar com ela daquele jeito, rir de suas piadas e de sua personalidade extrovertida. Ao lembrar do assunto, Trid se sentiu mal. Lupe era sua melhor amiga e merecia, mais do que ninguém, saber o que Astrid estava passando.

A garota mal precisou olhar em seus olhos para saber que podia contar-lhe tudo: Ela já havia os contemplado há muito tempo, em algum momento da infância, e havia sido aquilo que a encantara e encorajara a pequena Astrid de cinco anos a fazer amizade com sua vizinha latina. Maria Guadalupe Gomez era sua amiga há muito tempo, e seu olhar, assim como o de Peter, Anna – e recentemente o de Sirius -, pessoas que eram extremamente especiais para Trid, era algo que ela sempre guardou na memória. Os olhos de Guadalupe eram negros como os de Rachel, mas haviam faíscas neles, algo de confiante e acolhedor.

Quando terminou seu relato, Lupe não disse nada por alguns instantes. Simplesmente a abraçou. Um abraço quente, carinhoso, amigo. Astrid retribuiu e se sentiu grata por ter pessoas tão especiais em sua vida.

— Sempre soube que havia algo de especial em você, mi hermana.

— Você acha?

— Eu tenho certeza. – Lupe sorriu – E eu entendo, isso pode ser muito bizarro e assustador, mas não precisa ser de todo ruim. Se você é realmente a escolhida, o que é muito provável devido às circunstâncias, pode encarar isso como uma benção, não uma maldição. Você pode fazer coisas boas... Não é só por que somos sonserinas que devemos ser vadias sem coração, certo?

Trid não havia parado para pensar naquilo. Sorriu ao pensar na possibilidade de fazer o bem com o que poderia ganhar futuramente.

— Você tem razão, Lupe. Obrigada.

A latina sorriu e abriu a boca para dizer algo mas, com um estrondo, a porta se abriu e a garota grandalhona do treino de Quadribol (Sapphire, se Astrid não estava enganada) entrou com passos rápidos, seguida por Belle. Instantaneamente, Trid sentiu a tatuagem em sua perna formigar novamente. Engoliu em seco.

Sapphire nada disse ao entrar, apenas foi até a cama de Rachel e colocou as mãos debaixo do colchão, procurando por algo. Belle acenou com a cabeça para as duas colegas e cruzou os braços, batendo o pé ansiosamente.

— Com licença... Podemos ajudar? – perguntou Trid, erguendo a sobrancelha.

— Não, estou legal, valeu. – ela respondeu secamente.

— Relaxem... Ordens do Dumbledore. Ele me pediu pra trazê-la até aqui. – disse Belle.

— Qual o motivo? – perguntou Lupe.

— Eu sei lá, só estou fazendo o que ele me pediu. – a garota fingiu indiferença. – Terminou aí, garota?

Sapphire fez um sinal afirmativo com a cabeça, segurando com as mãos gorduchas o que estava procurando: um pequeno frasco de vidro, vazio. Astrid e Lupe se entreolharam, confusas.

— Vamos logo. Vejo vocês mais tarde. – Isabelle e Sapphire saíram às pressas.

O dormitório ficou silencioso por alguns segundos depois que as duas garotas o haviam deixado. Astrid queria ter certeza de que as garotas tinham partido para dizer a Lupe:

— Eu senti formigar de novo. – a loira disse, apontando para a própria perna. Sem pensar muito, se levantou e pegou a mão de Guadalupe, saindo do dormitório com passos rápidos. – Vamos.

— Ei, ei, espera! – Lupe a fez parar por poucos instantes – Onde a gente vai?

— Eu sei que Aurelia vai me dar respostas sobre o que está acontecendo logo, mas não é por isso que vou ficar sentada esperando. E mais: Por que mexeram nas coisas da Rach? Eu estou sentindo algo estranho, Lupe. Se eu tiver que confiar em uma tatuagem bizarra e seguir aquelas duas para saber o que está havendo, ótimo. Sei que é pedir muito, mas você pode me acompanhar? Isso é importante, de verdade.

Lupe suspirou.

— Puta merda, Trid. Certo. Vamos lá, garota.

Astrid sorriu e as duas desataram a correr. Ela guiava Lupe pelos corredores de Hogwarts com passos determinados; não sabia como, mas algo dentro dela lhe dizia para onde deveria ir. Por sorte, os outros alunos estavam jantando no Salão Principal. Trid saiu da escola e correu em direção aos terrenos com Guadalupe em seu encalço. As duas correram uns bons minutos até que Trid parou instantaneamente, fazendo Lupe esbarrar nela.

As duas levantaram a cabeça para contemplar uma grandiosa árvore, de galhos grossos e retorcidos. Trid deu um passo a frente, mas arrependeu-se no mesmo momento: um dos galhos mexeu-se, se aproximando do rosto da garota com rapidez e o acertando com força.

Astrid gemeu, passando a mão no corte que havia acabado de ganhar na bochecha esquerda.

— Esse deve ser o Salgueiro Lutador... O Harry já me falou dele. – apontou para um buraco no solo, perto das raízes da árvore – É ali que temos que entrar.

Lupe passou a mãos pelos cabelos nervosamente.

Chica loca... Se a gente sobreviver, você me deve uma caixa de Sapos de Chocolate por isso.

 

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?



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