O relógio na parede marcava nove horas em ponto. Harry tirou a capa da Invisibilidade de si e de Trid e fechou a tranca da pequena porta da seção reservada da biblioteca de Hogwarts. O local estava escuro e, apesar de parecer sempre vazio, sua organização estava impecável: Madame Pince era extremamente exigente quanto a limpeza. Os dois jovens acenderam suas varinhas e começaram a caminhar.

— Deve estar tudo organizado em ordem alfabética. – a loira comentou em tom baixo, enquanto procurava o corredor correto.

— Está. Eu já estive aqui antes. – Harry a guiou até a seção da letra P – Aqui.

Astrid começou a ler os títulos da esquerda para a direita, e Harry iniciou a busca pelo lado contrário.

— Plantas Mortíferas. – Trid leu.

— Portais Mágicos. – o moreno deslizou os dedos por um livro fino de capa negra.

— Poções Proibidas...

— Aqui. – Harry disse animadamente. Passou os dedos pelo grande livro de capa verde musgo e puxou-o da estante.

— Deixa eu ver... – Trid se aproximou para ler o título– Potens Summi Através dos Tempos, de R.O. Só tem esse?

— Acho que só... – o garoto disse, dando de ombros – Vou dar uma olhada nas outras seções.

Astrid concordou e observou Harry se afastar calmamente para outro corredor. Voltou seu olhar para o livro e o abriu: Pulou as páginas de apresentação até encontrar o conteúdo.

Potens Summi é o termo utilizado para designar feiticeiras que possuem dons extraordinários que vão além da magia básica de um bruxo puro-sangue, mestiço ou nascido trouxa comum. A primeira Potens de que se possui conhecimento foi Ophelia Slytherin - mãe de um dos fundadores da conhecida Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Só há registros da existência de uma Potens Summi em cada geração. Uma Potens perde seus poderes quando chega em uma idade avançada, fazendo com que seus dons sejam passados para uma outra moça e comecem a florescer. Os poderes da bruxa excepcional escolhida são grandiosos e devem ser controlados, por trazerem perigo extremo se usados para fins equivocados. A magia da Potens Summi é de Luz, mas toda magia pode se tornar escura de acordo com o uso da possuidora.

O Ministério da Magia da Grã-Bretanha chefia a busca por essa raça de feiticeiras há séculos por conta de um incidente onde uma das Potens Summi, reconhecida pela Seção de Controle do Uso Indevido da Magia como Matilda Rivers, teve um acesso de loucura e promoveu o assassinato de aproximadamente 20 mestiços, 65 nascidos trouxas e 80 trouxas.

Trid parou de ler por um instante e olhou para o vazio. Não sabia o que pensar. Não sabia o que dizer. Talvez tivesse sido apenas um sonho. Não era possível...

Afastou os devaneios e voltou sua atenção para a leitura novamente.

Segue abaixo uma lista com nomes de Potens Summi identificadas pela Seção de Controle do Uso Indevido da Magia:

O resto estava em branco. Astrid passou os olhos pela página e virou para ver a próxima: Também vazia.

— Que merda é essa?...

Folheou as páginas e encontrou todas em branco, exceto pela última. Havia algo escrito com tinta e letra diferentes das usadas no resto do livro:

Ninguém deve saber demais, minha querida.

Pulou de susto quando Harry repentinamente depositou outro livro em cima do que estava aberto.

— Calma, Trid. Sou só eu. – o moreno riu – Encontrei mais um. Mas não consegui abrir de jeito nenhum. Deve haver um tipo de feitiço de bloqueio ou algo assim. Tentei retirar, mas não deu certo.

Astrid franziu a testa. Pousou os finos dedos sobre a capa negra e soprou a poeira para ler o título em letras prateadas: O Arquivo da Potens Summi, por Aurelia Oberlin... Antes que pudesse pensar em fazer algo, o objeto se abriu com um clique.

Os dois se entreolharam, confusos. Trid folheou todas as páginas e fechou o livro com força, atirando-o para longe.

— Me desculpe. – a loira esfregou o rosto com as mãos.

— Vazio? – Harry perguntou cuidadosamente.

Astrid confirmou com a cabeça.

— Parece que não vamos ter respostas tão cedo... – o moreno comentou com desânimo.

— Leia isso. – a loira puxou Potens Summi Através do Tempo e entregou para Harry.

O garoto foi passando os olhos pela página, sua feição ia se tornando mais intrigada a cada linha que lia. Passados cerca de dois minutos de silêncio, ele perguntou, ainda olhando para o livro:

— Onde está o resto?

— Não faço ideia. – Trid passou a mão pelos cabelos – Só havia isso e uma frase estranha na última página.

Harry folheou o livro até o fim.

— Não tem nada aqui, Trid. – ele mostrou a última página em branco.

Ela se levantou com uma expressão confusa, pegando o objeto das mãos do garoto com cuidado:

— Que estranho. Há minutos atrás eu pensei ter lido...

— O que? – perguntou Harry.

— Deixa pra lá. Devo estar com sono. – Astrid tentou esboçar um sorriso e se levantou. Caminhou até onde O Arquivo da Potens Summi havia caído e o pegou. Parou repentinamente e ficou abaixada por quase um minuto – Harry.

— Trid?

A garota se levantou lentamente, caminhando até ele com um pequeno pedaço de pergaminho na mão.

— Isso caiu do livro.

Suas doces e mágicas mãos abriram este livro, querida. É uma pena que esteja vazio, não? Mas é você quem faz a sua história, não eu.

Finalmente... Pensei que fosse demorar menos que isso para ir atrás de suas respostas. Você as quer, estou certa?

Me encontre no Cabeça de Javali no próximo passeio para Hogsmeade. Espero que não se borre nas calças e falte a esse compromisso. Espero-te, querida.

Aurelia Oberlin

— Ai. Meu. Merlin. – Astrid colocou o bilhete nos bolsos e torceu as mãos, nervosa.

— Isso é bom, não é? – Harry sorriu – Essa mulher pode esclarecer tudo.

— Na verdade, Harry, acho que isso pode ser tudo, menos bom. – Trid sentiu um calafrio na espinha.

O garoto pegou os livros e devolveu-os a seus respectivos lugares nas prateleiras. Quando voltou da seção em que pegou O Arquivo da Potens Summi, encontrou a menina escorada em uma estante com os braços cruzados. Possuia uma expressão extremamente tensa. As rugas de preocupação acima dos olhos e os poucos fios de cabelo que escapavam de trás da orelha e escorriam sobre sua face a deixavam com um rosto mais maduro, contudo isso não tirava sua beleza.

— Coragem, Astrid Black. – o garoto descruzou os braços da moça e segurou suas mãos com força – Seja lá quem ela for, está disposta a te encontrar. Não vai desistir agora, vai?

— É claro que não. – ela disse, hesitante.

— E você... - Harry perguntou, mordendo o lábio inferior – Acha que é uma...?

— Uma Potens Summi, Harry Potter? – Trid disse e ele confirmou com a cabeça – Não sei, mas creio que vamos descobrir logo. Isso se você não amarelar...

— Estamos juntos nessa, se lembra? – ele abriu um sorrriso e algo estranhamente quente brotou no peito de Trid, fazendo-a sorrir também.

— Imagina se essa droga é verdade? – ela riu e revirou os olhos, pegando a capa da Invisibilidade e a jogando sobre os dois – O Menino Que Sobreviveu e a Potens Summi. Que grande dupla...

~x~

Na manhã seguinte, Astrid e Harry decidiram que precisariam de alguém inteligente para ajudá-los com as pesquisas e com o que Aurelia lhes contasse. Não que os dois fossem burros, mas seria bom ter um Crânio para auxiliar no que fosse necessário sobre Potens Summi.

Pete e Trid discutiam em voz baixa enquanto caminhavam em direção ao Salão Principal.

— Então você é uma bruxa anormal com poderes muito loucos? De onde tirou isso? – perguntou Peter, ao ouvir o relato da irmã.

— Eu não disse que sou isso, pelo amor de Merlin! – Astrid beliscou o braço do irmão, que resmungou – Só disse tudo que aconteceu, se não quiser me ajudar diga logo. Você não é o único gênio por aqui...

— Ei, eu estava brincando, baixinha. – Pete bagunçou os cabelos loiros da garota, que xingou-o – É claro que vou ajudar. E vou com você ao Cabeça de Javali, porque não conhecemos essa Aurelia, não sabemos do que ela é capaz.

— Você diz como se ela fosse algum tipo de terrorista... – Trid debochou.

— Não sabemos. – Pete retrucou – Só me chateia o fato de eu não ter sido o primeiro a saber de tudo isso. Por que o Harry?

— Ele se ofereceu para me ajudar, ok? – a garota revirou os olhos ao receber o olhar malicioso do irmão – Para com isso, Peter. Ele só foi um bom amigo.

— Eu podia ter sido um bom amigo. Sou seu irmão. – Pete disse inocentemente – Mas é claro, o bom amigo é sempre o cara famoso da cicatriz e apanhador no Quadribol...

Astrid gargalhou.

— Está com ciúmes, Peter Black? – a garota apertou as bochechas de Peter – Se ele virar meu namoradinho, vai ameaçar estuporar ele?

— Então quer dizer que você pensa em virar namoradinha do Harry Potter? – Peter ergueu as sobrancelhas.

— Como você é engraçado. – ironizou Trid, rindo – Se bem que eu até viraria só para ver sua cara de idiota. Lembra do Wren? Quando ele veio jantar em casa, você quase teve um chilique.

— Seu ex-namorado burro? Ele tinha cara de babuíno, mal sabia fazer uma piada...

— Ok, ok. Vamos deixar sua implicância com os garotos de quem gosto para lá e focar no que é importante. – Astrid limpou as lágrimas dos olhos, contendo o riso – Vai me ajudar mesmo?

— Pode apostar, adoro enigmas. – Peter sorriu animadamente - Primeiro vou pesquisar o significado da palavra Potens Summi. Deve ser aramaico...

— É latim, na verdade. Significa Poderosa Suprema. – Rachel Darling apareceu ao lado de Astrid – Oi, Trid. Acordou cedo hoje... Não te vi no quarto.

— É, estou tentando mudar meus hábitos. – a loira esboçou um sorriso – Ah... Você estava aqui há muito tempo?

— Não. Estava caminhando com Belle, mas ela encontrou Blaise e tive que apressar meu passo. Cheguei e seu irmão estava falando sobre aramaico... – Astrid soltou um suspiro aliviado. Teria muito o que explicar a Rachel se ela tivesse ouvido algo importante – Aliás, sou Rachel Darling.

Pete estava boquiaberto desde a chegada da garota. Trid deu-lhe uma cotovelada discreta.

— Peter Black. – ele a analisou curiosamente – Você estuda latim?

— Estudo, é fascinante! – Rach disse com um brilho no olhar – Você também?

— Já tentei, mas tenho certa dificuldade... – o garoto disse, levemente envergonhado.

— É mesmo muito difícil no começo... Mas não desista, você vai gostar. Um enigma é sempre divertido, não é? – Rachel disse – Se precisar de ajuda com alguma tradução, peça para Trid me chamar. Eu tenho um dicionário muito bom. E umas anotações, se quiser pode pegar emprestado. – sorriu, envergonhada – Eu falei demais, não falei?

Astrid sorriu, erguendo as sobrancelhas.

— Não, não falou. – Peter passou a mão pelos cabelos e riu – Obrigado, Rachel. Se eu precisar já sei a quem recorrer.

— Vou na frente, Trid, Preciso dar uma palavrinha com a McGonagall. Até mais. – a garota deu as costas e apressou o passo, sumindo entre os outros alunos.

— Até... – Peter disse.

— Vai precisar do dicionário dela para dizer “Te achei uma gata” em latim. – Trid disse e Peter revirou os olhos – Ela vai amar, confie em mim...

— Cala a boca, Astrid.